JESUS, O PROFETA.
Cristo. Assim apelidaram o profeta Jesus, depois da sua
passagem pelo mundo terreno: “o ungido”. Tal era – e continua a ser – o apelido
de inúmeros místicos dedicados às coisas divinas, ungidos com os santos óleos,
purificados, sagrados. Houve – possivelmente ainda há – vários cristos na
Terra. Acredita-se que Jesus tenha sido o maior deles. Os seguidores da sua
doutrina foram chamados cristãos, espalharam-se pelo mundo, organizaram igrejas.
Do nascimento dele, fizeram divisor do tempo histórico em antes e depois.
Multiplicaram-se. Agruparam-se em ortodoxos e heterodoxos, católicos, protestantes
e espíritas. Nos tempos difíceis da inquisição na Espanha e em Portugal
(1478-1835), maometanos e judeus converteram-se ao cristianismo, alguns por
conveniência. Estes continuavam muçulmanos e judeus em seus corações e na
privacidade dos seus lares. Por isso, foram denominados “cristãos novos”. Distinguiam-se
dos cristãos velhos e dos nascidos na autêntica fé cristã. Insuficiente só
crer. Necessário praticar. A doutrina é bela, mas impraticável no mundo terreno.
Ele próprio dizia: meu reino não é deste mundo. Sabia que as congênitas
fraquezas dos seres humanos tornavam a prática improvável. Nem o próprio Jesus a
praticou inteiramente, como revelam episódios narrados nos evangelhos
(violência no templo, luxúria com mulheres, ofensas a sacerdotes, menosprezo à
mãe e aos irmãos, agressividade verbal contra discípulos e conterrâneos).
Nazareno. O povo e as autoridades judias e romanas assim o
apelidaram, sem relação alguma com o torrão natal, pois, ao seu tempo, não
havia cidade ou aldeia com o nome de Nazaré. Esse nome foi dado séculos depois
a uma localidade pelo clero católico para encobrir o fato de Jesus ter
pertencido a uma seita mística. Ao clero interessava passar a idéia aos fiéis
de que todo o conhecimento de Jesus vinha diretamente de Deus e não dos homens.
Jesus apresentava-se publicamente com as vestes e a aparência dos adeptos da seita
nazarita, cuja doutrina pregava. Daí o apelido “nazareno”. Para a sua própria e
visível irmandade mística adotou o modelo de organização nazarita e essênia. “Nazareno” também era o apelido que se dava,
entre os hebreus, ao filho primogênito, quando a família o colocava a serviço
de Deus. O menino consagrado a Deus era entregue aos cuidados do sacerdote.
Assim aconteceu com Samuel e Sansão, dois juízes hebreus, ambos nazarenos,
nenhum deles nascido em aldeia ou cidade denominada Nazaré. Embora não sendo de
origem hebréia, mas submetidos à lei judaica em vigor na Palestina, os pais de
Jesus o consagraram a Deus e o entregaram aos cuidados de uma irmandade que lhe
deu formação intelectual, moral e mística. Passados 30 anos, Jesus retorna à
vida pública com missão definida.
Rabi. Assim o chamavam os discípulos e os leigos da Palestina: “mestre”. Ele
demonstrava grande conhecimento das escrituras sagradas, das coisas divinas e mundanas,
inclusive da natureza humana. Ensinava em lugares abertos e fechados, na
montanha, à beira do lago, nas casas de discípulos, de simpatizantes e de
curiosos, nas sinagogas e no templo de Jerusalém. Travava debates com os
sacerdotes e escribas judeus. Ao ficarem inteirados dos ensinamentos de Jesus,
os sacerdotes e escribas perceberam que a religião judaica corria sério risco.
