quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

FILOSOFIA XIV - 28



EUROPA (1800 a 1900). Final.  

Thomas Henry Huxley (1825 a 1895), biólogo inglês, filósofo, segue a linha evolucionista. Aceitava com bom humor o cognome “buldogue de Darwin”, que lhe deram por causa do seu queixo quadrado e da sua filiação intelectual à teoria darwiniana. O seu livro “O Lugar do Homem na Natureza” teve larga repercussão. Como Herbert Spencer, ele também aplica o conceito de evolução a todos os problemas humanos. Thomas encara as instituições sociais e as idéias morais como produto da herança biológica e não da ordenação divina. “As ações que dizemos pecaminosas são partes e parcela da luta pela existência”. Não há prova da existência de um ser como o deus dos teólogos. O cristianismo compõe-se de alguns dos melhores e dos piores elementos do paganismo e do judaísmo. Thomas inventou o vocábulo agnosticismo para exprimir seu desprezo pelo gnosticismo (certeza dogmática derivada das crenças dos antigos gnósticos). Agnosticismo é o nome da doutrina que afirma a impossibilidade: (1) de compreender a existência e a natureza de deus; (2) de saber se o universo tem alguma finalidade ou se é somente uma máquina cega, puro mecanismo.

Ernst Heinrich Haeckel (1834 a 1919), médico alemão, filósofo, professor de Zoologia, filiado à teoria de Darwin, escreveu um livro que se tornou clássico: “O Enigma do Universo”. Ateísmo, materialismo e mecanicismo são idéias centrais da sua filosofia. O mundo espiritual não existe. O universo compõe-se exclusivamente de matéria em constante mudança de formas. Este processo natural é automático, tal qual o fluxo e o refluxo das marés. A matéria viva é apenas mais complexa do que a matéria bruta; entre ambas não há diferença essencial. Na combinação espontânea dos elementos essenciais do protoplasma está a origem da vida. Mediante o processo de seleção natural desenvolveram-se todas as espécies complexas a partir das primitivas formas de protoplasma. Tal qual o corpo, a mente do homem também é um produto da evolução. A mente do animal racional e a mente do animal irracional diferem apenas em grau. Memória, imaginação, percepção e pensamento são funções da matéria. A Psicologia deve ser considerada ramo da Fisiologia.

Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 a 1900), poeta alemão, professor, filósofo, filho e neto de pastores luteranos, natural da aldeia de Röcken (próxima a Leipzig). Formou-se em letras clássicas (grego e latim). Estudou teologia e filosofia. Lecionou Filologia na Universidade da Basiléia. Afastou-se do cristianismo seduzido pelo ateísmo de Schopenhauer e atribuiu significado metafísico à música. Apaixonou-se por Cosima, esposa do seu amigo e compositor Richard Wagner, cuja casa de campo freqüentava com assiduidade. A sua reflexão filosófica está contida principalmente em três livros: “Assim Falava Zaratustra”, “Genealogia da Moral” e “Para Além do Bem e do Mal,” e de modo difuso, em outras obras como “Gaia Ciência”, “Ecce Homo”, “O Anticristo”, “Vontade de Potência”. Deixou-se influenciar pela história de Esparta. Friedrich morou na Itália e na Suíça. Ele não gozava de boa saúde, quiçá em decorrência de infecção venérea ocorrida no tempo de estudante; reclamava de dores constantes e sofreu ataques de loucura nos dois últimos anos de vida.

Na opinião de Friedrich, a seleção natural atua livremente no caso dos seres humanos tanto quanto no caso dos animais e plantas. Criação e destruição, alegria e sofrimento, bem e mal, alternam-se durante a existência em um eterno retorno, não do mesmo e para o mesmo e sim para nova seleção. Na luta pela sobrevivência devem morrer os moralmente fracos, os improdutivos e os covardes. Se os casamentos segregassem os incapazes, surgiria uma raça de super-homens, não de gigantes físicos, mas homens de coragem moral e força de caráter. A aspiração humana há de focar um tipo mais elevado de homem. Deus não deve ser o objetivo, porque deus está morto. A loucura esconde um saber fatal demasiado certo. Onde existe loucura há um grão de gênio e de sabedoria, alguma coisa de divino. A loucura rompe os costumes e as superstições e torna mais plano o caminho para as idéias novas. O mundo não é o vale de lágrimas descrito pelo cristianismo. Para eficácia da seleção natural é necessário destruir a supremacia moral do cristianismo e do judaísmo, cultos orientais que glorificam a virtude dos escravos e dos indivíduos inferiores. Existe a moral dos senhores (independência, generosidade, confiança em si mesmo e todas as virtudes do homem nobre) e a moral dos escravos (subserviência, mesquinharia, timidez e todos os vícios do homem desprezível).

Senhores e escravos se desprezam reciprocamente. Humildade, resignação, mortificação da carne, simpatia pelo fraco e pelo incapaz, são vícios e não virtudes. A glorificação desses vícios conduz sangue degenerado pelas veias da raça. Judaísmo e cristianismo, esteios da moral escrava, devem ser removidos no processo evolutivo da humanidade. Bom é tudo o que suscita no homem o sentimento e a vontade de poder. Ruim é tudo o que vem da fraqueza. As doutrinas igualitárias que nivelam os fortes e os fracos são imorais. A democracia é a forma histórica da decadência do Estado. Colocar o Estado como o mais alto fim do homem é um regresso à estupidez. A violência e a conquista geraram o Estado. A força gerou o direito e não há direito que no fundo não seja arrogância, usurpação, violência.

Ao Estado interessa cidadãos obedientes, submissos. Merecem admiração e louvor as virtudes germânicas: bravura, força, lealdade, honra e destreza. Os aspectos apolíneo e dionisíaco da natureza humana, complementares entre si, foram separados na cultura grega. Apolo: deus da clareza, da harmonia e da ordem. Dionísio: deus da exuberância, da música e da desordem. A tendência apolínea da alma humana com sua visão serena contrabalança o lado desagradável da vida. A tendência dionisíaca da alma humana com sua paixão e obscuridade conduz à realidade trágica da existência. Inspirado na tragédia grega e numa postura otimista, Friedrich extrai o conceito de herói trágico. O homem cria os valores e depois neles vê algo de eterno, verdadeiro e transcendente, esquecendo-se que foi ele mesmo quem os criou. Ao estabelecer a distinção entre o essencial e o acidental, o inteligível e o sensível, o verdadeiro e o falso, Sócrates inventou a metafísica; separou dois mundos e passou a julgar a vida, medindo-a por valores pretensamente superiores como o divino, o justo, o verdadeiro, o bom, o belo. A partir daí, a filosofia se propõe a tarefa de julgar a vida ao invés de buscar a unidade entre a vida e o pensamento. Para Sócrates, uma obra só é bela se obedecer à razão; para Friedrich, as idéias devem ser vistas apenas como sinais e não como verdades ou falsidades.

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