EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
Terminada a segunda guerra
mundial, as duas potências iniciaram a disputa pelo controle territorial,
estratégico, econômico e ideológico de áreas do planeta: Europa (Oriental e
Ocidental), Ásia morena (Palestina, Síria, Arábia Saudita, Jordânia, Iêmen,
Iraque, Irã, Índia, Paquistão, Afeganistão), Ásia amarela (China, Coréia,
Japão, Vietnã, Camboja, Tailândia), Oceania (Filipinas, Malásia, Indonésia),
África morena (Egito, Marrocos, Argélia, Líbia), África negra (Central e
Meridional), América morena (Central e Meridional). As duas potências prestavam
ajuda financeira e militar aos países do “terceiro mundo”. A cessão de parte do
território palestino para criação do Estado de Israel atendeu aos interesses
dos EUA, o que explica a tolerância do governo ianque com as práticas
criminosas do governo israelense.
Dean Rusk, secretário do governo
estadunidense, faz a seguinte afirmação: “Este planeta tornou-se muito pequeno.
Temos de nos ocupar de todo ele, de todas as suas terras, águas, atmosfera e
com o espaço circundante” (1965). O governo soviético, sob a liderança de
Kruschev, afirmava que havia diferentes caminhos para o socialismo e tomou
iniciativa para o degelo da guerra fria ao retirar as tropas soviéticas
estacionadas na Áustria, ao devolver base naval a Finlândia e o Port Arthur à
China e ao suavizar as relações com a Iugoslávia. O líder soviético passou a
ocupar-se intensamente com o “terceiro mundo” após ver frustrado o seu esforço
para uma détente real e efetiva com
os EUA em conseqüência dos incidentes com o U-2 (1960), com o muro de Berlim
(1961) e com os mísseis em Cuba (1962). Alguns países procuravam manter boas
relações diplomáticas com as duas potências sem alinhar-se, ainda que delas
recebessem algum tipo de ajuda, como a Iugoslávia sob o governo Tito, o Egito
sob o governo Nasser e a Índia sob o governo Nehru. O imperialismo universal
russo e estadunidense sofria resistência.
A fissura no bloco soviético se
deu com o afastamento da China (1963). A URSS liderada por Kruschev, colocava
ênfase no proletariado industrial. A China liderada por Mao Tse Tung, colocava
ênfase nos camponeses e se desvinculou do governo russo. Esperava-se que a
China, a Índia e outros países do “terceiro mundo” promovessem com êxito a
revolução verde mediante a produção e exportação de cereais. A China marchou a
passos largos para ingressar no seleto clube atômico ao fabricar e explodir a
sua primeira bomba (1964). O governo chinês assumiu uma linha independente.
Contestou as ações do governo soviético sobre outros países comunistas e os
tratados sobre armamento por ele assinados com países ocidentais.
A fissura no bloco estadunidense
ocorreu inicialmente com a França, liderada pelo general De Gaulle, herói da
resistência francesa, cuja postura era contrária à hegemonia dos EUA na Europa.
A França entra para o restrito clube atômico ao fabricar e explodir a sua
primeira bomba (1960). O governo francês expulsou de Paris a sede da OTAN,
fechou todas as bases americanas em França, estabeleceu relações mais vigorosas
com a URSS, discordou da entrada da Grã-Bretanha na Comunidade Econômica
Européia e se reconciliou com a Alemanha então governada por Konrad Adenauer
(1963). À doutrina Monroe, “a América para os americanos”, De Gaulle opôs uma
doutrina simétrica: “a Europa para os europeus”. O prestígio do general sofreu
sério abalo com a revolta dos estudantes e dos trabalhadores que tumultuou
Paris (1968).
