segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

FILOSOFIA XV - 5



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Alemanha e seus aliados levaram a culpa exclusiva pela mortandade e pelos danos causados na primeira guerra mundial. Os vencedores fizeram exigências abusivas. A carga exagerada de obrigações impostas aos vencidos minou a paz e preparou os espíritos para a próxima guerra. Cresceu a competição por armamentos e mercados. O princípio da autodeterminação dos povos foi negligenciado. Tanto os EUA como a Rússia, optaram pelo isolamento diplomático. Os assuntos de caráter internacional centraram-se na França e na Inglaterra. A crise econômica mundial, a partir do estouro da bolsa de valores de Nova Iorque em 1929, intensificou o nacionalismo econômico e contribuiu para estremecer a paz. Cada nação buscava preservar o mercado interno para seus produtores. Entra em vigor a doutrina do espaço vital que justifica a expansão territorial para resguardar a economia e a segurança da nação mais forte. O desespero das massas (desemprego, pobreza, falta de perspectivas para o futuro) adubou o nacional socialismo alemão. Apesar da guerra, a infra-estrutura alemã estava praticamente intacta. Isto facilitou a recuperação econômica. A Alemanha se nega a pagar a indenização a que se obrigara ao assinar o Tratado de Versalhes. Os países devedores dos EUA se recusaram a pagar as suas dívidas enquanto não recebessem a indenização da Alemanha. O governo americano manifestou descontentamento com esse calote.

Alguns países concentraram em si mesmos os seus interesses e a respectiva defesa. Disto resultou pluralidade de centros de poder na Europa. A primeira república a repudiar os ideais liberais e democráticos foi Itália, a pretexto de livrar o país dos governantes corruptos. A filosofia política de Hegel influiu no pensamento dos ideólogos da revolução fascista, como Giovanni Gentile e Giuseppe Prezzoline. A tese de Hegel de que “o Estado é a manifestação suprema de deus na Terra”, serviu de base à doutrina fascista. A palavra fascismo deriva: (1) do latim, fasces, machado rodeado de um feixe de varas representando a autoridade do Estado romano; (2) do italiano, fascio, que significa grupo ou bando. Segundo os líderes, a Itália tinha a missão gloriosa de iluminar o mundo civilizado tal qual fizera ao tempo do império romano e ao tempo da renascença. [Na Roma antiga, a ordem estatal ofuscava a liberdade pessoal]. O interesse do operário liga-se ao interesse da nação. Para a revolução fascista contribuíram os seguintes fatores: inflação, alta dos preços, especulação, falta de emprego, salários baixos, greves freqüentes, fechamento dos mercados estrangeiros, radicalismo econômico. Este último fator consistiu na implantação do socialismo pelo ativismo do operariado com aumento de cadeiras no Parlamento e filiação à Internacional de Moscou (1918). A reação da classe patronal ao radicalismo econômico e o insucesso do governo parlamentar fortaleceram o fascismo.

Soberania absoluta do Estado, totalitarismo, nacionalismo, idealismo, romantismo, corporativismo, militarismo, eram elementos da doutrina fascista. O Estado congrega todos os interesses individuais e coletivos: nada acima do Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado. Perante o Estado, o cidadão não tem direitos, só deveres. A doutrina fascista ampara o Estado Corporativo, no qual a representação política tem por base a economia e não a geografia. A nação é representada pelas classes produtoras. As corporações abrandam a tensão entre o capital e o trabalho. Repudiava-se o laissez-faire. Ao Estado cabe regulamentar e controlar a economia. A encampação de empresas privadas ocorre sempre que assim o exigir o bem coletivo. A liberdade é dispensável; os italianos necessitam de ordem, trabalho e prosperidade; bastam um só partido, uma só imprensa e uma só educação. A nação com alma e vida próprias é a mais alta forma de sociedade. Internacionalismo é perversão, óbice ao progresso humano; jamais duas nações distintas comungarão os mesmos ideais e interesses. A nação pode se tornar em tudo o que desejar. O espírito fascista é vontade e não intelecto. A razão jamais será instrumento adequado à solução dos grandes problemas nacionais. A fé mística, o sacrifício individual, o heroísmo e a força, são válidos e necessários. O governo cabe à elite que, pela força e superior compreensão dos ideais nacionais, conquista o direito de governar. A doutrina fascista incorporou, ao seu modo e conveniência, o pensamento dos filósofos Anaximandro e Heráclito: a luta é a origem de todas as coisas. Segundo os ideólogos fascistas, a guerra eleva e enobrece o homem e regenera os povos ociosos e decadentes. As nações que não se expandem, morrem.

