quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

FILOSOFIA XV - 6



EUROPA (1900 a 2014). Continuação.

O partido nazi apresentou a seguinte plataforma: (1) rejeitar os tratados de Versalhes e Saint-Germain; (2) extinguir o regime parlamentar; (3) fortalecer o poder central; (4) confiscar integralmente lucros de guerra; (5) nacionalizar os trustes; (6) distribuir os lucros das grandes indústrias; (7) dividir as grandes casas de comércio em pequenas unidades de vendas a retalho; (8) proibir especulação imobiliária; (9) vedar renda obtida sem trabalho; (10) punir a usura com pena de morte; (11) aumentar os benefícios aos idosos, mães e crianças; (12) cassar a cidadania dos judeus. Além desses pontos havia outros. A revolução nazista teve um início calmo. Nenhum chanceler conseguia maioria no Parlamento. O pequeno partido nazi crescera e se fortalecera no curso dos 10 anos a partir da sua fundação e, agora, pleiteava o cargo de chanceler para Adolf (1932). Empresários da indústria e banqueiros exigiram do presidente Hindenburg a chancelaria para Adolf (1933). O presidente atendeu ao pedido com ressalva: do gabinete não podiam participar mais de três membros do partido nazi. Depois da morte do presidente em 1934, o povo outorgou a Adolf, mediante plebiscito, o poder de chefe e chanceler da nação (führer und reichskanzler).

O nacionalismo ressurgiu com força total e Adolf tirou proveito da situação: suprimiu a união dos trabalhadores (sindicatos); combateu os comunistas e os socialistas; dissolveu o Reichstag e convocou novas eleições. O número de cadeiras do seu partido aumentou. Obteve maioria no Parlamento mediante aliança partidária que lhe concedeu plenos poderes. A bandeira da República de Weimar foi substituída pela bandeira do partido com a suástica ao centro. A nova Alemanha foi declarada sucessora dos impérios dos Hohenstaufen e dos Hohenzollern e proclamada III Reich. Com Adolf no poder, a Alemanha melhorou a sua posição diplomática e militar. O fascismo italiano e o nazismo alemão tinham pontos de contacto. Os dois eram totalitários, militaristas, nacionalistas e românticos [predomínio da vontade e da emoção sobre a razão]. O nazismo apresentava mais algumas características: (1) superioridade racial como fundamento; (2) aversão aos judeus por só produzirem cultura judaica oriental determinada pelo sangue e que, por isto mesmo, jamais seriam alemães e arianos; (3) valorização do camponês, considerado o portador das mais altas qualidades alemãs. O sangue e o solo eram as chaves da teoria nazista. Oriundos das camadas mais simples da sociedade, os nazistas exaltaram a vida simples do campo num mecanismo psicológico de compensação.

O modelo corporativo de Estado desenvolvido na Itália não vingou plenamente na Alemanha. No Reichstag havia representação geográfica de caráter estritamente político (distritos) ao invés de representação classista (sindicatos). O nazismo era mais impulsivo do que o fascismo italiano, incentivava o fanatismo e assemelhava-se a uma religião se considerados os seguintes aspectos: dogmatismo, ritualismo, expansionismo e a cruz suástica que era o símbolo místico do círculo externo (culto à pátria) e do círculo interno (irmandade secreta). Com Adolf, o nacional socialismo pretendia: (1) criar uma sociedade purificada por eliminação dos judeus, ciganos, negros e todos os outros elementos estranhos à raça germânica; (2) condicionar a mente e o coração do povo ao apoio irrestrito do regime político; (3) relegar ao segundo plano a lealdade à família, à classe e à religião; (4) enfrentar qualquer nação que opusesse resistência à expansão econômica e militar alemã; (5) esmagar o inimigo sem concessões, com raiva, bravura e heroísmo; (6) vingar a humilhação sofrida em 1919, na assinatura do Tratado de Versalhes, quando os vencedores da guerra estabeleceram obrigações excessivamente severas à Alemanha. Essa ideologia e esses propósitos encontravam resistência de minorias ocultas e sigilosas. O regime nazista, no entanto, era imensamente popular e o uso que fazia dos recursos nacionais não era questionado. A Alemanha gastava mais com armamento do que as demais nações européias. Visivelmente, as energias da nação estavam sendo canalizadas para novas guerras.               