Outra fissura no bloco estadunidense,
porém menos contundente, decorreu da política da Alemanha Ocidental de
aproximação e reconciliação com a Rússia, Polônia, Tchecoslováquia e Alemanha
Oriental durante o governo de Willy Brandt (1969 a 1973). A Alemanha
Ocidental estabeleceu relações econômicas e culturais com esses países e
participou dos acordos de Helsinque sobre direitos humanos (1975). O número de
estrelas no céu internacional aumentou. Forma-se progressivamente uma
constelação e uma nova ordem multilateral: EUA, União Européia, Tigres Asiáticos
(Cingapura, Taiwan, Hong-Kong, Coréia do Sul, países que se industrializaram e
prosperaram rapidamente), BRICA (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul).
O centro de gravidade do poder econômico mundial fragmentou-se.
À medida que os laços entre os
países da Europa Ocidental se fortaleciam, os países da Europa Oriental
sentiam-se mais atraídos pelo progresso que percebiam naquela região. No
sentido oposto, a Rússia, que fora a maior exportadora de cereais do mundo,
teve necessidade de importar dezenas de milhões de toneladas de trigo e de
milho a partir do início da década de 1970. Este foi o primeiro sintoma da
implosão que ocorreria na década seguinte. Para fortalecer os laços de união
das repúblicas soviéticas ante o perigo de secessão, as lideranças soviéticas
providenciaram uma nova Constituição (1977) que anunciava um novo estágio em
direção ao comunismo: Estado Socialista
de Todo o Povo que expressa a vontade e os interesses dos trabalhadores,
camponeses e intelectuais de todas as nações e etnias do país. O estágio da Ditadura do Proletariado fora cumprido
com êxito. Entrava-se agora numa nova comunidade histórica socialista
desenvolvida e de relações maduras: o
povo soviético. Esta comunidade tem como lei de vida o desvelo de todos
pelo bem de cada um e o desvelo de cada um pelo bem de todos; autêntica
democracia cujo sistema assegura a eficiente administração de todos os assuntos
sociais e a conjugação de direitos e deveres. Cuida-se de uma etapa lógica do
caminho até o comunismo. O supremo objetivo do Estado soviético é edificar a
sociedade sem classes na qual se desenvolverá a autogestão social comunista,
sendo necessário, para tanto, criar a base material e técnica, aperfeiçoar as
relações socialistas e transforma-las em comunistas, educar o homem da
sociedade comunista, elevar o nível de vida dos trabalhadores, segurança do
país, fortalecimento da paz e fomento da cooperação internacional.
Segundo a Constituição soviética de
1977, ao povo pertence o poder exercido através dos sovietes de deputados.
Adota-se o centralismo democrático: (1) preenchimento de todos os órgãos de
poder do Estado mediante eleições; (2) prestação de contas ao povo da gestão
governamental; (3) obrigação dos órgãos inferiores obedecerem às decisões dos órgãos
superiores. Legalidade socialista condicionadora da atividade administrativa.
Obediência de todos à Constituição e às leis. Debate e referendo popular sobre
as questões transcendentais da vida do Estado. O Partido Comunista da URSS,
força dirigente e orientadora da sociedade, núcleo do sistema político, existe
para o povo, ao serviço do povo e tem por objetivo: (1) definir a orientação
geral do desenvolvimento da sociedade e a linha da política interna e externa;
(2) imprimir caráter científico e sistemático na luta pelo triunfo do
comunismo. A juventude, os sindicatos, as cooperativas e outras organizações
sociais participarão da administração dos assuntos do Estado e da Sociedade e
na solução dos problemas políticos, econômicos, sociais e culturais. A
propriedade socialista dos meios de produção é base do sistema econômico.
Ninguém tem o direito de utilizar a propriedade socialista para seu lucro
pessoal e nem para outros fins egoístas. A atividade econômica individual na
esfera da pequena produção, da agricultura e dos serviços à população é
permitida na forma da lei. A propriedade do Estado, patrimônio comum de todo o
povo soviético, é a forma fundamental da propriedade socialista. A renda
proveniente do trabalho constitui a base da propriedade pessoal dos cidadãos. O
desenvolvimento econômico e social obedecerá a planos periódicos. O solo, o
subsolo, as águas, a flora, a fauna, serão objeto de proteção estatal para
conservar limpos o ar e a água e assegurar a reprodução das riquezas naturais e
o melhoramento do meio ambiente.
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