domingo, 26 de outubro de 2014

FILOSOFIA XIV - 4



EUROPA (1800 a 1900). Continuação.

Diante do imperialismo europeu sobre os outros continentes e do crescimento da Rússia e dos EUA, o primeiro-ministro britânico Lorde Salisbury notou e afirmou que o mundo estava dividido entre potências vivas e potências agonizantes (1898). Na esteira do darwinismo então em voga, as vitórias e as derrotas nos conflitos entre as nações foram comparadas à evolução dos animais e interpretadas como prova da teoria da sobrevivência do mais capaz no âmbito da sociedade humana. “Os mais capazes” na época eram: Rússia, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Áustria/Hungria, Itália, Japão e EUA (1900). Predominava nas elites civis e militares a opinião de que a competição, o uso da força, a organização e o aumento dos recursos nacionais, fortaleciam o poder estatal e asseguravam a ordem mundial. Quanto maior a base industrial, a criatividade tecnológica e o conhecimento científico, maior a probabilidade de uma nação se qualificar como potência. O poder da nação inclui a organização social, política e econômica; as virtudes, habilidades e energia da sua gente; os costumes, as crenças e os mitos da sua cultura.            

O progresso na indústria, no comércio, nos serviços, nas artes, nas ciências, nas técnicas, ocorreu na Europa e na América, tanto nas monarquias como nas repúblicas. O ritmo das mudanças na cultura européia aumentou a partir da revolução francesa, apesar da morte do latim como língua dos sábios e da dificuldade de se conhecer os diferentes idiomas dos escritores, cientistas e filósofos franceses, alemães, ingleses, italianos, espanhóis, russos e escandinavos. Avanços tecnológicos tipificam autêntica revolução industrial: fundição de minério, obtenção do cobre, bomba hidráulica aspirante, motor a vapor, torno de fiar, máquina de fazer meias, termômetro, telégrafo, imprensa rotativa, tear mecânico para produzir simultaneamente várias fitas. Este invento mencionado por último reduzia a mão-de-obra. Em represália, os mestres das corporações assassinaram o inventor em Danzig. Com o crescimento populacional aumentou a demanda por produtos industrializados (roupas de algodão). A floresta européia foi devastada para suprir de carvão as fundições de ferro. O carvão vegetal foi substituído pelo carvão mineral (coque) descoberto por Abraham Darby (1709). A acumulação de água nas minas exigiu uma fonte de energia para mover as bombas de sucção. Isto levou à invenção da máquina a vapor. Essa máquina foi aperfeiçoada por James Watt, construtor de aparelhos científicos da Universidade de Glasgow (1782). Até o século XVIII, a Inglaterra era pobre. A industrialização começou na região setentrional desse país e se expandiu. No século XIX, a Inglaterra foi pioneira na industrialização e se tornou o mais rico e influente país da Europa. 

Houve mudanças radicais nos transportes e nas comunicações. A tração animal das diligências foi substituída pela tração a vapor (1800). A locomotiva foi inventada. Estradas de ferro foram construídas para a circulação de passageiros e cargas (1825). A navegação fluvial e marítima passou a ser em barcos e navios movidos a vapor (1875). A invenção do motor de combustão interna marca o começo da era do automóvel (1876). O francês Levassor adapta esse tipo de motor a uma carruagem com transmissão da tração ao eixo traseiro por cabo transmissor, engrenagem redutora e diferencial de marchas (1887). Nascia o primeiro automóvel, veículo de pequena produção e uso exclusivo de pessoas ricas. Com a sua produção em série, o número de usuários aumentou. O automóvel e suas ampliações (ônibus, caminhão) passam a trafegar na cidade e entre cidades. O petróleo natural, como combustível, foi substituído por um derivado: gasolina. O motor a gasolina foi aperfeiçoado com o carburador e a faísca elétrica para queimar o fluído (Karl Benz). O motor movido a óleo cru foi inventado e utilizado em caminhões, locomotivas e navios (Rudolf Diesel, 1897).