Na Rússia, a corte do czar estava mergulhada na corrupção e na superstição. O monge Rasputin, magnetismo pessoal emoldurado pelo misticismo, dominava o espírito crédulo da czarina e dava as cartas na corte. A participação na primeira guerra mundial deixara a Rússia em lastimável situação social e econômica. Havia insuficiência geral de alimentos, calçados, agasalhos, medicamentos, médicos e armamentos. Por algum tempo, a estrada de ferro ficou sem tráfego. A inflação agravou-se e os preços das mercadorias subiram. O carvão, importante fonte de riqueza, teve sua produção reduzida. Os camponeses buscaram abrigo nas cidades. Os opositores do governo pressionaram até a queda do czar e da monarquia absoluta (1917). Os líderes da Duma (assembléia legislativa) organizaram ministério provisório incluindo representantes dos operários de Petrogrado. A maioria dos ministros era liberal. O novo governo pretendia instaurar monarquia constitucional à inglesa, enunciou as liberdades civis, convocou assembléia constituinte, libertou milhares de prisioneiros e permitiu o regresso de todos os exilados. O primeiro-ministro, Milyukov, sucumbiu à pressão popular e renunciou. Ele insistia em manter a Rússia na guerra enquanto a massa popular ansiava pela paz. Povo também cansa.

Alexandre Kerensky, revolucionário social, menchevique, assume o governo, porém a sua política interna e externa também desagrada à massa. Os bolchevistas organizaram uma força armada com o nome de Exército Vermelho e prenderam os membros do governo. Kerensky fugiu. Os bolchevistas assumem o poder. Esse grupo formado por marxistas radicais era uma das facções do partido social democrático; a outra facção era dos moderados mencheviques. Os bolchevistas contavam com o apoio da massa e tinham por lema: “paz, terra e pão”. O governo provisório assinou o armistício com a Alemanha (1917). Cansados de guerra, os soldados queriam paz. Cansados da submissão aos senhores feudais, os camponeses queriam terra para agricultura e pecuária. Cansada de privações, a população queria alimento, agasalhos, calçados e moradia. Por serem minoria na assembléia constituinte, os bolcheviques dissolveram-na, instauraram a ditadura do proletariado, nacionalizaram a terra e os bancos, reservaram para os camponeses o uso exclusivo da terra, passaram o controle das fábricas aos operários e a propriedade respectiva ao Estado.

Na revolução russa destacaram-se dois líderes: Vladimir Ilyich Ulianov (pseudônimo Lênin, 1870 a 1924) e Lev Bronstein (pseudônimo Leon Trotsky, 1879 a 1940). Lênin, nascido em família da pequena nobreza (seu pai era inspetor de escola e conselheiro de Estado), ficou marcado em sua juventude pela morte do seu irmão mais velho que se envolvera em golpe de Estado contra o imperador. Diplomou-se em direito e dedicou-se à causa socialista. Por propagar a doutrina de Marx entre os trabalhadores de São Petersburgo, Lênin foi preso e depois exilado na Sibéria (1895). Viveu na Alemanha e na Inglaterra (1900 a 1917). Dirigiu o jornal Iskra (“A Chispa”) e se destacou na propaganda socialista. Morava na Suíça quando teve início a revolução russa em março de 1917. Deslocou-se imediatamente para a Rússia e assumiu a chefia do movimento, graças à sua atuação como jornalista, à sua oratória vibrante, à sua habilidade política e ao magnetismo da sua personalidade. Tornou-se presidente do Conselho dos Comissários do Povo e virtual ditador naquele período revolucionário. Venceu as forças reacionárias na guerra civil russa (1918 a 1921). Sem ambicionar riqueza ou glória pessoal, ele vivia e se vestia simples e modestamente. Com seu exemplo pessoal ele propiciou um padrão de honestidade e austeridade ao partido político. Os textos de Lênin, teórico do marxismo aplicado à realidade social e econômica da Rússia, eram lidos e seguidos com fervor religioso.






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