EUROPA (1800 a 1900). Continuação.
A tecelagem exigia algo
mais eficiente e rápido do que as rocas de fiar tendo em vista o aumento da
procura de roupas de algodão. Prêmios foram oferecidos por instituições
científicas e comerciais a quem inventasse métodos que aumentassem a produção
do fio. Desse esforço resultaram: a máquina de fiar, o tear hidráulico e o tear
mecânico, precursores de outros aperfeiçoamentos na indústria têxtil. A
indústria servia-se cada vez mais de máquinas. A produção agrícola foi
beneficiada com os adubos artificiais e a mecanização da lavoura (1800 a 1870). Criou-se a cadeia sem fim (produtos exigem novos
produtos que exigem novos produtos e assim por diante) e a montagem de veículos em linha (diversas
secções num trabalho continuado e especializado até o produto final. Henry
Ford, 1906). A revolução industrial conheceu nova fase a partir de 1860: (1)
desenvolvimento do processo de fabricação do aço (1856); (2) aperfeiçoamento do
dínamo (1873); (3) invenção do motor de combustão interna (1876); (4) interação
entre ciência e tecnologia. A termodinâmica propiciou aos engenheiros o
conhecimento necessário para construir máquinas cada vez mais eficientes. A
industrialização se estende da Inglaterra para a Alemanha, França, Rússia, EUA
e Japão. A organização capitalista se diversifica: monopólios, sociedades
anônimas, cadeias de lojas, multiplicação de empregos, caracterizam o
gigantismo econômico. Formam-se cartéis na produção do ferro, aço e carvão para
evitar competição ruinosa. Ante o excesso de produção buscam-se formas de
controle. A classe média compõe-se de pequenos comerciantes, profissionais
liberais, escriturários, técnicos, vendedores, contadores.
A Inglaterra tornou-se a
principal nação capitalista no século XIX. O Banco da Inglaterra existia desde
1694 e embora inteiramente privado, atuava em sintonia com o governo. A
Inglaterra tinha um dos melhores sistemas bancários da Europa. O
desencadeamento da revolução industrial na Europa foi contemporâneo da monarquia
constitucional, da intervenção do governo na economia e sofreu a influência
religiosa e pragmática dos protestantes. A nobreza hereditária cedeu lugar à
riqueza dos burgueses (aristocracia do berço x aristocracia do patrimônio).
Independente da origem social, o homem comum podia ser par do reino se tivesse sucesso econômico. A partir de 1890, o
capitalismo financeiro sobrepuja o capitalismo industrial com as seguintes
características: (1) dominação da indústria pelas inversões bancárias; (2)
formação de imensas acumulações de capital; (3) separação entre propriedade
particular e direção do empreendimento; (4) criação e expansão das companhias holding. Verificou-se no plano dos fatos
que o sistema capitalista era suscetível de crises periódicas. A concentração
da renda na parte menor da população despertou o sentimento de justiça social
na parte maior. O proletariado se organizou, adquiriu força, desafiou a
burguesia e conquistou direitos: salário base, horário máximo, folga semanal,
férias remuneradas.
No final do século XIX, o
fato de os gabinetes do poder executivo se submeterem ao parlamento e de os
cidadãos estarem habilitados a votar pareceu de pouca importância enquanto os
operários estavam à mercê de um sistema industrial selvagem. Democracia econômica era formalmente
entendida como igualdade de oportunidade a todos concedida para revelar
capacidades latentes. Irônico, Anatole France assim explicava o conceito
liberal de igualdade: “o pobre e o
rico têm igual direito de dormir sob pontes e de mendigar o pão de cada dia”.
O laissez-faire entrou em declínio
ante a democracia econômica caracterizada pela intervenção do Estado na
economia e proteção dos produtos nacionais. Na Alemanha do ministro Bismarck
foi elaborada legislação social programática com duplo objetivo: atender aos
cidadãos na doença e na velhice e impedir a expansão do socialismo no meio
proletário.
