quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

JESUS



JESUS, O GALILEU.

Somente os apóstolos Mateus e Lucas, sem especificar data, referem-se ao nascimento de Jesus em Belém, cidade natal do rei Davi, na Judéia. Explicam que fora determinado um censo no país, o que obrigara o deslocamento de José e Maria (grávida) da Galiléia para a Judéia. Não há registro histórico do censo. Houve esforço dos evangelistas para colocar Jesus na realeza judaica, porque o Antigo Testamento refere-se a um messias da linhagem de Davi (embora se refira, também, a um renovo da Galiléia). Acontece que não havia laço sangüíneo entre Jesus e José, seu pai adotivo. Ainda que José descendesse de Davi, Jesus não descenderia. Para amenizar, tentam colocar Maria (mãe de Jesus) também na linhagem de Davi. No entanto, a sucessão judaica se dava pela linha paterna; a sociedade era patriarcal e não matriarcal. Ademais, toda genealogia que começa em Adão é falsa, tendo em vista que Adão e Eva nunca existiram. A genealogia de Jesus começa em Adão (Lucas 3:38); logo, é falsa. A cidade natal é falsa. O episódio é falso.

A versão do apóstolo Mateus sobre o morticínio de crianças e fuga para o Egito não encontra amparo na versão de Lucas, nem dos demais evangelistas. Nenhum evangelista testemunhou o nascimento daquele menino. Os apóstolos só conheceram Jesus adulto. Quando ele nasceu, alguns deles nem haviam nascido e outros eram crianças de pouca idade. A Palestina estava dividida em quatro províncias, cada qual governada por um tetrarca subordinado ao imperador romano. Um tetrarca não podia invadir a jurisdição do outro. Ao tetrarca da Galiléia faltavam poderes para mandar matar crianças na Judéia ou nas outras tetrarquias. A Judéia estava sob jurisdição direta de um romano. Herodes não ousaria afrontá-la. A jurisdição era levada a sério pelos romanos. Ao verificar que Jesus era galileu, por exemplo, o tetrarca da Judéia (Pilatos, general romano) recusou-se a julgá-lo e o enviou ao juiz natural: o tetrarca da Galiléia  (Herodes Antipas) que devolveu o prisioneiro por ausência de culpa. Pilatos não prolatou sentença. Se o tetrarca da Galiléia, autoridade competente para decidir o caso, não condenou Jesus, não seria ele, Pilatos, quem o condenaria. Deixou a decisão por conta dos fariseus que insistiam na aplicação do direito romano (morte por crucifixão) já que a proximidade da páscoa impedia a aplicação do direito judaico (morte por apedrejamento). No judaísmo e no islamismo, direito e religião se interpenetram.  

Para compensar o culto pagão à Deusa Mãe (bem romanceado por Marion Z. Bradley em “As Brumas de Avalon”) a igreja católica introduziu um vigoroso culto à Maria, como “Mãe de Deus” e “Virgem Maria”. Duas impossibilidades: (i) Deus ter genitores; (ii) ser virgem a mãe de 7 filhos. Há indícios de Maria ter sido deflorada em ritual de fertilidade. Engravidou. Pariu Jesus provavelmente na aldeia do Monte Tabor, entre Caná e Naim, na Galiléia. Depois, teve mais 6 filhos com José, que a recebeu por esposa: Tiago, José, Judas, Simão e duas meninas cujos nomes são incertos: Salomé ou Ruth, Miriam ou Lia. Há quem afirme que filhos de Maria eram apenas Jesus, Judas e Simão; que Tiago, José e as duas meninas eram filhos do primeiro casamento de José. Dessas primeiras núpcias não há registro. O mito da concepção virginal foi tomado de empréstimo à cultura mais antiga de outros povos. O culto à Maria reforçou a crença na divindade de Jesus. Serviu para impressionar os crentes e aumentar o rebanho com a inclusão da realeza européia, o que favoreceu o domínio espiritual e temporal da Igreja na Idade Média. Conseqüentemente: (i) a mãe de Jesus passou a ser a mãe de Deus; (ii) o colégio apostólico passou a ser herdeiro de Deus; (iii) o vigário de Cristo passou a ser vigário de Deus. 

Na última década do século XX e na primeira do século XXI, Jesus tem sido tratado insistentemente como judeu em livros, revistas, filmes, programas de televisão e em pronunciamento do Papa. Até os judeus, que sempre negaram ser Jesus da raça e da religião judia e o consideravam gentio (estrangeiro), agora proclamam a todos os cantos do planeta que ele era judeu. Essa arquitetada reviravolta na história está ligada ao objetivo dos governos de Israel e dos EUA de obter apoio dos católicos e protestantes nas investidas contra os muçulmanos da Palestina, do Irã e de outros países do Oriente e da África. Interesses políticos e econômicos inspiram essa artificial reviravolta.   

Dan Brown, autor do livro “O Código Da Vinci”, por exemplo, e os professores que o contestaram, Amy Welborn (“Decodificando Da Vinci”) e Darrell L. Bock (“Quebrando o Código Da Vinci”)  referem-se a Jesus como judeu. Na verdade, Jesus, Pedro, João e outros apóstolos da primeira hora (início do revolucionário movimento) eram da Galiléia e não da Judéia; portanto, galileus e não judeus. Por isso, os judeus tratavam-nos de gentio, ou seja: estrangeiros. Naquele tempo, a Galiléia era habitada por migrantes da Mesopotâmia e adjacências, depois da expulsão das 10 tribos do Reino de Israel. O fato de alguém ser galileu, pois, não significava que fosse hebreu (israelita ou judeu). Israelita era o hebreu do Reino de Israel (Norte da Palestina). Judeu era o hebreu do Reino de Judá (Sul da Palestina). Jerusalém localizava-se em terras da tribo Benjamin que, aliada à tribo Judá, formava o Reino de Judá. Os dois minúsculos reinos (Israel e Judá) dividiam entre si o pequeno território palestino (menor do que o Estado de Alagoas). O apóstolo Pedro refere-se aos habitantes de Jerusalém como um povo diferente do seu. “Tornou-se este fato conhecido aos habitantes de Jerusalém, de modo que aquele campo foi chamado, na língua deles, Hacéldama, isto é, Campo de Sangue” (Atos 1: 19). Pedro distingue o modo de falar dos judeus do modo de falar dos galileus. Enquanto Jesus era interrogado no Sinédrio, Pedro, do lado de fora, era acusado de pertencer ao subversivo grupo de Jesus porque ambos tinham o mesmo sotaque. Em outra ocasião, Pedro indaga sobre a restauração do Reino de Israel e silencia sobre o Reino de Judá (Atos 1: 6). O Reino de Israel estava extinto há mais de 700 anos e as suas dez tribos espalhadas pelo mundo. O Reino de Judá estava extinto há cerca de 600 anos, desde a remoção compulsória das suas duas tribos para a Babilônia. O exílio babilônico terminou por volta de 538 a.C. quando alguns judeus regressaram a Jerusalém, mas logo foram subjugados: a partir de 322 a.C. pelos gregos, de 175 a.C. pelos assírios e de 63 a.C. pelos romanos.

Nenhum comentário: