EUROPA (1800 a
1900).
Napoleão Bonaparte,
nascido em 1769, berço pobre, na Córsega, possessão francesa, freqüentou a
academia militar de Paris. No posto de coronel, comandou as tropas que
expulsaram os ingleses de Toulon. Foi promovido a general de brigada. Defendeu
a Convenção Nacional de um ataque desferido por reacionários parisienses
(1795). Expulsou os austríacos da Itália. Estas ações guerreiras lhe valeram a
fama de herói nacional. Tornou-se o símbolo da vitória e depositário da esperança
de um futuro glorioso para a pátria francesa. A situação financeira da França
estava péssima e o povo abalado pela revolução e pelas privações. Corrupção
generalizada. Pululavam intrigas no Diretório. O abade Sieyès, doutrinador,
conspirador, membro do Diretório, viu em Napoleão o herói nacional que buscava.
Sagaz e oportunista, Napoleão vibrou o golpe de misericórdia na revolução
francesa (1799). Governou a França até abril de 1814 e depois, por cem dias, em
1815. Dizia que o povo francês necessitava de igualdade e não de liberdade.
Obteve do povo, mediante plebiscito, a investidura vitalícia no cargo de
cônsul. Outro plebiscito o autoriza a converter o consulado em império (1804).
Coroou a si próprio imperador com o título de Napoleão I, em cerimônia realizada
na catedral Notre Dame de Paris.
Napoleão distribuiu terra
aos camponeses, combateu a desonestidade e o desperdício fluentes no governo,
reformou o sistema tributário, exigiu eficiência do Banco de França no controle
dos negócios fiscais, drenou pântanos, construiu pontes, estradas e canais e
aumentou os portos. Para estas obras confluíam objetivos militares e
econômicos. Dividiu o país em distritos (départements)
administrados por prefeitos submetidos às ordens do poder central (Paris).
Concluiu as reformas educacional e jurídica. Instalou escolas primárias em
todas as cidades, liceus nas mais importantes, escola de formação de
professores em Paris, passou para o Estado a direção das escolas militares e
técnicas e fundou a Universidade Nacional. A Escola Politécnica – centro de
produção científica e tecnológica – serviu de modelo a outras escolas nas
diversas capitais do continente europeu. O número de vagas nas escolas oficiais
continuou insuficiente para atender a população em idade escolar. Auxiliado por
comissão de juristas, Napoleão concluiu o código de leis que leva o seu nome e
que influiu dentro e fora da Europa (Bélgica, Alemanha, Itália, Suíça,
Louisiana, Japão). Ele restabeleceu a união do Estado com a Igreja católica,
porém, tolerava as outras religiões. {Com a extinção em 1905, da concordata de
1801 celebrada com o Papa, a igreja católica ficou em plano de igualdade com as
outras igrejas}.
A imprensa ficou sob
censura imperial. Todas as crianças nas escolas eram ensinadas a amar o imperador.
Napoleão organizou o bloqueio continental
para expulsar as mercadorias inglesas do continente europeu (1806). Este foi o
período em que se tornou mais aguda a rivalidade militar e econômica entre
França e Inglaterra, as duas maiores potências da época. Confronto entre o elefante e a baleia, no dizer espirituoso do
professor Paul Kennedy no seu livro “Ascensão e Queda das Grandes Potencias”. A
França era o gigante em força terrestre e a Inglaterra era o gigante em força
naval. Os ingleses isolados, mas fortes em sua ilha, suspenderam todos os
fornecimentos para o continente europeu. Os europeus continentais necessitavam
dos produtos ingleses e acabaram por boicotar o bloqueio. Napoleão foi deposto
e exilado na Ilha de Elba com amplas facilidades. Decorrido cerca de um ano,
ele foge da ilha e volta ao governo apoiado por suas tropas (1815). As suas
aspirações de domínio europeu frustram-se logo depois, em Waterloo, na Bélgica,
diante das forças armadas inglesas, holandesas e alemãs, comandadas pelo duque
de Wellington. Desta vez, Napoleão é exilado para a ilha de Santa Helena, no
Atlântico Sul. Ali termina a sua existência terrena (05/05/1821). A dinastia
dos Bourbon é restaurada. Luiz XVIII assume o trono de França com as limitações
postas pela Constituição de 1814.
No Congresso de Viena
decidia-se o destino da Europa (1814/1815). Neste congresso jamais houve sessão
plenária com todos os delegados. Funcionavam apenas algumas comissões.
Compareceram: o czar da Rússia, o imperador da Áustria, os reis da Prússia,
Dinamarca, Bavária e de Württemberg, o Lord Castlereagh e o Duque de
Wellington, representantes da Inglaterra, o bispo Talleyrand ministro do
exterior da França e Metternich chanceler do império austríaco que dominou a
assembléia. A idéia básica do congresso foi a da legitimidade posta por Talleyrand para proteger os interesses da
França contra as punições impostas pelos países vencedores da guerra. A idéia
foi acatada por Metternich porque atendia à política geral da reação contra o
liberalismo. Legitimidade
significava: (1) restauração das dinastias européias onde elas tinham sido
afastadas pelos revolucionários; (2) retorno dos países às suas fronteiras de
1789. Desse modo, recuperaram o poder: em França, Espanha e duas Sicílias, a
casa Bourbon; na Holanda, a casa Orange; no Piemonte e Sardenha, a casa Savóia.
O reino da Polônia foi extinto e seu território dividido entre a Rússia, a
Prússia e a Áustria. A Suíça assegura neutralidade e se torna confederação
independente. Houve compensações territoriais entre os países, tanto na Europa
como nas colônias da América do Sul, África e Ásia, sem considerar as
nacionalidades em cada continente.
Metternich conseguiu aliar Áustria (Viena), Inglaterra
(Londres), Prússia (Berlim), Rússia (São Petersburgo) e França (Paris), para
preservar o acordo de Viena e manter o equilíbrio europeu. Essa aliança foi
apelidada de “pentarquia”. Paralelamente à pentarquia
foi celebrada a Santa Aliança (1815), proposta pelo czar Alexandre I, de
inspiração religiosa, guiada pelos preceitos de Justiça, Caridade e Paz,
fundada nas “verdades sublimes que a religião sagrada do nosso salvador
ensina”. Os aliados não levaram a sério o que subscreveram, apenas mostraram
diplomática atenção ao devaneio místico do czar granjeando-lhe a confiança e a
simpatia. A aliança que de fato funcionou e produziu efeitos foi a costurada
por Metternich, fortalecida nos congressos internacionais de Aix-la-Chapelle
(1818), Troppau (1820), Laibach (1821) e Verona (1822). Os monarcas foram
liberados dos juramentos de cumprir constituições liberais em alguns reinos
como o da Sicília, o da Espanha e o de Nápoles. Isto incrementou a reação ao
liberalismo gerando centenas de mortos. Metternich baixa, através da Dieta
Federal, um programa repressivo nos países germânicos (1819): inspetor oficial
nas universidades; professores rebeldes removidos dos seus cargos; dissolução
das sociedades dos estudantes (secretas ou abertas); imprensa submetida à
censura. Em virtude dessas medidas, o movimento liberal na Alemanha caiu na
obscuridade e só voltou à luz no movimento revolucionário continental de 1848.
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