As teorias econômicas
repercutiram nos acontecimentos sociais e políticos dos séculos XIX e XX. Houve
influência das idéias sobre os fatos e dos fatos sobre as idéias não apenas em
solo europeu como também nos outros rincões do planeta. Adam Smith (1723 a 1790) é considerado o
fundador da economia política moderna. Na defesa do liberalismo econômico
prosseguem os seus discípulos: Thomas Maltus, David Ricardo, James Mill e
Nassau Sênior. Os pontos principais da teoria exposta por esses estudiosos
podem ser assim sumariados: (1) Individualismo
econômico: cada pessoa tem o direito de usar livremente em proveito próprio
ou alheio os bens que herdou ou adquiriu por meio lícito, devendo apenas
respeitar igual direito do outro; considerando que cada indivíduo sabe o que é
melhor para sua felicidade, a sociedade mais se beneficiará se cada um dos seus
membros seguir suas próprias inclinações. (2) Laissez-faire: o Estado deve cuidar apenas da segurança pública sem
interferir no processo econômico. (3) Lei
natural: o setor econômico obedece a leis naturais como a da oferta e da
procura, dos lucros decrescentes, da renda. (4) Liberdade de contrato: os indivíduos devem celebrar contratos
segundo os seus interesses, sem coação alguma; empregador e empregado devem
combinar as relações de trabalho sem intervenção do Estado ou de entidades
sindicais. (5) Concorrência e comércio
livres: a concorrência mantém baixos os preços, afasta produtores
ineficientes, assegura produção compatível com a procura dos consumidores;
monopólios ou tabelamento de preços não são tolerados; tarifas protetoras devem
ser abolidas de modo que o país se empenhe na produção dos bens para a qual
está mais capacitado.
Thomas Malthus (1766 a 1834), clérigo da
igreja anglicana, reitor de paróquia, afirmou que a natureza limitava o
progresso da humanidade quanto à felicidade e à riqueza. Publicou “Ensaio Sobre
a População”, primeiro como panfleto e depois como livro em virtude da sensação
causada (1798). Devido à voracidade do apetite sexual, a população tende
naturalmente a crescer mais rapidamente do que os meios de subsistência.
Enquanto a população cresce em escala geométrica o estoque de alimentos cresce
em escala aritmética. O crescimento populacional não se interrompe, embora
possa ser freado pela guerra, pela fome, pela doença, pelo vício, que só
aumentam a miséria humana. A dor e a pobreza são inevitáveis. Ainda que a
riqueza fosse distribuída equitativamente, a situação de pobreza retornaria
após a constituição de famílias numerosas. Retardar o matrimônio é um remédio
que pode ser eficaz ou simples paliativo. Malthus aconselha o controle natural
da natalidade tolerado pela religião. Os homens deviam ser educados para
limitar o crescimento demográfico. Condorcet aconselhava o controle
artificial da natalidade. Malthus replicou: esse
tipo de controle é pecaminoso.
David Ricardo (1772 a 1823), inglês,
economista, judeu convertido ao cristianismo, casado com mulher cristã da seita
quacre, espírito arguto, jogou na bolsa de valores, fez fortuna e se tornou um
dos homens mais ricos da Europa. A sua teoria exposta nos “Princípios de
Economia Política e Tributação”, livro publicado em 1817, tem por base a teoria
de Malthus. Na opinião de Ricardo, os salários devem se manter em nível de
subsistência de modo que não haja aumento demográfico nem diminuição. Acima
desse nível, o salário facilita a constituição de família numerosa. A
conseqüência é a acirrada competição por empregos, o que empurra o nível do
salário para baixo. A renda é determinada pelo custo de produção das terras
mais pobres que devem ser cultivadas. Quando um país alcança maior densidade
demográfica, porção maior da renda social ficará retida com os proprietários
rurais. Na determinação do valor da produção concorrem o trabalho e o capital.
O valor de troca de uma mercadoria depende da quantidade de trabalho nela
despendido. {Daí, a ilação de que o trabalhador tinha o direito de participar
dos valores que produzia}.
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