quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

FILOSOFIA XV - 12



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

Terminada a segunda guerra mundial, as duas potências iniciaram a disputa pelo controle territorial, estratégico, econômico e ideológico de áreas do planeta: Europa (Oriental e Ocidental), Ásia morena (Palestina, Síria, Arábia Saudita, Jordânia, Iêmen, Iraque, Irã, Índia, Paquistão, Afeganistão), Ásia amarela (China, Coréia, Japão, Vietnã, Camboja, Tailândia), Oceania (Filipinas, Malásia, Indonésia), África morena (Egito, Marrocos, Argélia, Líbia), África negra (Central e Meridional), América morena (Central e Meridional). As duas potências prestavam ajuda financeira e militar aos países do “terceiro mundo”. A cessão de parte do território palestino para criação do Estado de Israel atendeu aos interesses dos EUA, o que explica a tolerância do governo ianque com as práticas criminosas do governo israelense.

Dean Rusk, secretário do governo estadunidense, faz a seguinte afirmação: “Este planeta tornou-se muito pequeno. Temos de nos ocupar de todo ele, de todas as suas terras, águas, atmosfera e com o espaço circundante” (1965). O governo soviético, sob a liderança de Kruschev, afirmava que havia diferentes caminhos para o socialismo e tomou iniciativa para o degelo da guerra fria ao retirar as tropas soviéticas estacionadas na Áustria, ao devolver base naval a Finlândia e o Port Arthur à China e ao suavizar as relações com a Iugoslávia. O líder soviético passou a ocupar-se intensamente com o “terceiro mundo” após ver frustrado o seu esforço para uma détente real e efetiva com os EUA em conseqüência dos incidentes com o U-2 (1960), com o muro de Berlim (1961) e com os mísseis em Cuba (1962). Alguns países procuravam manter boas relações diplomáticas com as duas potências sem alinhar-se, ainda que delas recebessem algum tipo de ajuda, como a Iugoslávia sob o governo Tito, o Egito sob o governo Nasser e a Índia sob o governo Nehru. O imperialismo universal russo e estadunidense sofria resistência.

A fissura no bloco soviético se deu com o afastamento da China (1963). A URSS liderada por Kruschev, colocava ênfase no proletariado industrial. A China liderada por Mao Tse Tung, colocava ênfase nos camponeses e se desvinculou do governo russo. Esperava-se que a China, a Índia e outros países do “terceiro mundo” promovessem com êxito a revolução verde mediante a produção e exportação de cereais. A China marchou a passos largos para ingressar no seleto clube atômico ao fabricar e explodir a sua primeira bomba (1964). O governo chinês assumiu uma linha independente. Contestou as ações do governo soviético sobre outros países comunistas e os tratados sobre armamento por ele assinados com países ocidentais.

A fissura no bloco estadunidense ocorreu inicialmente com a França, liderada pelo general De Gaulle, herói da resistência francesa, cuja postura era contrária à hegemonia dos EUA na Europa. A França entra para o restrito clube atômico ao fabricar e explodir a sua primeira bomba (1960). O governo francês expulsou de Paris a sede da OTAN, fechou todas as bases americanas em França, estabeleceu relações mais vigorosas com a URSS, discordou da entrada da Grã-Bretanha na Comunidade Econômica Européia e se reconciliou com a Alemanha então governada por Konrad Adenauer (1963). À doutrina Monroe, “a América para os americanos”, De Gaulle opôs uma doutrina simétrica: “a Europa para os europeus”. O prestígio do general sofreu sério abalo com a revolta dos estudantes e dos trabalhadores que tumultuou Paris (1968).

