EUROPA (1800
a 1900). Continuação.
A essência do romantismo
presente na literatura e nas artes desse período histórico consiste: (1) na
glorificação dos instintos e das emoções em contrapartida ao culto da razão;
(2) na veneração à natureza; (3) no desprezo ao formalismo; (4) na inclinação
sentimental pelos humildes; (5) no zelo pela reforma do mundo. Geralmente, os
escritores e artistas românticos se comprometiam com o bem da humanidade, da
nação e do proletariado. Havia nas suas obras certo engajamento político e
social. O zênite do movimento romântico na Europa ocorreu por volta de 1830,
com ênfase na literatura, na pintura e na música. [Coincidência: nessa mesma
época a expressão “classe média” entra para o vocabulário sociológico].
Na Inglaterra, a tradição literária
romântica vem representada por Thomas Carlyle (1795 a 1881), Alfred
Tennyson (1809 a
1892), Robert Browning (1812
a 1889), John Ruskin (1819 a 1900), Rudyard
Kipling (1865 a
1936), entre outros. O primeiro dos autores retro mencionados (Carlyle) era
ensaísta e crítico, mais conhecido por sua teoria da construção da história
pelos heróis e por sua crítica à cultura do século XIX. A indústria, o
materialismo, o utilitarismo, a ciência e a democracia eram os alvos da sua indignação.
A cultura medieval era o alvo da sua admiração. Na opinião dele, ao forte cabe
o direito de governar. O segundo dos citados autores (Tennyson), laureado
poeta, obteve o título de Lorde. Os seus poemas agradavam mais pela cor e
musicalidade do que pelas idéias. Ornamentava os pensamentos mais comuns;
imprimia-lhes um brilho que os fazia parecer originais e sublimes. O terceiro
(Browning) concebia o homem como um ser moral, um propósito benévolo do
universo. Admitia a baixeza das paixões humanas, mas acreditava no triunfo da
bondade e da verdade. Os seus escritos são dramáticos e desvelam o caráter
humano. O quarto (Ruskin) também admirava mais a Idade Média do que a Idade
Moderna. Mostra aversão pelo materialismo da ciência e pelo sistema fabril, cuja
feiúra criticava. Condenava a feroz competição dos capitalistas por lucro. Na
opinião dele, os operários devem ser tratados como sócios da fábrica com
direito ao resultado econômico da produção. O quinto (Kipling) era poeta e
escritor de contos populares. Ele não envolve a sua poesia na questão
industrial. Canta as glórias do império inglês. Defende a subjugação dos povos hindus
e africanos como justo e desejável empreendimento missionário para livrá-los
das trevas. Em prosa, ele relata aventuras num clima de simpatia e ternura
pelos encantos da Índia. Em verso, ele discrimina os caracteres de um homem
exemplar no belo poema intitulado “Se”, difundido mundialmente.
Na França, a tradição
literária romântica vem representada por Victor-Marie Hugo (1802 a 1885), Alexandre
Dumas (1802 a
1870), George Sand (1804 a
1876), Júlio Verne (1828 a
1905), entre outros. O primeiro dos autores retro mencionados (Hugo) foi o
grande nome do romantismo em França. Escritor prolífico, dramaturgo,
romancista, ensaísta, político, defensor da liberdade e dos direitos humanos, ele
escreveu peças de teatro, dramas históricos, poemas, discursos. No prefácio de
“Cromwell”, ele inaugura o movimento romântico na literatura francesa ao
protestar contra o formalismo clássico cujas amarras deviam ser rompidas. “Os
Miseráveis” e “Notre Dame de Paris” (também conhecida como “O Corcunda de Notre
Dame”) são obras mundialmente conhecidas, quer através dos livros, quer através
dos filmes. A primeira obra retro citada narra a vida de um condenado por furto
famélico. Após a prisão, já socialmente recuperado, o personagem consegue boa
posição econômica e social, mas é perseguido implacavelmente por uma autoridade
policial. Roído pelo remorso ao sentir a injustiça dessa perseguição, o policial
se suicida. Esse livro contribuiu para a humanização do processo criminal. A
segunda obra retro mencionada narra o episódio de um sineiro da catedral de
Paris, fisicamente deformado, que se apaixona por uma cigana, resgata-a da
multidão que lhe quer fazer mal e lhe dá abrigo no sótão da igreja. Hugo foi o
mais bem remunerado escritor da sua época. De um modo geral, os artistas
dependiam de pensões do governo ou de outras atividades para viver. Alguns morreram
na pobreza.
