EUROPA (1900 a
2014). Continuação.
No século XX, houve duas
guerras mundiais, ambas iniciadas na Europa, além de guerras regionais
(Argélia, Coréia, Espanha, Indochina, Oriente Médio, Vietnã), revoluções
(russa, chinesa, cubana, africana, iraniana, latino-americana) e genocídios (Auschwitz,
Bálcãs, Camboja, Hiroshima, Líbano, Nagasaki, Palestina, Ruanda). A natureza e
o destino da sociedade européia foram temas gerados pela dupla revolução
(francesa e industrial) que espelhou as virtudes e os vícios dos seus
defensores. Em seu jornal, Marat dizia: a
maioria dos legisladores é de velhacos manhosos, charlatães indignos, de homens
corruptos, astutos e pérfidos; a Assembléia Nacional é composta, quase em sua
totalidade, de antigos nobres, prelados, togados, cortesãos, oficiais,
juristas, homens sem alma, sem bons costumes, sem honra, sem pudor, que por
condição e princípio eram inimigos da revolução.
O nacionalismo foi poderosa energia constituinte do Estado moderno.
Caracteriza-se por forte apelo ao sentimento e ao espírito de sacrifício em
prol de uma causa sagrada: a nação.
Superou a religião em alguns países. Significando, inicialmente, lealdade
emotiva a um grupo cultural e lingüístico, a ação nacionalista expressava o
anseio por livrar-se da opressão estrangeira. Posteriormente, verificou-se um
movimento agressivo em prol da grandeza do grupo e da independência nacional.
Esse movimento culminou em uma forma extremada de adoração ao poder político, à
honra nacional e à superioridade racial. A doutrina nacionalista amparou-se no
enlace da idéia de fraternidade com
as idéias de igualdade e liberdade.
Intimamente relacionada ao
movimento nacionalista, a hostilidade ao
poder clerical tinha os seguintes objetivos: destronar a fé, refrear a
influência da igreja católica na política, reduzir seus privilégios econômicos
e quebrar sua supremacia no terreno educacional. Entre os fatores do movimento incluem-se:
(1) A revolução industrial, que
estimulou os interesses econômicos. A burguesia via na igreja entrave a esses
interesses. (2) A primazia das idéias
liberais e céticas, que se opunham às idéias conservadoras. (3) O conhecimento científico, que progredia e
removia crenças apesar da resistência do clero. Em França, monarquistas e clero
católico eram aliados. Os republicanos repudiavam tal aliança. Nenhuma ordem
religiosa podia atuar sem autorização do Estado, segundo lei aprovada pelo
governo francês (1901). O ensino público e particular foi vedado às ordens
religiosas (1904). A união entre Estado e Igreja foi dissolvida (1905). Na
Itália, o papa resistiu à unificação dos reinos italianos. Ao Vaticano
interessava manter o status quo
(reinos separados e autônomos no interior da península italiana). Isto atraiu a
hostilidade do movimento unificador contra o clero católico. Após a unificação
dos reinos em um só Estado, o parlamento italiano votou lei disciplinando a
atividade do papa como soberano reinante sobre o Vaticano e Latrão, com direito
de enviar e receber embaixadores, utilizar livremente os serviços de correio,
telégrafo e transporte ferroviário e de receber vultosa indenização. Pio IX não
reconheceu validade e legitimidade a essa legislação. Sustentou a necessidade
de um tratado internacional. O impasse foi resolvido mediante acordo entre o
governo fascista e o Vaticano (1929).
Nos séculos
XX e XXI, os europeus se dividiram ideologicamente em dois blocos: o liberal
(capitalismo) e o igualitário (socialismo). Tabus foram quebrados e tradições
aniquiladas. A complexidade da sociedade contemporânea e a velocidade do
desenvolvimento social e econômico trouxeram aos europeus maior conforto,
bem-estar, densidade cultural, mas também, graves problemas. O choque entre a
liberdade e a autoridade, a luta entre ideais opostos, a disputa entre
diferentes sistemas educacionais, as reações nas artes (racionalismo x
romantismo x realismo), todas estas tensões criaram um clima de insegurança e
perplexidade.
