sexta-feira, 18 de julho de 2014

FILOSOFIA XIII - 6



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

Nacionalismo, absolutismo, protestantismo capitalismo, individualismo, caracterizaram o que se convencionou chamar de Idade Moderna. Nas relações internacionais algumas potências competiram entre si a começar pela Espanha no esplendor do século de ouro com as riquezas vindas do continente americano e Portugal com seu império colonial na América e na África. Seguiram-se novas potências: França, Inglaterra, Áustria, Holanda e Rússia.

Renascença, revolução religiosa, revolução científica, revolução técnica, revolução comercial, revolução agrícola, revolução industrial, revolução política, foram movimentos miscigenados que propiciaram uma renovada face à civilização européia no curso dos séculos XIV a XIX (1300 a 1900). O que ocorria em progressão aritmética passou a acontecer em progressão geométrica [há progressão aritmética quando a série numérica tem o mesmo número diferencial; há progressão geométrica quando a série numérica tem como diferencial números multiplicados]. Essas revoluções não implicaram bruscas rupturas com o passado apesar das mudanças nos costumes, nos conceitos, na linguagem, nas teorias, nas instituições, na visão de mundo. De um modo geral, tais mudanças se processaram gradual e continuamente em conexão umas com as outras. Quando o resultado de tais mudanças adquire certa estabilidade elas passam a ser tratadas como “revolução” por analogia com o movimento dos astros.  

O trabalho científico intensificou-se: gravitação terrestre (Galileu) e universal (Newton), cálculo diferencial que determina a inclinação de uma curva em um ponto determinado, cálculo integral que acha a área limitada por um trecho da curva, deslocamento de um corpo no espaço medido no tempo (velocidade), aumento ou redução da velocidade (aceleração), cálculo do coeficiente diferencial por meio de uma construção geométrica. O cálculo integral atingiu o máximo de utilidade quando o carvão substituiu a tração animal como fonte de energia. Os métodos do cálculo integral são particularmente úteis na resolução de problemas referentes à medição de figuras sólidas e se tornaram a base da nova Física e da nova Química. O cálculo diferencial forneceu os meios de estudar o movimento mecânico. A sua aplicação no campo da Física tornou-se realidade após a revolução industrial como o instrumento matemático mais adequado para medir a eficiência da nova maquinaria. Verificou-se como a natureza química do combustível e dos alimentos se relaciona com o trabalho que a máquina e o organismo vivo são capazes de realizar. [Na avaliação de alguns cientistas, a vida é apenas um fenômeno químico]. Entra no vocabulário científico a palavra energia, assim entendida a capacidade de produzir trabalho. A necessidade de medir o calor levou à invenção do termômetro.

Independente do nascimento, quem tivesse dinheiro e bens podia se integrar à nobreza {aristocracia do berço x aristocracia do patrimônio}. A fortuna patrimonial superou a linhagem. Vultos da Idade Média eram de origem humilde (Miguel Ângelo, Shakespeare) ou filhos ilegítimos (Bocaccio, Leonardo da Vinci, Erasmo). Algumas profissões eram modestamente remuneradas: artista, escritor, advogado, médico, professor. Parcos eram os ganhos da camada mais baixa da sociedade. A revolução comercial favoreceu mais a burguesia e menos os trabalhadores. Pedreiros e carpinteiros recebiam quantia irrisória por dia trabalhado (menos de 1/30 avos do salário mínimo brasileiro). O descontentamento gerou rebeliões. Em época de transição o espírito de revolta paira no ar. O surto do individualismo veio imbricado com o forte desejo de poder e de prazer em nível individual. Romperam-se os freios representados pela humildade e pelo comedimento. A jactância própria da ilimitada afirmação do eu refletia-se no modo de vestir dos homens e das mulheres das camadas média e alta da sociedade. Aumentou o consumo de açúcar, café, chocolate, chá, como adendos da alimentação das referidas camadas sociais. Cresceu a procura de roupas de linho e de algodão, de artigos de luxo, de mobília de mogno desenhada por grandes mestres como Chippendale, Hepplewhite e Sheraton. Essa procura e esse consumo indicam um melhor padrão de vida se comparado com os padrões dos séculos anteriores.

A moral em fins da Idade Média (renascença) era frouxa. A fabulosa história dos Bórgia serve de exemplo. Jogo, prostituição, adultério, assassinato, faziam parte dos costumes. Em defesa da honra, o ofendido fazia justiça com as próprias mãos. O papa Paulo III afirmava que homens únicos em sua profissão, como Benvenuto Cellini, não estavam submetidos à lei (1500 a 1571). Cellini jactava-se de haver matado seus rivais. A ética tradicional perdera significado para grande parte da população renascentista. Os principais objetivos eram a satisfação individual e a vitória na luta para adaptar o mundo ao sistema de crenças e interesses do indivíduo. Mulheres qualificadas de feiticeiras se viram indefesas ante a cruel perseguição. Grassava o banditismo nas cidades grandes e nas estradas. Consumo crescente de bebidas alcoólicas inclusive entre os pobres. Jogo e duelo eram práticas freqüentes. A revolta contra os ideais morais dos teólogos e contra os tabus ascéticos da igreja ocorreu também nas ações sociais. Vida amena e perdulária dos ricos exteriorizada nas roupas, nos móveis, nos perfumes, na etiqueta, no modismo. Maneiras convencionais substituíam a moral. Fidelidade e amor conjugal ridicularizados. Adultério enaltecido (ter amante era sinal de status; não ter, era opróbrio). Nos domingos, dia de missa, os bordéis ficavam abertos e os teatros fechados. Nada de bom havia no amor, salvo o prazer físico.

A revolução intelectual (artística, literária, científica, filosófica) afetou profundamente a civilização ocidental. Os iluministas imaginavam o universo como um relógio movendo-se por si mesmo eternamente. O mecanismo do relógio forneceu ao pensador a metáfora do cosmo e da sociedade: deus era o relojoeiro; o funcionamento do relógio mostrava obediência ao seu comando; o rei era o relojoeiro a cujo comando os súditos deviam obedecer. O iluminismo – luz da razão – influiu: (1) na reforma das leis penais, abrandando o rigor das penas e da sua execução; (2) na abolição da escravatura; (3) na oposição à guerra; (4) na defesa das camadas média e pobre da sociedade; (5) na busca de nova base para a moralidade. O infortúnio dos pobres recebe maior atenção com o progresso da razão e da doutrina dos direitos naturais do homem. Além disto, a camada média da sociedade (burguesia) necessitava do apoio da camada pobre (camponeses e operários) para destronar a nobreza civil e eclesiástica. Thomas Paine deu voz a esse movimento ao dizer que um único lavrador honesto valia mais do que todos os bandidos coroados. Gabriel Mably e o Marquês de Condorcet advogavam a distribuição da riqueza entre as camadas sociais como caminho único para se chegar à igualdade. A propriedade da terra tinha de ser dividida em partes iguais a fim de evitar a exploração do pobre pelo rico (1709 a 1794). O ideal de liberdade religiosa foi determinante na separação entre a Igreja e o Estado. A tese de uma ordem natural contribuiu para aniquilar o feudalismo remanescente, os monopólios e os privilégios que vigoravam naquela quadra da história européia. No entanto, na quadra seguinte, a tirania política e religiosa foi substituída pela tirania econômica do mais rico. A nova classe dominante passou a ser titular dos privilégios e monopólios nos séculos XIX e XX.

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