domingo, 13 de julho de 2014

COPA 2014 - FINAL



Chega ao fim o cosmopolita e periódico torneio de futebol que aproxima os povos e contribui para afastar preconceitos e apresentar a realidade sem o verniz ideológico. Das 20 edições desse torneio, 10 foram organizadas no continente europeu {Itália (2), França (2), Suíça, Suécia, Inglaterra, Alemanha (2), Espanha}; 8 no continente americano (Uruguai, Brasil (2), Chile, México (2), Argentina, EUA); 1 no asiático (Coréia + Japão); 1 no africano (África do Sul). As seleções brasileiras venceram copas organizadas em países da Europa (Suécia), da América (Chile, EUA, México) e da Ásia (Coréia, Japão). Hoje, o espetáculo acabou. Quem riu, riu. Quem chorou, chorou. Quem cantou, cantou. Quem calou, calou. O Comary Circus recolheu a lona e desmanchou o picadeiro. Se nada mudar, voltará em 2018 com os mesmos artistas, as mesmas acrobacias e quiçá novas palhaçadas. 

Nas partidas semifinais, a seleção da Alemanha venceu a do Brasil (7x1) e as seleções da Argentina e da Holanda empataram sem gols (0x0). Na decisão por pênaltis a vitória coube à seleção argentina. Nas partidas finais, o terceiro lugar coube à seleção holandesa que venceu a brasileira (3x0). Tanto no conjunto como em valores individuais a holandesa foi superior. Equilíbrio continental: seleção da Europa (Alemanha) disputa o primeiro lugar com seleção da América (Argentina). Durante o torneio as seleções européias evitaram badalações. Mostraram-se cautelosas e reservadas. No gramado do estádio seus atletas não faziam preces e nem se benziam. No jogo ou na guerra deus não escolhe lado. Aparentavam confiança. Cantavam o hino do seu país sem entoação forçada e agressiva.

No mais recente e premonitório artigo da série “Copa 2014” publicada neste blog, foi dito que perder para a seleção alemã não seria vergonha. Surpreendente foi o placar elástico, inimaginável, inédito e traumático, marca indelével de uma fragorosa e acachapante derrota. Santo deus! O que foi aquilo? Pane coletiva no início do jogo em conseqüência do primeiro gol. Rolo compressor alemão a esmagar a defesa brasileira. Adolescentes grogues em campo. O mundo esportivo ficou pasmo. A desestruturação psicológica dos brasileiros enseja questionamento. A psicóloga da seleção era alemã? Filiada ou eleitora do PSDB? Prestava efetiva e diariamente os seus serviços? Necessitaria também ela de assistência psicológica ou de aperfeiçoamento especializado? A Confederação Brasileira de Futebol - CBF não pagou os salários da psicóloga, dos membros da comissão técnica e dos jogadores?

Em 1950 a derrota doeu na alma brasileira porque havia motivo forte e plausível para crer na seleção e na vitória. Em 2014, o que doeu foi o vexame pela goleada sofrida. A comoção de agora foi menor do que a anterior porque – além das moléculas da indiferença – o organismo nacional estava parcialmente sem empolgação e descrente da vitória. Apesar da maciça propaganda e das expectativas criadas pela mídia carnavalesca, parte da população sabia que o gigante pintado era na realidade um pigmeu. A corrupção e os gastos fabulosos com a organização da copa no Brasil arrefeceram o ânimo do povo. Nada disto aconteceu em 1950.   
  
Thiago Silva e Neymar não evitariam a derrota se estivessem em campo. No time de uma estrela e dez planetas quando aquela se apaga estes perdem calor. A estrela esteve sem brilho e sem vigor. A conduta piegas de entrar em campo um com a mão no ombro do outro, de expor faixa com o nome da estrela, de rezar e se benzer em público, já indicava fragilidade e prenunciava a catástrofe. Palavras de Jesus: “Quando orardes não façais como os hipócritas que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens. Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo e teu Pai que vê num lugar oculto recompensar-te-á.” (Bíblia, NT, Mateus 6:5/6).

