No último debate do primeiro
turno o desempenho de Luciana Genro foi de mulher corajosa, inteligente, culta
e altiva. O seu discurso claro e sincero veio arrimado em convicções
sedimentadas. Ela dignificaria a presidência da república se eleita. Enfrentou
o candidato da extrema direita
(Fidelix) com firmeza acusando-o de incitar a violência contra os homossexuais.
Encarou também o candidato da direita
(Aécio) ao se referir à corrupção no governo de Minas Gerais. Mandou que ele
abaixasse o dedo ao se dirigir a ela. O tucano obedeceu e depois se afastou com
o rabo entre as pernas.
Apesar de bem qualificada moral,
intelectual e profissionalmente para o cargo de presidente da república, Marina
Silva perdeu pontos ao cometer erros diante dos adversários. Ela tratou Aécio
Neves de “excelência”. O tucano a mirou com ar superior e não retribuiu o
tratamento protocolar, o que acentuou a posição subalterna da candidata. O
eleitor registrou o fato. Momento infeliz que custou o segundo turno à
ambientalista. Na arena da disputa eleitoral os candidatos se colocam em
posição de igualdade e se tratam de “você”. Por ser presidente do Brasil, Dilma
Rousseff tem o direito ao cerimonial tratamento de “excelência”, mas foi
tratada de “você” em razão do nível igualitário exigido em pleito eleitoral
entre os candidatos ao mesmo cargo. Melhor seria que todos se tratassem de senhora e senhor como é próprio da cultura brasileira, pequeno esforço de
boas maneiras para tornar a política partidária menos rasteira. O respeito ao
povo e às instituições nacionais exige um tratamento menos vulgar entre aqueles
que aspiram ascender ao mais alto cargo executivo da república. Não se há de confundir o
debate político no processo eleitoral com a conversa de botequim. Marina também
pecou por anacronismo e revanchismo (deixara o PT por divergência quanto à
política ambiental). A sua assertiva de que Dilma jamais exercera cargo
político, sequer como vereadora, sempre limitada às funções administrativas e
por isto não estaria preparada para ser alçada diretamente à presidência da
república, seria argumento oportuno e adequado na primeira eleição. A petista é candidata à reeleição, ocupa a presidência há quatro anos e
demonstrou quantum satis aptidão para
governar. O tempo e os fatos suplantaram o raciocínio de Marina.
Os candidatos que disputam a
presidência da república em segundo turno não têm luz própria. Dilma se apóia
no potencial político do ex-presidente Luiz Inácio junto à massa popular. Aécio
se apóia na imagem do tio Tancredo Neves e no prestígio do ex-presidente
Fernando Henrique junto às elites econômica e cultural. Os eleitores que neles
votaram no primeiro turno tornarão a neles votar no segundo o que, de saída,
representa vantagem para a petista. Em que pese a orientação da cúpula dos
partidos de Marina e de Luciana, os seus eleitores gozam de relativa
independência e tendem para a esquerda. Alguns anularão o voto. Portanto,
grande é a chance da petista de ver confirmada a sua vitória. Apesar da disfarçada
propaganda em favor de Aécio pelas emissoras privadas de televisão
(entrevistas, reportagens, noticiários, pesquisas e artifícios semelhantes), a
petista terá mais votos do que o tucano. A fala picotada da presidente, o seu reduzido
vocabulário, a deficiente inteligência verbal, não constituíram óbice à
conquista dos votos. A petista consegue expor as suas idéias com razoável
clareza. Às vezes ela se enreda em frases mal elaboradas. Isto a torna alvo de
ácidas críticas. Em sendo reeleita, o seu projeto de governo não sofrerá
solução de continuidade, o que é bom para as obras e serviços públicos e para a
saúde financeira da república. Evita-se o desperdício (por costumeira
politicagem, o governante que entra abandona as obras do governante que sai). A
ajuda do ex-presidente Luiz Inácio tem sido valiosa.