Alexandre Dumas, mulato, pai
militar, avó negra (escrava), ganhou muito dinheiro com literatura, mas também
gastou muito com mulheres e uma vida folgazã. Escrevia artigos para revistas,
peças para teatro, além de romances de aventura. Um dos seus filhos tinha o nome
e a profissão do pai. As suas obras mundialmente famosas são: “O Conde de Monte
Cristo” e “Os Três Mosqueteiros”, adaptadas ao cinema e traduzidas para vários
idiomas. Vencido o preconceito de cor, o presidente da França, Jacques Chirac,
autorizou o traslado dos restos mortais do mulato Dumas, da cidade natal para o
panteão de Paris, colocados ao lado dos de Hugo e Voltaire. Chirac afirmou que assim
se fazia justiça ao genial francês (2002).
George Sand, pseudônimo de
Amantine Aurore Lucile Dupin, baronesa de Dudevant, nascida em Paris, encontrou
resistência no início da sua carreira de escritora. A literatura era território
de homem. Daí a sua iniciativa de adotar pseudônimo masculino como tática para
aceitação dos seus textos. Balzac a desestimulou. O Fígaro nela apostou e acertou. O sucesso não demorou. Amantine
escreveu vários romances com os nomes dos personagens centrais, a maioria
femininos, tais como: “Valentine”, “Lelia”, “Consuelo”, “Pauline”, “A Pequena
Fadette”. Ela tem sido vista como precursora do feminismo no século XIX, papel
semelhante ao de Simone de Beauvoir no século XX, embora ambas as escritoras
não admitissem integrar o movimento feminista. Após se divorciar do marido,
François-Casimir Dudevant, a escritora iniciou intensa vida amorosa, a começar
pelo escritor Jules Sandeau, de quem tirou o pseudônimo para a atividade
intelectual. Relacionou-se intimamente com o poeta Alfred de Musset, viveu com
o músico e compositor Frédéric Chopin e conviveu com a atriz Marie Dorval.
Aderiu ao pensamento socialista e participou ativamente da revolução de
1848.
Júlio Verne foi o pioneiro
da ficção científica na literatura francesa. Ele conheceu Hugo, Dumas, além de
diversos cientistas. Foi bem orientado por seu editor. Verne escreveu dezenas
de livros de larga aceitação popular. Demonstrou possuir prodigiosa imaginação.
Antecipou a criação do submarino, da nave espacial e da viagem à Lua. Os seus
livros mais famosos, adaptados ao cinema, traduzidos para mais de 150 idiomas,
são: “Viagem ao Centro da Terra”, “Vinte Mil Léguas Submarinas” e “A Volta ao
Mundo em 80 Dias”.
Alguns escritores reagiram
ao sentimentalismo e às extravagâncias das obras românticas. Qualificavam-nas
de bruxuleantes, difusas, sem claros objetivos. Assim, em oposição aos
românticos, eles trataram da vida humana dentro dos fatos revelados pela
ciência, sem retoques e idealizações emocionais. Apresentavam os fatos dentro
da realidade objetiva captada pelos sentidos. Realismo reagindo ao romantismo. Os realistas interessavam-se pelos assuntos psicológicos e sociais,
pelo comportamento humano conflituoso, pelas frustrações decorrentes das
relações humanas. Apoiavam-se em idéias científicas e filosóficas do seu tempo.
Em seus livros, alguns escritores apresentavam os homens como vítimas da hereditariedade
e do meio natural e social. Outros escritores apresentavam os homens como
portadores de qualidades bestiais herdadas dos animais irracionais no processo
evolutivo. Imbuídos do espírito de reforma política e social, alguns escritores
descreviam a iniqüidade do drama humano em um cenário sórdido, salientando a
necessidade de eliminar a pobreza e a guerra, bem como, a de dar um tratamento
mais humano aos delinqüentes presos.
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