EUROPA (1600
a 1800). Continuação.
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 a 1716), alemão nascido
em Leipzig, filósofo, matemático, cientista, recebeu alcunha de “Aristóteles do
século XVII” por seus vastos conhecimentos e elevado grau de inteligência.
Entre as suas principais obras estão: “Monadologia”, “Discurso de Metafísica”,
“Cálculo Diferencial e Integral” e “Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano”.
Nesta última, no clima competitivo de alemão x inglês, Leibniz adota a
seqüência dos temas da obra homônima de Locke e expõe as suas discordâncias.
Ele se diz adepto da filosofia de Platão e afirma que Locke é adepto de
Aristóteles. À semelhança de Platão, ele expõe a sua doutrina em forma de
diálogo entre dois personagens: Filaleto e Teófilo. Na sua douta opinião, é
possível transitar da metafísica para a lógica sem dificuldade. A alma contém
originariamente várias noções e princípios de doutrinas que os objetos externos
nada mais fazem do que despertar na devida ocasião (idéias inatas).
Independente da sensação, os humanos trazem em seu interior idéias como ser, unidade, substância, duração, mudança,
ação, percepção, prazer e tantas outras.
Na ordem natural, qualquer
substância supõe ação. Não existem corpos sem movimento. Em sendo una, a
substância não pode ser extensa. Existe uma infinidade de substâncias. Por não
serem extensas, elas são imateriais, são almas num sentido amplo, mônadas qualitativamente diferentes umas
das outras, cada qual com sua própria constituição orgânica e que não
interagem. [Dificuldade: constituição
orgânica é própria do ser material (natural ou cultural); em sendo
imaterial, mônada (alma) não tem órgãos, ou seja, está desprovida de constituição orgânica]. Nenhum par de
mônadas pode se relacionar de modo causal e entre elas não pode haver conexão
porque são fechadas, “sem portas e sem janelas”. Se duas mônadas forem
exatamente iguais, então elas são uma só e a mesma (princípio da identidade dos indiscerníveis). Todo objeto consiste
de uma colônia de mônadas, inclusive o corpo humano. Neste, uma das mônadas
predomina por sua clarividência. Esta mônada dominante se denomina alma humana num sentido específico.
Percepções insensíveis explicam a harmonia preestabelecida das mônadas. As percepções insensíveis são de vasto uso
na ciência do espírito tanto quanto os corpúsculos
insensíveis o são na ciência física.
Tudo no universo acontece por uma
razão suficiente. Nada se faz de repente: “a natureza não faz saltos”. Cuida-se
da lei da continuidade muito
utilizada na Física: passa-se do pequeno ao grande e vice-versa através do
médio. As razões de agir do homem nem sempre são compulsivas, nem sempre
decorrem da necessidade lógica, mas resultam do livre arbítrio. A sociedade
surgiu do esforço, da inteligência, da união e cooperação dos homens para
atingirem suas finalidades. A palavra, como veículo do pensamento, facilitou a
comunicação entre os humanos. A palavra exprime tanto o que é particular e
concreto como o que é geral e abstrato. Há palavras inclusive para significar a
ausência de idéia ou coisa, tal como: nada,
ignorância, esterilidade. As palavras podem ser empregadas de modo errôneo
ou abusivo.
O ser que sente e pensa não é uma
coisa maquinal como um moinho ou um relógio. O sentir e o pensar não constituem
fenômeno natural à matéria. Os que dormem sem sonhos jamais serão convencidos
de que os seus pensamentos estiveram em ação durante o sono. Sonhar é ter
idéias no espírito enquanto os sentidos externos estão bloqueados. O pensamento
é alma em ação. As
idéias puras e simples independem dos sentidos. Os pensamentos dependem da
sensação. O conhecimento provém tanto da reflexão como da sensação; consiste na
percepção da relação entre duas coisas ou idéias concordantes ou discordantes,
conexas ou desconexas. Da faculdade de discernir as idéias depende a evidência
e a certeza de proposições que passam por verdades inatas. Denominam-se máximas ou axiomas as proposições que trazem a evidência e a certeza em si
mesmas. Com o propósito de chegar à evidência e certeza, a demonstração faz ver a ligação entre as idéias. A probabilidade é a aparência dessa
ligação amparada em provas; supõe verossimilhança ou conformidade com a
verdade.
Razão é a faculdade intelectual de que o homem dispõe para
conhecer, aumentar o seu conhecimento e regular sua opinião; inclui sagacidade para encontrar idéias médias
e capacidade para concluir. Tem como
funções: descobrir provas, colocar na ordem que revele sua conexão, perceber a
conexão em cada parte da dedução e tirar daí a conclusão. À extensão
corresponde a duração. Denomina-se instante
uma parte da duração na qual não se nota qualquer sucessão de idéias. Em a
natureza das coisas, a idéia do absoluto
antecede a idéia do limite. Nota-se a
primeira apenas quando se começa por aquilo que é limitado e que impressiona os
sentidos humanos. Nos números, as idéias são mais precisas e mais aptas a se
distinguirem umas das outras do que na extensão. Nesta não se pode observar ou
mediar cada igualdade e cada excesso de grandeza tão facilmente como nos
números.
Ao se considerar uma idéia perante
outra, uma coisa diante de outra, estabelece-se o que se denomina relação. Físicas são as relações fundadas no tempo, no lugar e na
causalidade. Morais são as relações
fundadas no bem e no mal. O infinito
encontra-se no absoluto, anterior a qualquer composição. Potência é a possibilidade de mudança. Na passagem da potência ao
ato ocorre a mudança. A inquietação determina a vontade. Liberdade é o poder do homem de agir ou se omitir segundo a sua
vontade. Para discutir a fé se faz necessário o uso da razão. Fé significa assentimento a uma
proposição fundada na revelação, ou
seja, fundada em uma comunicação extraordinária de deus revelada aos homens.
Aqueles que só têm a revelação mediata
[recebida de intermediários como os sacerdotes, gurus e profetas] necessitam
ainda mais da razão para dela certificar-se. Tudo que estiver além do que as
faculdades humanas podem descobrir constitui matéria de fé. Prevalece a
revelação. O deus da metafísica é retoque final da teoria da natureza das coisas.
Só deus possui a ciência perfeita. Na mais insignificante das substâncias olhos
penetrantes como os de deus podem ler todo o desenrolar presente e futuro das
coisas que compõem o universo.
Leibniz arrola os argumentos favoráveis à existência
de deus. Ele aceitou a lógica aristotélica de sujeito + predicado. De duas
proposições contraditórias, uma deve ser verdadeira e a outra falsa. De um
número suficiente de razões precedentes decorre determinado estado de coisas (princípio da razão suficiente). Tudo que
existe em potência tende a se atualizar, mas nem todas as potencialidades se
atualizam simultaneamente. O objetivo da filosofia é expor idéias claras e
distintas acopladas a uma linguagem universal que as expressem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário