O trabalho científico e
filosófico da era moderna, cujo impulso se deve à revolução francesa e à
revolução industrial, afetou a religião cristã dominante na civilização
ocidental. A concepção de um universo resultante de um processo evolutivo
choca-se com o dogma religioso de um universo criado por deus em certa época e
de modo definitivo, habitado por um casal humano original. Ante a concepção
mecanicista do universo (deo ex machina)
e os postulados da ciência de que os impulsos humanos são conseqüências da
herança social e biológica, ficou abalada a idéia de deus e de alma posta pela
religião. Ainda podem ser arrolados como fatores do enfraquecimento da
religião: (1) os efeitos da revolução industrial (busca por conforto e sucesso
financeiro, divórcio entre economia e moral, objetividade para suprir
necessidades materiais); (2) nacionalismo; (3) repúdio ao clero; (4) desprezo à
religião por obnubilar a mente humana (ópio do povo); (5) socialismo.
As teorias de Lamarck e
Darwin serviram de bandeira para seus seguidores desancarem os religiosos e
ridicularizarem a versão bíblica da criação do mundo e do homem. Disto resultou
a deserção de muitas pessoas das fileiras do exército cristão e judeu. As
afirmações de Spencer e Huxley de que as instituições, as idéias morais e as
religiões resultaram naturalmente da luta do homem para sobreviver e se adaptar
ao meio assombrou os cristãos e os judeus. O antropólogo James Frazer publica,
em 1890, “O Ramo de Ouro”, relatando usos, costumes, cerimônias e superstições
primitivas. Revela a existência, entre povos antigos, do mito do dilúvio, das
idéias de expiação por algum salvador, das lendas de morte e ressurreição de
uma divindade, a demonstrar que a estrutura das religiões atuais foi herdada de
culturas antigas e resultou do processo social evolutivo. Ao se equiparar o
universo à máquina, nos termos propostos por Haeckel, a crença em deus e na
alma se torna inútil e desnecessária. O automatismo dessa máquina dispensa
qualquer divindade para guiá-la. O espírito humano é função da matéria e está
determinado por leis físicas, exclusivamente. O altruísmo é forma disfarçada de
egoísmo. A consciência é a soma total das crenças e preconceitos inoculados no
indivíduo pela sociedade.
David Friedrich Strauss,
professor da Universidade de Tübingen, expõe em seu livro “Vida de Jesus”,
publicado em 1835, a
biografia do profeta como figura humana. O autor nega a divindade e os milagres
de Jesus e lança ao descrédito a inspiração divina das escrituras. William Robertson
Smith, professor em Cambridge, publica, em 1885, o livro “Religião dos
Semitas”, no bojo do qual mostra a falta de originalidade dos hebreus
(israelitas + judeus) cujas crenças eram comuns à maior parte dos povos
semitas. [Os hebreus não eram os únicos semitas]. Comenta contradições e
inexatidões de diversas partes do Antigo Testamento e menciona vários elementos
da teologia cristã de origem babilônica e persa. O golpe desferido pela
inteligência dos cientistas e filósofos foi mortal para quem acreditava em uma Bíblia infalível e
de autoridade espiritual suprema. Para safar-se da enrascada, a igreja defendeu
a interpretação alegórica da Bíblia para
substituir a interpretação literal e histórica.
Perante a ciência e a
filosofia, os cristãos assumiram duas posições básicas: (1) A conservadora ou fundamentalista que não admite conciliação alguma entre religião e
ciência. A Bíblia há de ser interpretada literalmente e a tradição há de ser
respeitada. (2) A moderna bipartida
em conciliadora e nominalista. (2.1) A moderna
conciliadora aceita os resultados da ciência e procura manter a religião em
harmonia com os novos conhecimentos. A teoria da evolução apenas enaltece a
criação divina. Religião e ciência pertencem a campos distintos. O papa Leão
XIII, que esteve no comando da igreja católica de 1878 a 1903, não via real
conflito entre razão e fé. Incentivou o estudo da história da igreja. Franqueou
os seus arquivos aos eruditos. Instalou equipamentos de astronomia no Vaticano
onde reuniu um grupo de astrônomos. Proclamou filósofo oficial da igreja
católica o aristotélico Tomás de Aquino. (2.2) A moderna nominalista desiste de conciliar a religião com a vida
moderna. Os cristãos desse grupo freqüentam a igreja e seguem os rituais
formalmente, sem uma crença sincera, profunda e fervorosa. Pertencem a esse
grupo os cristãos estéticos: permanecem
na religião porque admiram as suas características artísticas e não por sua
teologia.
