sábado, 4 de outubro de 2014

FILOSOFIA XIII - 29



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 a 1716), alemão nascido em Leipzig, filósofo, matemático, cientista, recebeu alcunha de “Aristóteles do século XVII” por seus vastos conhecimentos e elevado grau de inteligência. Entre as suas principais obras estão: “Monadologia”, “Discurso de Metafísica”, “Cálculo Diferencial e Integral” e “Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano”. Nesta última, no clima competitivo de alemão x inglês, Leibniz adota a seqüência dos temas da obra homônima de Locke e expõe as suas discordâncias. Ele se diz adepto da filosofia de Platão e afirma que Locke é adepto de Aristóteles. À semelhança de Platão, ele expõe a sua doutrina em forma de diálogo entre dois personagens: Filaleto e Teófilo. Na sua douta opinião, é possível transitar da metafísica para a lógica sem dificuldade. A alma contém originariamente várias noções e princípios de doutrinas que os objetos externos nada mais fazem do que despertar na devida ocasião (idéias inatas). Independente da sensação, os humanos trazem em seu interior idéias como ser, unidade, substância, duração, mudança, ação, percepção, prazer e tantas outras.

Na ordem natural, qualquer substância supõe ação. Não existem corpos sem movimento. Em sendo una, a substância não pode ser extensa. Existe uma infinidade de substâncias. Por não serem extensas, elas são imateriais, são almas num sentido amplo, mônadas qualitativamente diferentes umas das outras, cada qual com sua própria constituição orgânica e que não interagem. [Dificuldade: constituição orgânica é própria do ser material (natural ou cultural); em sendo imaterial, mônada (alma) não tem órgãos, ou seja, está desprovida de constituição orgânica]. Nenhum par de mônadas pode se relacionar de modo causal e entre elas não pode haver conexão porque são fechadas, “sem portas e sem janelas”. Se duas mônadas forem exatamente iguais, então elas são uma só e a mesma (princípio da identidade dos indiscerníveis). Todo objeto consiste de uma colônia de mônadas, inclusive o corpo humano. Neste, uma das mônadas predomina por sua clarividência. Esta mônada dominante se denomina alma humana num sentido específico. Percepções insensíveis explicam a harmonia preestabelecida das mônadas. As percepções insensíveis são de vasto uso na ciência do espírito tanto quanto os corpúsculos insensíveis o são na ciência física.

Tudo no universo acontece por uma razão suficiente. Nada se faz de repente: “a natureza não faz saltos”. Cuida-se da lei da continuidade muito utilizada na Física: passa-se do pequeno ao grande e vice-versa através do médio. As razões de agir do homem nem sempre são compulsivas, nem sempre decorrem da necessidade lógica, mas resultam do livre arbítrio. A sociedade surgiu do esforço, da inteligência, da união e cooperação dos homens para atingirem suas finalidades. A palavra, como veículo do pensamento, facilitou a comunicação entre os humanos. A palavra exprime tanto o que é particular e concreto como o que é geral e abstrato. Há palavras inclusive para significar a ausência de idéia ou coisa, tal como: nada, ignorância, esterilidade. As palavras podem ser empregadas de modo errôneo ou abusivo.

O ser que sente e pensa não é uma coisa maquinal como um moinho ou um relógio. O sentir e o pensar não constituem fenômeno natural à matéria. Os que dormem sem sonhos jamais serão convencidos de que os seus pensamentos estiveram em ação durante o sono. Sonhar é ter idéias no espírito enquanto os sentidos externos estão bloqueados. O pensamento é alma em ação. As idéias puras e simples independem dos sentidos. Os pensamentos dependem da sensação. O conhecimento provém tanto da reflexão como da sensação; consiste na percepção da relação entre duas coisas ou idéias concordantes ou discordantes, conexas ou desconexas. Da faculdade de discernir as idéias depende a evidência e a certeza de proposições que passam por verdades inatas. Denominam-se máximas ou axiomas as proposições que trazem a evidência e a certeza em si mesmas. Com o propósito de chegar à evidência e certeza, a demonstração faz ver a ligação entre as idéias. A probabilidade é a aparência dessa ligação amparada em provas; supõe verossimilhança ou conformidade com a verdade.

Razão é a faculdade intelectual de que o homem dispõe para conhecer, aumentar o seu conhecimento e regular sua opinião; inclui sagacidade para encontrar idéias médias e capacidade para concluir. Tem como funções: descobrir provas, colocar na ordem que revele sua conexão, perceber a conexão em cada parte da dedução e tirar daí a conclusão. À extensão corresponde a duração. Denomina-se instante uma parte da duração na qual não se nota qualquer sucessão de idéias. Em a natureza das coisas, a idéia do absoluto antecede a idéia do limite. Nota-se a primeira apenas quando se começa por aquilo que é limitado e que impressiona os sentidos humanos. Nos números, as idéias são mais precisas e mais aptas a se distinguirem umas das outras do que na extensão. Nesta não se pode observar ou mediar cada igualdade e cada excesso de grandeza tão facilmente como nos números.

Ao se considerar uma idéia perante outra, uma coisa diante de outra, estabelece-se o que se denomina relação. Físicas são as relações fundadas no tempo, no lugar e na causalidade. Morais são as relações fundadas no bem e no mal. O infinito encontra-se no absoluto, anterior a qualquer composição. Potência é a possibilidade de mudança. Na passagem da potência ao ato ocorre a mudança. A inquietação determina a vontade. Liberdade é o poder do homem de agir ou se omitir segundo a sua vontade. Para discutir a fé se faz necessário o uso da razão. significa assentimento a uma proposição fundada na revelação, ou seja, fundada em uma comunicação extraordinária de deus revelada aos homens. Aqueles que só têm a revelação mediata [recebida de intermediários como os sacerdotes, gurus e profetas] necessitam ainda mais da razão para dela certificar-se. Tudo que estiver além do que as faculdades humanas podem descobrir constitui matéria de fé. Prevalece a revelação. O deus da metafísica é retoque final da teoria da natureza das coisas. Só deus possui a ciência perfeita. Na mais insignificante das substâncias olhos penetrantes como os de deus podem ler todo o desenrolar presente e futuro das coisas que compõem o universo.

Leibniz arrola os argumentos favoráveis à existência de deus. Ele aceitou a lógica aristotélica de sujeito + predicado. De duas proposições contraditórias, uma deve ser verdadeira e a outra falsa. De um número suficiente de razões precedentes decorre determinado estado de coisas (princípio da razão suficiente). Tudo que existe em potência tende a se atualizar, mas nem todas as potencialidades se atualizam simultaneamente. O objetivo da filosofia é expor idéias claras e distintas acopladas a uma linguagem universal que as expressem.

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