sexta-feira, 25 de julho de 2014

FILOSOFIA XIII - 9



EUROPA (1600 a 1800). Continuação.

Na literatura, a maioria dos autores imitava as formas clássicas. Havia nas obras certo ardor pela razão. A escrita decorativa, empolada e artificial, subordinava o conteúdo à forma. A França foi o principal foco do classicismo na literatura. Seus expoentes foram: La Fontaine, Corneille, Racine e Molière. O primeiro (Jean de la Fontaine, 1621 a 1695), poeta, notabilizou-se por suas “Fábulas”. Satirizava os costumes sociais mediante a descrição de hábitos dos animais irracionais. Pierre Corneille (1606 a 1684) e Jean Racine (1639 a 1699) eram dramaturgos, autores de tragédias fundadas nos princípios da “Poética” de Aristóteles, enquanto exaltavam o ideal francês do século XVII (razão e força de vontade). Jean-Baptiste Poquelin (Molière, 1612 a 1673), destacou-se pela originalidade da sua comédia, penetrante crítica da natureza humana. O essencial da comédia, dizia ele, “é representar todos os defeitos dos homens e particularmente dos homens do nosso tempo”. Ridiculariza a pretensão daqueles que para subir na escala social afetavam cultura superior à sua inteligência, ou dos médicos que afirmavam ter competência infalível. Além desta predileção pela sátira, Molière mostrou, em algumas das suas peças, piedade e simpatia pelos desafortunados. Na Inglaterra, entre outros podem ser citados Milton, Pope e Defoe. O primeiro (John, 1608 a 1674), filósofo, poeta, puritano, influiu na revolução puritana, serviu ao governo Cromwell e pregava a moralidade como essência da beleza. Sua obra mais conhecida, “Paraíso Perdido”, é uma síntese das crenças religiosas da sua época e da epopéia da fé protestante. Advoga a responsabilidade moral do indivíduo e a sabedoria como instrumento da virtude. Quando as paixões triunfam sobre a razão, perde-se o paraíso nesta vida. Alexander Pope (1688 a 1744), poeta, deísta, mecanicista, acredita que a natureza é governada por leis inflexíveis, que o homem deve estudar e seguir a natureza a fim de colocar ordem nos assuntos humanos. Daniel Defoe (1660 a 1731), jornalista, escritor, ficcionista, autor de “Robinson Crusoé”, célebre obra, símbolo literário do liberalismo clássico e marco inicial da novela moderna.
A reação romântica ao classicismo na literatura começou com “Emílio” e “Nova Heloísa”, de Jean-Jacques Rousseau. Esse movimento repudia o intelectualismo e o formalismo, retorna à simplicidade e ao naturalismo, enfatiza os instintos e os sentimentos humanos. Para ser feliz, o homem devia se orientar pelo coração e não pela razão nas questões vitais. O homem comum e o campônio são glorificados. Compaixão pelo fraco e pelo oprimido. Deus é a causa primeira e a alma da natureza. Na literatura romântica alemã destacaram-se Schiller e Goethe. O primeiro (Friedrich, 1759 a 1805), em sintonia com o sentimento de independência da época, idealiza os feitos heróicos e glorifica as lutas pela liberdade. Desse teor é a sua mais conhecida obra: “Guilherme Tell”, drama da luta do povo suíço contra o domínio da Áustria. Johann Wolfgang von Goethe (1749 a 1832), poeta festejado internacionalmente por seu “Fausto”, livro que expõe uma pessoal filosofia e expressa o espírito da época moderna. O homem deve se libertar das imposições e prosseguir na busca de conhecimento e experiência.