A arte clássica reviveu no
tempo de Napoleão. Ele adotou a águia romana como um dos seus emblemas, nomeou
rei de Roma o seu filho, erigiu colunas, templos e arco do triunfo em Paris. Essa conduta do
governante refletiu-se nas artes. A influência da revolução francesa e da
revolução industrial no espírito e nas obras dos artistas foi o denominador
comum das artes desse período. O classicismo foi superado pelo romantismo. Para
os românticos, a música não era só beleza objetiva e sim um meio de exprimir os
impulsos íntimos do ser humano. Insuficiente agradar; era preciso dizer alguma
coisa, despertar uma vibração simpática no ouvinte. O nacionalismo se expressa
na música alemã: a ópera desvencilha-se das delicadezas artificiais e lança mão
do poder dramático, emprega motivos germânicos, exprime-se numa atmosfera
heróica visando a inspirar o amor pelo país. Ludwig Von Beethoven (1770 a 1827) compõe com
liberdade, combinando o espírito romântico e a disciplina do classicismo.
Johann Wolfgang Von Goethe
(1749 a
1832) poeta, cientista, advogado, estadista alemão, nasceu no seio de abastada
família em
Frankfurt Am Main. Formou-se em direito pela Universidade de
Strassburg e exerceu a profissão jurídica. Carlos Augusto, grão-duque de
Weimar, admite-o como conselheiro político e econômico. Nesta cidade, mora em
requintada casa para os padrões da época. Da sua produção científica resultaram:
“Ensaio de História Natural e de Morfologia”, “Ensaio Sobre a Metamorfose das
Plantas”, “Teoria das Cores”. Na opinião de Goethe, frequentemente os problemas
da ciência estão ligados à carreira: uma só descoberta pode tornar um homem
famoso e lhe garantir venturoso futuro. [Tentação que pode levar o cientista a cometer
fraudes]. Todo fenômeno observado pela
primeira vez é uma descoberta. Toda descoberta é uma propriedade. Mexa-se na
propriedade de um homem e logo as suas paixões vêm à tona. Da sua produção
literária resultaram, entre outras obras, as seguintes: “Os Sofrimentos do
Jovem Wertker”, “O Rei de Tule”, “Ifigênia em Táuride”, “Egmont”, “Torquato
Tasso”, “Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister”, “Poesia e Verdade” e “Fausto”,
esta última considerada a sua obra-prima, na qual ele gastou quase 60 anos
devido a algumas interrupções. Movido pela sede de saber e de gozar, Fausto celebra um pacto com Mefistófeles
(diabo). Seduz a jovem Margarida e depois a abandona. Em duelo, mata o irmão da
moça. Desesperada, a jovem mata o filho que gerou. Condenada pelo crime, mas
arrependida, ela morre nos braços de Fausto. A segunda parte versa a aposta
entre deus, que diz que Fausto se salvará, e o diabo, que diz o contrário. Deus
vence a aposta. Fausto é salvo graças ao seu idealismo.
Madame de Staël (1766 a 1817), nascida
Anne-Louise Germain Necker, em Paris, filha de rico banqueiro suíço, baronesa
de Staël-Holstein em virtude do casamento com o barão do mesmo nome, escreveu
os romances: “Sophie”, “Jane Gray”, “Delphine” e “Corinne”, em 1786, 1790, 1802
e 1807, respectivamente. Mantinha um salão literário e político em Paris desde
1796. Depois de separar-se do marido teve diversos casos amorosos. Contemporânea
da revolução francesa e da restauração da dinastia Bourbon, filiava-se ao
iluminismo e se posicionou contra o governo de Napoleão. Juntamente com
Benjamin Constant e outros políticos e intelectuais, ela integrava o núcleo de
resistência liberal. Por causa dessa militância política, Napoleão a expulsou
de Paris em 1803. Os livros “Da Influência das Paixões sobre a Felicidade dos
Indivíduos e das Nações” e “Da Literatura Considerada nas suas Relações com as
Instituições Sociais”, escritos respectivamente em 1796 e 1800, refletem sua
teoria literária e seu pensamento político e sociológico.
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