quarta-feira, 19 de novembro de 2014

FILOSOFIA XIV - 11



EUROPA (1800 a 1900). Continuação.

A natureza, o homem e a sociedade são estudados sob novos prismas nesse período, o que enseja novas ciências: Geologia, Química, Biologia, Paleontologia, Filologia (estudo do sânscrito, dos hieróglifos, da escrita cuneiforme, das relações entre os idiomas e a possibilidade de uma ancestral língua-mãe), Antropologia, Sociologia, Psicologia, Psicanálise.

Teorias evolutivas sobre o planeta, plantas e animais foram expostas por Comte de Buffon em “As Épocas da Natureza” (1778), por Erasmus Darwin em “Zoonomia” (1794), por James Hutton em “Teoria da Terra” (1795) e Lyell em “Princípios de Geologia” (1833). A sucessão histórica das camadas terrestres podia ser datada pelos fósseis encontrados em cada uma delas, conforme descobriu o engenheiro William Smith (1790). Fósseis humanos provavam a existência da espécie no planeta desde priscas eras. A prova definitiva veio com a descoberta do Homem de Neanderthal (1856). Os geólogos também procuravam respostas às questões sobre a distribuição de terra, água e montanhas no planeta.

No campo da Física, os estudos multiplicaram-se. Galvani descobriu a corrente elétrica em 1786. Volta construiu a bateria elétrica em 1799. A eletrólise é descoberta em 1800. A conexão entre eletricidade e magnetismo é feita em 1820 e Faraday estabelece a relação entre essas forças em 1831. John Dalton (1766 a 1844) inglês, quacre, professor, reviveu a teoria atômica e fez recrudescer o interesse dos cientistas nesse campo do que resultou pleno desenvolvimento da ciência e da tecnologia nuclear no século XX. Do estudo das relações entre calor e energia, motivado pela máquina a vapor, são formuladas as leis da termodinâmica. Sadi Carnot antecipou a percepção física dessas leis nas suas “Reflexions sur la Puissance Motrice du Feu”, em 1824. Hermam von Helmhotz (1821 a 1894) formulou o princípio da conservação da energia. Este princípio foi considerado a primeira lei da termodinâmica: a energia total do universo é constante; pode ser mudada de forma, mas não pode ser criada e nem destruída. William Thompson enuncia o princípio da degradação da energia, considerado a segunda lei da termodinâmica: enquanto a energia do universo se mantém constante, a quantidade útil da energia decresce constantemente.

Clerck Maxwell (1831 a 1879) levanta a hipótese de a luz comportar-se à semelhança das ondas eletromagnéticas. Heinrich Hertz provou, em 1887, a existência de ondas elétricas de alta freqüência difusas pelo espaço com características da luz. Wilhelm von Röntgen descobriu o Raio X em 1885. Tal descoberta levou à hipótese de raios semelhantes serem produzidos pela natureza. Esta hipótese foi confirmada com a descoberta do urânio (1896). Madame Curie descobre o rádio, elemento muito mais ativo (1898). Segue-se a teoria da desintegração: vários elementos radioativos se decompõem para formar elementos mais simples ao mesmo tempo em que liberam energia elétrica. A luz, a eletricidade, os raios X e todas as formas de energia foram considerados da mesma essência. Esta conclusão conduz à revisão da teoria sobre a matéria. Hendrick Lorentz duvidara da solidez e da indivisibilidade do átomo referidas pelos gregos e por Dalton. Levantou a hipótese de o átomo ser composto por unidades elétricas menores (1892).

A Química adquire status científico. Lavoisier (1743 a 1794) imprimiu caráter científico à química e publicou o “Tratado Elementar de Química”. Esta ciência teve e continua a ter larga aplicação na produção industrial, inicialmente no campo têxtil, posteriormente em outros campos como o da agricultura, o da análise de recursos minerais, o farmacêutico, cerâmica, metalurgia, iluminação a gás. A indústria química alemã liderada pelas firmas Bayer e Hoechst produzia 90% dos corantes industriais do mundo. Descobriu-se que os elementos químicos do reino mineral estão presentes também nos reinos vegetal e animal; que a química tanto pode ser orgânica (síntese em laboratório de compostos de seres vivos) como inorgânica (respiração = combustão do oxigênio no organismo vivo). A teoria atômica de Dalton tornou possível a invenção da fórmula química e esta, por sua vez, possibilitou o estudo da estrutura química da matéria.

James Prichard (1786 a 1848) e Edward Burnett Tylor (1832 a 1917) publicam estudos antropológicos acerca da evolução física do homem, diversidade dos tipos humanos e das culturas primitivas. O francês Augusto Comte (1798 a 1857) e o inglês Herbert Spencer (1820 a 1903) publicam seus estudos sobre a origem e a evolução da sociedade. Wilhelm Wundt (1832 a 1920) estuda o psiquismo humano e enseja a autonomia científica da Psicologia. Ivan Pavlov (1849 a 1936) descobre o reflexo condicionado ao fazer experiências com animais. Sempre que os alimentava, dava-lhes um sinal, como o toque de uma campainha. Após algumas repetições, tocava a campainha sem lhes dar comida alguma. As reações fisiológicas aconteciam como se os animais recebessem de fato o alimento. O animal assume determinado comportamento ao reagir a certo estímulo. A descoberta de Pavlov conduziu ao estudo da influência da mente sobre a fisiologia do organismo humano. Alguns dos seus adeptos fundaram o behaviorismo, tipo de psicologia que reduz o comportamento humano a uma série de reações físicas, químicas e fisiológicas aos estímulos recebidos. Os behavioristas afirmam que falta conteúdo aos conceitos de mente e de consciência. Dizem que o pensamento é uma forma de o sujeito falar com ele mesmo; que emoções e idéias são reações fisiológicas a estímulos oriundos do ambiente.

Sigmund Freud (1856 a 1939), médico, nascido na Áustria no seio de família judia, inaugura a Psicanálise. Ele admite a existência da mente consciente, mas dá maior importância ao subconsciente na determinação do comportamento humano. Na opinião dele, o ser humano é essencialmente egoísta, uma criatura impelida por impulso sexual, por ânsia de poder e de preservar a si próprio. Tais impulsos são levados ao subconsciente por serem estigmatizados pela sociedade como pecaminosos. Ali permanecem como desejos recalcados. No entanto, podem emergir através dos sonhos, de enganos embaraçosos ou de lapsos de memória. Desordens mentais e nervosas resultam do conflito entre os instintos naturais e as restrições impostas por um meio pervertido (igrejas, instituições moralistas). O inconsciente não pode ser diretamente observado.

A teoria dos sonhos vem exposta em “A Interpretação dos Sonhos”, publicada em 1900. A teoria do esquecimento vem exposta em “Psicopatologia da Vida Cotidiana”, publicada em 1904. O sonhar permite liberdade e fantasia que o sujeito não se permite quando acordado. No sonho o sujeito realiza desejos e anseios reprimidos na vida cotidiana desde a infância até a idade adulta. Cumpre revelar o verdadeiro significado do sonho para fins terapêuticos. Identificar e decifrar símbolos que ocultam a verdade, o sentir e o pensar autênticos, faz parte dessa terapêutica para as desordens neuróticas geradas pela repressão. Freud relaciona o esquecimento também a um mecanismo de repressão: por vezes, o sujeito esquece por ter medo de lembrar. Necessário compreender aquilo que faz o sujeito evitar a recordação.  

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