sábado, 10 de janeiro de 2015

FILOSOFIA XV - 4



EUROPA (1900 a 2014).

Áustria e Sérvia mobilizaram suas tropas e entraram em guerra (1914). Ao lado da Áustria e Hungria se posicionaram: Alemanha, Turquia e Bulgária. Ao lado da Sérvia se posicionaram: Rússia, França, Inglaterra e Itália. As demais nações européias foram engolfadas no conflito. As alianças indicavam que a guerra seria longa. Transcorridos três anos, com os olhos postos nos seus interesses econômicos ultramarinos, os EUA entram na guerra, solidários com a Inglaterra e contrários à Alemanha (1917). Bastou notícia da aliança secreta entre a Alemanha e o México e da campanha de submarinos alemães contra navios mercantes, para o governo dos EUA decidir participar ativamente da guerra. Embora o exército americano fosse menos preparado do que o inimigo, a desvantagem era compensada pela economia americana superior à economia alemã. O Brasil alinhou-se com os adversários da Alemanha e lhes deu apoio logístico sem enviar tropas.

No último ano da guerra, a concentração de esforços na indústria de material bélico em detrimento da produção agrícola gerou enorme escassez de alimentos na Alemanha. Coragem e heroísmo individuais, houve dos dois lados, alternados com pausas de desânimo ante a carência de recursos. A superioridade da produção industrial e da força econômica foi decisiva a partir do ingresso dos EUA no conflito. Enquanto a Inglaterra e seus aliados gastaram 57 bilhões de dólares e mobilizaram 40 milhões de soldados, a Alemanha e seus aliados gastaram 24 bilhões de dólares e mobilizaram 25 milhões de soldados. Somando as perdas humanas dos dois lados, chega-se a 10 milhões de mortos em combate, 7 milhões de  incapacitados e 15 milhões de feridos. Morreram 5 milhões de civis não combatentes, sem contabilizar os cadáveres russos. As perdas materiais foram enormes: centenas de milhares de casas destruídas, fazendas e florestas incendiadas, rebanhos dizimados, terras inutilizadas para agricultura por minas e obuses não detonados, fábricas, rodovias, ferrovias e linhas telegráficas explodidas. A essas perdas acrescentaram-se as de navios, submarinos, tanques e demais equipamentos e armamentos de guerra. O prejuízo das nações européias representou lucro para outras nações distantes do cenário da guerra, como África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá, EUA, Índia, fornecedores de matéria prima e bens de consumo. Terminada a guerra, acelerou-se o desenvolvimento econômico e tecnológico da Europa na década seguinte.    

Os delegados do governo alemão assinaram o armistício em 11.11.1918. A Alemanha assina o Tratado de Versalhes em 28.07.1919; aceita os termos da paz ditados pelas três potências: EUA (presidente Woodrow Wilson), Inglaterra (primeiro-ministro David Lloyd George) e França (primeiro-ministro George Clemenceau). A Alemanha se comprometia a entregar: (1) à França: a Alsácia + Lorena, as minas de carvão da Bacia do Sarre; (2) à Bélgica: Eupen e Malmedy; (3) à Dinamarca: o norte de Schleswig; (4) à Polônia: grande parte de Posen e da Prússia Ocidental; (5) à Inglaterra, França e Bélgica: armas, submarinos, navios mercantes, gado, carvão, máquinas e material de construção. Além disto, a Alemanha devia pagar vultosa indenização por perdas e danos, reduzir seu efetivo militar e não produzir nem utilizar naves de guerra. Os aliados da Alemanha também assinaram tratados de paz em separado (Áustria, Hungria, Bulgária e Turquia). Em todos os tratados mencionava-se o respeito às decisões da Liga das Nações fundada pelos vencedores na Conferência de Paris. Dissolveram-se os impérios dos Habsburgo, dos Hohenzollern e dos Romanov. Surgiram novos Estados com soberania territorial e nacional: Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Iugoslávia e Tchecoslováquia. O horror da guerra chegara ao fim, porém, começa uma epidemia de gripe que dizimou parte da população.