Ficaram preocupados quando aumentou a adesão da camada pobre e ignorante do
povo aos novos ensinamentos. A idade de Jesus girava em torno de 40 anos – e
não 33, como se difundiu – quando tramaram a sua morte. Acusaram-no de
blasfêmia e o condenaram. A autoridade romana se recusou a executá-lo por aquele
motivo religioso. Os sacerdotes e escribas mudaram a acusação: Jesus era
subversivo, intitulava-se rei dos judeus e desafiava o poder de Roma. Desta
vez, conseguiram o seu desiderato. Apesar de a autoridade romana ter lavado as
mãos, foi aplicada a pena de morte. Era sexta feira. Duas horas depois da
crucifixão, ou pouco menos, sem atender ao costume de quebrar as pernas do
crucificado, Jesus foi retirado da cruz e atendido em lugar próximo ao Gólgota,
por José de Arimatéia. Na madrugada de sábado ou na manhã de domingo, deixou o
abrigo e saiu de Jerusalém sem barba, de cabelos cortados e vestes comuns, o
que dificultou ser identificado até pelos discípulos, inclusive Maria Madalena.
Na Galiléia, reuniu-se com os apóstolos e depois se recolheu à vida privada.
Profeta. Assim o chamava o povo de Canaã (Palestina), terra
dos profetas. Desde Elias em 875
a.C. até Malaquias em 450 a.C. quase 20 profetas se
destacaram. Qualificava-se profeta a
pessoa carismática que não só tinha antevisões do futuro, mas tinha também a fama e a
credibilidade de falar em nome de Deus, de expressar a vontade e a palavra de
Deus. Daí a autoridade moral dos profetas sobre o povo hebreu e seus
governantes. Quando se excediam nas admoestações, os profetas eram perseguidos
e punidos pelo povo ou pelo governante. Isto aconteceu mais de uma vez,
inclusive com Jesus e seu primo João Baptista. No entusiasmo da pregação com o
fim de cativar adeptos e mudar os maus costumes, os dois se excederam na agressividade
contra a massa e contra as autoridades. No sermão da montanha, Jesus referiu-se
aos maus tratos de que eram vítimas os profetas. Na sinagoga da cidade da
Galiléia em que viviam seus pais, reclamou da desconfiança do povo ao afirmar
que nenhum profeta é bem aceito em sua pátria.
Jesus. Este era o nome de batismo desse profeta. Pregava a
existência de um deus bondoso e misericordioso a quem chamava “Pai Celestial”,
diferente do deus hebreu, maldoso, vingativo, genocida, denominado “Javé” ou “Jeová”.
Dizia, para acalmar e cativar os indecisos, que não viera para revogar a lei
(os cinco primeiros livros da bíblia hebraica = torá = pentateuco). Contudo, a
sua doutrina a revogava de fato. Daí a feroz resistência e perseguição dos
sacerdotes e escribas judeus aos ensinamentos e à pessoa de Jesus. Esse profeta
qualificava de bem aventurados aos que seguissem a nova e boa doutrina (evangelho
= boa nova). A quem padecia de pobreza, fome e tristeza na Terra, haveria
riqueza, fartura e alegria no Céu. Ele recomendava as seguintes condutas: (i)
amar ao inimigo, fazer bem a quem nos odiar, abençoar aos que nos maldizem,
orar aos que nos injuriam; (ii) a quem nos ferir numa face, oferecer a outra;
quem nos tirar a capa, que também leve a túnica; dar ou emprestar sem almejar
retorno, a quem nos fizer algum pedido; se alguém tira o que é nosso, não
reclamar; (iii) fazer às pessoas o que queremos que elas nos façam; (iv) ser
misericordioso; não julgar para não ser julgado; não condenar para não ser
condenado; perdoar para ser perdoado. Com a mesma medida com que medirmos,
seremos medidos. Os cumpridores de tais mandamentos formariam uma comunidade de
santos. Desde aquela época até hoje, nenhuma comunidade cristã os cumpriu. No
juízo final, os bons entrariam na morada divina e os maus queimariam no
inferno. Por seus vícios, Jerusalém seria destruída; não ficaria pedra sobre
pedra. Esta profecia é do tipo post
factum. Esperteza dos evangelistas diante da destruição de Jerusalém no ano
70. Posteriormente, eles lançaram o fato nos evangelhos como profecia com o
propósito de fortalecer a crença na origem divina dos poderes do profeta.
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