domingo, 6 de julho de 2014

COPA 2014 - VI



A competição aproxima-se do grande final. As torcidas continuam a ser o maior espetáculo da copa. A parte brasileira torce pelas seleções dos países mais pobres. Generosa alma brasileira! Quanto aos jogos, repetiu-se o cardápio: disputas acirradas, defesas fortes, finalizações ruins, poucos gols, atacantes bons, artilheiros deficientes, vencedores alegres e sorridentes, vencidos tristes e chorosos. As partidas quartas-de-final começaram na sexta-feira (04/07) e terminaram no sábado (05/07). Classificaram-se para as semifinais: Alemanha e Brasil, que jogarão dia 08/07; Argentina e Holanda, que jogarão dia 09/07.

A seleção alemã venceu a francesa no tempo regulamentar (1x0). Os alemães têm preparo físico, vontade férrea de vencer, entrosamento coletivo, fidelidade ao esquema tático e velocidade. Contrariando as declarações de Breitner, o treinador alemão escalou jogadores veteranos e não apenas neófitos. O jovem Götze passa a maior parte do tempo no banco dos reservas. Quanto ao esperado 16º gol de Klose para superar o brasileiro Ronaldo, trata-se de expectativa artificialmente criada por uma ala carnavalesca do jornalismo esportivo brasileiro. Nem o alemão e nem o brasileiro são “os maiores artilheiros de todas as copas”. Estão longe disto. Para fazer 15 gols eles precisaram jogar 4 copas, do que resulta uma artilharia média de 3,7 gols por copa. No entanto, há jogadores com média bem superior a essa. Em uma só copa Just Fontaine fez 13 gols (1958); Sandor Kocsis fez 11 gols (1954); Ademir Meneses fez 9 gols (1950); Eusébio fez 9 gols (1966). Isto corresponde a médias três a quatro vezes superiores à média daqueles dois jogadores. Destarte, maior artilheiro de todas as copas é aquele que em uma única edição da copa faz 13 gols e não aquele que precisa participar de quatro edições para fazer 15 gols. A matemática é árida, mas não é mentirosa.    

O público cearense respeitou o hino da Colômbia e cantou com vigor o hino do Brasil. Bonita e exemplar a confraternização de brasileiros e colombianos ao final da partida. A seleção brasileira venceu a colombiana (2x1). Todos os gols de bola parada. Houve excesso de faltas e poucas advertências com cartão amarelo. No rigor da regra, o goleiro brasileiro devia ser expulso no lance do pênalti a favor da seleção da Colômbia no segundo tempo da partida. O árbitro só amarelou. Os árbitros também gostam do Fernandinho. Pelo volume de faltas que cometeu nas partidas, Fernandinho só deveria voltar a campo na próxima copa. O colombiano James foi advertido com cartão amarelo por uma única falta leve. Dois pesos e duas medidas.

No primeiro jogo da tarde de sábado (05/07), os argentinos venceram os belgas (1x0). Os belgas imprensaram os argentinos no segundo tempo, porém não conseguiram empatar. Os argentinos não abriram mão da tradicional catimba. A seleção argentina se postou bem na defesa, sem retranca, servindo-se das oportunidades de contra-atacar. A seleção argentina contou com a reza do papa Francisco e a bênção de Jesus. A seleção brasileira também contou com a reza dos pais-de-santo e as bênçãos dos orixás.

No segundo jogo daquela mesma tarde, a seleção da Holanda venceu a seleção da Costa Rica na decisão por pênaltis. No tempo regulamentar e na prorrogação as duas equipes empataram sem fazer um gol sequer (0x0). O treinador da Holanda escalou jogadores veteranos. Todos tiveram bom desempenho. Van Persie claudicou um pouco. No último minuto da prorrogação o treinador tirou uma carta da manga: substituiu o goleiro titular pelo goleiro reserva treinado para defender pênaltis. Alto, esguio e provocador, ele defendeu dois pênaltis e acertou o canto em todas as cobranças feitas pelos costarriquenhos. Os olhos do treinador holandês brilharam de satisfação. A arbitragem prejudicou a seleção da Costa Rica ao deixar de marcar falta cometida na área holandesa. A cobrança do pênalti poderia mudar o resultado da partida em favor da seleção americana. Depois, o árbitro marcou falta que não existiu próxima à área costarriquenha: bola que bateu nas costas do defensor ele “interpretou” como se tocasse no braço. Para sua decepção, o gol não saiu. Possivelmente, o fato de a Holanda ser do primeiro mundo, loira e rica, despertou a simpatia do árbitro.     

Coma ali, coma aqui, coma na granja, coma na cidade, mas coma para se manter vivo. A seleção brasileira estará desfalcada de dois titulares: um defensor (Thiago Silva) e um atacante (Neymar). Perder dois soldados não significa perder a batalha. Há substitutos à altura do que ambos vinham jogando. A seleção cresceu e amadureceu durante a competição e dá sinais de que pode evoluir mais ainda. Ficou mais confiante após duas sofridas vitórias. Enfrentará a mui motivada e preparada seleção alemã. Se a brasileira perder não será vergonha alguma. Afirmou-se dentro e fora do ambiente da seleção que os jogadores têm obrigação de vencer porque jogam em casa. A imprensa esportiva surfou nessa onda. Os jogadores foram indevidamente submetidos a tormentosa coação moral. A reação deles depois do jogo com a seleção chilena evidenciou a coação sofrida. Nunca se viu choradeira desse tipo por vencer um jogo difícil. Comum é chorar de alegria, mas não de desespero. A obrigação dos jogadores é apenas a de manter o espírito esportivo, oferecer a sua habilidade, a sua criatividade, a sua melhor técnica e a sua inteira dedicação a cada partida. Isto os jogadores brasileiros fizeram plenamente e até se superaram. Merecem o nosso aplauso e a nossa admiração, independente de ganhar a copa.

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