EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
O partido nazi apresentou a seguinte plataforma:
(1) rejeitar os tratados de Versalhes e Saint-Germain; (2) extinguir o regime
parlamentar; (3) fortalecer o poder central; (4) confiscar integralmente lucros
de guerra; (5) nacionalizar os trustes; (6) distribuir os lucros das grandes
indústrias; (7) dividir as grandes casas de comércio em pequenas unidades de
vendas a retalho; (8) proibir especulação imobiliária; (9) vedar renda obtida
sem trabalho; (10) punir a usura com pena de morte; (11) aumentar os benefícios
aos idosos, mães e crianças; (12) cassar a cidadania dos judeus. Além desses
pontos havia outros. A revolução nazista
teve um início calmo. Nenhum chanceler conseguia maioria no Parlamento. O pequeno
partido nazi crescera e se
fortalecera no curso dos 10 anos a partir da sua fundação e, agora, pleiteava o
cargo de chanceler para Adolf (1932). Empresários da indústria e banqueiros
exigiram do presidente Hindenburg a chancelaria para Adolf (1933). O presidente
atendeu ao pedido com ressalva: do gabinete não podiam participar mais de três
membros do partido nazi. Depois da
morte do presidente em 1934, o povo outorgou a Adolf, mediante plebiscito, o
poder de chefe e chanceler da nação (führer
und reichskanzler).
O nacionalismo ressurgiu
com força total e Adolf tirou proveito da situação: suprimiu a união dos
trabalhadores (sindicatos); combateu os comunistas e os socialistas; dissolveu
o Reichstag e convocou novas eleições. O número de cadeiras do seu partido
aumentou. Obteve maioria no Parlamento mediante aliança partidária que lhe
concedeu plenos poderes. A bandeira da República de Weimar foi substituída pela
bandeira do partido com a suástica ao centro. A nova Alemanha foi declarada
sucessora dos impérios dos Hohenstaufen e dos Hohenzollern e proclamada III Reich. Com Adolf no poder, a
Alemanha melhorou a sua posição diplomática e militar. O fascismo italiano e o
nazismo alemão tinham pontos de contacto. Os dois eram totalitários, militaristas,
nacionalistas e românticos [predomínio da vontade e da emoção sobre a razão]. O
nazismo apresentava mais algumas características: (1) superioridade racial como
fundamento; (2) aversão aos judeus por só produzirem cultura judaica oriental
determinada pelo sangue e que, por isto mesmo, jamais seriam alemães e arianos;
(3) valorização do camponês, considerado o portador das mais altas qualidades
alemãs. O sangue e o solo eram as chaves da teoria nazista. Oriundos das
camadas mais simples da sociedade, os nazistas exaltaram a vida simples do
campo num mecanismo psicológico de compensação.
O modelo corporativo de
Estado desenvolvido na Itália não vingou plenamente na Alemanha. No Reichstag
havia representação geográfica de caráter estritamente político (distritos) ao
invés de representação classista (sindicatos). O nazismo era mais impulsivo do
que o fascismo italiano, incentivava o fanatismo e assemelhava-se a uma
religião se considerados os seguintes aspectos: dogmatismo, ritualismo,
expansionismo e a cruz suástica que era o símbolo místico do círculo externo (culto
à pátria) e do círculo interno (irmandade secreta). Com Adolf, o nacional
socialismo pretendia: (1) criar uma sociedade purificada por eliminação dos
judeus, ciganos, negros e todos os outros elementos estranhos à raça germânica;
(2) condicionar a mente e o coração do povo ao apoio irrestrito do regime
político; (3) relegar ao segundo plano a lealdade à família, à classe e à
religião; (4) enfrentar qualquer nação que opusesse resistência à expansão
econômica e militar alemã; (5) esmagar o inimigo sem concessões, com raiva,
bravura e heroísmo; (6) vingar a humilhação sofrida em 1919, na assinatura do
Tratado de Versalhes, quando os vencedores da guerra estabeleceram obrigações
excessivamente severas à Alemanha. Essa ideologia e esses propósitos
encontravam resistência de minorias ocultas e sigilosas. O regime nazista, no
entanto, era imensamente popular e o uso que fazia dos recursos nacionais não
era questionado. A Alemanha gastava mais com armamento do que as demais nações
européias. Visivelmente, as energias da nação estavam sendo canalizadas para
novas guerras.
