Os
tópicos sobre família, educação e cultura receberam especial atenção na Carta
de 1937. A
infância e a juventude deviam merecer cuidados e garantias especiais; ao Estado
cabiam as medidas destinadas a assegurar-lhes condições físicas e morais de
vida sã e de harmonioso desenvolvimento das suas faculdades. O abandono moral,
intelectual ou físico da infância e da juventude importava em falta grave dos
responsáveis por sua guarda e educação. Na hipótese de abandono, cabia ao
Estado prover as crianças e os adolescentes de conforto e dos cuidados
indispensáveis à sua preservação física e moral. Aos pais miseráveis assistia o
direito de invocar o auxílio e proteção do Estado para a subsistência e
educação da prole. A educação integral da prole era o primeiro dever e o
direito natural dos pais, cabendo ao Estado suprir as deficiências e lacunas da
educação particular. A arte, a ciência e o seu ensino eram livres à iniciativa
individual ou das associações e das coletividades públicas e particulares. Era
dever da nação e do Estado assegurar às crianças e jovens carentes uma educação
adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais mediante
instituições públicas de ensino em todos os graus. O ensino profissional e pré-vocacional
destinado às camadas desfavorecidas era o primeiro dever do Estado. As
indústrias e os sindicatos tinham o dever de criar, na esfera de sua
especialidade, escolas de aprendizes destinadas aos filhos dos seus operários
ou dos seus associados. Apesar da gratuidade do ensino primário previa-se
mensal contribuição à caixa escolar para quem tivesse condições de pagar. O
ensino cívico, a educação física e os trabalhos manuais eram obrigatórios em
todas as escolas primárias e secundárias. Instituições seriam fundadas com o
fim de organizar para a juventude períodos de trabalho anual nos campos e nas
oficinas e de promover-lhe a disciplina moral e o adestramento físico, de
maneira a prepará-la ao cumprimento dos seus deveres para com a nação.
Tensão
marcante entre liberalismo e socialismo na segunda república (1930 a 1945). A solução conciliatória caracterizou daí para frente
o constitucionalismo brasileiro. A inclusão dos pobres e remediados no processo
político foi modesta. O governo era para o povo, mas não do povo (o
mesmo princípio defendido pelo imperador Pedro I).
Nas relações entre governo federal e governo estadual a primazia era do
primeiro. O poder central incontrastável acabou com a chamada política dos
governadores. As conquistas dos trabalhadores foram inúmeras. O progresso
econômico foi notável. Sem descuidar da classe produtora, Vargas suspendeu o
pagamento da dívida pública externa e deferiu ao Banco do Brasil o monopólio
cambial (1938). Amparou a classe
trabalhadora da qual recebia simpatia e aprovação. Ao iniciar os seus discursos
dirigia-se aos trabalhadores do Brasil, de modo a salientar o ângulo
social do seu governo. Quando multidões o aclamaram no Rio de Janeiro e em São Paulo, a sua argúcia
certamente o fez perceber que o povo apreciava mitos. O povo fizera de Luiz
Carlos Prestes um mito: cavaleiro da esperança. As manifestações
populares em torno de Vargas eram de apoio ao herói da revolução, ao homem
providencial, ao pai dos pobres.
Vargas aceitou o papel e se colocou acima das facções. Os oligarcas ficaram
apreensivos ao vê-lo afastar-se do liberalismo individualista e ficar à meia
distância entre capitalistas e socialistas para organizar um Estado Novo
com um governo social autocrático à moda fascista. Vargas e o seu séqüito civil
e militar estavam acima do direito; a eles cabia o mando e ao povo a obediência.
No uso do poder de tributar ele fortaleceu a União. Os Estados devedores do
Banco do Brasil ficavam dependentes do governo central, o que os reduzia à
condição de províncias (mormente quando chefiados por interventores ao
invés de governadores eleitos pelo povo). Além
do apoio da massa popular, Vargas recebia o apoio daquela parcela dos militares
que almejava governo forte o suficiente para implantar uma política que
atendesse aos interesses nacionais e não apenas aos interesses de alguns
Estados e das oligarquias regionais; um governo que resolvesse a questão social,
amparando a camada baixa da sociedade brasileira. Os militares não aspiravam ao
exercício direto do poder e sim garantir um poder nacional dentro
daquelas diretrizes.
Na
área econômica, as exportações declinaram em face da crise do capitalismo gerada
nos EUA (1929) cujas conseqüências
desastrosas foram sentidas no mundo ocidental. O governo Washington Luiz tentou
equilibrar a queda do café com exportações de frutas. A produção voltou-se para
o mercado interno (café, algodão, açúcar, cacau, cereais, erva-mate, frutas,
carne, leite, manteiga, ovos, fumo, madeira, borracha). No intuito de proteger a produção, o governo revolucionário de
Getúlio Vargas criou o Departamento Nacional do Café e os institutos do Álcool,
do Pinho, do Mate, o que beneficiou a camada alta da sociedade. A economia do Brasil
entra na fase da industrialização sob política protecionista. A orientação era
no sentido de produzir máquinas e equipamentos a fim de livrar o país da
dependência econômica em relação aos países industrializados. Durante a segunda
guerra mundial (1939 a
1945) cresceram as exportações de borracha e
minérios para os EUA. O governo revolucionário criou o Conselho Nacional do
Petróleo (embrião da Petrobrás), a
Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce e o Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio (órgão único para conjugar interesses da
classe patronal com interesses da classe trabalhadora).
No terreno da previdência social foram criados os
institutos de aposentadorias e pensões dos marítimos, dos comerciários, dos
bancários, dos trabalhadores em trapiches e armazéns de café, dos estivadores e
dos industriários. Todas as categorias de trabalhadores urbanos ficaram
amparadas. No que tange à cidadania, foi promulgado o Código Eleitoral em 1932
que instituiu a justiça eleitoral, o sufrágio universal, o voto direto secreto obrigatório
masculino e feminino, representação proporcional e candidatura avulsa aos
cargos eletivos (sem filiação obrigatória a partidos políticos). No período foram publicados: o código Penal, de Processo
Penal, de Processo Civil, de Caça e Pesca e de Minas e Águas; o Estatuto dos
Funcionários Públicos, a Consolidação das Leis do Trabalho e a Lei de Segurança
Nacional. A liberdade sofreu restrições. A expansão da burocracia estatal
ensejou milhares de empregos. A escola pública atingiu eficiência impar cuja
alta qualidade somente encontrava competidor no colégio jesuíta; para bem
organizá-la foi criado um ministério próprio. À ênfase nos deveres dos
governados correspondeu o acento na dimensão social dos direitos que sintonizava
com o ideário do grupo civil e militar que apoiava Getúlio Vargas, inspirado no
governo Mussolini (que prestigiava o capital, o trabalho, a
família, a saúde, a educação e a cultura).
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