A administração petista trouxe
benefícios à camada pobre da população. Só por votar em candidatos do PT, o
eleitor pobre não merece ser taxado de ignorante
de forma pejorativa e preconceituosa
como o foi pelo candidato do PSDB. Pobreza e ignorância são conceitos
distintos. Pobreza é carência de bens
essenciais a uma existência digna. Ignorância
é carência de conhecimento. Pobreza é
o estado de carência material em que se encontra parcela da humanidade. Ignorância é o estado de carência de luz
espiritual em que se encontra toda a humanidade. Em maior ou menor grau, todos
os humanos são ignorantes. Só deus tem pleno conhecimento de todas as coisas. A
opacidade da mente ocorre em pessoas das camadas pobre, remediada e rica da
sociedade, indistintamente. Há eleitores que votam com o coração (os simples e
humildes principalmente) e eleitores que votam com a razão (os intelectuais e
os soberbos principalmente). Há eleitores emotivos e há eleitores calculistas. Em
país democrático, os votos intuitivos valem tanto quanto os votos brotados da
razão. Quando se trata da escolha dos rumos da nossa existência individual e
coletiva, a intuição pode ser mais valiosa do que o raciocínio. Estiagem
prolongada, excesso de chuvas, epidemias, estouro da bolsa de valores, conflito
bélico, são acontecimentos que esterilizam projetos racionalmente elaborados, prejudicam a produção
econômica bem planejada, interferem na execução de obras bem arquitetadas. A
análise racional tem limites que a intuição não tem.
A administração petista proporcionou
progresso à nação. O crescimento da economia foi positivo apesar do percentual
modesto. A crise econômica mundial de 2008 foi administrada pelo governo
petista de modo mais competente do que pelos governos dos outros países da
América e da Europa. A análise do desempenho econômico vai além do percentual
de crescimento, pois inclui o exame da economia em termos globais e considera o
volume e a complexidade dos problemas do Brasil em níveis nacional e
internacional. A inflação está em nível tolerável. A posição do Brasil no
ranking da economia mundial é muito boa. A administração petista encerrará o
seu ciclo em 2018 se a oposição conseguir rachar o eleitorado nordestino e
nortista. Na região sul, o espaço da esquerda é menor; o eleitorado da direita
é maioria. Neste cenário circunstancial reside a probabilidade do retorno da
direita à presidência da república. A polarização PT x PSDB se repete há 20
anos. O confronto entre os dois partidos continuará pelo menos até 2033 com a
presidência ocupada pelo PSDB de 2019
a 2026 por eleição e reeleição do atual governador de São
Paulo (Alckmin) e de 2027 a
2034 por eleição e reeleição do atual governador do Paraná (Richa). A norma
constitucional da reeleição recebeu o tácito aval do povo, motivo pelo qual
será mantida pelo Poder Legislativo.
A corrupção
é prática comum e centenária na administração pública brasileira. A novidade é
a sua apuração pela polícia federal e pelo ministério público no governo
petista. Na esfera federal, a corrupção foi exponencial nos governos Kubitschek,
Sarney, Fernando Henrique, Luiz Inácio e Dilma. Na esfera estadual, a corrupção
foi exponencial nos governos Maluf e Alckmin em São Paulo, nos governos
Garotinho e Cabral no Rio de Janeiro, nos governos Eduardo e Aécio em Minas Gerais, no
governo Magalhães na Bahia, no governo Lupion no Paraná. Quanto à moralidade no
trato da coisa pública, todos esses políticos são farinhas do mesmo saco.
Recuso-me a ser cúmplice da ladroagem. Exercerei a liberdade assegurada ao
cidadão idoso pela Constituição da República: deixarei de comparecer ao local
da votação. Destarte, não votarei no ladrão de colarinho branco e tampouco no
ladrão sem colarinho. Ficarei em paz com a minha consciência.
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