EUROPA (1900 a
2014).
Áustria e Sérvia
mobilizaram suas tropas e entraram em guerra (1914). Ao lado da Áustria e
Hungria se posicionaram: Alemanha, Turquia e Bulgária. Ao lado da Sérvia se
posicionaram: Rússia, França, Inglaterra e Itália. As demais nações européias
foram engolfadas no conflito. As alianças indicavam que a guerra seria longa.
Transcorridos três anos, com os olhos postos nos seus interesses econômicos
ultramarinos, os EUA entram na guerra, solidários com a Inglaterra e contrários
à Alemanha (1917). Bastou notícia da aliança secreta entre a Alemanha e o
México e da campanha de submarinos alemães contra navios mercantes, para o
governo dos EUA decidir participar ativamente da guerra. Embora o exército
americano fosse menos preparado do que o inimigo, a desvantagem era compensada pela
economia americana superior à economia alemã. O Brasil alinhou-se com os adversários
da Alemanha e lhes deu apoio logístico sem enviar tropas.
No último ano da guerra, a
concentração de esforços na indústria de material bélico em detrimento da
produção agrícola gerou enorme escassez de alimentos na Alemanha. Coragem e
heroísmo individuais, houve dos dois lados, alternados com pausas de desânimo
ante a carência de recursos. A superioridade da produção industrial e da força
econômica foi decisiva a partir do ingresso dos EUA no conflito. Enquanto a
Inglaterra e seus aliados gastaram 57 bilhões de dólares e mobilizaram 40
milhões de soldados, a Alemanha e seus aliados gastaram 24 bilhões de dólares e
mobilizaram 25 milhões de soldados. Somando as perdas humanas dos dois lados,
chega-se a 10 milhões de mortos em combate, 7 milhões de incapacitados e 15 milhões de feridos. Morreram
5 milhões de civis não combatentes, sem contabilizar os cadáveres russos. As
perdas materiais foram enormes: centenas de milhares de casas destruídas,
fazendas e florestas incendiadas, rebanhos dizimados, terras inutilizadas para
agricultura por minas e obuses não detonados, fábricas, rodovias, ferrovias e
linhas telegráficas explodidas. A essas perdas acrescentaram-se as de navios,
submarinos, tanques e demais equipamentos e armamentos de guerra. O prejuízo
das nações européias representou lucro para outras nações distantes do cenário
da guerra, como África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, EUA, Índia,
fornecedores de matéria prima e bens de consumo. Terminada a guerra, acelerou-se
o desenvolvimento econômico e tecnológico da Europa na década seguinte.
Os delegados do governo alemão assinaram
o armistício em 11.11.1918. A Alemanha assina o Tratado de Versalhes em 28.07.1919;
aceita os termos da paz ditados pelas três potências: EUA (presidente Woodrow
Wilson), Inglaterra (primeiro-ministro David Lloyd George) e França
(primeiro-ministro George Clemenceau). A Alemanha se comprometia a entregar:
(1) à França: a Alsácia + Lorena, as minas de carvão da Bacia do Sarre; (2) à
Bélgica: Eupen e Malmedy; (3) à Dinamarca: o norte de Schleswig; (4) à Polônia:
grande parte de Posen e da Prússia Ocidental; (5) à Inglaterra, França e Bélgica:
armas, submarinos, navios mercantes, gado, carvão, máquinas e material de
construção. Além disto, a Alemanha devia pagar vultosa indenização por perdas e
danos, reduzir seu efetivo militar e não produzir nem utilizar naves de guerra.
Os aliados da Alemanha também assinaram tratados de paz em separado (Áustria,
Hungria, Bulgária e Turquia). Em todos os tratados mencionava-se o respeito às
decisões da Liga das Nações fundada
pelos vencedores na Conferência de Paris. Dissolveram-se os impérios dos Habsburgo,
dos Hohenzollern e dos Romanov. Surgiram novos Estados com soberania
territorial e nacional: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Iugoslávia
e Tchecoslováquia. O horror da guerra chegara ao fim, porém, começa uma
epidemia de gripe que dizimou parte da população.
