EUROPA (1800
a 1900). Continuação.
Movimentos sociais também foram
insuflados por anarquistas. O anarquismo condena a força coerciva do Estado por
ser incompatível com a liberdade humana. Repudia o governo fundado na força.
A organização social é necessária, mas o Estado é dispensável. No que tange à
economia, uns são individualistas e outros coletivistas.
Os anarquistas individualistas
dizem que a posse, o uso e o gozo da propriedade devem submeter-se
exclusivamente às leis da natureza. William Godwin (1756 a 1836) ponderava: se a terra fosse tão livre quanto o ar,
nenhuma mudança ulterior na estrutura econômica seria necessária. Pierre
Proudhon (1809 a
1865) entendia suficiente para assegurar justiça econômica um arranjo tal que a
sociedade permitisse crédito livre e ilimitado a cada homem. Esse arranjo
impediria o monopólio dos recursos da terra e garantiria satisfatória
recompensa ao homem trabalhador e econômico.
Mikhail Bakunin (1814 a 1876), expoente dos
anarquistas coletivistas pensava em uma nova sociedade em que os meios de
produção fossem de propriedade coletiva, a mais-valia não existisse e o
pagamento fosse proporcional ao trabalho realizado. Ele foi considerado o pai
do anarquismo terrorista. Defensor da destruição do Estado e do capitalismo
pela violência, Bakunin empreende a propaganda pela ação: atrair a atenção para
a causa anarquista mediante o assassinato de agentes políticos eminentes e
estimular o ódio aos exploradores capitalistas. Peter Kropotkin (1842 a 1912) príncipe russo,
também anarquista, colocou-se em posição contrária à violência individual. Na
opinião dele, um esforço revolucionário final seria necessário. O Estado devia
ser enfraquecido gradualmente por métodos pacíficos. O povo seria doutrinado
para ver no Estado um mal desnecessário, gerador de guerras, que capacita uma
minoria a explorar a maioria. Com exceção dos bens de uso pessoal, toda
propriedade deve ser social. O trabalho deve ser remunerado com base na
necessidade do trabalhador.
Leão Tolstoi (1828 a 1910), conde russo,
literato, filósofo, depois de uma intensa vida mundana, preferiu a vida simples
do camponês. Nenhum progresso – dizia ele – pode ser feito para remediar os
males da sociedade antes que as classes mais altas renunciem aos seus
privilégios e adotem a postura humilde daqueles que trabalham pelo pão de cada
dia. Todo individualismo egoísta deve ser extinto. Toda a riqueza deve ser
entregue a um fundo comum. Todo sistema de força deve ser abolido. Brandura,
humildade, são essenciais a uma sociedade justa. A violência brutaliza o homem.
Métodos civilizados são incompatíveis com o emprego das armas. “Quando um governo é derrubado pela violência
e a autoridade passa para outras mãos, essa nova autoridade não será, de modo
algum, menos opressiva do que a anterior. Pelo contrário, obrigada a se
defender contra seus desesperados e derrotados inimigos, será ainda mais cruel
e despótica do que os seus predecessores como tem acontecido em períodos de
revolução. Seja qual for o partido que suba, para introduzir e manter o seu
próprio sistema será forçado não somente a se servir de todos os métodos
anteriores de violência como também a inventar outros novos”. A principal
fonte de inspiração de Tolstoi foi o “Sermão da Montanha” (Bíblia, Novo
Testamento, Mateus 5 a
7).
Outra filosofia radical gerada
pela revolução industrial foi o sindicalismo.
O seu expoente foi George Sorel (1847
a 1922). A teoria sindical trata da abolição do
capitalismo e do Estado e defende a organização da sociedade em associações de
produtores. Mesmo com o Estado destruído, a força é necessária. Os meios de
produção devem pertencer às associações. Cada indústria será dirigida por seus
trabalhadores. As associações (sindicatos) exerceriam as funções do Estado e
cada uma governaria os seus associados. Nos assuntos estranhos à produção e aos
fins da associação, o sindicalizado era livre para se conduzir segundo a sua
vontade e os seus interesses. Por necessitar de guia, o homem médio
assemelha-se ao carneiro. Os dotados de maior grau de inteligência deviam dirigir os sindicatos. A ação direta é mais eficaz do que a ação
política; a greve geral serve de exemplo. A sabotagem é recomendada para causar
dano ao empregador capitalista. O sindicalismo, mitigado ou não, tornou-se uma
realidade na vida econômica de diversos povos. A organização e a atividade dos
sindicatos {federações de trabalhadores} tanto foram permitidas como
combatidas. O fascismo adotou do sindicalismo as idéias: (I) de a maioria ser
governada pela minoria supostamente mais inteligente; (II) de a sociedade ser
organizada em corporações; (III) da superior eficácia da ação direta em relação
à ação política indireta {representativa}.
Os mais brandos críticos da economia capitalista foram
os socialistas cristãos. Robert de Lamennais (1782 a 1854), padre francês,
é considerado o fundador do socialismo cristão. Ele pretendia reviver a
religião como instrumento da justiça social e da reforma da sociedade. A publicação do seu livro “Paroles d´un Croyant”
causou furor no mundo oficial. O padre foi condenado pela igreja de Roma. O conde
francês Henri de Saint-Simon (1760
a 1825) em seu livro “Novo Cristianismo” também expõe
idéias semelhantes às do clérigo católico. Da França, o socialismo cristão se
espalha para outros países, inclusive a Inglaterra protestante. Esse movimento
pretendia aplicar os ensinamentos de Jesus Cristo aos problemas gerados pela
industrialização. A sua carta estrutural está consubstanciada na encíclica
“Rerum Novarum” expedida pelo papa Leão XIII (1891). A encíclica se mantém fiel
ao entendimento de que a propriedade privada é um direito natural, repudia a
doutrina marxista da luta de classes e condena os lucros excessivos. A
encíclica faz um apelo aos empregadores para que respeitem a dignidade dos
empregados; que não os tratem como instrumento para fazer dinheiro, como
simples força física. Além disto, no mesmo propósito de mitigar o rigor do
trabalho industrial, o papa recomenda: (1) a adoção de leis trabalhistas; (2) a
união dos trabalhadores (sindicatos); (3) maior número de pequenos
proprietários agrários; (4) limitação das horas de trabalho. O documento
pontifical impulsionou o socialismo cristão e incentivou a formação de partidos
políticos representativos dessa doutrina na Alemanha, Áustria, França, Itália e
outros países europeus.
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