EUROPA (1800 a
1900). Continuação.
Na Alemanha, frustra-se o
movimento revolucionário para instituir um governo liberal (1848). Sob a batuta
do ministro Bismarck a Alemanha se unifica (Prússia + Hanôver + Brandenburgo +
Saxônia + Pomerânia + Westphalia + Silesia). O imperador personificava a
confederação alemã (1871). Sem poder de veto, ele dividia o governo com um
Parlamento bicameral: câmara baixa (Reichstag)
e câmara alta (Bundesrat) cujos
membros eram eleitos pelo voto popular. O sufrágio era universal masculino. A
política de Bismarck contra o clero expressa no programa luta pela cultura durou de 1872 até 1886. O partido católico
aliou-se ao partido socialista, formou a democracia
social, obteve maioria no Parlamento e revogou a legislação discriminadora.
Decorridos 30 anos da unificação, a Alemanha tinha a segunda maior população da
Europa (a primeira era da Rússia), a maior renda per capita, triplicou a produção de carvão, reduziu o analfabetismo
(de cada 1000 soldados apenas 1 era analfabeto), fundou escolas técnicas e
universidades, criou previdência social de alto nível, organizou a segunda
maior marinha do mundo (a primeira era da Inglaterra), exército bem equipado e
treinado, desenvolveu uma economia pujante que superou as demais potências.
A França, portadora também
da febre nacionalista, cuja temperatura era mantida alta pela imprensa e pelas
escolas, aguardava revanche da derrota sofrida diante da Prússia (1870).
Pretendia reaver os territórios perdidos (Alsácia + Lorena). Os socialistas franceses
reagiam contra essa pretensão. A manutenção de navios e exércitos numa escala
maior do que a necessária à simples defesa nacional colocava na ofensiva alguns
países como a Rússia, França, Alemanha, Inglaterra. O preparo para a guerra
incluiu o serviço militar obrigatório (conscrição),
sistema criado pela França em 1793 e ampliado pela Prússia em 1807. Outras
nações do continente europeu seguiram o exemplo prussiano. Disseminou-se por
estas nações a crença de que a guerra revigorava a raça: na guerra e no direito à guerra, o homem possui algo que o coloca acima
da religião, da indústria e dos confortos sociais; a essência da guerra é a
violência; a moderação na guerra é imbecilidade; atacar primeiro,
violentamente, onde quer que seja. A vocação imperialista das nações que
atingem um poderio maior do que as outras é fato historicamente verificável.
Basta lembrar os impérios antigos, desde o egípcio até o romano. O imperialismo
decorrente da revolução comercial foi decaindo junto com o mercantilismo. Esse imperialismo
centrava-se na América e visava o engrandecimento do Estado e da dinastia
reinante (Portugal, Espanha, França, Holanda, Inglaterra). Além dos produtos
tropicais e exóticos, buscava-se ouro e prata para sustentar exércitos e o luxo
das cortes. No início do século XIX difundiu-se em alguns países europeus a
idéia de que os custos não compensavam adquirir e manter colônias. Todavia, a
partir de 1870, houve um surto imperialista visando à posse de territórios na
África e na Ásia.
O novo imperialismo visava
ao enriquecimento individual de negociantes e aventureiros das metrópoles
européias. Além de mercado para os seus produtos e da aplicação do capital
excedente, os europeus buscavam territórios produtores de trigo e ricos em
ferro, manganês e petróleo. As colônias também serviam para solucionar ou
amenizar o problema do excesso de população nas metrópoles. A emigração para as
colônias era incentivada. A industrialização provocou a competição entre os
países europeus por mercados e matérias-primas. A produção em massa gerou
excesso de bens a exigir mercados estrangeiros. Atividade missionária das
igrejas contribuiu para a expansão do domínio europeu nos outros continentes.
