quinta-feira, 16 de outubro de 2014

FILOSOFIA XIV



EUROPA (1800 a 1900).

Napoleão Bonaparte, nascido em 1769, berço pobre, na Córsega, possessão francesa, freqüentou a academia militar de Paris. No posto de coronel, comandou as tropas que expulsaram os ingleses de Toulon. Foi promovido a general de brigada. Defendeu a Convenção Nacional de um ataque desferido por reacionários parisienses (1795). Expulsou os austríacos da Itália. Estas ações guerreiras lhe valeram a fama de herói nacional. Tornou-se o símbolo da vitória e depositário da esperança de um futuro glorioso para a pátria francesa. A situação financeira da França estava péssima e o povo abalado pela revolução e pelas privações. Corrupção generalizada. Pululavam intrigas no Diretório. O abade Sieyès, doutrinador, conspirador, membro do Diretório, viu em Napoleão o herói nacional que buscava. Sagaz e oportunista, Napoleão vibrou o golpe de misericórdia na revolução francesa (1799). Governou a França até abril de 1814 e depois, por cem dias, em 1815. Dizia que o povo francês necessitava de igualdade e não de liberdade. Obteve do povo, mediante plebiscito, a investidura vitalícia no cargo de cônsul. Outro plebiscito o autoriza a converter o consulado em império (1804). Coroou a si próprio imperador com o título de Napoleão I, em cerimônia realizada na catedral Notre Dame de Paris.

Napoleão distribuiu terra aos camponeses, combateu a desonestidade e o desperdício fluentes no governo, reformou o sistema tributário, exigiu eficiência do Banco de França no controle dos negócios fiscais, drenou pântanos, construiu pontes, estradas e canais e aumentou os portos. Para estas obras confluíam objetivos militares e econômicos. Dividiu o país em distritos (départements) administrados por prefeitos submetidos às ordens do poder central (Paris). Concluiu as reformas educacional e jurídica. Instalou escolas primárias em todas as cidades, liceus nas mais importantes, escola de formação de professores em Paris, passou para o Estado a direção das escolas militares e técnicas e fundou a Universidade Nacional. A Escola Politécnica – centro de produção científica e tecnológica – serviu de modelo a outras escolas nas diversas capitais do continente europeu. O número de vagas nas escolas oficiais continuou insuficiente para atender a população em idade escolar. Auxiliado por comissão de juristas, Napoleão concluiu o código de leis que leva o seu nome e que influiu dentro e fora da Europa (Bélgica, Alemanha, Itália, Suíça, Louisiana, Japão). Ele restabeleceu a união do Estado com a Igreja católica, porém, tolerava as outras religiões. {Com a extinção em 1905, da concordata de 1801 celebrada com o Papa, a igreja católica ficou em plano de igualdade com as outras igrejas}.

A imprensa ficou sob censura imperial. Todas as crianças nas escolas eram ensinadas a amar o imperador. Napoleão organizou o bloqueio continental para expulsar as mercadorias inglesas do continente europeu (1806). Este foi o período em que se tornou mais aguda a rivalidade militar e econômica entre França e Inglaterra, as duas maiores potências da época. Confronto entre o elefante e a baleia, no dizer espirituoso do professor Paul Kennedy no seu livro “Ascensão e Queda das Grandes Potencias”. A França era o gigante em força terrestre e a Inglaterra era o gigante em força naval. Os ingleses isolados, mas fortes em sua ilha, suspenderam todos os fornecimentos para o continente europeu. Os europeus continentais necessitavam dos produtos ingleses e acabaram por boicotar o bloqueio. Napoleão foi deposto e exilado na Ilha de Elba com amplas facilidades. Decorrido cerca de um ano, ele foge da ilha e volta ao governo apoiado por suas tropas (1815). As suas aspirações de domínio europeu frustram-se logo depois, em Waterloo, na Bélgica, diante das forças armadas inglesas, holandesas e alemãs, comandadas pelo duque de Wellington. Desta vez, Napoleão é exilado para a ilha de Santa Helena, no Atlântico Sul. Ali termina a sua existência terrena (05/05/1821). A dinastia dos Bourbon é restaurada. Luiz XVIII assume o trono de França com as limitações postas pela Constituição de 1814.

No Congresso de Viena decidia-se o destino da Europa (1814/1815). Neste congresso jamais houve sessão plenária com todos os delegados. Funcionavam apenas algumas comissões. Compareceram: o czar da Rússia, o imperador da Áustria, os reis da Prússia, Dinamarca, Bavária e de Württemberg, o Lord Castlereagh e o Duque de Wellington, representantes da Inglaterra, o bispo Talleyrand ministro do exterior da França e Metternich chanceler do império austríaco que dominou a assembléia. A idéia básica do congresso foi a da legitimidade posta por Talleyrand para proteger os interesses da França contra as punições impostas pelos países vencedores da guerra. A idéia foi acatada por Metternich porque atendia à política geral da reação contra o liberalismo. Legitimidade significava: (1) restauração das dinastias européias onde elas tinham sido afastadas pelos revolucionários; (2) retorno dos países às suas fronteiras de 1789. Desse modo, recuperaram o poder: em França, Espanha e duas Sicílias, a casa Bourbon; na Holanda, a casa Orange; no Piemonte e Sardenha, a casa Savóia. O reino da Polônia foi extinto e seu território dividido entre a Rússia, a Prússia e a Áustria. A Suíça assegura neutralidade e se torna confederação independente. Houve compensações territoriais entre os países, tanto na Europa como nas colônias da América do Sul, África e Ásia, sem considerar as nacionalidades em cada continente.

Metternich conseguiu aliar Áustria (Viena), Inglaterra (Londres), Prússia (Berlim), Rússia (São Petersburgo) e França (Paris), para preservar o acordo de Viena e manter o equilíbrio europeu. Essa aliança foi apelidada de “pentarquia”. Paralelamente à pentarquia foi celebrada a Santa Aliança (1815), proposta pelo czar Alexandre I, de inspiração religiosa, guiada pelos preceitos de Justiça, Caridade e Paz, fundada nas “verdades sublimes que a religião sagrada do nosso salvador ensina”. Os aliados não levaram a sério o que subscreveram, apenas mostraram diplomática atenção ao devaneio místico do czar granjeando-lhe a confiança e a simpatia. A aliança que de fato funcionou e produziu efeitos foi a costurada por Metternich, fortalecida nos congressos internacionais de Aix-la-Chapelle (1818), Troppau (1820), Laibach (1821) e Verona (1822). Os monarcas foram liberados dos juramentos de cumprir constituições liberais em alguns reinos como o da Sicília, o da Espanha e o de Nápoles. Isto incrementou a reação ao liberalismo gerando centenas de mortos. Metternich baixa, através da Dieta Federal, um programa repressivo nos países germânicos (1819): inspetor oficial nas universidades; professores rebeldes removidos dos seus cargos; dissolução das sociedades dos estudantes (secretas ou abertas); imprensa submetida à censura. Em virtude dessas medidas, o movimento liberal na Alemanha caiu na obscuridade e só voltou à luz no movimento revolucionário continental de 1848.

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