segunda-feira, 21 de julho de 2014

FILOSOFIA XIII - 7



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

O período dos déspotas na Europa coincidiu com produções intelectuais que enriqueceram a cultura ocidental (1600 a 1800). Do exame de fatos sociais verifica-se a atuação de forças subterrâneas despercebidas no passado que irrompem no presente e assim desvenda-se eventual mistério da revolução cultural. O movimento social do fim da Idade Média (renascença), a prosperidade forte ou fraca das camadas média e pobre da sociedade, a descoberta de terras longínquas e de povos estranhos, são fatores que influíram na produção intelectual européia dos séculos XVI a XVIII. As mudanças ocorridas no pensamento artístico, científico e filosófico das quais decorreram uma visão de mundo nova e um novo comportamento individual e coletivo são agrupadas racionalmente sob o título de revolução intelectual. A ênfase dada pelos humanistas italianos ao pensamento matemático de Pitágoras e de Platão foi importante para o renascimento da investigação científica. A arquitetura refletiu esse desdobramento. “A beleza consiste na harmonia das proporções adequadas” (Vitrúvio, arquiteto romano do século I). “A arquitetura é música congelada” (Goethe, poeta e filósofo alemão). A consonância visual no desenho arquitetônico corresponde à consonância auditiva dos intervalos pitagóricos (música). O princípio pitagórico das proporções incide não apenas nas artes, mas também no campo científico e nas relações sociais. A teoria da harmonia gerou um padrão de excelência no campo artístico e científico. Expressões inspiradas na filosofia de Pitágoras: “Deus é o grande arquiteto do universo”. “No princípio, deus geometrizou” (ou calculou).

A revolução científica – aspecto da revolução cultural – caracterizou-se pelo enriquecimento do vocabulário, novos conceitos, métodos e fundamentos que foram surgindo no cenário europeu. O cientista discerne permanências no fluxo impetuoso dos fenômenos que ocorrem dentro de uma realidade cambiante. Tais fenômenos eram estudados sob o nome de Filosofia Natural. Somente no século XIX foi dado o nome de Ciência ao estudo metódico e sistemático dos fenômenos naturais. A Ciência tornou-se um dos aspectos poderosos e dominantes da cultura ocidental. Essa nomenclatura patenteava a autonomia da ciência em relação à filosofia. De um modo amplo, ciência pode ser entendida como o estudo racional e sistemático da natureza e da sociedade. Desde a Idade Antiga houve atividade científica. Todavia, por volta do século XVII (1601 a 1700) essa atividade foi adquirindo características próprias com intensidade cada vez maior e se multiplicou em vários ramos. A tônica foi a idéia mecanicista de um universo governado por leis naturais (regularidades e permanências observadas na natureza batizadas de “leis” pelos cientistas por analogia com as leis ditadas pelos homens para governo da sociedade. Algumas dessas leis naturais serviram de guia à conduta humana e de inspiração ao legislador, ao filósofo e ao místico).

No estágio científico da Idade Moderna, o animal falante é superado pelo animal calculador. A natureza foi matematizada. “O cálculo tensorial conhece melhor a Física do que o próprio Físico”, dizia Langevin com proposital exagero para ressaltar o predomínio da matemática na ciência moderna e o quadro psicológico do pensamento relativista. A matemática abre novos caminhos à experiência. Revigora-se a matemática entendida como gramática da dimensão e da ordem. Na linguagem das grandezas não há lugar para sentimento. No passado, a técnica da medição e da contagem (medir e calcular) seguiu a trilha das caravanas e das galeras nas rotas comerciais. Na Idade Moderna, essa técnica assumiu papel relevante. A razão foi colocada no pedestal. Explica-se a natureza em linguagem matemática. Verificou-se, entretanto, que a explicação dos fenômenos naturais nessa linguagem não era por si só garantia de exatidão; que ciência exata é termo desprovido de sentido, salvo para específica aplicação, pois, em caráter geral, a exatidão depende da qualidade dos instrumentos disponíveis e das condições pessoais do cientista e do ambiente cultural (econômico, político, social). O uso de artifícios ou expedientes matemáticos não faz da ciência nem mais nem menos exata. A exatidão do conhecimento depende das circunstâncias e pouco importa se os seus enunciados são verbais ou matemáticos. Toda lei científica é uma verdade aproximada e só pode ser usada com segurança quando se conhece os limites da sua aplicabilidade. Estes limites se esticam ou se estreitam conforme a precisão desejada.

No passado, a ciência interessava-se pelo formato das coisas, era mais anatômica do que fisiológica, preocupava-se com o espaço sem incluir o tempo. Depois da geometria plana que atendia aos navegantes de superfície dos mares (navios) foi necessária geometria para atender aos navegantes da profundidade dos mares (submarinos) e depois a geometria para atender aos navegantes das alturas (aeronaves). A introdução dos explosivos, do relógio acionado por pesos e do relógio acionado por molas caracteriza a base material da Idade Moderna: além da energia animal (homem + besta) explora-se também energia derivada de outras fontes. As propriedades da mola distendida atraíram a atenção dos cientistas quando o relógio destacou-se entre as invenções modernas. Da experiência eles extraíram a lei da distensão das molas: a relação entre o peso apenso à extremidade da mola e o alongamento sofrido é uma constante. O peso que a força elástica da mola pode suportar depende da sua distensão.

Na esfera prática, o ser humano busca o conhecimento para alterar o mundo. Na esfera teórica, a busca do conhecimento ocorre por curiosidade e lazer intelectual. Na esfera contemplativa, a busca responde ao anseio por iluminação espiritual. Aqueles que se dedicam à ciência, à filosofia e ao misticismo integram a elite intelectual e espiritual do mundo. O cientista e o filósofo às vezes cedem a sua independência em troca de favores do governo ou de poderosos grupos privados. Ante a frouxidão, a moral valoriza-se: “uma consciência limpa é um travesseiro macio” (ditado alemão).

Descobertas revolucionárias ocorreram no campo da matemática e da física. René Descartes inventou a geometria analítica (aplicação da álgebra à geometria). Isaac Newton e Gottfried William Leibniz desenvolveram o cálculo infinitesimal. Newton expõe as três leis do movimento: (1) todos os corpos, se não impedidos, movem-se a uma velocidade constante e em linha reta; (2) a força é proporcional ao produto da massa pela aceleração; (3) a toda ação corresponde uma reação igual e contrária. Partindo da obra de Galileu, Newton publica a sua teoria sobre gravitação universal: cada partícula de matéria no universo atrai outra partícula com uma força inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas e diretamente proporcional ao produto das suas massas. O mundo material ficou sob um só princípio unificador. As dúvidas sobre a teoria de Copérnico foram removidas. A mecânica celeste adquire fundamentos científicos. Newton fundou a hidrodinâmica, acrescentou dados à hidrostática, inventou tabelas úteis para a navegação e explicou que as cores do arco-íris resultavam da decomposição da luz branca. A física newtoniana vigorou até o século XX.

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