Na seqüência dos jogos desta copa, a esperteza burra e
a tática suicida aconteceram novamente. A seleção mexicana vencia a holandesa
(1x0). No segundo tempo, para garantir a vitória, o técnico mexicano substituiu
por um defensor o atacante que marcara o gol. Abdicou do ataque. Próximo do
final da partida, ele colocou sua equipe na retranca. Nos acréscimos ao tempo
regulamentar, a seleção holandesa marcou dois gols, o segundo por pênalti no
minuto final do jogo, virou o placar a seu favor e se classificou para a fase
seguinte.
Pretender com retranca assegurar um placar magro diante
de uma equipe adversária de bom nível coletivo e de bons valores individuais
equivale ao anseio por suicídio. Técnicos excessivamente cautelosos que se
valem dessa tática têm gerado derrotas para as suas equipes. Isto acontece com
freqüência em jogos nacionais e internacionais. Serve de exemplo a recente
decisão do campeonato europeu entre os clubes Atlético de Madri e Real Madri
(24/05/2014).
A seleção da Costa Rica também foi vítima da esperteza
burra e da tática suicida. Vencia a seleção da Grécia (1x0). No segundo tempo
recuou para garantir o resultado. Nos acréscimos ao tempo regulamentar os
gregos empataram (1x1). Houve prorrogação em que a seleção da América Central
se viu em palpos de aranha. Persistiu o empate. Na decisão por pênaltis a
vitória coube aos costarriquenhos para alívio do seu treinador que teve mais
sorte do que juízo. Tal comportamento ainda poderá se repetir até o final da
copa. Em alguns treinadores, parece que o medo de perder suplanta a coragem de
vencer.
A seleção francesa venceu a nigeriana (2x0). A seleção
africana mostrou-se melhor na maior parte do tempo. Sofreu pelo fato de ser uma
seleção de negros do terceiro mundo a competir com uma seleção do primeiro
mundo em um jogo arbitrado por um branco cidadão dos EUA. A seleção da Nigéria
lutou contra uma adversária mediana: a seleção francesa; e contra outra
adversária poderosa: a arbitragem. Teve anulado um gol legítimo. Além disto, o
árbitro ignorou um pênalti escandaloso na área francesa. Duas covardes
agressões contra jogadores africanos foram toleradas: (1) Cotovelada desferida
por Giroud no rosto do africano fora da disputa por bola no primeiro tempo do
jogo. O árbitro limitou-se a advertência verbal quando o caso era de expulsão.
(2) Solada violenta de Matuidi que tirou o adversário africano da partida no
segundo tempo. O árbitro limitou-se a advertência com cartão amarelo quando o
caso era de expulsão (cartão vermelho). Próximo do final da partida a seleção
francesa fez um gol a favor e a africana fez um gol contra. O segundo jogo da
tarde desse mesmo dia (30/06) foi da seleção da Alemanha contra a seleção da
Argélia. O empate no tempo regulamentar refletiu bem o equilíbrio entre as duas
equipes (0x0). A seleção alemã venceu na prorrogação (2x1). No início da tarde
do dia seguinte (1º/07) jogaram a seleção da Argentina e a seleção da Suíça.
Houve empate no tempo regulamentar (0x0). Na prorrogação, venceu a platina com
um só gol na bacia das almas (1x0). A reação suíça foi insuficiente para mudar
o resultado. No final da tarde, jogaram as seleções da Bélgica e dos EUA, quiçá
a partida mais descontraída. Empataram no tempo regulamentar (0x0). Os belgas
forçaram os americanos a ficar na defensiva. Na prorrogação, venceu a européia
(2x1). A americana perdia de 2x0. Reagiu mas não conseguiu inverter o placar a
seu favor.
A fase das partidas oitavas-de-final chegou ao fim. No
jogo da seleção brasileira, a fisionomia do treinador era a de quem olha a vaca
a se encaminhar para o brejo. Como se esperava, todas as partidas foram bem
disputadas e os gols foram poucos. Continuou o festival de finalizações ruins.
Inúmeras oportunidades de gol perdidas. Bons atacantes, porém maus artilheiros.
Em jogo de várzea talvez não se erre tanto e de modo tão bisonho. Por outro
lado, as equipes mostram-se fortes no sistema defensivo. Nervos à flor da pele.
Fortes emoções. A atuação de alguns jogadores não correspondeu à fama. Restaram
apenas os seus nomes como placas luminosas anunciando produto de validade
vencida. A copa do mundo mostra a real dimensão de cada jogador sem a lente de
aumento da propaganda, do clube dos bajuladores, dos agenciadores de compra e
venda de atletas e daquela parcela da imprensa esportiva sensacionalista, deformadora e enganadora. Os famosos decepcionam em campo ao se apresentarem em
tamanho natural, em preto e branco, sem artifícios. Destacaram-se alguns
jogadores ainda não glorificados. O afunilamento no curso da competição torna
os jogos cada vez mais difíceis para as equipes. A ânsia pela vitória e a
preocupação com a classificação para a fase seguinte obscurecem o aspecto
técnico e artístico do espetáculo. O aspecto estratégico e coletivo assume relevância maior e divide a responsabilidade entre todos os jogadores. O efeito
paradoxal disto é que o resultado favorável fica na dependência do desempenho
individual de alguns jogadores. Serve de exemplo o jogo entre Argentina e
Suíça. Durante todo o tempo regulamentar as duas seleções atuaram bem e de
forma aguerrida, mas não conseguiram converter em gols os seus esforços. Messi
novamente mostrou suas deficiências e insuficiências. Faltou-lhe habilidade
para escapar da marcação. Ele exibiu um futebol ordinário ao nível de qualquer
jogador comum. Nos minutos finais da prorrogação, faz um passe normal ao seu
companheiro Di Maria que marca o único gol da partida. Os mentecaptos
atribuirão a vitória ao “passe maravilhoso” de Messi, tal como qualificam de
“fantástico e extraordinário” o gol que ele faz ao cobrar pênalti. A vitória
foi da garra argentina.
Para as quartas-de-final classificaram-se: Brasil x
Colômbia; Holanda x Costa Rica; França x Alemanha e Argentina x Bélgica. Como
se vê: 4 seleções americanas e 4 européias, a sugerir certo equilíbrio
entre o futebol praticado na América e o praticado na Europa. Há que se
considerar, entretanto: (1) a primeira fase em que seleções de todos os
continentes estavam presentes; (2) a quantidade maior de seleções européias. Verificar-se-á,
então, em termos proporcionais, a supremacia do futebol americano.
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