Chega ao fim o cosmopolita e
periódico torneio de futebol que aproxima os povos e contribui para afastar
preconceitos e apresentar a realidade sem o verniz ideológico. Das 20 edições desse torneio, 10 foram organizadas no continente
europeu {Itália (2), França (2), Suíça, Suécia, Inglaterra, Alemanha (2),
Espanha}; 8 no continente americano (Uruguai,
Brasil (2), Chile, México (2), Argentina, EUA); 1 no asiático (Coréia + Japão); 1 no africano (África do Sul). As seleções brasileiras venceram
copas organizadas em países da Europa (Suécia), da América (Chile, EUA, México)
e da Ásia (Coréia, Japão). Hoje, o espetáculo acabou. Quem riu, riu. Quem
chorou, chorou. Quem cantou, cantou. Quem calou, calou. O Comary Circus recolheu a lona e desmanchou o picadeiro. Se nada
mudar, voltará em 2018 com os mesmos artistas, as mesmas acrobacias e quiçá novas palhaçadas.
Nas partidas semifinais, a
seleção da Alemanha venceu a do Brasil (7x1) e as seleções da Argentina e da Holanda
empataram sem gols (0x0). Na decisão por pênaltis a vitória coube à seleção
argentina. Nas partidas finais, o terceiro lugar coube à seleção holandesa que venceu
a brasileira (3x0). Tanto no conjunto como em valores individuais a holandesa
foi superior. Equilíbrio continental: seleção da Europa (Alemanha) disputa o
primeiro lugar com seleção da América (Argentina). Durante o torneio as seleções
européias evitaram badalações. Mostraram-se cautelosas e reservadas. No gramado
do estádio seus atletas não faziam preces e nem se benziam. No jogo ou na
guerra deus não escolhe lado. Aparentavam confiança. Cantavam o hino do seu
país sem entoação forçada e agressiva.
No mais recente e premonitório
artigo da série “Copa 2014”
publicada neste blog, foi dito que
perder para a seleção alemã não seria vergonha. Surpreendente foi o placar elástico,
inimaginável, inédito e traumático, marca indelével de uma fragorosa e acachapante
derrota. Santo deus! O que foi aquilo? Pane coletiva no início do jogo em
conseqüência do primeiro gol. Rolo compressor alemão a esmagar a defesa
brasileira. Adolescentes grogues em
campo. O mundo esportivo ficou pasmo. A desestruturação
psicológica dos brasileiros enseja questionamento. A psicóloga da seleção era alemã?
Filiada ou eleitora do PSDB? Prestava efetiva e diariamente os seus serviços? Necessitaria
também ela de assistência psicológica ou de aperfeiçoamento especializado? A Confederação
Brasileira de Futebol - CBF não pagou os salários da psicóloga, dos membros da
comissão técnica e dos jogadores?
Em 1950 a derrota doeu na alma
brasileira porque havia motivo forte e plausível para crer na seleção e na
vitória. Em 2014, o que doeu foi o vexame pela goleada sofrida. A comoção de
agora foi menor do que a anterior porque – além das moléculas da indiferença – o
organismo nacional estava parcialmente sem empolgação e descrente da vitória. Apesar
da maciça propaganda e das expectativas criadas pela mídia carnavalesca, parte da
população sabia que o gigante pintado era na realidade um pigmeu. A corrupção e
os gastos fabulosos com a organização da copa no Brasil arrefeceram o ânimo do
povo. Nada disto aconteceu em 1950.
Thiago Silva e Neymar não evitariam
a derrota se estivessem em
campo. No time de uma estrela e dez planetas quando aquela se
apaga estes perdem calor. A estrela esteve sem brilho e sem vigor. A conduta
piegas de entrar em campo um com a mão no ombro do outro, de expor faixa com o
nome da estrela, de rezar e se benzer em público, já indicava fragilidade e
prenunciava a catástrofe. Palavras de Jesus: “Quando orardes não façais como os hipócritas que gostam de orar de pé
nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens. Quando
orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo e teu
Pai que vê num lugar oculto recompensar-te-á.” (Bíblia, NT, Mateus 6:5/6).
