18.12.2011. Manhã nefasta. Santos FC goleado pelo Barcelona FC na
partida final do campeonato mundial de clubes: 0 x 4. O favoritismo pendia para
a equipe catalã. A santista perdera vigor no campeonato brasileiro de 2011 e longe
estava de ser a melhor do Brasil. Corinthians, Vasco, Fluminense, Flamengo,
Internacional, classificaram-se bem no referido campeonato porque apresentaram
futebol superior ao do clube santista. O campeonato realizado no Japão era de
clubes (cada continente um clube) e não de seleções nacionais. Lá, estava
representado o decadente futebol de um clube brasileiro e não o futebol da
seleção brasileira (ainda que medíocre na atualidade).
Fator tático. O clube santista jogou na retranca todo o primeiro
tempo. Diante de uma equipe que joga por música, tem boa defesa, trama bem no
meio do campo, entrosada, segura e objetiva, com atacantes de primeira linha, a
equipe adversária tem que se impor com coragem e partir para o ataque. Com
Arouca, Elano, Ganso, Borges e Neymar, quinteto de boa qualidade técnica, o
Santos FC podia servir-se da tática ofensiva. O treinador preferiu a tática defensiva.
Levou uma surra. Em mais de 70% do tempo a bola ficou sob o domínio do
Barcelona. O clube santista sofreu três gols na primeira etapa. Na segunda, o
time voltou mais ofensivo e sofreu apenas um gol. Se assim houvesse procedido
na primeira etapa, haveria possibilidade de a partida: (i) terminar empatada;
(ii) ser vencida pelo clube catalão com placar estreito; (iii) ser vencida pelo
clube santista. Difícil aceitar o fato de um time com aquele quinteto não fazer
pelo menos um gol no adversário. O clube catalão teve mais dificuldade de
vencer o clube árabe do que vencer o clube santista. A equipe de Santos já
mostrara fraqueza diante do time japonês, da mesma forma que o fizera no
campeonato brasileiro. A correta crítica de Mourinho, técnico do Real Madri,
procede da razão e não da inveja. A disputa se deu entre equipes fracas:
japonesa, árabe e brasileira. Para o clube catalão foi um passeio. A defesa
santista é frágil e não houve santo que a fortalecesse. Falhas há em qualquer jogo
de ambos os lados. Contudo, algumas são intoleráveis em time que disputa
campeonato mundial. De duas falhas incríveis resultaram dois gols, sinal de que
os santos protegiam os catalães. Os erros de passe eram constantes. O time catalão
errava bem menos e tocava melhor a bola. O seu treinador declarou, após o jogo,
que seguira indicações dos seus antepassados e tomara por modelo o antigo
futebol brasileiro. Os vencidos podem vislumbrar ironia nas palavras dele, mas
não deboche. Ele falava sério e homenageava seu pai e seu avô naquele momento
de glória.
Fator psicológico. Treinador e jogadores do clube santista entraram
derrotados em campo. A
maioria que assistiu ao jogo pela televisão certamente percebeu a postura
submissa dos jogadores santistas diante dos jogadores catalães. Pelo aparvalhado
olhar, parecia que iam pedir autógrafos ali mesmo no túnel. Na troca de
cumprimentos na cerimônia do início da partida, Messi nem olhou para Neymar. A
atitude servil do brasileiro estimulou no argentino o menosprezo. O santista
ficou desorientado. Os santistas jogaram para se defender convencidos da
superioridade do adversário. No futebol não há time invencível, nem time de
outro planeta. Os melhores times sofrem derrotas. O clube de Barcelona já as
sofreu, apesar da sua excelência. O clube de Santos, nível técnico razoável, mostrou-se
inferior sob o ângulo tático e psicológico. Comissão técnica, jogadores e
jornalistas brasileiros resvalaram no complexo
de vira lata de que falava Nelson Rodrigues. Os ascendentes de Guardiola se
referiam ao futebol brasileiro da época deles (1930 a 1970), quando viram
em campo jogadores como Leônidas, Domingos da Guia, Ademir, Zizinho, Djalma
Santos, Vavá, Didi, Garrincha, Pelé, Gerson, Rivelino, Jairzinho, jogadores de
têmpera de aço, de refinada arte, de majestoso e eficiente toque de bola. O avô
e o pai do treinador catalão também gravaram em suas retinas a maravilhosa
atuação do Santos FC dos anos 60, nos estádios europeus. Hoje, impera a frouxidão,
salvo no aguerrido e excelente futebol feminino.
Fator organizacional. Faltou a necessária concentração dos
jogadores e o comando de um Dunga para moderar o assédio da imprensa e a
ganância dos patrocinadores. Concederam entrevistas antes do jogo e abriram precocemente
largo espaço para a propaganda comercial. Criaram um clima artificial de
descontração que ocultava o medo e o sentimento de inferioridade. Ao encherem a
bola de Neymar e de Ganso plantaram a semente da decepção. O futebol desses dois
jogadores é aquele mesmo apresentado no Japão: de vez em quando, uma boa
jogada. Neymar perdeu gols; Messi marcou gols. Neymar tem mais arte; Messi mais
eficiência. Neymar tem repertório de belos dribles; Messi tem um drible só.
Neymar é bom com a direita e razoável com a esquerda; Messi é bom com a
esquerda e ruim com a direita. Ambos são deficientes no cabeceio e na cobrança
de faltas, fazem algumas jogadas geniais e outras medíocres, são velozes e têm boa
visão de jogo. Salvo Ganso, os demais companheiros de Neymar são mais lentos do
que os companheiros de Messi na percepção das jogadas. Neymar procura ser
simpático; Messi não esconde a arrogância. Com olho no faturamento, a imprensa
esportiva brasileira costuma endeusar jogadores, mostrar ângulos favoráveis ao
sensacionalismo e criar falsas imagens. Diante da realidade mostrada em campo,
o público se decepciona, fica indignado e procura os culpados. Chegará o tempo
em que o público perceberá ter sido manipulado por aquele tipo de jornalismo. A
copa do mundo de 2014 será disputada no Brasil. Apesar disto e da efervescência
da imprensa, a taça será levada por seleção estrangeira. No presente, o clube
campeão do mundo pratica o bom futebol brasileiro do passado. Guardiola dixit.
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