JESUS, O RESSURRECTO.
Alguns
príncipes do Sinédrio, entre eles José de Arimatéia e Nicodemus, discordaram da
condenação de Jesus. O romano Pilatos, que governava Jerusalém, convicto da
inocência, também não queria a morte de Jesus e autorizou Arimatéia a retirar o
corpo da cruz sem quebrar as pernas do crucificado. O evangelista Marcos
refere-se ao testemunho do centurião sobre a morte de Jesus (Mar 15: 44-45).
Breve nos costumes: o centurião recebera propina para testemunhar (Mat 28: 12).
Pilatos aceitou o testemunho. Jesus foi levado ao sepulcro de propriedade de Arimatéia,
próximo ao Gólgota (Monte Calvário). Ali recebeu os primeiros socorros e visual
novo para não ser reconhecido por seus perseguidores. A crucifixão aconteceu na
sexta-feira. No domingo pela manhã, Maria Madalena, companheira de todas as
horas, não reconheceu Jesus (Jo 20: 11-15). Mais tarde, os demais discípulos
também não o reconheceram e só ficaram convencidos quando viram as feridas
deixadas pelos cravos nas mãos e nos pés de Jesus, assistiram-no tomar refeição
e ouviram-no falar dos assuntos internos da irmandade (Luc 24: 16,36-43). Dificuldade
explicável. Durante alguns anos, a comunidade palestina conviveu com um rabi
nazareno de cabelos longos, barba comprida, bigode, vestindo clara túnica e
sandália. De repente, dois dias após a execução da pena de morte, apresenta-se
diante dos discípulos um homem de aparência madura, cabeça raspada, rosto liso
(sem barba e sem bigode), roupas comuns, identificando-se como o rabi
crucificado. Natural que duvidassem.
Teses
mirabolantes tentam explicar essa aparição e esse convívio posterior à
crucifixão. Sustentam que Jesus ali não estava com o seu corpo natural e sim
com um corpo virtual ou um corpo astral. No entanto, o fato nada tem de
sobrenatural ou milagroso. A explicação não pode fugir da evidência: Jesus ali
estava com seu corpo biológico, com seu apetite natural, com sentidos e
atividade mental humanos, simplesmente porque não morreu na cruz. Houve desmaio
por fraqueza decorrente da desidratação, da falta de refeição normal, da
agitação, do suplício e da perda de sangue no dia da crucifixão. Apesar disto,
morte não houve, quiçá em decorrência da dieta saudável dos nazarenos e da ceia
pascal da quinta-feira, quando eles comemoravam a passagem do culto mosaico ao
culto cristão (páscoa = passagem). A páscoa dos judeus comemorava a saída do
povo hebreu do Egito e o genocídio de crianças egípcias perpetrado pelo deus
Javé; compreendia o período de março a abril de cada ano; iniciava-se no
crepúsculo da sexta-feira (Êxodo 12 + 34: 18).
A
pena de morte aplicada a Jesus adentraria o período pascal judeu, violando a
lei mosaica. Daí, a súplica dos sacerdotes e escribas para que fosse aplicada a
lei romana. Efetivada a crucifixão, houve socorro tempestivo e eficaz. Ainda
hoje se fala em ressurreição quando pessoa vítima de acidente ou paciente de
delicada cirurgia e de grave doença, nos limites entre a vida e a morte,
consegue sobreviver. Costuma-se dizer: “foi um milagre, fulano ressuscitou”. A
própria pessoa diz: “nasci de novo”. Em tal sentido, pode-se falar da
ressurreição de Jesus e que ele nasceu de novo. Após a crucifixão, a irmandade
cristã passou a comemorar – não mais a passagem do culto mosaico ao cristão – e
sim a ressurreição de Jesus (páscoa cristã).
A
prece católica, entretanto, cuja repetição na missa condiciona a mente dos
fiéis de modo robótico, falsamente coloca Jesus entre os mortos e o faz descer
ao inferno. O verdadeiro inferno vivido por ele começou no Monte das Oliveiras,
passou pela assembléia do Sinédrio, pelo trono de Herodes, pelo pretório de
Pilatos e terminou no Monte Calvário. A versão da morte era oportuna e
necessária para tornar crível o milagre e causar maior impacto no espírito do
povo. A notícia da morte e da milagrosa ressurreição convenceria o povo de que
se cumprira profecia contida no Antigo Testamento. Deixar no sepulcro vazio o
sudário cuidadosamente enrolado incluía-se na estratégia para lograr tal
objetivo. A mensagem cristã e a catequese teriam força e êxito no futuro.
No
livro “Quebrando o Código Da Vinci”, o professor Bock, sob ótica marcial, diz
que a ressurreição é o choque entre a vida e a morte, do qual a vida sai
vencedora. Contudo, outro será o panorama se o conceito “morte” separar-se do
conceito “fim”. Desde que a morte seja definida como passagem de uma forma de
vida a outra, a ótica marcial mostrar-se-á inadequada. Entre a vida e a morte
há continuidade em diferente freqüência vibratória. Trata-se da universal lei
de mutação que Heráclito e Lavoisier perceberam no mundo físico. O professor
fala no “caminho para a vida”, como se os humanos estivessem mortos. Esta
metáfora se afigura imprópria. A vida é palpitação, vibração, como se nota de todos
os seres vivos. A natureza é vida, energia cósmica. A sua fonte está em Deus. Há diferentes modos
de a fonte da vida ser percebida. O ciclo vital do ser humano provoca o sonho
da eternidade.
Ponto
chave, segundo Bock: Jesus revela o que Deus fez e faz para a humanidade.
Argumento esquálido. Bastam, aos humanos, lucidez e sentidos ativos para
perceber a obra divina neste mundo: maremotos, terremotos, furacões, que ceifam
a vida de milhares de pessoas (idosos, adultos, crianças) e destroem
patrimônios obtidos com muito sacrifício. As forças telúricas são forças da
natureza cegas aos valores humanos. A natureza é criação divina. Isto indica
que: (i) as leis de Deus são inflexíveis, incidindo sobre animais racionais e
irracionais, planetas e galáxias; (ii) o universo está em constante movimento
cíclico de construção, conservação, destruição e reconstrução; (iii) inexiste
preocupação divina especial com qualquer ser da natureza. Os humanos percebem a
obra divina também através da beleza captada pelos sentidos e interpretada pela
razão. Sentem pulsar em seus corações a força ética da justiça, da verdade, da
bondade e da santidade.
Ponto
chave real: Jesus desperta a consciência da universalidade de Deus. Mostra como
os seres humanos podem se aproximar de Deus. A casa do Pai tem muitas moradas. Escala-se
a montanha por diferentes lados. Quem se aventurar – e merecer – encontrará o reino
de Deus. Aí, como disse Jesus, bastará bater e a porta se abrirá, pois, o reino de Deus já está entre vós.
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