EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Alemanha e seus aliados
levaram a culpa exclusiva pela mortandade e pelos danos causados na primeira
guerra mundial. Os vencedores fizeram exigências abusivas. A carga exagerada de
obrigações impostas aos vencidos minou a paz e preparou os espíritos para a próxima
guerra. Cresceu a competição por armamentos e mercados. O princípio da autodeterminação dos povos foi
negligenciado. Tanto os EUA como a Rússia, optaram pelo isolamento diplomático.
Os assuntos de caráter internacional centraram-se na França e na Inglaterra. A
crise econômica mundial, a partir do estouro da bolsa de valores de Nova Iorque
em 1929, intensificou o nacionalismo econômico e contribuiu para estremecer a
paz. Cada nação buscava preservar o mercado interno para seus produtores. Entra
em vigor a doutrina do espaço vital que
justifica a expansão territorial para resguardar a economia e a segurança da
nação mais forte. O desespero das massas (desemprego, pobreza, falta de
perspectivas para o futuro) adubou o nacional socialismo alemão. Apesar da
guerra, a infra-estrutura alemã estava praticamente intacta. Isto facilitou a
recuperação econômica. A Alemanha se nega a pagar a indenização a que se
obrigara ao assinar o Tratado de Versalhes. Os países devedores dos EUA se
recusaram a pagar as suas dívidas enquanto não recebessem a indenização da
Alemanha. O governo americano manifestou descontentamento com esse calote.
Alguns países concentraram
em si mesmos os seus interesses e a respectiva defesa. Disto resultou pluralidade
de centros de poder na Europa. A primeira república a repudiar os ideais
liberais e democráticos foi Itália, a pretexto de livrar o país dos governantes
corruptos. A filosofia política de Hegel influiu no pensamento dos ideólogos da
revolução fascista, como Giovanni Gentile e Giuseppe Prezzoline. A tese de
Hegel de que “o Estado é a manifestação
suprema de deus na Terra”, serviu de base à doutrina fascista. A palavra fascismo
deriva: (1) do latim, fasces, machado
rodeado de um feixe de varas representando a autoridade do Estado romano; (2)
do italiano, fascio, que significa
grupo ou bando. Segundo os líderes, a Itália tinha a missão gloriosa de
iluminar o mundo civilizado tal qual fizera ao tempo do império romano e ao
tempo da renascença. [Na Roma antiga, a ordem estatal ofuscava a liberdade
pessoal]. O interesse do operário liga-se ao interesse da nação. Para a
revolução fascista contribuíram os seguintes fatores: inflação, alta dos
preços, especulação, falta de emprego, salários baixos, greves freqüentes,
fechamento dos mercados estrangeiros, radicalismo econômico. Este último fator
consistiu na implantação do socialismo pelo ativismo do operariado com aumento
de cadeiras no Parlamento e filiação à Internacional de Moscou (1918). A reação
da classe patronal ao radicalismo econômico e o insucesso do governo
parlamentar fortaleceram o fascismo.
Soberania absoluta do
Estado, totalitarismo, nacionalismo, idealismo, romantismo, corporativismo, militarismo,
eram elementos da doutrina fascista. O Estado congrega todos os interesses
individuais e coletivos: nada acima do Estado, nada fora do Estado, nada contra
o Estado. Perante o Estado, o cidadão não tem direitos, só deveres. A doutrina fascista
ampara o Estado Corporativo, no qual
a representação política tem por base a economia e não a geografia. A nação é
representada pelas classes produtoras. As corporações abrandam a tensão entre o
capital e o trabalho. Repudiava-se o laissez-faire.
