sexta-feira, 11 de julho de 2014

FILOSOFIA XIII - 4



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

A reforma protestante foi autêntica revolução que mudou espiritual e idealmente a política e a economia na civilização ocidental. A reforma católica foi interna sem inaugurar seitas. Na Espanha do século XV, um cardeal de nome Ximenes iniciou movimento de revivência religiosa aprovado pela monarquia. Fundaram-se escolas. Abusos dos mosteiros e dos padres foram combatidos. O propósito desse movimento era o de fortalecer a igreja, afastar os heréticos e os infiéis e regenerar a vida espiritual da nação. Na Itália do século XVI, grupo de padres trabalhava para que os sacerdotes da igreja se tornassem mais dignos do nome cristão, resistindo ao paganismo da fase renascentista e à depravação da corte pontifical. Algumas ordens foram fundadas para se dedicar à piedade e ao serviço social, como a dos padres que faziam votos monásticos de pobreza, castidade e obediência e a dos frades empenhados em seguir o exemplo de Francisco de Assis (capuchinhos).

A reforma católica ganhou ímpeto quando a nação alemã converteu-se ao luteranismo. O papa Adriano IV abre campanha contra os abusos dos religiosos católicos. Com a sua morte, a campanha ficou suspensa por onze anos, tempo que durou o governo do seu sucessor Clemente VII, da família Médici. A campanha foi retomada pelo papa Paulo III (1534 a 1549) e seus sucessores Paulo IV (1555 a 1559), Pio V (1566 a 1572) e Xisto V (1585 a 1590). Sob o governo desses papas, a reforma católica atingiu o ápice. A inquisição que havia declinado na renascença italiana toma novo impulso. Na cidade italiana de Trento foi realizado um concílio convocado pelo papa em 1545 com o objetivo de redefinir as doutrinas da fé católica. O concílio durou 18 anos. Foram reafirmados: (1) os dogmas contestados pela revolução protestante; (2) a necessidade das boas ações – tanto quanto a fé – para a salvação; (3) os sacramentos para alcançar a graça divina; (4) a transubstanciação; (5) a sucessão apostólica do clero; (6) a crença no purgatório; (7) a invocação dos santos; (8) o celibato para o clero; (9) a autoridade da Bíblia igual a autoridade da tradição dos ensinamentos apostólicos, ambas verdadeiras e legítimas fontes da fé cristã; (10) supremacia da autoridade do papa, inclusive sobre o concílio [contrariando a linha aristocrática dos séculos XIV e XV, que colocava a autoridade do concílio acima da autoridade monocrática do papa]. As indulgências foram proibidas. A ignorância dos padres foi atenuada com a criação de seminários teológicos em cada diocese. Estabeleceu-se a censura de livros para evitar a propagação de idéias heréticas. Comissão criada pelo papa elabora a primeira lista conhecida como Índice dos Livros Proibidos (1564). Depois, foi criado um órgão com o nome de Congregação do Índice encarregado de atualizar a lista.

Inácio de Loyola, fidalgo espanhol da região basca, funda a Companhia de Jesus (1534). Esta companhia desempenhou papel fundamental na execução das decisões do Concílio de Trento. Arrebanhou povos da Polônia e do sul da Alemanha. A companhia foi aprovada pelo papa Paulo III (1540). Mais do que uma sociedade monástica, a companhia era um regimento de soldados que juraram defender a fé católica. Suas armas: a eloqüência, a persuasão, o conhecimento, a espionagem e a intriga. Alguns deles se tornaram padres para ter acesso ao público e expor suas verdades como oráculo de deus. Outros serviram à inquisição. Outros eram missionários, propagando a fé católica por todos os continentes. Fundaram colégios e seminários. Dedicaram-se à educação e à evangelização. Os jesuítas se opunham aos protestantes, combatiam a heresia e exaltavam o livre arbítrio. Foram os principais arquitetos e executores da inquisição na Espanha.  

Batalhas entre católicos e protestantes se tornaram freqüentes: Alemanha (1546 a 1547) e França (1562 a 1589) conheceram os seus horrores, como o massacre da Noite de São Bartolomeu (1572). A fúria arrefeceu depois do Edito de Nantes que pregava a tolerância religiosa (1598). Para manter o protestantismo, a Holanda (norte dos países baixos) sustentou guerra contra a Espanha, venceu e obteve a sua independência (1609). A Bélgica (sul dos países baixos) era católica e permaneceu sob o domínio espanhol. O quadro era de intolerância religiosa tanto da parte dos católicos como da parte dos protestantes. Extremismo e violência dos dois lados. A perseguição contra os protestantes e infiéis foi levada a efeito pela inquisição. O seu mais eminente mártir foi Giordano Bruno, por sua filosofia mística panteísta e os seus cardeais axiomas da ciência moderna. Ele afirmava a eternidade do universo e a relatividade do tempo e do movimento; negava qualquer elemento especial nos corpos celestes desconhecido na Terra; recusava-se a acreditar em milagres; defendia a tese de que nem sempre a intervenção de deus era para o bem do homem. Esse conjunto de idéias o levou à fogueira (1600). A grande vítima do protestantismo foi Michel Severt, que descobrira a pequena circulação do sangue. Foi queimado em fogo brando (1553). Pesava sobre ele a acusação de: (1) recusar a doutrina da trindade e da predestinação; (2) ensinar que a Palestina era terra estéril quando a Bíblia diz o contrário: que aquela terra era abundante em leite e mel.

Luteranos e católicos condenaram a teoria de Copérnico por contrariar as escrituras e abalar a organização religiosa. Tomando posição contrária à dos teólogos cristãos do século XIII, o Concílio de Trento decidiu que a fé exclui qualquer dúvida; que a verdade revelada pela fé não se submete à demonstração. Aqueles teólogos afirmavam que a verdade da fé deve ser submetida à demonstração. A reforma religiosa também teve efeitos negativos nas artes. Calvino condenava tudo que falasse aos sentidos. Qualquer quadro ou imagem na igreja profanava o culto a deus. O Concílio de Trento mandou pintar calções e camisolas nas figuras nuas pintadas por Miguel Ângelo no “Juízo Final”.

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