EUROPA (1900 a 2014). Continuação.
O governo estadunidense enterrou
bilhões de dólares em guerras na Ásia amarela. Apesar disto, sofreu derrotas
(Saigon, 1975). O potencial militar dos EUA não foi totalmente utilizado nessas
guerras. O governo temia a intervenção direta da China e da URSS. Cerca de 60
mil soldados estadunidenses foram mortos, 600 mil incapacitados por ferimentos
e 600 mil desempregados. Para compensar o abalo moral e o efeito deletério do
fracasso, Hollywood entra em cena, produz filmes em que heróis americanos
aniquilam divisões, quartéis, acampamentos e arsenais dos inimigos amarelos e
brancos, salvam prisioneiros e exibem sua força e superioridade. Na vida real,
sem a presença de Rambo, o fracasso
se repete na Ásia morena. Longe das suas casas, os estadunidenses invadem terra
alheia com aviões, veículos de guerra e modernos equipamentos e armas. Bem
nutridos com suas rações enlatadas, os soldados prendem, torturam e matam os
nativos. Sem o mesmo potencial bélico e sem a mesma dieta alimentar, mas
nutridos pela fé nos seus valores culturais e pelo amor à sua pátria, os
nativos resistem à ofensiva americana com ardor, eficiência e sem apego à
própria vida. O que os americanos pretendiam resolver em poucos meses dura
anos. Reincidiram no erro de avaliação. A superioridade econômica e militar de
uma nação nem sempre é suficiente para aprisionar e domesticar a alma de uma
outra nação.
As mudanças econômicas dos
séculos XIX e XX se refletiram na vida civil e militar dos povos e exibiram
alicerces teóricos. Verdadeira revolução na economia ocorreu com a adesão dos
países capitalistas às idéias de John Maynard Keynes (1883 a 1946), rico
economista inglês, fazendeiro, colecionador de obras de arte, investidor bem
sucedido. Ao se apaixonar por uma bailarina russa com quem se casou em 1925,
John abrandou o seu homossexualismo. Ele foi considerado um dos maiores
economistas e uma das pessoas mais influentes do século XX. John desempenhou
importante papel na conferência de Bretton Woods, da qual resultaram o FMI e o
Banco Mundial (1944). O impacto da sua teoria econômica foi semelhante ao
ocasionado pelas teorias de Adam Smith (século XVIII) e de Karl Marx (século
XIX). “As Conseqüências Econômicas da Paz”, “Tratado Sobre a Moeda” e “Teoria
Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, são da sua lavra.
Até os anos 1930, imperava o tipo
clássico do liberalismo econômico: teoria do laissez faire, do mercado livre da ingerência do Estado, do ajuste
automático da oferta e da procura, da submissão dos fatos econômicos à lei
natural. O campo da especulação era microeconômico. Estudava-se a vida
econômica das pessoas, das famílias, das empresas. Com John, entra em cena a macroeconomia e um liberalismo mitigado
que desconfiava dos mecanismos espontâneos (1936). Passa-se a estudar a vida
econômica da nação como totalidade: vinculações entre o produto nacional, a
renda nacional, o dispêndio nacional, a poupança nacional, o investimento
global, o emprego, a inflação, o desenvolvimento econômico. John introduziu na
economia capitalista o princípio da
incerteza por simetria com igual princípio da microfísica detectado por
Heisenberg. Os agentes econômicos
preferem a liquidez dos seus ativos, manter sua riqueza na forma de dinheiro ao
menor sinal de queda no sistema, afirmava John com base na experiência. A incerteza própria do sistema capitalista
justifica a intervenção do Estado na economia, não para extinguir o referido
sistema e sim para aperfeiçoá-lo. O altruísmo (serviço social do Estado) combinado
com o egoísmo (livre iniciativa dos particulares). Os ciclos econômicos
(recessão, depressão, implosão, crescimento, explosão, recessão...) exigem
intervenção estatal através de medidas fiscais e monetárias.