As comunicações foram facilitadas pela invenção do telégrafo e pelo aperfeiçoamento dos processos de impressão gráfica. O físico francês Ampére descobrira que o eletromagnetismo podia ser utilizado para transmissão de mensagens entre pontos distantes por meio de um fio (1820). Procurou-se, então, construir o instrumento para esse fim. O alemão Karl Steinheil, o inglês Charles Wheatstone e o americano Samuel Morse, separada e simultaneamente, inventaram o sistema elétrico de telégrafo (1837). Tal invenção foi amplamente utilizada no mundo civilizado, inclusive por meio de cabo transatlântico (1866). O mesmo ocorreu com o telefone, cuja invenção é atribuída a Alexandre Graham Bell e a Elisha Gray, separadamente (1876). Guglielmo Marconi inventa o telégrafo sem fio a partir das descobertas de Henrique Hertz e outros sobre a transmissão das ondas eletromagnéticas através do ar (1899). Esta invenção abriu caminho para o rádio, o telefone sem fio e a televisão. Esta última (TV) resultou do trabalho do escocês J.L. Baird (1926). A imprensa rotativa facilitou a publicação dos jornais em maior quantidade. Na França, em 1836, Emile Girardin funda “La Presse”, jornal moderno, barato, linguagem atraente visando ao amplo leque de leitores, objetivando ganhos com anúncios, contendo fofocas, novelas e matéria política. Todas estas invenções revolucionaram os meios de comunicação.

A eletricidade foi de notável importância para o conforto e a segurança do homem moderno. Atribui-se a sua descoberta ao inglês Sir Humphrey Davy (1820). Com a invenção do dínamo a energia mecânica podia ser convertida em energia elétrica (1873). O dínamo inicialmente movido a vapor passou a utilizar força hidráulica. A lâmpada de filamento incandescente foi inventada pelo americano Thomas Edison. A luz elétrica era privilégio de poucos (1879). O seu uso generalizou-se após o trabalho de Nikola Tesla com a corrente alternada que permitiu instalar o sistema de iluminação das casas, das ruas e da cidade inteira (1888). Poderosas firmas alemãs com mais de 140 mil empregados, como a Siemens, dominavam a indústria elétrica européia. A refrigeração artificial aperfeiçoada por J. J. Coleman e outros, a máquina de escrever, a máquina fotográfica e a cinematográfica, além de encorparem a indústria e o comércio, contribuíram para o trabalho profissional, o conforto e o lazer das pessoas. A agricultura recebeu contribuição da química e da metalurgia: adubos artificiais, arados, grades aperfeiçoadas, máquina debulhadora, segadeira mecânica.

Desenvolveu-se o processo de fabricação do aço com a eliminação do carbono existente no ferro. Henry Bessemer descobriu que a introdução de um jato de ar no ferro em fusão na fornalha de uma fundição eliminava toda a percentagem de carbono e convertia o ferro em aço (1856). O aço substitui o ferro como material industrial básico. A máquina a vapor, a mais nova fonte de energia da época, foi de grande importância na produção de carvão, ferro e teve inúmeras utilidades, além de revolucionar os transportes. Caldeiras a carvão produziam o vapor de modo mais eficiente. O carvão se valorizou e a sua mineração se intensificou. O serviço postal orgulhava-se de suas carruagens correrem dia e noite e percorrerem 200 quilômetros em apenas 24 horas. A máquina a vapor foi adaptada às diligências e algumas delas percorreram estradas. A tração animal em vagões sobre trilhos usados para transportar carvão foi substituída pela tração a vapor. A primeira locomotiva atingiu a espetacular velocidade de 24 quilômetros por hora. Modelos posteriores dobraram essa velocidade. Inúmeras estradas de ferro foram construídas para transporte de carga e de passageiros (dez mil quilômetros por volta de 1848, na Inglaterra). Aumentou a fabricação de locomotivas e vagões. A máquina a vapor no transporte fluvial e marítimo incrementou a indústria naval.

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