A música ocidental, que teve seu início como arte da voz humana, surge no século XVII como arte instrumental (criação por meios mecânicos). Começam a orquestração e a ópera. Antecedido pelo cravo e pelo o órgão, como instrumento de teclado, surge o piano no século XVIII, cujas potencialidades foram aproveitadas por Mozart. No mesmo século, o violino chega à perfeição. Os violinos fabricados pelas famílias Amati, Stradivari e Guarnieri, do norte da Itália, jamais foram sobrepujados. Inspirada no drama grego e nos mistérios medievais, a ópera surge por volta de 1600. Representação teatral, cantada e musicada, a ópera se tornou divertimento popular de rápido e duradouro sucesso, fonte de emprego para músicos, cantores, cenógrafos, entre outros operadores. Uma das maiores figuras da música instrumental no século XVIII foi o alemão Johann Sebastian Bach, duas vezes casado, pai de 20 filhos (1685 a 1750). Apesar da sua genialidade e dignidade viveu na pobreza pela baixa remuneração que recebia como professor, diretor e executante. Dotado de inteligência e de imaginação acima do comum, zeloso, trabalhador e disciplinado, influiu no desenvolvimento da música, revolucionou a técnica de execução no teclado, difundiu a escala de intervalos iguais que possibilita a modulação da clave, inventou a moderna música para órgão e compôs canto coral com vistas à liturgia luterana. Outro magnífico organista foi G. F. Handel (1685 a 1759). Ele foi um dos poucos que teve sucesso financeiro como compositor e executante e êxito com a ópera italiana. Criou o moderno oratório (tratamento dramático de tema religioso). O seu mais famoso oratório foi “O Messias”.

No final do século XVIII, a composição de música instrumental toma formas aperfeiçoadas: sonata, concerto e sinfonia. Os compositores desse período não se mantiveram fiéis aos estilos das outras artes (barroco e rococó), entre eles os venezianos Albinoni (1671 a 1750), Marcello (1686 a 1739) e Vivaldi (1675 a 1741). Eles colocaram a forma a serviço da inspiração, privilegiaram a independência sem perder a elegância. Haydn e Mozart foram expoentes desse período. Ambos lutaram contra a pobreza e sofreram humilhações impostas por aqueles que desfrutavam superior posição social. Joseph Haydn, graças aos seus dotes naturais, conseguiu ver o seu valor reconhecido ainda em vida (1732 a 1809). Obteve conforto financeiro. Compôs para canto e para instrumentos. As mais notáveis composições foram os quartetos para corda e as sinfonias. Wolfgang Mozart, nascido numa família de músicos, prodígio musical que compôs aos cinco anos, tocou em público aos seis anos e publicou trabalhos aos sete anos, pautou sinfonia e ópera, morreu aos 35 anos, enterrado em vala comum e cheio de dívidas em conseqüência da vida dissoluta que levou (1756 a 1791).

Ludwig van Beethoven nasceu em Bonn, mas viveu por muito tempo em Viena (1770 a 1827). Infância pobre e infeliz, figura paterna ríspida, adolescência e maturidade cheias de dificuldade, formaram um temperamento rude, áspero, uma personalidade recalcada. Independente na ação e no pensamento, Ludwig não dobrava a espinha ante a aristocracia vienense. Por volta dos 30 anos a surdez começa a incomodá-lo e se torna completa nos últimos anos da sua vida. Isto não o impediu de compor, mas apenas de ouvir a sua música. Exímio pianista e improvisador, não podia mais tocar em público. A sinfonia e a música de câmera constituem suas mais numerosas composições. Combinou a forma clássica com o romantismo. A “Terceira Sinfonia” (ou Sinfonia Heróica) está entre as suas composições mais conhecidas e executadas. Franz Schubert nasceu e viveu em Viena (1797 a 1828). Assemelha-se a Mozart, tanto na curta existência quanto na sua melodia graciosa. As sinfonias de Schubert são ricas em lirismo e contrastes harmônicos. Compunha por instinto e rapidamente: óperas, missas, quartetos para cordas, sinfonias. Boêmio, romântico, produziu mais de 600 canções simples, universais, ricas de sentimentos. Ao invés de lhe trazer fortuna, a volumosa produção pouco lhe rendeu financeiramente. Os editores pagavam quantia ínfima, receosos de inundar o mercado com as obras de um único compositor. Lei da economia: a escassez valoriza o produto; a abundância o desvaloriza. Schubert sofreu privações durante a sua meteórica passagem por este planeta e morreu na miséria.

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