Outra fissura no bloco estadunidense, porém menos contundente, decorreu da política da Alemanha Ocidental de aproximação e reconciliação com a Rússia, Polônia, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental durante o governo de Willy Brandt (1969 a 1973). A Alemanha Ocidental estabeleceu relações econômicas e culturais com esses países e participou dos acordos de Helsinque sobre direitos humanos (1975). O número de estrelas no céu internacional aumentou. Forma-se progressivamente uma constelação e uma nova ordem multilateral: EUA, União Européia, Tigres Asiáticos (Cingapura, Taiwan, Hong-Kong, Coréia do Sul, países que se industrializaram e prosperaram rapidamente), BRICA (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). O centro de gravidade do poder econômico mundial fragmentou-se.

À medida que os laços entre os países da Europa Ocidental se fortaleciam, os países da Europa Oriental sentiam-se mais atraídos pelo progresso que percebiam naquela região. No sentido oposto, a Rússia, que fora a maior exportadora de cereais do mundo, teve necessidade de importar dezenas de milhões de toneladas de trigo e de milho a partir do início da década de 1970. Este foi o primeiro sintoma da implosão que ocorreria na década seguinte. Para fortalecer os laços de união das repúblicas soviéticas ante o perigo de secessão, as lideranças soviéticas providenciaram uma nova Constituição (1977) que anunciava um novo estágio em direção ao comunismo: Estado Socialista de Todo o Povo que expressa a vontade e os interesses dos trabalhadores, camponeses e intelectuais de todas as nações e etnias do país. O estágio da Ditadura do Proletariado fora cumprido com êxito. Entrava-se agora numa nova comunidade histórica socialista desenvolvida e de relações maduras: o povo soviético. Esta comunidade tem como lei de vida o desvelo de todos pelo bem de cada um e o desvelo de cada um pelo bem de todos; autêntica democracia cujo sistema assegura a eficiente administração de todos os assuntos sociais e a conjugação de direitos e deveres. Cuida-se de uma etapa lógica do caminho até o comunismo. O supremo objetivo do Estado soviético é edificar a sociedade sem classes na qual se desenvolverá a autogestão social comunista, sendo necessário, para tanto, criar a base material e técnica, aperfeiçoar as relações socialistas e transforma-las em comunistas, educar o homem da sociedade comunista, elevar o nível de vida dos trabalhadores, segurança do país, fortalecimento da paz e fomento da cooperação internacional.

Segundo a Constituição soviética de 1977, ao povo pertence o poder exercido através dos sovietes de deputados. Adota-se o centralismo democrático: (1) preenchimento de todos os órgãos de poder do Estado mediante eleições; (2) prestação de contas ao povo da gestão governamental; (3) obrigação dos órgãos inferiores obedecerem às decisões dos órgãos superiores. Legalidade socialista condicionadora da atividade administrativa. Obediência de todos à Constituição e às leis. Debate e referendo popular sobre as questões transcendentais da vida do Estado. O Partido Comunista da URSS, força dirigente e orientadora da sociedade, núcleo do sistema político, existe para o povo, ao serviço do povo e tem por objetivo: (1) definir a orientação geral do desenvolvimento da sociedade e a linha da política interna e externa; (2) imprimir caráter científico e sistemático na luta pelo triunfo do comunismo. A juventude, os sindicatos, as cooperativas e outras organizações sociais participarão da administração dos assuntos do Estado e da Sociedade e na solução dos problemas políticos, econômicos, sociais e culturais. A propriedade socialista dos meios de produção é base do sistema econômico. Ninguém tem o direito de utilizar a propriedade socialista para seu lucro pessoal e nem para outros fins egoístas. A atividade econômica individual na esfera da pequena produção, da agricultura e dos serviços à população é permitida na forma da lei. A propriedade do Estado, patrimônio comum de todo o povo soviético, é a forma fundamental da propriedade socialista. A renda proveniente do trabalho constitui a base da propriedade pessoal dos cidadãos. O desenvolvimento econômico e social obedecerá a planos periódicos. O solo, o subsolo, as águas, a flora, a fauna, serão objeto de proteção estatal para conservar limpos o ar e a água e assegurar a reprodução das riquezas naturais e o melhoramento do meio ambiente.

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