domingo, 9 de novembro de 2014

SANTO DIÁLOGO. FINAL.


- Volte a sentar-se, Xang Li Npo. Estou certo de que você e seus sucessores cumprirão a promessa aqui jurada. Glória a deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!
- Assim seja amado mestre.
- Vou narrar a você, meu caro casulo, episódio de heresia e afronta a deus para que seja conhecido por todos os missionários e crentes. Investido da autoridade divina e a fim de tomar posse das riquezas que me foram doadas por meu pai celestial, eu fui ao Banco do Brazil e ordenei que me entregassem a modesta quantia de dez milhões de dólares (modesta perto do que se rouba naquele país). O diretor olhou para mim como se eu fosse doido. Pacientemente, indaguei: Então? Você não sabe que sou deus aqui na Terra e herdeiro do meu pai, o deus todo poderoso que está no Céu? Portanto, ponha cem mil dólares nesta sacola e o resto transfira para a minha conta bancária nas ilhas Caymã.
- Certamente, temendo a sua santa ira, digno mestre, ele obedeceu prontamente.
- Nada disso! O homem era impuro, imundo como Lúcifer. Disse-me de modo atrevido: Vá se catar “Abraão Moisés” de meia-tigela. Porfírio! Atendendo ao chamado, apareceu um alemão bem apessoado, cabelo cortado à escovinha, musculoso, metro e noventa de altura, pesando 100 quilos, terno azul marinho, camisa branca, gravata de fundo azul e pintas vermelhas, sapatos de couro bem engraxados, semblante viril. Pensei: esse indivíduo com certeza prestou serviço militar na polícia especial do exército deste país. O diretor ordenou: Tire esse palhaço aqui da minha sala e o jogue na rua. Eu adverti o diretor: Você está cometendo um pecado capital; quem a deus ofende sofre castigo rigoroso no inferno. O herege gritou: o inferno é a minha morada, “seu panaca”; você é deus lá para as tuas negras, ladrão sem vergonha! O tal de Porfírio me agarrou pelo cangote com aquelas mãos fortes de unhas pintadas com esmalte branco, arrastou-me até a porta principal do estabelecimento e com ponta-pé no meu traseiro jogou-me na rua.
- Digno mestre. Esses indivíduos serão castigados severamente por ofendê-lo e tocar no seu santo traseiro! Abundarão sofrimentos aos pecadores. 
- Sim, casulo. Ninguém gostaria de estar no lugar deles quando minha santa ira se manifestar no ano 7666. Além de herege, o diretor é racista. Falou das negras como se as brancas não fossem dignas do meu divino amor. Eu não discrimino pela cor da pele, mas admito sentir um frenesi ao ver os mulatões que desfilam no carnaval daquele país.
- Ilustre e iluminado mestre Kon Fu Tzo, estou apreensivo e preocupado com a sua saúde. Ao falar dos mulatões o senhor revira os olhos!
- Nada grave. Os olhos reviram-se com o pulsar do coração. Função da natureza.
- Perdoe a minha audácia, digno mestre, mas já que o senhor juntou as mãos, acho que o senhor podia desculpar aquele diretor. Afinal, o dinheiro não pertencia a ele e sim ao banco. 
- Engano seu, casulo. O banco nada teria se não fosse por vontade do meu pai que está no Céu. O banco apenas guarda parte do meu tesouro mundano. A minha divina autoridade deve prevalecer. A minha santa ira é justa e não conhece privilégio. Tal qual aconteceu com os japoneses, esse pecador também será punido, com a diferença de que na terra dos samurais a punição foi coletiva.
- Perdão divino mestre. Não estou entendendo. O que aconteceu com os japoneses na terra dos samurais?
- Ouça bem, Xang Li Npo, e cite este episódio em tuas pregações. Os japoneses estavam muito assanhados. Os homens com bim-bim grande e as mulheres com pi-li-la estreita. Eu e meu pai celestial resolvemos puni-los. Provocamos duas explosões nucleares, uma em Nagasaki e outra em Hiroshima. O mesmo que fizemos com Sodoma e Gomorra. Meu pai celestial resolveu poupar o imperador japonês e sua cidade imperial, certo de que ele aprenderia a lição. Por via das dúvidas e para evitar reincidência, meu pai celestial baixou nova lei para a natureza: daquela data em diante os japoneses teriam o bim-bim pequeno e as japonesas teriam a pi-li-la larga.

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