Os
golpistas tentaram impedir a posse de Juscelino Kubitschek (JK) na presidência
da república. Alegavam nulidade dos votos comunistas por estar o partido na
ilegalidade e não ter sido alcançada a maioria absoluta dos votos. O presidente
Café Filho afastou-se do cargo por suposta doença. Carlos Luz, presidente da
Câmara dos Deputados, assumiu o governo e demitiu o Ministro da Guerra. O
general Henrique Lott reagiu com força militar, cercou bases aéreas e navais envolvidas
na conspiração, ocupou prédios, jornais, emissoras de rádio, destituiu Carlos
Luz e indicou Nereu Ramos para assumir a presidência na ordem de sucessão
estabelecida na Constituição (12/11/1955). Carlos Luz, Carlos Lacerda e outros
golpistas se homiziaram no cruzador Tamandaré (ancorado na Baía da Guanabara).
O Congresso Nacional decretou estado de sítio e o impedimento de Café Filho
para reassumir a presidência. Nereu Ramos governou por dois meses e deu posse
ao eleito (31/01/1956).
JK
médico, político, empreendedor, otimista, cumpriu o mandato até o fim (1956 a 1960). O plano de
metas do seu governo dava prioridade à base material da nação: energia, aço
e transportes. A melhoria da educação e da saúde seria conseqüência. Os
opositores defendiam o inverso: prioridade à educação, saúde e cultura; o
progresso material seria conseqüência. JK optou pelo crescimento econômico com
inflação. A dívida pública aumentou. JK incrementou a indústria automobilística
e construiu centrais elétricas (Furnas e Três Marias), siderúrgicas (Cosipa e
Usiminas), refinaria (Duque de Caxias) e a nova capital (Brasília). Deu
prioridade às rodovias com destaque para as que ligavam Brasília ao norte e
nordeste do país. A malha ferroviária foi negligenciada. A política econômica priorizava
a indústria de bens de capital e de bens duráveis, criticada por ser
concentradora de renda.
Jânio
Quadros (JQ) foi eleito para o período seguinte (1961 a 1965). Homem culto,
professor, moralista, carismático, apreciador de bebida alcoólica (gosto comum
a estadistas como Winston Churchill e a governantes medíocres como George W.
Bush), traçou como diretrizes do seu governo: (1) combate à corrupção e à especulação; (2) austeridade econômica; (3)
mecanismos contra a inflação; (4)
independência e pluralismo nas relações com outros países. A aproximação do
Brasil com Estados socialistas (URSS, China, Cuba) desagradou ao governo dos
EUA. A temperatura subiu quando JQ condecorou o Ministro da Indústria e
Comércio de Cuba, o médico argentino Ernesto “Che” Guevara. A política de austeridade econômica e de combate à
corrupção desagradou à aristocracia urbana. Carlos Lacerda, governador do
Estado da Guanabara, em cumplicidade com o governo dos EUA na oposição ao
governo brasileiro, afirma ter sido convidado a participar de um golpe de
Estado que seria desferido por JQ. O presidente se declara vítima de forças que
o intrigavam e difamavam e renuncia ao cargo (25/08/1961). {Antes disto, quando
renunciara à candidatura ao pleito presidencial em 1959 para depois recuar,
prenunciara este desfecho na carta que enviara ao governador de São Paulo: Não
desejo, Governador, nem por um instante, chegar à chefia da Nação, se não puder
exercer essa chefia com toda plenitude de suas prerrogativas (...) É preferível
um cidadão livre, de que um Presidente prisioneiro}. Fator objetivo da
renúncia: o Legislativo resistia às propostas do Executivo; JQ pretendia
governar com amplos poderes, amparado na enorme votação que recebera. Fator
subjetivo da renúncia: acostumado à metrópole paulista, JQ não se dava bem
com a solidão de Brasília (que ainda lembrava um canteiro de obras). Fator
trivial da renúncia: JQ estava de porre. O Legislativo aceitou prontamente
a renúncia. Sem esperar retratação, o presidente da Câmara dos Deputados
imediatamente declarou vago o cargo de presidente da república. O povo reagiu.
Ferroviários entraram em greve, estudantes protestaram, a embaixada dos EUA foi
atacada.