Ao Estado cabe regulamentar e controlar a economia. A encampação de empresas
privadas ocorre sempre que assim o exigir o bem coletivo. A liberdade é
dispensável; os italianos necessitam de ordem, trabalho e prosperidade; bastam um
só partido, uma só imprensa e uma só educação. A nação com alma e vida próprias é a mais alta forma de sociedade. Internacionalismo é perversão, óbice ao
progresso humano; jamais duas nações distintas comungarão os mesmos ideais e
interesses. A nação pode se tornar em tudo o que desejar. O espírito
fascista é vontade e não intelecto. A razão
jamais será instrumento adequado à solução dos grandes problemas nacionais. A fé mística, o sacrifício individual, o
heroísmo e a força, são válidos e necessários. O governo cabe à elite que, pela
força e superior compreensão dos ideais nacionais, conquista o direito de
governar. A doutrina fascista incorporou, ao seu modo e conveniência, o
pensamento dos filósofos Anaximandro e Heráclito: a luta é a origem de todas as coisas. Segundo os ideólogos
fascistas, a guerra eleva e enobrece o homem
e regenera os povos ociosos e decadentes. As nações que não se expandem,
morrem.
Júlio César, Napoleão e
Garibaldi, eram imagens fortes no imaginário italiano da época. Benito
Mussolini soube sintetizar esse trio em sua pessoa. Na Suíça, ele iniciou-se no
socialismo e no jornalismo. Impressionou e liderou o povo italiano com sua
linguagem bombástica, suas bravatas e mentiras. Benito não era o tão poderoso chefe
como a propaganda fazia crer. As prerrogativas reais eram preservadas pelo rei
Vitor Emanuel III. Parte considerável da burocracia e dos oficiais militares
era fiel ao rei. Com freqüência, essa parcela fazia objeções e impedia Benito
de realizar sua própria vontade. O papa, com sua autoridade moral e espiritual
e com o apoio do povo católico, era mais uma pedra na bota do Il Duce.
Na Alemanha, após a queda
do kaiser e da monarquia, instaurou-se
a república, cuja Constituição resultou do consenso entre os chefes dos
partidos socialistas, centristas e liberais em torno dos seguintes preceitos: sufrágio
universal, representação proporcional, governo de gabinete, direitos à
liberdade, à segurança, à propriedade, ao emprego, à educação e à proteção
contra os riscos da sociedade industrial (1919). Parcela do povo nutria aversão
à democracia. A longa experiência germânica com a monarquia dificultou a
confiança do povo em governo democrático. A severidade do Tratado de Versalhes
gerou o caos na sociedade alemã. Em assuntos externos, a Alemanha perdeu a
liberdade. Em assuntos internos, havia tensão entre as camadas sociais e confusão
dos eleitores e partidos. A moeda alemã se desvalorizou ante a inflação desenfreada
(1923). Ruína geral do setor privado. Especuladores (principalmente judeus) aproveitaram-se
da crise econômica para adquirir bens a preços irrisórios. Quando chegou a
hora, o povo despejou toda a sua ira sobre essa malta de aproveitadores. A
reação do Estado alemão às condições humilhantes em que fora lançado pelos
vencedores da primeira guerra mundial, correspondeu à sua tradição guerreira
cujo símbolo era o exército. Sair da humilhação e exibir grandeza nacional era
ponto de honra. O governo alemão violou as cláusulas restritivas do Tratado de
Versalhes, aumentou o efetivo do exército, restabeleceu a força aérea, a frota
de tanques, navios e submarinos e incrementou a produção de material bélico. A
Alemanha ingressa na Liga das Nações (1929). No contexto social e econômico do
período de 1920 a
1940, o povo alemão ansiava mais por segurança do que por liberdade.
A burguesia alemã
alarmou-se e reagiu ante o crescimento do partido comunista e da sua influência
no Parlamento. Na grande depressão da sociedade alemã foi gerado o nazismo (fascismo germânico). O
movimento nazista contou inicialmente com: (1) a camada inferior da classe
média; (2) os antigos oficiais do exército; (3) os fazendeiros; (4) os
estudantes universitários; (5) os desempregados. Esse movimento teve início despretensioso
em uma cervejaria de Munique, onde sete homens se reúnem, tomam cerveja em
canecos, fundam um partido político e o batizam de Nacional Socialista dos Operários Alemães (1919). O vulgo apelidou-o
de nazi e os seus membros de nazistas. O mais obscuro dos sete
fundadores do partido nazi chamava-se
Adolf Hitler, nascido em 1889 (ano em que nascia a república brasileira). Adolf
era pintor de quadros e admirava os políticos de Viena que discriminavam os
judeus. Adolf aderiu à crença de que os alemães pertenciam à superior raça
ariana.
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