JESUS, O REDENTOR.
Havia
mulheres “livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades” que
acompanhavam e prestavam assistência a Jesus: Maria Madalena, Joana, Susana e
outras (Lucas 8: 1-3). Aquela expressão (“livradas de...”), numa leitura
tendenciosa, pode sugerir enganosamente que elas estavam livres da sensualidade
e do pecado por acompanharem Jesus nas andanças através da Galiléia, Samária e
Judéia (Marcos 15: 40). Na verdade, a expressão indica que eram mulheres
saudáveis de corpo e alma. Por serem galileus, Jesus e o seu grupo de homens e
mulheres eram tratados como estrangeiros pelos judeus. Na Judéia, destacavam-se
as seitas dos saduceus, dos fariseus e dos essênios. Esta última seita era
vigorosa na doutrina, rigorosa nos costumes e coletivista na organização
social, cujos adeptos – menos numerosos do que os seguidores das outras duas –
consideravam-se os verdadeiros filhos de Israel e autênticos herdeiros do
sacerdócio de Levi. A organização do grupo de Jesus assemelhava-se à
organização dos essênios, o que contribuiu para irritar mais ainda os saduceus
e os fariseus.
Os
votos dos nazarenos incluíam a castidade e o celibato. O voto de castidade
implicava abstinência sexual, prática adotada pelos místicos para alcançar
iluminação espiritual. A energia sexual é canalizada para a concentração,
meditação e demais exercícios físicos e mentais. A relação sexual desvia essa
energia e enfraquece a vontade do adepto para lograr o fim espiritual colimado.
A masturbação desperdiça essa energia e frustra aquele objetivo. O voto de
celibato consiste em viver no estado de solteiro por um determinado tempo.
Durante esse período o adepto transa sexualmente se não houver prestado o voto
de castidade, porém, não pode casar e nem constituir família. O estudo, a
prática e a difusão da doutrina exigem dedicação intensa e exclusiva. Os
deveres de cônjuge e de pai comprometem essa dedicação.
Dos
objetivos da irmandade de Jesus constavam: (i) o de acabar com o mito do
messias; (ii) o de introduzir um deus universal (Pai Celestial) no lugar do
deus nacional (Javé ou Jeová); (iii) o de elevar espiritualmente a humanidade;
(iv) o de amparar os pobres e o de curar os enfermos.
Para
atingir tais objetivos, Jesus assumiu o papel de messias. Cumpriu, passo a
passo, as profecias do Antigo Testamento, como se fora o roteiro de um filme.
Jeová e Satanás são nomes diferentes daquela mesma divindade que celebrou, com êxito,
um pacto com Abraão e que também tentou celebrá-lo com Jesus no deserto, sem
êxito. A partir da monolatria dos hebreus, a ação redentora conduziria o povo
ao universal monoteísmo da irmandade. A monolatria facilitaria a passagem ao
monoteísmo cristão. Convertido aquele povo, a ação redentora se estenderia aos
povos politeístas. O plano desconsiderou o que estava escrito sobre os hebreus:
“Tu mesmo sabes o quanto esse povo é inclinado ao mal”; “somos um povo cabeça
dura” (Êxodo 32: 22 + 34: 9). O deus desse povo (Javé ou Jeová) dissera a Saul:
“Vai, pois, fere Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada
poupar: matarás homens e mulheres, crianças e meninos de peito, bois e ovelhas,
camelos e jumentos” (I Samuel 15: 3). Tal índole frustrou a ação redentora. Ao
contrário do que Jesus e sua irmandade esperavam, o plano fracassou entre os
judeus. Entretanto, ironicamente, a doutrina floresceu no seio dos outros povos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário