EUROPA (1600 a
1800). Continuação.
Nacionalismo, absolutismo,
protestantismo capitalismo, individualismo, caracterizaram o que se
convencionou chamar de Idade Moderna.
Nas relações internacionais algumas potências competiram entre si a começar
pela Espanha no esplendor do século de ouro com as riquezas vindas do
continente americano e Portugal com seu império colonial na América e na
África. Seguiram-se novas potências: França, Inglaterra, Áustria, Holanda e
Rússia.
Renascença, revolução
religiosa, revolução científica, revolução técnica, revolução comercial,
revolução agrícola, revolução industrial, revolução política, foram movimentos
miscigenados que propiciaram uma renovada face à civilização européia no curso
dos séculos XIV a XIX (1300 a
1900). O que ocorria em progressão aritmética passou a acontecer em progressão
geométrica [há progressão aritmética quando a série numérica tem o mesmo número
diferencial; há progressão geométrica quando a série numérica tem como
diferencial números multiplicados]. Essas revoluções
não implicaram bruscas rupturas com o passado apesar das mudanças nos costumes,
nos conceitos, na linguagem, nas teorias, nas instituições, na visão de mundo.
De um modo geral, tais mudanças se processaram gradual e continuamente em
conexão umas com as outras. Quando o resultado de tais mudanças adquire certa
estabilidade elas passam a ser tratadas como “revolução” por analogia com o
movimento dos astros.
O trabalho científico intensificou-se:
gravitação terrestre (Galileu) e universal (Newton), cálculo diferencial que
determina a inclinação de uma curva em um ponto determinado, cálculo integral
que acha a área limitada por um trecho da curva, deslocamento de um corpo no
espaço medido no tempo (velocidade), aumento ou redução da velocidade
(aceleração), cálculo do coeficiente diferencial por meio de uma construção
geométrica. O cálculo integral atingiu o máximo de utilidade quando o carvão
substituiu a tração animal como fonte de energia. Os métodos do cálculo
integral são particularmente úteis na resolução de problemas referentes à
medição de figuras sólidas e se tornaram a base da nova Física e da nova
Química. O cálculo diferencial forneceu os meios de estudar o movimento
mecânico. A sua aplicação no campo da Física tornou-se realidade após a
revolução industrial como o instrumento matemático mais adequado para medir a
eficiência da nova maquinaria. Verificou-se como a natureza química do
combustível e dos alimentos se relaciona com o trabalho que a máquina e o
organismo vivo são capazes de realizar. [Na avaliação de alguns cientistas, a
vida é apenas um fenômeno químico]. Entra no vocabulário científico a palavra energia, assim entendida a capacidade de
produzir trabalho. A necessidade de medir o calor levou à invenção do
termômetro.
Independente do
nascimento, quem tivesse dinheiro e bens podia se integrar à nobreza
{aristocracia do berço x aristocracia do patrimônio}. A fortuna patrimonial
superou a linhagem. Vultos da Idade Média eram de origem humilde (Miguel Ângelo,
Shakespeare) ou filhos ilegítimos (Bocaccio, Leonardo da Vinci, Erasmo).
Algumas profissões eram modestamente remuneradas: artista, escritor, advogado,
médico, professor. Parcos eram os ganhos da camada mais baixa da sociedade. A revolução comercial favoreceu mais a
burguesia e menos os trabalhadores. Pedreiros e carpinteiros recebiam quantia
irrisória por dia trabalhado (menos de 1/30 avos do salário mínimo brasileiro).
O descontentamento gerou rebeliões. Em época de transição o espírito de revolta
paira no ar. O surto do individualismo veio imbricado com o forte desejo de
poder e de prazer em nível individual. Romperam-se os freios representados pela
humildade e pelo comedimento. A jactância própria da ilimitada afirmação do eu refletia-se no modo de vestir dos
homens e das mulheres das camadas média e alta da sociedade. Aumentou o consumo
de açúcar, café, chocolate, chá, como adendos da alimentação das referidas
camadas sociais. Cresceu a procura de roupas de linho e de algodão, de artigos
de luxo, de mobília de mogno desenhada por grandes mestres como Chippendale,
Hepplewhite e Sheraton. Essa procura e esse consumo indicam um melhor padrão de
vida se comparado com os padrões dos séculos anteriores.
A moral em fins da Idade Média
(renascença) era frouxa. A fabulosa
história dos Bórgia serve de exemplo. Jogo, prostituição, adultério,
assassinato, faziam parte dos costumes. Em defesa da honra, o ofendido fazia
justiça com as próprias mãos. O papa Paulo III afirmava que homens únicos em
sua profissão, como Benvenuto Cellini, não estavam submetidos à lei (1500 a 1571). Cellini
jactava-se de haver matado seus rivais. A ética tradicional perdera significado
para grande parte da população renascentista. Os principais objetivos eram a
satisfação individual e a vitória na luta para adaptar o mundo ao sistema de
crenças e interesses do indivíduo. Mulheres qualificadas de feiticeiras se viram indefesas ante a cruel
perseguição. Grassava o banditismo nas cidades grandes e nas estradas. Consumo
crescente de bebidas alcoólicas inclusive entre os pobres. Jogo e duelo eram
práticas freqüentes. A revolta contra os ideais morais dos teólogos e contra os
tabus ascéticos da igreja ocorreu também nas ações sociais. Vida amena e
perdulária dos ricos exteriorizada nas roupas, nos móveis, nos perfumes, na
etiqueta, no modismo. Maneiras convencionais substituíam a moral. Fidelidade e
amor conjugal ridicularizados. Adultério enaltecido (ter amante era sinal de status; não ter, era opróbrio). Nos
domingos, dia de missa, os bordéis ficavam abertos e os teatros fechados. Nada
de bom havia no amor, salvo o prazer físico.
A revolução intelectual (artística, literária, científica,
filosófica) afetou profundamente a civilização ocidental. Os iluministas
imaginavam o universo como um relógio movendo-se por si mesmo eternamente. O
mecanismo do relógio forneceu ao pensador a metáfora do cosmo e da sociedade:
deus era o relojoeiro; o funcionamento do relógio mostrava obediência ao seu
comando; o rei era o relojoeiro a cujo comando os súditos deviam obedecer. O iluminismo – luz da razão – influiu: (1)
na reforma das leis penais, abrandando o rigor das penas e da sua execução; (2)
na abolição da escravatura; (3) na oposição à guerra; (4) na defesa das camadas
média e pobre da sociedade; (5) na busca de nova base para a moralidade. O
infortúnio dos pobres recebe maior atenção com o progresso da razão e da
doutrina dos direitos naturais do homem. Além disto, a camada média da
sociedade (burguesia) necessitava do apoio da camada pobre (camponeses e operários)
para destronar a nobreza civil e eclesiástica. Thomas Paine deu voz a esse
movimento ao dizer que um único lavrador honesto valia mais do que todos os
bandidos coroados. Gabriel Mably e o Marquês de Condorcet advogavam a
distribuição da riqueza entre as camadas sociais como caminho único para se
chegar à igualdade. A propriedade da terra tinha de ser dividida em partes
iguais a fim de evitar a exploração do pobre pelo rico (1709 a 1794). O ideal de
liberdade religiosa foi determinante na separação entre a Igreja e o Estado. A
tese de uma ordem natural contribuiu para aniquilar o feudalismo remanescente,
os monopólios e os privilégios que vigoravam naquela quadra da história
européia. No entanto, na quadra seguinte, a tirania política e religiosa foi
substituída pela tirania econômica do mais rico. A nova classe dominante passou
a ser titular dos privilégios e monopólios nos séculos XIX e XX.
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