A série de artigos acima citada criticava a perniciosa badalação, apontava inconsistência da seleção e lamentava a ausência de jogadores veteranos como Ronaldinho e Luis Fabiano que estavam em boa forma e tecnicamente superiores aos da lista de convocados. A experiência e a maturidade dos veteranos seriam de grande valia. O problema é que eles empanariam o brilho da nova estrela. Ao invés de um sistema planetário haveria uma constelação e isto não convinha aos fins publicitários. Preferir elenco jovem e imaturo teve o seu preço. Além disso, a contradição: Lucas, jovem talentoso, foi preterido. Ele poderia ofuscar a nova estrela e isto os dirigentes não desejavam. Diante da insuficiente forma técnica, física e psicológica dos convocados e da pouca inteligência no setor de armação, melhor teria sido a participação de Damião (Santos), Walter (Fluminense), Ganso (São Paulo) e Douglas (Vasco).

Ainda treinador da seleção brasileira, Mano Menezes – cujo trabalho de longo prazo foi interrompido graças à impaciência de torcedores – questionado por repórteres, afirmou atender às solicitações do presidente da CBF, porque era essa autoridade que contratava e demitia os treinadores da seleção. Quem desatendesse as solicitações presidenciais seria demitido. A mesma prepotência da ditadura militar. Saldanha foi demitido porque desatendeu ao pedido (ordem) do general Médici para incluir Dadá Maravilha no elenco da seleção de 1970. Zagalo ocupou a vaga e atendeu ao capricho do ditador.

O atual ditador da CBF vetou a convocação de excelentes jogadores. Daí a opinião publicada neste blog (25/05) fundamentada juridicamente para a seleção brasileira de futebol sair da esfera privada e ficar a cargo de órgão estatal de composição mista (pessoas indicadas pela Câmara dos Deputados, pelo Ministério dos Esportes, pela CBF e pelas associações nacionais de árbitros, de atletas e de jornalistas). Isto é possível mediante emenda constitucional acrescentando um artigo (217-A) na Constituição Federal. Vontade autocrática do presidente da CBF substituída por vontade democrática de um órgão colegiado, autônomo e representativo. A seleção brasileira livrar-se-ia da pilantragem que a governa.

Das 20 edições da copa do mundo, as seleções brasileiras venceram 5 e perderam 15.  Isto significa que seleções de outros países exibem futebol em nível de excelência para vencer a competição. Por este ângulo também se vê a impertinência de encarar a vitória como obrigação do jogador. Conforme dito no artigo anterior, a obrigação do jogador é a de se dedicar à seleção com denodo. Isto os jogadores brasileiros fizeram até acima das suas forças. A vitória depende de outros fatores além do desempenho do jogador. Considere-se, ainda, que a seleção brasileira pentacampeã é uma abstração. O que existe concretamente é a seleção do momento, campeã ou não. Em perspectiva histórica, o mais adequado é falar de seleções brasileiras, no plural, pois no curso do tempo há novos componentes e circunstâncias. Diferentes seleções representaram o Brasil em épocas distintas sem exibir necessariamente o mesmo padrão e a mesma eficiência, quer do ponto de vista coletivo, quer do ponto de vista individual. Nas seleções de outros países isto também acontece.

Nas 20 edições da copa do mundo, apenas em 6 a seleção do país hospedeiro conquistou a taça: Uruguai (1930); Itália (1934); Inglaterra (1966); Alemanha (1974); Argentina (1978); França (1998). Portanto, 14 edições foram vencidas por seleção estrangeira e não por seleção nacional do país em que elas se realizaram. Prevalece a etiqueta do bom, gentil e hospitaleiro anfitrião: permitir ao hóspede estrangeiro levar a taça.  

14 de julho. Nessa data, há 225 anos, os pobres de Paris tomavam a Bastilha, episódio símbolo da revolução que mudou o panorama político do mundo civilizado.

Nenhum comentário: