domingo, 29 de junho de 2014

COPA 2014 - IV



A fase de grupos encerrou-se (26/06/2014). Seleções não tradicionais progrediram. Para as partidas oitavas-de-final classificaram-se: 8 seleções americanas (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, EUA, México e Uruguai); 6 seleções européias (Alemanha, Bélgica, França, Grécia, Holanda e Suíça); 2 seleções africanas (Argélia e Nigéria). A nova fase com dois jogos por dia começou em 28/06 e terminará em 1º/07: Brasil x Chile; Colômbia x Uruguai; Holanda x México; Costa Rica x Grécia; França x Nigéria; Bélgica x EUA; Alemanha x Argélia; Argentina x Suíça. As seleções vencedoras disputarão as quartas-de-final. No primeiro jogo da nova fase a seleção brasileira empatou com a chilena: 1x1. Na decisão por pênaltis, a vitória coube à seleção brasileira. No entardecer do mesmo dia a seleção da Colômbia venceu a do Uruguai (2x0) em um jogo aguerrido onde se destacaram: James Rodriguez como artilheiro e Juan Cuadrado como o melhor e mais completo jogador colombiano até o momento. Fantástico o cabeceio dele de olhos abertos junto à trave do gol adversário para o interior da área em direção aos pés de James que marcou o segundo gol. A seleção colombiana lembrou a brasileira de outrora, ágil, confiante, alegre, eficaz, sem preocupação exagerada e sem medo de ser feliz.
A cada fase aumenta a dificuldade. Na disputa acirrada pela posse da bola jogadores agridem os adversários usando mãos, cotovelos e até os dentes. O jogador uruguaio Luis Suárez mordeu o ombro de um adversário italiano durante a partida. Lembrou a mordida que Mike Tysson aplicou na orelha de Evander Holyfield na luta de boxe em que os dois disputavam o cinturão dos pesos-pesados (1997). A FIFA excluiu Suárez do certame. Esse jogador é reincidente. Doravante será conhecido como “El Mordedor”.
Nota-se, nesta copa, certa padronização na prática do esporte decorrente do acúmulo de lições aprendidas e reproduzidas nos últimos 80 anos. Contribuem para essa reprodução: (1) os jogadores e treinadores contratados por clubes estrangeiros; (2) os clubes nacionais que circulam por países de diversos continentes para jogos oficiais ou amistosos; (3) os torneios internacionais; (4) as emissoras de televisão que transmitem jogos nacionais e internacionais. O público aprendiz aumentou em progressão geométrica a partir da segunda metade do século XX. Os ingleses inventaram o jogo de bola e as respectivas regras, praticado com os pés em terreno retangular de dimensões específicas, com duração limitada e número certo de jogadores. Enquanto a base do esporte foi criada pelos britânicos, a arte de jogar futebol foi criada e ensinada por mestres brasileiros. Quem são eles? Até agora, são apenas doze: Friedenreich, Petronilho, Leônidas, Domingos, Zizinho, Didi, Garrincha, Pelé, Gerson, Sócrates, Juninho Pernambucano e Robinho (ordem aproximada de antiguidade). Eles criaram e ensinaram: desarme seguro e sem falta; drible com e sem bola (curto, longo, elástico, meia-lua, corta-luz, finta de corpo; giro do corpo com a bola sob a sola da chuteira); pedalada, lençol (chapéu); passe de longa distância; troca rápida e progressiva de passes curtos em tabela; passe no espaço vazio para chegada do companheiro; toque de calcanhar eficaz como drible e como passe; cobrança de faltas com efeito especial; gol de bicicleta e de calcanhar.
Certamente por modéstia ou por não estarem cônscios do seu magistério, os citados jogadores nunca se consideraram mestres apesar das suas habilidades e criatividade. No entanto, eles ensinaram mediante o exemplo em campo tendo o público nacional e estrangeiro como testemunha e como corpo discente. O estádio era a escola. Ensino prático não premeditado e nem intencional. Jogadores nacionais e estrangeiros copiaram aquelas especiais habilidades e técnicas de execução e alguns atingiram o nível de excelência. No entanto, em sendo minoria, jogadores de excelente nível técnico nem sempre garantem vitória para sua equipe. Por diversos fatores próprios da condição humana, os jogadores têm desempenhos irregulares. Até as máquinas funcionam mal esporadicamente.
A imitação faz o costume e o costume pereniza o modelo. Imitar significa seguir o modelo que nos agrada ou interessa; reproduzir por semelhança. Cuida-se de procedimento comum responsável pela padronização de determinados tipos de conduta que caracterizam a moda, o estilo, o método, a profissão. Este significado positivo do verbo imitar não se confunde com o seu significado negativo: o de falsificar com o propósito de enganar, de imitar dolosamente em proveito próprio ou alheio. Imitar nem sempre é falsificar, mas falsificar é sempre imitar. Exemplos: (1) O comediante imita um político para divertir o público. Até aí, o artista atua legitimamente. Então, ele resolve adicionar injúria na sua representação. A partir daí, o artista ingressa na ilicitude: comete crime contra a honra do representado. (2) Pintor imita um quadro de Rembrandt para se convencer de que é tão bom quanto ele. Até aí, conduta legítima do artista e sua vaidade. Então, ele resolve vender o quadro falsificado como sendo original. A partir daí, o copista ingressa na senda do crime.
A imitação dos expoentes faz parte do processo de reprodução técnica e artística. A elegância, por exemplo, entendida como harmonia e distinção de maneiras, é imitada socialmente e supõe um modelo. Possivelmente, Ademir da Guia imitou Didi que por sua vez imitou a elegância e a eficiência de Friedenreich. A elegância prende-se à estética enquanto a eficiência prende-se à técnica. O grau de eficiência varia de um jogador para outro. Não há contradição alguma quando um jogador elegante e eficiente comete falta violenta, pois tal ação censurável se prende à ética. O senso estético, a capacidade técnica e a conduta ética nem sempre se conjugam na mesma pessoa ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Jogadores como Beckenbauer, Falcão, Geovani, Pirlo, Riquelme, Rivaldo, Valderrama, Zidane, podem ter tomado Didi e Ademir da Guia por modelo, ainda que remota e indiretamente. São hipóteses de alta probabilidade porque derivam da observação dos fatos e da comparação dos dados através dos anos que evidenciam a semelhança de estilo. Após o nosso planeta ter se tornado uma aldeia global, os fatos e as análises tornaram-se acessíveis a bilhões de pessoas nos séculos XX e XXI.
O estilo elegante e eficiente não agrada à maioria dos brasileiros, embora se mantenha vivo como bem ilustra a maneira de atuar de jogadores como Oscar (Chelsea), Paulo Henrique (São Paulo) e Zé Roberto (Grêmio). A maioria dos brasileiros aprecia e valoriza mais o estilo impetuoso e rompedor de Leônidas, imitado por atacantes nacionais e estrangeiros como Ademir Menezes, Balotelli, Careca, Eusébio, Hulk, Jairzinho, Maradona, Messi, Neymar, Pelé, Rivelino, Romário, Ronaldo, Vavá e Zico (ordem alfabética). Esse estilo desperta no torcedor o garanhão que ele gostaria de ser. Montaria do sistema político e econômico, esse tipo de torcedor espera a sua vez de ser o cavaleiro.    

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