Até o século XVIII havia algum equilíbrio econômico em nível planetário porque
a agricultura era o fator principal da riqueza das nações. Entretanto, no
século XIX, a revolução industrial rompeu esse equilíbrio. A Europa se tornou
hegemônica e eclipsou a economia do resto do planeta. A Inglaterra era o centro
comercial do mundo. Palavras do economista Jevons em 1865: “As planícies da América do Norte e da Rússia
são nossos campos de trigo; Chicago e Odessa, nossos celeiros; Canadá e Báltico
são nossas florestas madeireiras; a Australásia contém nossas fazendas de
carneiros e na Argentina e nas pradarias ocidentais da América do Norte estão
nossos rebanhos de gado; o Peru nos manda sua prata e o ouro da África do Sul e
Austrália flui para Londres; os indianos e chineses plantam chá para nós e
nosso café, açúcar e especiarias estão plantados por todas as Índias. Espanha e
França são nossas vinhas e o Mediterrâneo, nosso pomar, e nossos campos de
algodão, que por muito tempo ocuparam o sul dos Estados Unidos, estão agora
sendo estendidos a toda parte cálida da terra”. (Citadas por Paul Kennedy
no livro “Ascensão e Queda das Grandes Potências”).
O impacto europeu na
África, América, Ásia, Oceania, foi de índole econômica, política e social.
Colonização cultural ampla (técnica, artística, científica, filosófica,
religiosa). O primeiro imperialista dos tempos industriais foi Leopoldo II, rei
da Bélgica que, em 1876, apossou-se do território banhado pelo Rio Congo, no
coração da África, e o conservou como domínio pessoal até 1908, quando o vendeu
para o governo belga por enorme soma de dinheiro. A ocupação da África foi
decidida por países europeus na Conferência
de Berlim (1884 a
1885, zênite do predomínio mundial da Europa). Inglaterra, França, Alemanha,
Itália, Portugal e Espanha repartiram o território africano entre si. A Espanha
ficou com as ilhas Canárias, o Rio do Ouro e parte do Marrocos. Portugal ficou
com Moçambique, Angola e parte da Guiné. A França ficou com a ilha de
Madagascar, Saara, Tunísia, toda a vasta região denominada África Ocidental
Francesa e África Equatorial Francesa, e parte da Argélia, do Marrocos, da
Guiné e da Somália. A Inglaterra ficou com Egito (protetorado), Serra Leoa,
Costa do Ouro, Nigéria, Sudão, Uganda, Quênia, Rodésia, todo o sul da África e
parte da Somália. A Itália ficou com a Líbia, Eritréia, Etiópia e parte da
Somália. A Alemanha ficou com a África Sul-Ocidental (protetorado), Tanganica,
Camarões e Togolândia. A partir da Conferência
de Berlim decresce o papel das potências européias, com exceção da Rússia,
e cresce o papel dos EUA até a supremacia no século XX.
A posse de territórios na
Ásia foi disputada por ingleses, franceses, russos, alemães e japoneses. Os
ingleses se apossaram da Índia (1763), depois anexaram a Birmânia (1855) e
adquiriram o domínio da ilha de Hong Kong no final da guerra do ópio (1858). Os franceses instituíram protetorado na
Indochina (Vietnã). Os russos fundaram Vladivostok, cidade ao norte do Rio
Amur, no território chinês e construíram a ferrovia ligando aquela cidade a
Manchúria. Os japoneses dominaram a ilha de Formosa e a Coréia após vencerem a
primeira guerra sino-japonesa (1895). Sob o pretexto de vingar a morte de dois
missionários na China, a Alemanha apossou-se da baía de Kiaochow e obteve
exclusividade na construção de ferrovias e na exploração das minas da península
de Chantung. Ingleses e franceses partilharam o controle dos mais importantes
portos da costa chinesa. Em conseqüência de todas essas invasões, o território
chinês ficou estilhaçado. Por volta de 1900, uma organização denominada
“Sociedade dos Punhos Unidos” (boxers)
tentou expulsar os diabos estrangeiros.
Propriedades foram destruídas, legações em Pequim foram sitiadas, centenas de
estrangeiros foram mortos, inclusive um ministro alemão. Ingleses, franceses,
alemães, russos, japoneses e estadunidenses organizaram força expedicionária e
derrotaram os chineses. Cada competidor atribuía ao outro a intenção de
abocanhar parte maior do botim. O Japão declarou guerra à Rússia acusando-a de
pretender se apossar da Manchúria. Vencida, a Rússia reconheceu a supremacia do
Japão na Coréia e lhe cedeu um porto (1905). A Inglaterra se declarou titular
de direitos soberanos sobre o Tibet. A Mongólia se tornou protetorado russo
(1913).
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