Na Inglaterra, foi
organizado o Partido Trabalhista (1901). Desde o século XIX, as relações entre
empregador e empregado indicavam que a organização política dos trabalhadores
fatalmente aconteceria. No seu livro “A Era das Revoluções”, Eric J. Hobsbawm
reproduz o seguinte discurso de um empregador aos seus empregados: O Deus da Natureza estabeleceu uma lei justa
e imparcial que o homem não tem o direito de contestar; quando se arrisca a
fazê-lo é sempre certo que, mais cedo ou mais tarde, encontra o castigo
merecido (...). Assim, quando os patrões audaciosamente combinam que por uma
união de poder eles podem oprimir seus empregados de modo mais eficaz, insultam
dessa forma a Majestade Divina e trazem para si a maldição de Deus, enquanto
que, por outro lado, quando os empregados se unem para extorquir de seus
empregadores aquela parte do lucro que por direito pertence ao patrão, eles
igualmente violam a lei da equidade. Hobsbawm cita James Mill sobre a
formação da classe dos trabalhadores e a inicial subordinação desta ao
pensamento dos patrões: As opiniões
daquela classe de pessoas que estão abaixo do escalão médio são formadas e seus
espíritos comandados pelo virtuoso e inteligente escalão que se acha mais
imediatamente em contato com elas. Abriam-se três possibilidades ao pobre
que se encontrava à margem da sociedade burguesa cuja selvageria tinha por lema
“cada um por si e deus por todos”: (1) lutar para se tornar burguês; (2)
submeter-se à opressão; (3) rebelar-se.
Movimento trabalhista e
socialista cujo núcleo era o proletariado industrial, havia provocado a revolução
de 1848. O confronto não era do pobre contra o rico e sim da classe dos trabalhadores contra a classe dos patrões; aquela, a ansiar por
uma sociedade cooperativa; esta, por manter a sociedade competitiva. Ao tempo
daquela revolução já se notava uma consciência
de classe, pelo menos na Inglaterra e na França: a proletária e a
empresarial. A tensão entre a ideologia religiosa (cristianismo) e a ideologia
secular (liberalismo) acontecia tanto no interior de cada classe como no
confronto entre elas. A elite intelectual de cada classe tendia para a ideologia
secular enquanto a massa se apegava à ideologia religiosa. Do ponto de vista
objetivo, entretanto, a ideologia secular produziu mais resultados sociais,
econômicos e políticos do que a ideologia religiosa. Greve, sindicato,
instituto de assistência mútua, eram os instrumentos de defesa da classe
proletária penetrados do espírito de solidariedade. Além dos operários de
fábrica, havia sindicatos dos impressores, alfaiates, chapeleiros, marceneiros
e outros que integravam a mais ampla classe
dos trabalhadores.
O partido trabalhista
inglês surgiu como reação à decisão da Câmara dos Lordes de responsabilizar os
sindicatos por danos causados durante as greves. Para acalmar o partido
trabalhista, o governo promulgou lei regulamentando as ações trabalhistas e
isentando os sindicatos daquela responsabilidade. A Câmara dos Lordes é a
última instância recursal, porém, as suas decisões podem ser revogadas por ato
do parlamento. Durante a gestão do ministro David Lloyd George foram criados alguns
tributos de cunho socialista, acolhidos pelo governo liberal a partir de 1910:
imposto sobre a valorização injustificada da terra; imposto sobre terras sem
cultivo; imposto extra sobre a renda dos ricos. Lei de representação popular (1918) aboliu o voto censitário, exigiu cidadania
britânica para ser eleitor, concedeu direito de voto à mulher com mais de 30
anos, proprietária ou esposa de proprietário. O sistema democrático do governo
inglês compreende: (1) a realeza
hereditária, que personifica o Estado e está vinculada às leis fundamentais
do reino; (2) o gabinete, que exerce
a função executiva; (3) o parlamento
(Câmara dos Lordes, com poderes jurisdicionais + Câmara dos Comuns, com função
legislativa). O gabinete é uma comissão parlamentar que se firmou como poder político quando a supremacia do
rei foi suplantada pela supremacia do parlamento. A Câmara dos Comuns tornou-se
o ramo mais poderoso do parlamento.
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