A série de artigos acima citada
criticava a perniciosa badalação, apontava inconsistência da seleção e lamentava
a ausência de jogadores veteranos como Ronaldinho e Luis Fabiano que estavam em
boa forma e tecnicamente superiores aos da lista de convocados. A experiência e a
maturidade dos veteranos seriam de grande valia. O problema é que eles empanariam
o brilho da nova estrela. Ao invés de um sistema planetário haveria uma
constelação e isto não convinha aos fins publicitários. Preferir elenco jovem e
imaturo teve o seu preço. Além disso, a contradição: Lucas, jovem talentoso,
foi preterido. Ele poderia ofuscar a nova estrela e isto os dirigentes não
desejavam. Diante da insuficiente forma técnica, física e psicológica dos convocados
e da pouca inteligência no setor de armação, melhor teria sido a participação
de Damião (Santos), Walter (Fluminense), Ganso (São Paulo) e Douglas (Vasco).
Ainda treinador da seleção
brasileira, Mano Menezes – cujo trabalho de longo prazo foi interrompido graças
à impaciência de torcedores – questionado por repórteres, afirmou atender às
solicitações do presidente da CBF, porque era essa autoridade que contratava e
demitia os treinadores da seleção. Quem desatendesse as solicitações
presidenciais seria demitido. A mesma prepotência da ditadura militar. Saldanha
foi demitido porque desatendeu ao pedido (ordem) do general Médici para incluir
Dadá Maravilha no elenco da seleção
de 1970. Zagalo ocupou a vaga e atendeu ao capricho do ditador.
O atual ditador da CBF vetou a convocação
de excelentes jogadores. Daí a opinião publicada neste blog (25/05) fundamentada juridicamente para a seleção brasileira
de futebol sair da esfera privada e ficar a cargo de órgão estatal de
composição mista (pessoas indicadas pela Câmara dos Deputados, pelo Ministério
dos Esportes, pela CBF e pelas associações nacionais de árbitros, de atletas e
de jornalistas). Isto é possível mediante emenda constitucional acrescentando
um artigo (217-A) na Constituição Federal. Vontade autocrática do presidente da
CBF substituída por vontade democrática de um órgão colegiado, autônomo e
representativo. A seleção brasileira livrar-se-ia da pilantragem que a governa.
Das 20 edições da copa do mundo, as seleções brasileiras venceram 5 e perderam 15. Isto significa que
seleções de outros países exibem futebol em nível de excelência para vencer a
competição. Por este ângulo também se vê a impertinência de encarar a vitória
como obrigação do jogador. Conforme
dito no artigo anterior, a obrigação do jogador é a de se dedicar à seleção com
denodo. Isto os jogadores brasileiros fizeram até acima das suas forças. A
vitória depende de outros fatores além do desempenho do jogador. Considere-se,
ainda, que a seleção
brasileira pentacampeã é uma abstração. O que existe concretamente é a
seleção do momento, campeã ou não. Em perspectiva histórica, o mais adequado é
falar de seleções brasileiras, no
plural, pois no curso do tempo há novos componentes e circunstâncias.
Diferentes seleções representaram o Brasil em épocas distintas sem exibir necessariamente
o mesmo padrão e a mesma eficiência, quer do ponto de vista coletivo, quer do
ponto de vista individual. Nas seleções de outros países isto também acontece.
Nas 20 edições da copa do mundo, apenas em 6 a
seleção do país hospedeiro conquistou a taça: Uruguai (1930); Itália (1934); Inglaterra
(1966); Alemanha (1974); Argentina (1978); França (1998). Portanto, 14 edições foram vencidas por seleção
estrangeira e não por seleção nacional do país em que elas se realizaram. Prevalece
a etiqueta do bom, gentil e hospitaleiro anfitrião: permitir ao hóspede
estrangeiro levar a taça.
14 de julho. Nessa data, há 225 anos, os pobres de Paris tomavam a
Bastilha, episódio símbolo da revolução que mudou o panorama político do mundo
civilizado.
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