JESUS, O GALILEU.
Somente os apóstolos Mateus e Lucas, sem especificar data,
referem-se ao nascimento de Jesus em Belém, cidade natal do rei Davi, na
Judéia. Explicam que fora determinado um censo no país, o que obrigara o
deslocamento de José e Maria (grávida) da Galiléia para a Judéia. Não há
registro histórico do censo. Houve esforço dos evangelistas para colocar Jesus
na realeza judaica, porque o Antigo Testamento refere-se a um messias da
linhagem de Davi (embora se refira, também, a um renovo da Galiléia). Acontece
que não havia laço sangüíneo entre Jesus e José, seu pai adotivo. Ainda que
José descendesse de Davi, Jesus não descenderia. Para amenizar, tentam colocar
Maria (mãe de Jesus) também na linhagem de Davi. No entanto, a sucessão judaica
se dava pela linha paterna; a sociedade era patriarcal e não matriarcal.
Ademais, toda genealogia que começa em Adão é falsa, tendo em vista que Adão e
Eva nunca existiram. A genealogia de Jesus começa em Adão (Lucas 3:38); logo, é
falsa. A cidade natal é falsa. O episódio é falso.
A
versão do apóstolo Mateus sobre o morticínio de crianças e fuga para o Egito não
encontra amparo na versão de Lucas, nem dos demais evangelistas. Nenhum
evangelista testemunhou o nascimento daquele menino. Os apóstolos só conheceram
Jesus adulto. Quando ele nasceu, alguns deles nem haviam nascido e outros eram
crianças de pouca idade. A Palestina estava dividida em quatro províncias, cada
qual governada por um tetrarca subordinado ao imperador romano. Um tetrarca não
podia invadir a jurisdição do outro. Ao tetrarca da Galiléia faltavam poderes
para mandar matar crianças na Judéia ou nas outras tetrarquias. A Judéia estava
sob jurisdição direta de um romano. Herodes não ousaria afrontá-la. A
jurisdição era levada a sério pelos romanos. Ao verificar que Jesus era
galileu, por exemplo, o tetrarca da Judéia (Pilatos, general romano) recusou-se
a julgá-lo e o enviou ao juiz natural: o tetrarca da Galiléia (Herodes Antipas) que devolveu o prisioneiro
por ausência de culpa. Pilatos não prolatou sentença. Se o tetrarca da
Galiléia, autoridade competente para decidir o caso, não condenou Jesus, não
seria ele, Pilatos, quem o condenaria. Deixou a decisão por conta dos fariseus
que insistiam na aplicação do direito romano (morte por crucifixão) já que a
proximidade da páscoa impedia a aplicação do direito judaico (morte por apedrejamento).
No judaísmo e no islamismo, direito e religião se interpenetram.
Para compensar o culto pagão à Deusa Mãe (bem romanceado por
Marion Z. Bradley em “As Brumas de Avalon”) a igreja católica introduziu um
vigoroso culto à Maria, como “Mãe de Deus” e “Virgem Maria”. Duas
impossibilidades: (i) Deus ter genitores; (ii) ser virgem a mãe de 7 filhos. Há
indícios de Maria ter sido deflorada em ritual de fertilidade. Engravidou. Pariu
Jesus provavelmente na aldeia do Monte Tabor, entre Caná e Naim, na Galiléia. Depois,
teve mais 6 filhos com José, que a recebeu por esposa: Tiago, José, Judas,
Simão e duas meninas cujos nomes são incertos: Salomé ou Ruth, Miriam ou Lia.
Há quem afirme que filhos de Maria eram apenas Jesus, Judas e Simão; que Tiago,
José e as duas meninas eram filhos do primeiro casamento de José. Dessas
primeiras núpcias não há registro. O mito da concepção virginal foi tomado de
empréstimo à cultura mais antiga de outros povos. O culto à Maria reforçou a
crença na divindade de Jesus. Serviu para impressionar os crentes e aumentar o
rebanho com a inclusão da realeza européia, o que favoreceu o domínio espiritual
e temporal da Igreja na Idade Média. Conseqüentemente: (i) a mãe de Jesus
passou a ser a mãe de Deus; (ii) o colégio apostólico passou a ser herdeiro de
Deus; (iii) o vigário de Cristo passou a ser vigário de Deus.
Na última década do século XX e na primeira do século XXI,
Jesus tem sido tratado insistentemente como judeu em livros, revistas, filmes,
programas de televisão e em pronunciamento do Papa. Até os judeus, que sempre
negaram ser Jesus da raça e da religião judia e o consideravam gentio (estrangeiro), agora proclamam a
todos os cantos do planeta que ele era judeu. Essa arquitetada reviravolta na
história está ligada ao objetivo dos governos de Israel e dos EUA de obter
apoio dos católicos e protestantes nas investidas contra os muçulmanos da
Palestina, do Irã e de outros países do Oriente e da África. Interesses
políticos e econômicos inspiram essa artificial reviravolta.
Dan Brown, autor do livro “O Código Da Vinci”, por exemplo,
e os professores que o contestaram, Amy Welborn (“Decodificando Da Vinci”) e
Darrell L. Bock (“Quebrando o Código Da Vinci”)
referem-se a Jesus como judeu. Na verdade, Jesus, Pedro, João e outros
apóstolos da primeira hora (início do revolucionário movimento) eram da
Galiléia e não da Judéia; portanto, galileus e não judeus. Por isso, os judeus
tratavam-nos de gentio, ou seja:
estrangeiros. Naquele tempo, a Galiléia era habitada por migrantes da
Mesopotâmia e adjacências, depois da expulsão das 10 tribos do Reino de Israel.
O fato de alguém ser galileu, pois, não significava que fosse hebreu (israelita
ou judeu). Israelita era o hebreu do Reino de Israel (Norte da
Palestina). Judeu era o hebreu do Reino de Judá (Sul da Palestina).
Jerusalém localizava-se em terras da tribo Benjamin que, aliada à tribo Judá,
formava o Reino de Judá. Os dois minúsculos reinos (Israel e Judá) dividiam
entre si o pequeno território palestino (menor do que o Estado de Alagoas). O
apóstolo Pedro refere-se aos habitantes de Jerusalém como um povo diferente do
seu. “Tornou-se este fato conhecido aos habitantes de Jerusalém, de modo que
aquele campo foi chamado, na língua deles, Hacéldama, isto é,
Campo de Sangue” (Atos 1: 19). Pedro distingue o modo de falar dos judeus do
modo de falar dos galileus. Enquanto Jesus era interrogado no Sinédrio, Pedro,
do lado de fora, era acusado de pertencer ao subversivo grupo de Jesus porque
ambos tinham o mesmo sotaque. Em outra ocasião, Pedro indaga sobre a
restauração do Reino de Israel e silencia sobre o Reino de Judá (Atos 1: 6). O
Reino de Israel estava extinto há mais de 700 anos e as suas dez tribos
espalhadas pelo mundo. O Reino de Judá estava extinto há cerca de 600 anos,
desde a remoção compulsória das suas duas tribos para a Babilônia. O exílio babilônico
terminou por volta de 538 a.C.
quando alguns judeus regressaram a Jerusalém, mas logo foram subjugados: a
partir de 322 a.C.
pelos gregos, de 175 a.C.
pelos assírios e de 63 a.C.
pelos romanos.
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