Na Rússia, a corte do czar
estava mergulhada na corrupção e na superstição. O monge Rasputin, magnetismo
pessoal emoldurado pelo misticismo, dominava o espírito crédulo da czarina e
dava as cartas na corte. A participação na primeira guerra mundial deixara a
Rússia em lastimável situação social e econômica. Havia insuficiência geral de
alimentos, calçados, agasalhos, medicamentos, médicos e armamentos. Por algum
tempo, a estrada de ferro ficou sem tráfego. A inflação agravou-se e os preços
das mercadorias subiram. O carvão, importante fonte de riqueza, teve sua
produção reduzida. Os camponeses buscaram abrigo nas cidades. Os opositores do
governo pressionaram até a queda do czar e da monarquia absoluta (1917). Os
líderes da Duma (assembléia legislativa) organizaram ministério provisório
incluindo representantes dos operários de Petrogrado. A maioria dos ministros
era liberal. O novo governo pretendia instaurar monarquia constitucional à
inglesa, enunciou as liberdades civis, convocou assembléia constituinte,
libertou milhares de prisioneiros e permitiu o regresso de todos os exilados. O
primeiro-ministro, Milyukov, sucumbiu à pressão popular e renunciou. Ele
insistia em manter a Rússia na guerra enquanto a massa popular ansiava pela
paz. Povo também cansa.
Alexandre Kerensky,
revolucionário social, menchevique, assume o governo, porém a sua política
interna e externa também desagrada à massa. Os bolchevistas organizaram uma
força armada com o nome de Exército
Vermelho e prenderam os membros do governo. Kerensky fugiu. Os bolchevistas
assumem o poder. Esse grupo formado por marxistas radicais era uma das facções
do partido social democrático; a outra facção era dos moderados mencheviques.
Os bolchevistas contavam com o apoio da massa e tinham por lema: “paz, terra e
pão”. O governo provisório assinou o armistício com a Alemanha (1917). Cansados
de guerra, os soldados queriam paz. Cansados da submissão aos senhores feudais,
os camponeses queriam terra para agricultura e pecuária. Cansada de privações, a
população queria alimento, agasalhos, calçados e moradia. Por serem minoria na
assembléia constituinte, os bolcheviques dissolveram-na, instauraram a ditadura
do proletariado, nacionalizaram a terra e os bancos, reservaram para os
camponeses o uso exclusivo da terra, passaram o controle das fábricas aos
operários e a propriedade respectiva ao Estado.
Na revolução russa
destacaram-se dois líderes: Vladimir Ilyich Ulianov (pseudônimo Lênin, 1870 a 1924) e Lev Bronstein
(pseudônimo Leon Trotsky, 1879
a 1940). Lênin, nascido em família da pequena nobreza
(seu pai era inspetor de escola e conselheiro de Estado), ficou marcado em sua
juventude pela morte do seu irmão mais velho que se envolvera em golpe de
Estado contra o imperador. Diplomou-se em direito e dedicou-se à causa
socialista. Por propagar a doutrina de Marx entre os trabalhadores de São
Petersburgo, Lênin foi preso e depois exilado na Sibéria (1895). Viveu na
Alemanha e na Inglaterra (1900
a 1917). Dirigiu o jornal Iskra (“A Chispa”) e se
destacou na propaganda socialista. Morava na Suíça quando teve início a
revolução russa em março de 1917. Deslocou-se imediatamente para a Rússia e assumiu
a chefia do movimento, graças à sua atuação como jornalista, à sua oratória
vibrante, à sua habilidade política e ao magnetismo da sua personalidade.
Tornou-se presidente do Conselho dos Comissários do Povo e virtual ditador
naquele período revolucionário. Venceu as forças reacionárias na guerra civil
russa (1918 a
1921). Sem ambicionar riqueza ou glória pessoal, ele vivia e se vestia simples
e modestamente. Com seu exemplo pessoal ele propiciou um padrão de honestidade
e austeridade ao partido político. Os textos de Lênin, teórico do marxismo
aplicado à realidade social e econômica da Rússia, eram lidos e seguidos com
fervor religioso.
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