EUROPA (1600 a
1800). Continuação.
A reforma protestante foi
autêntica revolução que mudou espiritual e idealmente a política e a economia
na civilização ocidental. A reforma católica foi interna sem inaugurar seitas. Na
Espanha do século XV, um cardeal de nome Ximenes iniciou movimento de revivência religiosa aprovado pela
monarquia. Fundaram-se escolas. Abusos dos mosteiros e dos padres foram
combatidos. O propósito desse movimento era o de fortalecer a igreja, afastar
os heréticos e os infiéis e regenerar a vida espiritual da nação. Na Itália do
século XVI, grupo de padres trabalhava para que os sacerdotes da igreja se
tornassem mais dignos do nome cristão, resistindo ao paganismo da fase
renascentista e à depravação da corte pontifical. Algumas ordens foram fundadas
para se dedicar à piedade e ao serviço social, como a dos padres que faziam
votos monásticos de pobreza, castidade e obediência e a dos frades empenhados
em seguir o exemplo de Francisco de Assis (capuchinhos).
A reforma católica ganhou
ímpeto quando a nação alemã converteu-se ao luteranismo. O papa Adriano IV abre
campanha contra os abusos dos religiosos católicos. Com a sua morte, a campanha
ficou suspensa por onze anos, tempo que durou o governo do seu sucessor Clemente
VII, da família Médici. A campanha foi retomada pelo papa Paulo III (1534 a 1549) e seus
sucessores Paulo IV (1555 a
1559), Pio V (1566 a
1572) e Xisto V (1585 a
1590). Sob o governo desses papas, a reforma católica atingiu o ápice. A inquisição que havia declinado na
renascença italiana toma novo impulso. Na cidade italiana de Trento foi
realizado um concílio convocado pelo papa em 1545 com o objetivo de redefinir
as doutrinas da fé católica. O concílio durou 18 anos. Foram reafirmados: (1)
os dogmas contestados pela revolução protestante; (2) a necessidade das boas
ações – tanto quanto a fé – para a salvação; (3) os sacramentos para alcançar a
graça divina; (4) a transubstanciação; (5) a sucessão apostólica do clero; (6)
a crença no purgatório; (7) a invocação dos santos; (8) o celibato para o
clero; (9) a autoridade da Bíblia igual a autoridade da tradição dos
ensinamentos apostólicos, ambas verdadeiras e legítimas fontes da fé cristã;
(10) supremacia da autoridade do papa, inclusive sobre o concílio [contrariando a linha aristocrática dos séculos XIV e XV,
que colocava a autoridade do concílio acima da autoridade monocrática do papa].
As indulgências foram proibidas. A ignorância dos padres foi atenuada com a
criação de seminários teológicos em cada diocese. Estabeleceu-se a censura de
livros para evitar a propagação de idéias heréticas. Comissão criada pelo papa
elabora a primeira lista conhecida como Índice
dos Livros Proibidos (1564). Depois, foi criado um órgão com o nome de Congregação do Índice encarregado de
atualizar a lista.
Inácio de Loyola, fidalgo
espanhol da região basca, funda a Companhia de Jesus (1534). Esta companhia
desempenhou papel fundamental na execução das decisões do Concílio de Trento. Arrebanhou
povos da Polônia e do sul da Alemanha. A companhia foi aprovada pelo papa Paulo
III (1540). Mais do que uma sociedade monástica, a companhia era um regimento
de soldados que juraram defender a fé católica. Suas armas: a eloqüência, a
persuasão, o conhecimento, a espionagem e a intriga. Alguns deles se tornaram
padres para ter acesso ao público e expor suas verdades como oráculo de deus.
Outros serviram à inquisição. Outros
eram missionários, propagando a fé católica por todos os continentes. Fundaram
colégios e seminários. Dedicaram-se à educação e à evangelização. Os jesuítas
se opunham aos protestantes, combatiam a heresia e exaltavam o livre arbítrio.
Foram os principais arquitetos e executores da inquisição na Espanha.
Batalhas entre católicos e
protestantes se tornaram freqüentes: Alemanha (1546 a 1547) e França (1562 a 1589) conheceram os
seus horrores, como o massacre da Noite de
São Bartolomeu (1572). A fúria arrefeceu depois do Edito de Nantes que
pregava a tolerância religiosa (1598). Para manter o protestantismo, a Holanda
(norte dos países baixos) sustentou guerra contra a Espanha, venceu e obteve a
sua independência (1609). A Bélgica (sul dos países baixos) era católica e
permaneceu sob o domínio espanhol. O quadro era de intolerância religiosa tanto
da parte dos católicos como da parte dos protestantes. Extremismo e violência
dos dois lados. A perseguição contra os protestantes e infiéis foi levada a
efeito pela inquisição. O seu mais eminente mártir foi Giordano Bruno, por sua
filosofia mística panteísta e os seus cardeais axiomas da ciência moderna. Ele
afirmava a eternidade do universo e a relatividade do tempo e do movimento;
negava qualquer elemento especial nos corpos celestes desconhecido na Terra;
recusava-se a acreditar em milagres; defendia a tese de que nem sempre a
intervenção de deus era para o bem do homem. Esse conjunto de idéias o levou à
fogueira (1600). A grande vítima do protestantismo foi Michel Severt, que
descobrira a pequena circulação do sangue. Foi queimado em fogo brando (1553).
Pesava sobre ele a acusação de: (1) recusar a doutrina da trindade e da
predestinação; (2) ensinar que a Palestina era terra estéril quando a Bíblia
diz o contrário: que aquela terra era abundante em leite e mel.
Luteranos e católicos
condenaram a teoria de Copérnico por contrariar as escrituras e abalar a
organização religiosa. Tomando posição contrária à dos teólogos cristãos do
século XIII, o Concílio de Trento decidiu que a fé exclui qualquer dúvida; que
a verdade revelada pela fé não se submete à demonstração. Aqueles teólogos
afirmavam que a verdade da fé deve ser submetida à demonstração. A reforma
religiosa também teve efeitos negativos nas artes. Calvino condenava tudo que
falasse aos sentidos. Qualquer quadro ou imagem na igreja profanava o culto a
deus. O Concílio de Trento mandou pintar calções e camisolas nas figuras nuas
pintadas por Miguel Ângelo no “Juízo Final”.
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