sexta-feira, 24 de outubro de 2014

FILOSOFIA XIV - 3



EUROPA (1800 a 1900). Continuação.

Na Alemanha, frustra-se o movimento revolucionário para instituir um governo liberal (1848). Sob a batuta do ministro Bismarck a Alemanha se unifica (Prússia + Hanôver + Brandenburgo + Saxônia + Pomerânia + Westphalia + Silesia). O imperador personificava a confederação alemã (1871). Sem poder de veto, ele dividia o governo com um Parlamento bicameral: câmara baixa (Reichstag) e câmara alta (Bundesrat) cujos membros eram eleitos pelo voto popular. O sufrágio era universal masculino. A política de Bismarck contra o clero expressa no programa luta pela cultura durou de 1872 até 1886. O partido católico aliou-se ao partido socialista, formou a democracia social, obteve maioria no Parlamento e revogou a legislação discriminadora. Decorridos 30 anos da unificação, a Alemanha tinha a segunda maior população da Europa (a primeira era da Rússia), a maior renda per capita, triplicou a produção de carvão, reduziu o analfabetismo (de cada 1000 soldados apenas 1 era analfabeto), fundou escolas técnicas e universidades, criou previdência social de alto nível, organizou a segunda maior marinha do mundo (a primeira era da Inglaterra), exército bem equipado e treinado, desenvolveu uma economia pujante que superou as demais potências.

A França, portadora também da febre nacionalista, cuja temperatura era mantida alta pela imprensa e pelas escolas, aguardava revanche da derrota sofrida diante da Prússia (1870). Pretendia reaver os territórios perdidos (Alsácia + Lorena). Os socialistas franceses reagiam contra essa pretensão. A manutenção de navios e exércitos numa escala maior do que a necessária à simples defesa nacional colocava na ofensiva alguns países como a Rússia, França, Alemanha, Inglaterra. O preparo para a guerra incluiu o serviço militar obrigatório (conscrição), sistema criado pela França em 1793 e ampliado pela Prússia em 1807. Outras nações do continente europeu seguiram o exemplo prussiano. Disseminou-se por estas nações a crença de que a guerra revigorava a raça: na guerra e no direito à guerra, o homem possui algo que o coloca acima da religião, da indústria e dos confortos sociais; a essência da guerra é a violência; a moderação na guerra é imbecilidade; atacar primeiro, violentamente, onde quer que seja. A vocação imperialista das nações que atingem um poderio maior do que as outras é fato historicamente verificável. Basta lembrar os impérios antigos, desde o egípcio até o romano. O imperialismo decorrente da revolução comercial foi decaindo junto com o mercantilismo. Esse imperialismo centrava-se na América e visava o engrandecimento do Estado e da dinastia reinante (Portugal, Espanha, França, Holanda, Inglaterra). Além dos produtos tropicais e exóticos, buscava-se ouro e prata para sustentar exércitos e o luxo das cortes. No início do século XIX difundiu-se em alguns países europeus a idéia de que os custos não compensavam adquirir e manter colônias. Todavia, a partir de 1870, houve um surto imperialista visando à posse de territórios na África e na Ásia.

O novo imperialismo visava ao enriquecimento individual de negociantes e aventureiros das metrópoles européias. Além de mercado para os seus produtos e da aplicação do capital excedente, os europeus buscavam territórios produtores de trigo e ricos em ferro, manganês e petróleo. As colônias também serviam para solucionar ou amenizar o problema do excesso de população nas metrópoles. A emigração para as colônias era incentivada. A industrialização provocou a competição entre os países europeus por mercados e matérias-primas. A produção em massa gerou excesso de bens a exigir mercados estrangeiros. Atividade missionária das igrejas contribuiu para a expansão do domínio europeu nos outros continentes. Até o século XVIII havia algum equilíbrio econômico em nível planetário porque a agricultura era o fator principal da riqueza das nações. Entretanto, no século XIX, a revolução industrial rompeu esse equilíbrio. A Europa se tornou hegemônica e eclipsou a economia do resto do planeta. A Inglaterra era o centro comercial do mundo. Palavras do economista Jevons em 1865: “As planícies da América do Norte e da Rússia são nossos campos de trigo; Chicago e Odessa, nossos celeiros; Canadá e Báltico são nossas florestas madeireiras; a Australásia contém nossas fazendas de carneiros e na Argentina e nas pradarias ocidentais da América do Norte estão nossos rebanhos de gado; o Peru nos manda sua prata e o ouro da África do Sul e Austrália flui para Londres; os indianos e chineses plantam chá para nós e nosso café, açúcar e especiarias estão plantados por todas as Índias. Espanha e França são nossas vinhas e o Mediterrâneo, nosso pomar, e nossos campos de algodão, que por muito tempo ocuparam o sul dos Estados Unidos, estão agora sendo estendidos a toda parte cálida da terra”. (Citadas por Paul Kennedy no livro “Ascensão e Queda das Grandes Potências”).

O impacto europeu na África, América, Ásia, Oceania, foi de índole econômica, política e social. Colonização cultural ampla (técnica, artística, científica, filosófica, religiosa). O primeiro imperialista dos tempos industriais foi Leopoldo II, rei da Bélgica que, em 1876, apossou-se do território banhado pelo Rio Congo, no coração da África, e o conservou como domínio pessoal até 1908, quando o vendeu para o governo belga por enorme soma de dinheiro. A ocupação da África foi decidida por países europeus na Conferência de Berlim (1884 a 1885, zênite do predomínio mundial da Europa). Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha repartiram o território africano entre si. A Espanha ficou com as ilhas Canárias, o Rio do Ouro e parte do Marrocos. Portugal ficou com Moçambique, Angola e parte da Guiné. A França ficou com a ilha de Madagascar, Saara, Tunísia, toda a vasta região denominada África Ocidental Francesa e África Equatorial Francesa, e parte da Argélia, do Marrocos, da Guiné e da Somália. A Inglaterra ficou com Egito (protetorado), Serra Leoa, Costa do Ouro, Nigéria, Sudão, Uganda, Quênia, Rodésia, todo o sul da África e parte da Somália. A Itália ficou com a Líbia, Eritréia, Etiópia e parte da Somália. A Alemanha ficou com a África Sul-Ocidental (protetorado), Tanganica, Camarões e Togolândia. A partir da Conferência de Berlim decresce o papel das potências européias, com exceção da Rússia, e cresce o papel dos EUA até a supremacia no século XX.

A posse de territórios na Ásia foi disputada por ingleses, franceses, russos, alemães e japoneses. Os ingleses se apossaram da Índia (1763), depois anexaram a Birmânia (1855) e adquiriram o domínio da ilha de Hong Kong no final da guerra do ópio (1858). Os franceses instituíram protetorado na Indochina (Vietnã). Os russos fundaram Vladivostok, cidade ao norte do Rio Amur, no território chinês e construíram a ferrovia ligando aquela cidade a Manchúria. Os japoneses dominaram a ilha de Formosa e a Coréia após vencerem a primeira guerra sino-japonesa (1895). Sob o pretexto de vingar a morte de dois missionários na China, a Alemanha apossou-se da baía de Kiaochow e obteve exclusividade na construção de ferrovias e na exploração das minas da península de Chantung. Ingleses e franceses partilharam o controle dos mais importantes portos da costa chinesa. Em conseqüência de todas essas invasões, o território chinês ficou estilhaçado. Por volta de 1900, uma organização denominada “Sociedade dos Punhos Unidos” (boxers) tentou expulsar os diabos estrangeiros. Propriedades foram destruídas, legações em Pequim foram sitiadas, centenas de estrangeiros foram mortos, inclusive um ministro alemão. Ingleses, franceses, alemães, russos, japoneses e estadunidenses organizaram força expedicionária e derrotaram os chineses. Cada competidor atribuía ao outro a intenção de abocanhar parte maior do botim. O Japão declarou guerra à Rússia acusando-a de pretender se apossar da Manchúria. Vencida, a Rússia reconheceu a supremacia do Japão na Coréia e lhe cedeu um porto (1905). A Inglaterra se declarou titular de direitos soberanos sobre o Tibet. A Mongólia se tornou protetorado russo (1913).

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