domingo, 7 de agosto de 2011

POESIA

Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho / onde esperei morrer – meus tão castos lençóis? / Do meu jardim exíguo os altos girassóis / quem foi que os arrancou e lançou no caminho? / Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!) / a mesa de eu cear – tábua tosca de pinho? / E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho? / Da minha vida o vinho acidulado e fresco. / Ó minha pobre mãe! Não te ergas mais da cova / olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa nova / Dos meus ossos o lume a extinguir-se breve. / Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais. / Alma de minha mãe, não ande mais à neve / de noite a mendigar às portas dos casais. (“Soneto” - Camilo Pessanha).

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