João
Goulart (JG) vice-presidente da República (em visita à China) devia assumir o
governo ao vagar a presidência, nos termos da Constituição. Apesar do seu status
de latifundiário gaúcho, rico, educado e cordial, herdeiro do capital político
de Vargas, JG era considerado homem de esquerda pelas forças armadas. Submissos
ao governo dos EUA em tempo de guerra fria, os militares resistiam à posse de
JG na presidência da república. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná se
uniram em favor da legalidade. O movimento ganhou força em todo o país. No
intuito de apaziguar os ânimos e evitar confronto armado, o Congresso Nacional
implantou o parlamentarismo (EC 4/61). A chefia de Estado coube a JG e a chefia
de Governo ao Conselho de Ministros responsável pela direção da política
nacional e da administração federal. O parlamentarismo durou dois anos e três
gabinetes (Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima). A consulta à
população na modalidade plebiscito sobre o sistema de governo deveria
ocorrer em maio de 1965. Por vontade de JG e com apoio da maioria parlamentar a
data foi antecipada (a ambiciosa esperteza aniquilaria de vez a agônica
democracia). O Congresso Nacional submeteu a EC 4/61 (parlamentarista) à
consulta popular na modalidade referendo (LC 2/62). O povo não a
referendou. O Congresso então promulga a EC 6/63 que revoga a EC 4/61.
Restabelece-se o presidencialismo. (Emenda
revogar emenda é impropriedade técnica; emenda modifica o texto
constitucional; emenda subseqüente pode substituir ou suprimir o dispositivo
do texto constitucional alterado pela emenda anterior).
JG
assume as chefias de Estado e de Governo. A sociedade estava inquieta desde a
renúncia de JQ. Os trabalhadores rurais, organizados em ligas camponesas
distribuídas por 20 Estados, enfrentaram a força pública oficial e a força
particular dos fazendeiros. Pleiteavam reforma agrária e lei trabalhista
própria com direito a livre organização. Desse pleito coletivo resultou o
Estatuto do Trabalhador Rural, que incluía o direito de organizar sindicatos
rurais (1963). Em Brasília, sargentos da Aeronáutica prendem oficiais, interditam
o aeroporto e sabotam aviões porque a eleição de um sargento para deputado
estadual no Rio Grande do Sul fora anulada pelo Judiciário (1963). O Plano
Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social elaborado sob a direção de Celso
Furtado visando ao crescimento da economia com decréscimo da inflação foi
rejeitado pelo Congresso Nacional. Diante disto, JG aproxima-se das
organizações de esquerda que exigiam nova Constituição. As medidas
nacionalistas tomadas pelo presidente, como a restrição à remessa de lucros
para o exterior, nacionalização das empresas de comunicação social, revisão das
concessões para exploração de minas, desagradam ao governo dos EUA e à direita
tupiniquim. O Instituto Brasileiro de Ação Democrática, o Instituto de
Pesquisas e Estudos Sociais e os governos de São Paulo, Minas Gerais e
Guanabara recebem ajuda dos EUA para derrubar JG. Os EUA recusam-se a negociar com
o governo JG o que repercutiu negativamente na balança comercial brasileira e
no custo de vida. A dívida pública e a inflação cresceram (1963).
A sociedade foi arregimentada pelos oposicionistas
para manifestação de rua contra o comunismo apelidada Marcha da Família com
Deus pela Liberdade, amplamente apoiada pela Igreja Católica, pela
imprensa, pelo PSD e pela UDN (1964). Os organizadores da espetacular passeata
de centenas de milhares de pessoas associaram o comunismo ao governo de JG.
Acusaram-no de pretender instituir uma república nos moldes cubanos. O
comunismo foi utilizado como argumento para justificar o golpe de Estado. Em
defesa do governo constitucional de JG, dissidentes do PSD e da UDN uniram-se
aos parlamentares do PTB e do PSB e formaram a Frente Parlamentar
Nacionalista com apoio da União Nacional dos Estudantes e da Confederação
Geral dos Trabalhadores. Em comício que reuniu centenas de milhares de pessoas
no Rio de Janeiro, JG lançou o programa das reformas de base: rural, urbana,
encampação de refinarias, direito de voto aos analfabetos, delegação
legislativa (13/03/64). A Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais
promoveu reunião para comemorar a data da sua fundação e se solidarizar com o
seu presidente, cabo José Anselmo, ameaçado de prisão pelo comando militar
(como se descobriu mais tarde, o “cabo Anselmo” era agente dos golpistas
infiltrado no órgão de representação dos marinheiros). O destacamento de
fuzileiros enviado para impedir a reunião confraternizou-se com os
participantes (26/03/64). JG demitiu o Ministro da Marinha. O caldo entornou.
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