EUROPA (1600 a 1800). Continuação.
Os representantes do terceiro estado (burgueses + artesãos +
operários + camponeses) uniram-se liderados por Mirabeau e pelo abade Sièyes,
sob o juramento de não se separarem até que fosse promulgada uma Constituição
para a França tal como acontecera nos EUA em 1787. Sièyes, em seu livro
“Qu´est-ce que le Tiers État?”, formulou a teoria
do poder constituinte. O titular do poder constituinte é o povo (terceiro estado) verdadeiro sustentáculo
da nação. O poder soberano de organizar o Estado pertence ao povo. Ao
governante cabe o poder constituído o
que significa governar dentro das regras estabelecidas pelo titular do poder constituinte. O abade qualificava
de iniqüidade os privilégios da nobreza e do clero (primeiro e segundo estados). O rei ordenou que os delegados dos
dois estados (clero e nobreza) se reunissem com os do terceiro (comuns) em
assembléia nacional (27/06/1789).
Em protesto contra a
lentidão dos trabalhos da assembléia, os pobres de Paris tomam a Bastilha, estabelecimento
prisional que simbolizava a tirania do rei (14/07/1789). Os rebeldes esperavam
lá encontrar armas. Encontraram um único homem preso apesar das notícias de
prisões arbitrárias. A queda da Bastilha foi o episódio símbolo da revolução
francesa; significou o fim do absolutismo em França e o início de uma nova era
política. [A derrubada de símbolos é poderoso nutriente moral de um movimento
revolucionário. No século XX, a derrubada do muro de Berlim e da estátua de
Lenine serve de exemplo]. A massa popular impaciente começou a destruir
castelos, a matar seus proprietários, a saquear mosteiros e casas de bispos
(julho a setembro de 1789). Atemorizada, a nobreza abre mão dos privilégios. A
Assembléia Nacional decretou o fim dos dízimos, das obrigações feudais dos
camponeses, da servidão, dos direitos de caça dos nobres, da isenção de
tributos, dos monopólios e das corporações. Além disto, a Assembléia proibiu a
união de trabalhadores e votou a declaração dos direitos do homem e do cidadão
modelada no Bill of Rights da
Inglaterra e inspirada nas lições dos filósofos liberais (agosto de 1789).
Liberdade, segurança, resistência à opressão e propriedade privada são
reconhecidos como direitos naturais do indivíduo.
A revolução francesa foi o
clímax de um processo de desgaste do absolutismo, da realeza, da nobreza e do clero.
A revolução não resultou do planejamento de um grupo revolucionário e sim de uma
notável comunhão de sentimentos e idéias dos campesinos, operários, artesãos e
burgueses, cuja maturação gerou um espontâneo movimento de superfície quando
surgiu a ocasião. A ideologia foi elaborada por vários filósofos (teóricos
políticos e econômicos), transmitida tanto por osmose como por simbiose
(inclusive nas lojas maçônicas) e se espalhou pelos países europeus e
americanos como verdadeira doutrina ecumênica. Essa revolução teve causas
políticas, econômicas e sociais infiltradas de idéias iluministas. {A dívida
pública francesa girava em torno de 215 milhões de libras; os juros anuais superavam
a receita (14 milhões de libras)}. A Assembléia Nacional confiscou terras da
igreja (novembro de 1789) e baixou a Constituição
Civil do Clero (julho de 1790). Os bispos seriam nomeados pelo povo e
submetidos à autoridade do Estado (secularização da igreja). A igreja da França
ficou parcialmente separada da igreja de Roma. Em setembro de 1791, a Assembléia promulga
a Constituição política da nação
francesa com os seguintes alicerces: (1) monarquia moderada; (2) participação
censitária no governo {para votar e ser votado o cidadão devia usufruir certa
renda anual}; (3) separação dos poderes {assembléia nacional para legislar, rei
para governar segundo a lei e tribunal para solucionar controvérsias à luz do
direito}.
A segunda fase da
revolução francesa reveste caráter republicano. Começa em agosto de 1792,
quando a Assembléia Nacional votou a suspensão do rei e convocou mediante
eleição a Convenção Nacional para
elaborar nova Constituição (promulgada em junho de 1793). Sob a acusação de
conspirarem contra a revolução e alta traição o rei e a rainha foram
decapitados em 1793 (ele em janeiro, ela em outubro). O julgamento de ambos foi
uma tremenda farsa. O período é conhecido como Terror (1793 a
1794). Representantes extremistas da população de Paris assumiram o comando do
movimento. Adotaram a doutrina radical igualitária de Rousseau, abandonando a
doutrina liberal de Voltaire e Montesquieu. Essa transição da fase moderada
(liberal) para a fase radical (igualitária) deve-se à situação difícil dos
operários para proverem o sustento próprio e da família e às regras da
Constituição de 1791 que impediam o homem de baixa renda de exercer o direito
de voto. Para a transição também contribuíram: (1) os gastos exorbitantes com a
guerra contra Prússia e Áustria, aprovada pela Assembléia Nacional em 1792, na
qual a França saiu derrotada e Paris ficou ameaçada de invasão pelas forças
inimigas; (2) a densa atmosfera social provocada pela beligerância; (3) a
violência entre os próprios revolucionários decorrente da divergência interna no
seio do movimento. A ala extremista da revolução ocupou o primeiro plano,
dominou a Assembléia e aboliu a monarquia. Daí em diante, a Convenção Nacional
assumiu as rédeas do governo.
A Constituição de 1793 não
vigorou. Os poderes da Convenção Nacional foram prorrogados. A Convenção
delegou poderes à Junta de Salvação Pública formada inicialmente por nove
membros e aumentada depois para doze. Entre os partidos da Convenção Nacional,
dois se destacavam: os gerondinos que
ocupavam os lugares à direita do plenário e os jacobinos que ocupavam os lugares à esquerda. Os gerondinos eram
moderados, republicanos, democratas, contavam com o apoio das províncias e
desconfiavam do proletariado. Os jacobinos eram extremados, discípulos de
Rousseau, defensores militantes do proletariado, sobrepunham os interesses de
Paris aos interesses das províncias.
Thomas Paine e o Marquês
de Condorcet destacaram-se na Convenção Nacional. Paine advogava o fim da
monarquia sem a execução do rei. Publicou “Os Direitos do Homem” em 1791,
atacando a obra do britânico Edmund Burke “Reflexões sobre a Revolução em
França”. Condorcet denunciava os males do absolutismo, do mercantilismo, da
escravidão e da guerra. Colocava como escopo da política o fim da miséria, o
que podia ser atingido com o fim dos monopólios, dos privilégios, da
primogenitura e da transmissão da propriedade a herdeiros. Na opinião dele,
essa política permitiria melhor distribuição da riqueza. Condorcet defendeu também
a pensão para idosos e a instituição de um sistema bancário cooperativo para
proporcionar condições favoráveis de crédito e se posicionou contra a
violência. Foi perseguido e morreu no dia seguinte ao da sua prisão (cogita-se
de envenenamento).
Marat, Danton e Robespierre foram chefes extremistas.
Os dois últimos morreram na guilhotina. Jean-Paul Marat, médico, defensor dos
direitos da camada baixa da população contra as camadas média e alta, morreu
apunhalado por Charlotte Corday, uma jovem gerondina. George Jacques Danton se
destaca no terceiro ano da revolução com discursos incitando as massas à
rebelião. Membro da Junta de Salvação Pública, Danton participou da organização
do Terror e agiu de modo cruel. Seus
adversários na Convenção Nacional condenaram-no à pena de morte. Ele foi
guilhotinado em abril de 1794.
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