O período de 1950 a 1970 foi o de maior
sucesso das idéias de John. Após esse período, a sua teoria perdeu o trono. Os
problemas resultantes da crise do petróleo foram atribuídos ao modelo
keynesiano (1971). O dólar americano desvinculou-se do ouro. O presidente
Richard Nixon, ao mencionar os centros de poder econômico do mundo {EUA + URSS
+ China + Japão + bloco europeu: Grã-Bretanha, Alemanha, França, Itália} assim
se pronunciava: “Serão esses cinco que
determinarão o futuro econômico e, como o poder econômico será a chave de
outros tipos de poder, o futuro do mundo sob outros aspectos, no último terço
deste século”. Depois do Japão, a Europa Ocidental foi a região cuja
economia mais cresceu de 1950
a 1970.
A Alemanha foi a força motriz do crescimento europeu
(indústrias química, elétrica e automobilística; robótica, biotecnologia,
telecomunicações; sistema bancário, comércio exterior; nível superior de
escolaridade, cientistas, engenheiros e administradores).
A interdependência dos países no
mundo contemporâneo assume cores fortes nos momentos críticos. Nos anos 1970,
ficou dramática a situação dos países importadores de petróleo. A OPEP
suspendera o fornecimento de petróleo aos EUA e demais aliados de Israel. Ao
recomeçar o fornecimento, aumentou o preço do barril. O PIB brasileiro
despencou após um crescimento de 11,4% a/a (1973). O preço do barril de
petróleo sobe acima de US$100 (2008). Cingapura, Taiwan, Hong-Kong e Coréia do
Sul recebem o apelido de “tigres asiáticos” por seu acelerado desenvolvimento
econômico. A União Européia e a China concorrem com a economia dos EUA e do
Japão. A China se mantém no socialismo
pragmático introduzido por Deng Xiaoping. O processo chinês de modernização
implicava concessão a técnicas capitalistas e obedecia à seguinte ordem de
prioridade: agricultura, indústria, ciência e defesa militar (1978). A partir
de 2003, a
economia chinesa cresce 10% a/a; o seu PIB soma 2,6 trilhões de dólares em 2006.
O déficit comercial dos EUA em relação à China foi superior a 250 milhões de
dólares em 2007. Ainda na primeira década do século XXI, a China se torna a
segunda maior economia do planeta.
Com o mundo capitalista em crise, a teoria monetarista
passa a dar as cartas no período de 1971 a 2008. Milton Friedman (1912 a 2006), economista
estadunidense, professor na Universidade de Chicago, foi o expoente dessa
teoria. Severo crítico da teoria de Keynes, ele era adepto do liberalismo
econômico: redução do papel do Estado na economia, livre jogo das forças
econômicas segundo leis naturais. As idéias de Milton foram aplicadas nos EUA
(governos Nixon e Reagan) e no Chile (governo Pinochet) com repercussão em
outros rincões do planeta. Todavia, nova crise econômica mundial gerada pela
ganância e malandragem dos especuladores forçou o recuo dos países capitalistas
(2008). Líderes mundiais como Barack Obama (EUA) e Gordon Brown (Inglaterra)
adotaram as idéias de Keynes como base teórica para os seus planos de combate à
recessão e de prevenção contra futuras crises. O Brasil, sob o governo de Luiz
Inácio da Silva, também enveredou por essa trilha com sucesso (2008 a 2010). O governo dos
EUA, chefiado por Barack Obama, reata as relações diplomáticas com o governo de
Cuba, chefiado por Raul Castro. Abre-se vereda à suspensão do embargo econômico
(dezembro, 2014). Em atenção ao gesto do presidente estadunidense, o presidente
cubano liberta presos políticos. Em janeiro de 2015, uma comissão oficial do
governo estadunidense visita Cuba para tratar das novas relações entre os dois
países.
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