A conflagração de 1914 foi
produto do chauvinismo, conseqüência das ambições de prestígio nacional, da
competição por mercados e oportunidades de aplicação do excedente financeiro,
dos rancores antigos entre as nações, dos temores que impulsionam a corrida
armamentista. Esse conjunto de fatores pressiona mentes e inflama corações de
governantes e governados predispondo-os a soluções drásticas. As nações, em estado de natureza, seguiam a
política exterior que mais conviesse aos seus interesses. Inexistia autoridade
superior para resolver suas contendas ou refreá-las. A situação era de anarquia internacional. Ao sentir-se
forte, o Estado se achava no direito de invadir qualquer porção do planeta, se
isto lhe conviesse, sem dar satisfação a ninguém. Os governos da Inglaterra e
da França afirmam cinicamente que a guerra é um esforço para salvaguardar os
direitos dos fracos e manter a supremacia do direito e da moral. Comportavam-se
hipocritamente como se estivessem numa cruzada contra as forças do mal para
assegurar a democracia, a liberdade e a justiça no mundo. Legisladores passaram
a incluir matéria social e econômica no ordenamento constitucional dos seus
Estados. Nisto, o México foi pioneiro (1917), seguido da Rússia (1918) e da
Alemanha (1919). Ao regular a tríplice ordem – política, econômica e social – o
documento escrito expressava a Constituição
do Estado e da Sociedade. Daí a disputa interna entre os grupos mais
influentes, em cada país, pelo poder
constituinte, posto que tal poder lhes rende o ensejo de ditar as normas
fundamentais do Estado e da Sociedade em sintonia com as suas ideologias e os seus
interesses privados.
Rosa Luxemburgo (1871 a 1919), polonesa, escritora,
participou da fundação do Partido Social Democrata Polonês (1893). Ingressou no
Partido Social Democrata Alemão e se opôs aos moderados (1898). Entrou para o
movimento contrário ao domínio da Polônia pela Rússia (1905). Fugiu para a
Suíça em decorrência dessa militância. Ao regressar à Polônia em plena revolução
é presa (1906). Libertada no mesmo ano, homizia-se em Kulala (Finlândia). A seguir,
viaja para a Alemanha e participa do Congresso do Partido Social Democrata. Em
Londres, na Conferência do Partido Social Democrata Russo, Rosa, oradora
vibrante, apóia a facção bolchevique (1907). Na II Internacional Socialista,
realizada em Stuttgart, ela apresenta, em parceria com Lênin, proposta
contrária à guerra, parcialmente aprovada pelo congresso (1907). Contestando
Lênin, Rosa sustentava que o instrumento mais importante da revolução
proletária eram as greves da massa e não a vanguarda organizada. No curso da
primeira guerra mundial ela é presa em razão das suas idéias e militância
política. Com o propósito de derrubar o governo imperial alemão e instaurar uma
república comunista, Rosa e Karl Liebknecht fundaram a Liga Espartaquista e um partido comunista (1915 e1918). Na revolta
espartaquista ela é capturada, interrogada, assassinada e seu corpo lançado
no canal Landwehr (Berlim, 1918
a 1919). Na prisão, ela escreve “A Revolução Russa”, discorda
dos rumos da burocracia totalitária, como se percebe do seguinte excerto: “A liberdade é sempre a liberdade de quem
pensa de maneira diferente. A ditadura do proletariado deve ser obra da classe
e não de uma pequena minoria dirigente em nome da classe. Sem eleições gerais,
sem liberdade irrestrita de imprensa, reunião e discussão, algumas dezenas de
dirigentes do partido comandam e governam. Entre eles, na verdade, a direção
está nas mãos de uma dúzia de homens; uma elite escolhida na classe operária é
de tempos em tempos convocada para aplaudir os discursos dos chefes e votar por
unanimidade as resoluções que lhe são apresentadas”. Antes disto, ela
escrevera “O Socialismo e as Igrejas – o Comunismo dos Primeiros Cristãos”, libelo
contra o clero cristão e a cumplicidade da Igreja com o Estado em desfavor da
classe trabalhadora (1905). Como prova da opção do clero católico e do clero
protestante pelos poderosos, ela cita a postura política dos padres contrária
aos interesses dos trabalhadores e o episódio de Lutero contra os camponeses.
Rosa censurava os padres que exortam os trabalhadores a se conformarem com a
pobreza e a suportarem a opressão com humildade e paciência. O clero usa o
púlpito para propaganda política e se afasta da doutrina de Jesus Cristo que
pregava a comunhão de bens, a partilha da riqueza, o princípio ético
igualitário. No sentir de Rosa, inimigo
mortal dos trabalhadores é todo
aquele que – esteja de batina ou de farda – favorece o regime de miséria da classe trabalhadora. Os
trabalhadores devem se organizar e se defender do governo czarista que os mata
e do aparelho repressivo do capital que os empobrece. A social democracia
advoga ampla liberdade de consciência e
tolerância a quaisquer fé e opinião, afirmava essa valente e admirável
mulher.
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