A conflagração de 1914 foi produto do chauvinismo, conseqüência das ambições de prestígio nacional, da competição por mercados e oportunidades de aplicação do excedente financeiro, dos rancores antigos entre as nações, dos temores que impulsionam a corrida armamentista. Esse conjunto de fatores pressiona mentes e inflama corações de governantes e governados predispondo-os a soluções drásticas. As nações, em estado de natureza, seguiam a política exterior que mais conviesse aos seus interesses. Inexistia autoridade superior para resolver suas contendas ou refreá-las. A situação era de anarquia internacional. Ao sentir-se forte, o Estado se achava no direito de invadir qualquer porção do planeta, se isto lhe conviesse, sem dar satisfação a ninguém. Os governos da Inglaterra e da França afirmam cinicamente que a guerra é um esforço para salvaguardar os direitos dos fracos e manter a supremacia do direito e da moral. Comportavam-se hipocritamente como se estivessem numa cruzada contra as forças do mal para assegurar a democracia, a liberdade e a justiça no mundo. Legisladores passaram a incluir matéria social e econômica no ordenamento constitucional dos seus Estados. Nisto, o México foi pioneiro (1917), seguido da Rússia (1918) e da Alemanha (1919). Ao regular a tríplice ordem – política, econômica e social – o documento escrito expressava a Constituição do Estado e da Sociedade. Daí a disputa interna entre os grupos mais influentes, em cada país, pelo poder constituinte, posto que tal poder lhes rende o ensejo de ditar as normas fundamentais do Estado e da Sociedade em sintonia com as suas ideologias e os seus interesses privados.

Rosa Luxemburgo (1871 a 1919), polonesa, escritora, participou da fundação do Partido Social Democrata Polonês (1893). Ingressou no Partido Social Democrata Alemão e se opôs aos moderados (1898). Entrou para o movimento contrário ao domínio da Polônia pela Rússia (1905). Fugiu para a Suíça em decorrência dessa militância. Ao regressar à Polônia em plena revolução é presa (1906). Libertada no mesmo ano, homizia-se em Kulala (Finlândia). A seguir, viaja para a Alemanha e participa do Congresso do Partido Social Democrata. Em Londres, na Conferência do Partido Social Democrata Russo, Rosa, oradora vibrante, apóia a facção bolchevique (1907). Na II Internacional Socialista, realizada em Stuttgart, ela apresenta, em parceria com Lênin, proposta contrária à guerra, parcialmente aprovada pelo congresso (1907). Contestando Lênin, Rosa sustentava que o instrumento mais importante da revolução proletária eram as greves da massa e não a vanguarda organizada. No curso da primeira guerra mundial ela é presa em razão das suas idéias e militância política. Com o propósito de derrubar o governo imperial alemão e instaurar uma república comunista, Rosa e Karl Liebknecht fundaram a Liga Espartaquista e um partido comunista (1915 e1918). Na revolta espartaquista ela é capturada, interrogada, assassinada e seu corpo lançado no canal Landwehr (Berlim, 1918 a 1919). Na prisão, ela escreve “A Revolução Russa”, discorda dos rumos da burocracia totalitária, como se percebe do seguinte excerto: “A liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de maneira diferente. A ditadura do proletariado deve ser obra da classe e não de uma pequena minoria dirigente em nome da classe. Sem eleições gerais, sem liberdade irrestrita de imprensa, reunião e discussão, algumas dezenas de dirigentes do partido comandam e governam. Entre eles, na verdade, a direção está nas mãos de uma dúzia de homens; uma elite escolhida na classe operária é de tempos em tempos convocada para aplaudir os discursos dos chefes e votar por unanimidade as resoluções que lhe são apresentadas”. Antes disto, ela escrevera “O Socialismo e as Igrejas – o Comunismo dos Primeiros Cristãos”, libelo contra o clero cristão e a cumplicidade da Igreja com o Estado em desfavor da classe trabalhadora (1905). Como prova da opção do clero católico e do clero protestante pelos poderosos, ela cita a postura política dos padres contrária aos interesses dos trabalhadores e o episódio de Lutero contra os camponeses. Rosa censurava os padres que exortam os trabalhadores a se conformarem com a pobreza e a suportarem a opressão com humildade e paciência. O clero usa o púlpito para propaganda política e se afasta da doutrina de Jesus Cristo que pregava a comunhão de bens, a partilha da riqueza, o princípio ético igualitário. No sentir de Rosa, inimigo mortal dos trabalhadores é todo aquele que – esteja de batina ou de farda – favorece o regime de miséria da classe trabalhadora. Os trabalhadores devem se organizar e se defender do governo czarista que os mata e do aparelho repressivo do capital que os empobrece. A social democracia advoga ampla liberdade de consciência e tolerância a quaisquer fé e opinião, afirmava essa valente e admirável mulher.

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