sábado, 15 de novembro de 2014

FILOSOFIA XIV - 9



EUROPA (1800 a 1900). Continuação.

Maximilian Karl Emil Weber (Max Weber, 1864 a 1920), alemão, professor, jurista, economista, político, sociólogo, foi um dos fundadores do partido democrata. Ele representou seu país no Tratado de Versalhes. Além da nuance filosófica, as suas obras refletem o pensamento científico moderno. Entre elas destacam-se: “A Ética Protestante e o do Capitalismo” e “Economia e Sociedade”. Weber constata o franco desenvolvimento capitalista nos países protestantes e explica as razões disto. Além do fator econômico, o capitalismo compreende outros fatores culturais (religioso, ético, jurídico). Nos traços puramente religiosos encontramos o parentesco íntimo entre determinadas manifestações do antigo espírito protestante e a cultura capitalista moderna. Crenças, sentimentos, idéias, estão na base do capitalismo e constituem o seu “espírito”. Weber cita Montesquieu que assim se referia aos ingleses: “foi o povo do mundo que melhor soube se prevalecer dessas três grandes coisas: a religião, o comércio e a liberdade”.

Como exemplo do espírito capitalista moderno Weber reproduz as máximas de Benjamin Franklin que integram a cultura estadunidense: (1) tempo é dinheiro, crédito é dinheiro; (2) o dinheiro é fértil e procriador por natureza; (3) pontualidade no pagamento das dívidas; (4) trabalhar sempre e por todo o tempo do dia; (5) investir o dinheiro ganho a fim de multiplicá-lo [com o risco de perdê-lo totalmente como aconteceu no estouro da bolsa de valores de NY em 1929, fato não previsto por Franklin]. Weber também cita Pieter de la Cour: “o povo só trabalha porque é pobre e enquanto for pobre”. [O indivíduo rico trabalha para manter ou aumentar a sua riqueza]. A formação humanista dos católicos difere da formação técnica dos protestantes. Isto influiu na atividade econômica e explica o desenvolvimento pioneiro da Inglaterra e da Holanda. Sob a ótica protestante, a busca da riqueza e a dedicação ao trabalho são deveres morais. A vocação para o trabalho é um chamado de deus. O puritanismo (calvinistas, anabatistas, metodistas, batistas, menonitas, quakers) é compatível com a vida aquisitiva e metódica sob rígidas regras morais.

Na opinião de Weber, o valor ocupa lugar central nas ciências humanas e estas devem ser unificadas pela concomitância de compreensão e explicação. Isto responde pela diferença de método entre as ciências naturais e as ciências humanas. [Ao fenômeno natural basta a explicação científica. O fato cultural (humano) além de explicação exige compreensão sob o ângulo científico e filosófico]. Perfeitamente possível estabelecer a validade científica dos juízos de valor através das suas conseqüências, isto é, dos efeitos da nossa decisão valorativa. Toda ação ou omissão supõe tomada de posição do sujeito a favor de determinados valores. Na ciência social {cultural}, entretanto, devem prevalecer os juízos de fato e não os juízos de valor; estuda-se o ser e não o dever ser.  As duas categorias são tratadas isoladamente com autonomia do saber (teoria) e do fazer (prática). O processo científico conduz ao desencanto do mundo. A filosofia, a religião e o misticismo conduzem ao mundo encantado. O ponto de partida de qualquer pesquisa é de índole subjetiva, depende da escolha feita pelo pesquisador, porém, o ponto de chegada há de ser sempre objetivo.

Na teoria sociológica weberiana a ação é categoria fundamental. Ação individual com significado subjetivo. Ação social como relação entre um indivíduo e outro. Ação afetiva ditada pelo estado de consciência ou de humor da pessoa, reação emocional a determinado estímulo [diante da traquinagem do filho a mãe lhe dá uma sova]. Ação tradicional ditada pelo hábito, pelo costume, por crenças, que constituem uma segunda natureza. Ação instrumental quando o objetivo é específico, como a ação do engenheiro ao construir uma ponte. Ação racional axiológica quando supõe um valor absoluto (religioso, ético, estético) que tem primazia em face do resultado, como o capitão que se determina a afundar juntamente como o navio. [Questões de honra hodiernamente não são muito observadas, como o sujeito que se suicidava por vergonha de algum ato censurável que praticara. Hoje, administradores públicos desviam em benefício próprio milhões de dólares do erário sem remorso e sem qualquer vergonha].

A teoria sociológica busca o significado e os motivos das ações humanas; procura entender o sentido que as pessoas atribuem ao seu comportamento; tenta explicar, compreender e interpretar o significado, o sentido, a regularidade e a organização das condutas. A sociedade moderna brotou de um processo de racionalização. O fenômeno da dominação implica o correlato fenômeno da submissão. A dominação legal consiste na existência de regras de obrigatória observância, hierarquia organizada e regulamentada como no Estado moderno e na empresa capitalista. A dominação tradicional decorre do caráter sagrado dos costumes e do hábito de segui-los sem contestar. A dominação carismática resulta da autoridade pessoal de um sujeito dotado de qualidades excepcionais que legitimam o seu mando. “O mando pode expressar-se em um sistema de normas racionais estatuídas {pactuadas ou outorgadas} as quais encontram obediência tanto que normas obrigatórias quando as invoca quem pode fazê-lo em virtude dessas normas. Obedece-se às normas e não às pessoas. A obediência pode basear-se também em autoridade pessoal tendo como fundamento a tradição ou o carisma”.

Um mínimo de interesse interno ou externo de obedecer é essencial a toda relação autêntica de autoridade. A legitimidade de uma dominação repousa sobre a probabilidade de ser tratada como tal na prática e mantida em uma proporção importante. Fundamentar a legitimidade da dominação mediante a organização não é mera questão de especulação teórica ou filosófica. Essa questão dá origem a diferenças reais entre as diversas estruturas empíricas das formas de dominação. Isto se deve a um fato geral e inerente a toda forma de dominação, inclusive a toda probabilidade na vida: a justificação de si próprio. Todo grupo privilegiado procura justificar sua superioridade pelo “sangue”, pelo “mérito”, pela diferença “natural” e assim por diante. A estratificação social ocorre segundo a riqueza (classes), o prestígio (status) e o poder (partidos). O direito expressa a racionalização da vida social.

Há entrelaçamento do direito, da economia e da política na vida social. A legitimidade da ordem está no seu prestígio como obrigatória e modelo de conduta. A validade de uma ordem significa algo mais do que uma regularidade no desenvolvimento da ação social simplesmente determinada pelo costume ou por uma situação de interesses. Ao conteúdo de sentido de uma relação social chamamos de “ordem” quando a ação se orienta (por termo médio ou aproximadamente) por “máximas” que podem ser assinaladas e só podemos falar da “validade” dessa ordem quando a orientação de fato por aquelas máximas tem lugar porque em algum grau significativo (vale dizer, em um grau que pese praticamente) aparecem válidas para a ação, ou seja, como obrigatórias ou como modelos de conduta. Objetivamente, uma ordem se garante pela expectativa de determinadas conseqüências externas, ou seja, por uma situação de interesses, por expectativas de um determinado gênero. Subjetivamente, uma ordem se garante por adesão sentimental (puramente afetiva), ou pela crença em sua validade absoluta enquanto expressão de valores supremos geradores de deveres morais, estéticos ou de outra natureza (racional), ou ainda pela crença de que da sua observância depende a existência de um bem de salvação (religiosa).  

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