quarta-feira, 2 de julho de 2014

COPA 2014 - V



Na seqüência dos jogos desta copa, a esperteza burra e a tática suicida aconteceram novamente. A seleção mexicana vencia a holandesa (1x0). No segundo tempo, para garantir a vitória, o técnico mexicano substituiu por um defensor o atacante que marcara o gol. Abdicou do ataque. Próximo do final da partida, ele colocou sua equipe na retranca. Nos acréscimos ao tempo regulamentar, a seleção holandesa marcou dois gols, o segundo por pênalti no minuto final do jogo, virou o placar a seu favor e se classificou para a fase seguinte.

Pretender com retranca assegurar um placar magro diante de uma equipe adversária de bom nível coletivo e de bons valores individuais equivale ao anseio por suicídio. Técnicos excessivamente cautelosos que se valem dessa tática têm gerado derrotas para as suas equipes. Isto acontece com freqüência em jogos nacionais e internacionais. Serve de exemplo a recente decisão do campeonato europeu entre os clubes Atlético de Madri e Real Madri (24/05/2014).

A seleção da Costa Rica também foi vítima da esperteza burra e da tática suicida. Vencia a seleção da Grécia (1x0). No segundo tempo recuou para garantir o resultado. Nos acréscimos ao tempo regulamentar os gregos empataram (1x1). Houve prorrogação em que a seleção da América Central se viu em palpos de aranha. Persistiu o empate. Na decisão por pênaltis a vitória coube aos costarriquenhos para alívio do seu treinador que teve mais sorte do que juízo. Tal comportamento ainda poderá se repetir até o final da copa. Em alguns treinadores, parece que o medo de perder suplanta a coragem de vencer.  

A seleção francesa venceu a nigeriana (2x0). A seleção africana mostrou-se melhor na maior parte do tempo. Sofreu pelo fato de ser uma seleção de negros do terceiro mundo a competir com uma seleção do primeiro mundo em um jogo arbitrado por um branco cidadão dos EUA. A seleção da Nigéria lutou contra uma adversária mediana: a seleção francesa; e contra outra adversária poderosa: a arbitragem. Teve anulado um gol legítimo. Além disto, o árbitro ignorou um pênalti escandaloso na área francesa. Duas covardes agressões contra jogadores africanos foram toleradas: (1) Cotovelada desferida por Giroud no rosto do africano fora da disputa por bola no primeiro tempo do jogo. O árbitro limitou-se a advertência verbal quando o caso era de expulsão. (2) Solada violenta de Matuidi que tirou o adversário africano da partida no segundo tempo. O árbitro limitou-se a advertência com cartão amarelo quando o caso era de expulsão (cartão vermelho). Próximo do final da partida a seleção francesa fez um gol a favor e a africana fez um gol contra. O segundo jogo da tarde desse mesmo dia (30/06) foi da seleção da Alemanha contra a seleção da Argélia. O empate no tempo regulamentar refletiu bem o equilíbrio entre as duas equipes (0x0). A seleção alemã venceu na prorrogação (2x1). No início da tarde do dia seguinte (1º/07) jogaram a seleção da Argentina e a seleção da Suíça. Houve empate no tempo regulamentar (0x0). Na prorrogação, venceu a platina com um só gol na bacia das almas (1x0). A reação suíça foi insuficiente para mudar o resultado. No final da tarde, jogaram as seleções da Bélgica e dos EUA, quiçá a partida mais descontraída. Empataram no tempo regulamentar (0x0). Os belgas forçaram os americanos a ficar na defensiva. Na prorrogação, venceu a européia (2x1). A americana perdia de 2x0. Reagiu mas não conseguiu inverter o placar a seu favor. 

A fase das partidas oitavas-de-final chegou ao fim. No jogo da seleção brasileira, a fisionomia do treinador era a de quem olha a vaca a se encaminhar para o brejo. Como se esperava, todas as partidas foram bem disputadas e os gols foram poucos. Continuou o festival de finalizações ruins. Inúmeras oportunidades de gol perdidas. Bons atacantes, porém maus artilheiros. Em jogo de várzea talvez não se erre tanto e de modo tão bisonho. Por outro lado, as equipes mostram-se fortes no sistema defensivo. Nervos à flor da pele. Fortes emoções. A atuação de alguns jogadores não correspondeu à fama. Restaram apenas os seus nomes como placas luminosas anunciando produto de validade vencida. A copa do mundo mostra a real dimensão de cada jogador sem a lente de aumento da propaganda, do clube dos bajuladores, dos agenciadores de compra e venda de atletas e daquela parcela da imprensa esportiva sensacionalista, deformadora e enganadora. Os famosos decepcionam em campo ao se apresentarem em tamanho natural, em preto e branco, sem artifícios. Destacaram-se alguns jogadores ainda não glorificados. O afunilamento no curso da competição torna os jogos cada vez mais difíceis para as equipes. A ânsia pela vitória e a preocupação com a classificação para a fase seguinte obscurecem o aspecto técnico e artístico do espetáculo. O aspecto estratégico e coletivo assume relevância maior e divide a responsabilidade entre todos os jogadores. O efeito paradoxal disto é que o resultado favorável fica na dependência do desempenho individual de alguns jogadores. Serve de exemplo o jogo entre Argentina e Suíça. Durante todo o tempo regulamentar as duas seleções atuaram bem e de forma aguerrida, mas não conseguiram converter em gols os seus esforços. Messi novamente mostrou suas deficiências e insuficiências. Faltou-lhe habilidade para escapar da marcação. Ele exibiu um futebol ordinário ao nível de qualquer jogador comum. Nos minutos finais da prorrogação, faz um passe normal ao seu companheiro Di Maria que marca o único gol da partida. Os mentecaptos atribuirão a vitória ao “passe maravilhoso” de Messi, tal como qualificam de “fantástico e extraordinário” o gol que ele faz ao cobrar pênalti. A vitória foi da garra argentina.

Para as quartas-de-final classificaram-se: Brasil x Colômbia; Holanda x Costa Rica; França x Alemanha e Argentina x Bélgica. Como se vê: 4 seleções americanas e 4 européias, a sugerir certo equilíbrio entre o futebol praticado na América e o praticado na Europa. Há que se considerar, entretanto: (1) a primeira fase em que seleções de todos os continentes estavam presentes; (2) a quantidade maior de seleções européias. Verificar-se-á, então, em termos proporcionais, a supremacia do futebol americano.




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