sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

FILOSOFIA XV - 13



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

A tensão entre URSS e EUA teve reflexos negativos em todas as nações do globo. A disputa entre o país socialista e o país capitalista pela hegemonia no mundo foi apelidada de guerra fria por Walter Lippmann, comentarista político estadunidense, expressão que se consolidou no vocabulário da política internacional como característica do período de 1945 a 1991. A expectativa de uma terceira guerra mundial deixa o mundo em suspense nesse período. Grave era o perigo geral proveniente da corrida espacial e armamentista. O potencial destruidor das armas contemporâneas colocou as grandes nações no caminho da coexistência pacífica. As duas grandes potências estabeleceram regras para o caso de um conflito nuclear. A população civil devia ser poupada. Foram celebrados tratados e acordos para limitar testes com bombas e evitar a proliferação de armas nucleares. Do medo da hecatombe nuclear surgiu a esperança de que ela jamais ocorresse. Havia preocupação com a sobrevivência humana, com a proteção do patrimônio econômico e cultural e com a organização estável e duradoura de uma sociedade internacional que proporcionasse paz e prosperidade. 

A competição entre as duas grandes potências estremeceu o espírito de conciliação e de colaboração internacional que presidira a fundação da ONU. O então Secretário-Geral da ONU, U-Than, afirma que essa competição envenenou as relações internacionais do pós-guerra (1963). O poder divorciou-se da ética e do direito nos negócios internacionais e enveredou para a espionagem, o seqüestro, a tortura, o assassinato, o genocídio, a derrubada de governos legítimos, o apoio a ditaduras, o desrespeito à autodeterminação dos povos. A produção de material bélico cresceu em progressão geométrica e os preços de tanques, aviões, navios, submarinos, atingiram níveis estratosféricos. Isto representou um peso colossal no orçamento militar dos países. A corrida armamentista e a disputa ideológica e econômica nos continentes africano e asiático eram manifestações do envenenamento a que se referiu U-Than.

A URSS foi a primeira a lançar ao espaço sideral um satélite artificial (Sputnik) e uma nave tripulada por ser humano (Yuri Gagarin, extasiado com a cor azul da Terra, 1961). Astronautas fincaram a bandeira dos EUA na Lua (1969). O terrorismo de grupo e o terrorismo de Estado marcaram presença na Europa, Ásia e África. A América também teve os seus dias amargos, tais como: o da explosão em local público no Brasil (Riocentro, RJ) e em local privado na Argentina (sinagoga) e o choque proposital de aeronaves civis contra edificações nos EUA (Pentágono e World Trade Center). Questões regionais como as de Cuba, do oriente médio e do sudeste asiático, ganhavam dimensão planetária desassossegando as nações ante a expectativa de novo conflito mundial. As duas potências dispunham da bomba de hidrogênio e de mísseis intercontinentais que podiam ser lançados da terra e do mar. A fim de evitar a hecatombe, linha telefônica foi instalada entre os gabinetes dos chefes de governo dos EUA e da URSS depois da crise dos mísseis soviéticos com ogivas nucleares em Cuba (1962). O governo estadunidense decretou embargo econômico a Cuba, no que foi acompanhado pelos países aliados.

Do ponto de vista secular, a derrocada da URSS começou com a “Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa” em Helsinque, realizada de comum acordo entre Washington e Moscou como estratégia para congelar a guerra fria (détente, 1975).

Leonid Brejnev, na chefia da URSS, insistira na realização dessa conferência pensando no reconhecimento internacional das fronteiras entre os países da Europa e assim evitar intervenções armadas como as ocorridas na Alemanha Oriental (para sufocar o levante de 1953), na Hungria e na Tchecoslováquia (em 1956 e 1968, respectivamente, para impedi-las de se desligarem do Pacto de Varsóvia). Leonid aceitou as cláusulas sobre direitos humanos que constaram da ata final da reunião. Os dissidentes internos da confederação soviética (países satélites + países federados) aproveitaram-se disto para exigir coerência do Kremlin, unidade de princípios, liberdade e respeito aos direitos humanos. A pressão por autonomia aumentou. A má situação econômica da URSS contribuiu para o desfecho implosivo (1981 a 1990).

Mikhail Gorbachev, na chefia da URSS, iniciou a reestruturação política e econômica (perestroika). Acreditava que a aceleração do desenvolvimento social e econômico do país era a chave para a solução de todos os problemas (1985). No “Congresso do Partido Comunista”, Mikhail afirmou que as dificuldades econômicas começaram a se acumular a partir da década de 1970 e as metas dos últimos planos qüinqüenais não foram alcançadas. Admitiu atraso geral nas seguintes áreas: (1) ciências, engenharia, eletricidade, carvão e petróleo; (2) indústrias dos metais ferrosos e dos produtos químicos; (3) formação de capital; (4) educação, saúde e cultura; (5) serviços à população (1986). Bulgária, Hungria, Polônia, Romênia, Tchecoslováquia (estados satélites), romperam os vínculos políticos com a URSS (1989). O muro de Berlim que separava a Alemanha Oriental da Alemanha Ocidental veio abaixo por ação espontânea e rebelde do povo (09/11/1989). A Alemanha se reunifica e Berlim é a capital (1990). Armênia, Bielorússia, Casaquistão, Estônia, Geórgia, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia e Ucrânia (estados federados) rompem o vínculo federativo. Mikhail Gorbachev assina o decreto de dissolução da URSS (1991). Perde eficácia a ata final da Conferência de Helsinque que fixara as fronteiras européias. A guerra fria chega ao fim.

Do ponto de vista espiritual, a derrocada da URSS tomou impulso com a visita do papa à Polônia (1979). Leonid Brejnev, chefe do governo soviético, tentou impedir a visita. O governo da Polônia insistiu em receber o religioso, invocando o orgulho nacional: o papa era polonês! Leonid lavou as mãos. A massa do bolo desandou.

O papa não tinha arsenal bélico – fato que na segunda guerra mundial inspirou o motejo de Stalin – porém, dispunha de recursos mais poderosos do que fuzis, tanques e canhões. Karol Wojtyla, ator, atleta, sacerdote vigoroso física, moral e espiritualmente, entra no território comunista, beija o solo e provoca um terremoto. Multidões ouvem-no e cantam com entusiasmo em praça pública. João Paulo II (Wojtyla) coloca deus e Jesus acima de Marx e Lênin. O efeito mesmerizador de palavras e gestos faz o povo sentir a presença divina e perder o medo. A onda religiosa engolfa a Europa Oriental. Segundo o magistério pontifical, a moralidade devia ser uma só nas esferas individual, nacional e internacional. No ano seguinte, apoiado pela igreja católica, Lech Walesa, operário polonês, em frente ao estaleiro Lênin, em Gdansk, anuncia a fundação do sindicato de trabalhadores “Solidariedade” (Solidarnosc), o primeiro sindicato livre em solo comunista (1980). O episódio foi uma fissura no bloco do leste europeu. Lech foi eleito presidente da Polônia. No Brasil, ainda sob ditadura militar, mas já na fase de distensão lenta e gradual, Luiz Inácio da Silva, operário, lidera os metalúrgicos do Estado de São Paulo e funda o Partido dos Trabalhadores com apoio da igreja católica e de um grupo de intelectuais (1980). Luiz Inácio esperou 22 anos para ser eleito presidente do Brasil.

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