Júlio César, Napoleão e Garibaldi, eram imagens fortes no imaginário italiano da época. Benito Mussolini soube sintetizar esse trio em sua pessoa. Na Suíça, ele iniciou-se no socialismo e no jornalismo. Impressionou e liderou o povo italiano com sua linguagem bombástica, suas bravatas e mentiras. Benito não era o tão poderoso chefe como a propaganda fazia crer. As prerrogativas reais eram preservadas pelo rei Vitor Emanuel III. Parte considerável da burocracia e dos oficiais militares era fiel ao rei. Com freqüência, essa parcela fazia objeções e impedia Benito de realizar sua própria vontade. O papa, com sua autoridade moral e espiritual e com o apoio do povo católico, era mais uma pedra na bota do Il Duce. 

Na Alemanha, após a queda do kaiser e da monarquia, instaurou-se a república, cuja Constituição resultou do consenso entre os chefes dos partidos socialistas, centristas e liberais em torno dos seguintes preceitos: sufrágio universal, representação proporcional, governo de gabinete, direitos à liberdade, à segurança, à propriedade, ao emprego, à educação e à proteção contra os riscos da sociedade industrial (1919). Parcela do povo nutria aversão à democracia. A longa experiência germânica com a monarquia dificultou a confiança do povo em governo democrático. A severidade do Tratado de Versalhes gerou o caos na sociedade alemã. Em assuntos externos, a Alemanha perdeu a liberdade. Em assuntos internos, havia tensão entre as camadas sociais e confusão dos eleitores e partidos. A moeda alemã se desvalorizou ante a inflação desenfreada (1923). Ruína geral do setor privado. Especuladores (principalmente judeus) aproveitaram-se da crise econômica para adquirir bens a preços irrisórios. Quando chegou a hora, o povo despejou toda a sua ira sobre essa malta de aproveitadores. A reação do Estado alemão às condições humilhantes em que fora lançado pelos vencedores da primeira guerra mundial, correspondeu à sua tradição guerreira cujo símbolo era o exército. Sair da humilhação e exibir grandeza nacional era ponto de honra. O governo alemão violou as cláusulas restritivas do Tratado de Versalhes, aumentou o efetivo do exército, restabeleceu a força aérea, a frota de tanques, navios e submarinos e incrementou a produção de material bélico. A Alemanha ingressa na Liga das Nações (1929). No contexto social e econômico do período de 1920 a 1940, o povo alemão ansiava mais por segurança do que por liberdade.

A burguesia alemã alarmou-se e reagiu ante o crescimento do partido comunista e da sua influência no Parlamento. Na grande depressão da sociedade alemã foi gerado o nazismo (fascismo germânico). O movimento nazista contou inicialmente com: (1) a camada inferior da classe média; (2) os antigos oficiais do exército; (3) os fazendeiros; (4) os estudantes universitários; (5) os desempregados. Esse movimento teve início despretensioso em uma cervejaria de Munique, onde sete homens se reúnem, tomam cerveja em canecos, fundam um partido político e o batizam de Nacional Socialista dos Operários Alemães (1919). O vulgo apelidou-o de nazi e os seus membros de nazistas. O mais obscuro dos sete fundadores do partido nazi chamava-se Adolf Hitler, nascido em 1889 (ano em que nascia a república brasileira). Adolf era pintor de quadros e admirava os políticos de Viena que discriminavam os judeus. Adolf aderiu à crença de que os alemães pertenciam à superior raça ariana.


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