EUROPA (1600 a
1800).
Martinho Lutero, alemão,
monge agostiniano, professor de teologia, rebela-se contra os abusos da igreja
católica (1453 a
1546). Insurge-se contra as vendas de indulgências. Afirmava que necessária à
salvação era a expiação pelos pecados cometidos e não a fácil absolvição obtida
por compra de indulgências. Martinho se opõe às vendas de cargos na hierarquia
eclesiástica, à veneração de relíquias, à escandalosa vida dos clérigos e à
exploração de tabernas e casas de jogos pelos monges. Considera tudo isto
contrário à verdadeira religião. Apoiado nas epístolas de Paulo e na doutrina
de Agostinho, ele publica noventa e cinco teses em documento que afixou na
porta da igreja do castelo de Wittemberg na Saxônia (1517). Sobre esse pilar
ergueu a doutrina da justificação pela fé, que negava qualquer valor ao jejum,
às peregrinações e aos sacramentos. Na doutrina desse monge, a fé está acima
das boas ações, a razão é a prostituta do diabo e só a revelação traz a
verdade. A justificação pela fé – pedra angular da construção luterana – se
opõe à salvação pelo ritual e pelos milagres da igreja católica. Por melhor que
seja a pessoa, se ela não tiver fé, não terá salvação. Martinho condena: (1) a
teoria do sacerdócio, do vigário de Cristo, da intermediação dos padres entre
deus e os crentes; (2) os sacramentos; (3) os aditamentos medievais à fé cristã
tais como: o culto à Maria, a crença no purgatório, a invocação dos santos, a
veneração de relíquias e o celibato do clero. Ele foi excomungado porque se
recusou a abandonar essas idéias. Alijado da igreja católica, Martinho funda a
igreja alemã independente cujo rito inclui o idioma alemão. Neste idioma ele
escreve o Novo Testamento tornando-o
acessível a todos que soubessem ler. A todos reconhecia o direito de ler e
interpretar a Bíblia. O objetivo era possibilitar aos alemães constatarem por
si mesmos as discrepâncias entre os ensinamentos de Jesus e os ensinamentos e
práticas da igreja católica. Martinho rejeita o sistema eclesiástico e a vida
conventual. Aboliu o celibato e os sacramentos (manteve o batismo e a
eucaristia). A doutrina da predestinação e as escrituras ganham autoridade
suprema.
Na Alemanha havia
descontentamento com Roma e interesse em passar para o domínio dos alemães as terras
pertencentes à igreja. Príncipes apóiam a reforma luterana e desafiam o poder
do papa. A reforma prega a liberdade de consciência e faz da religião indisfarçável
tema político. Só governará o Estado quem pertencer à seita protestante. [Esta
norma prevaleceu nos EUA até 1960 quando, pela primeira vez, foi eleito um
presidente católico].
A revolução protestante iniciada na Alemanha marcou uma nova fase da
civilização européia. Até o século XVIII (1701 a 1800) havia só duas
cidades na Europa com mais de 500 mil habitantes: Londres e Paris. Havia poucas
cidades com mais de 100 mil habitantes. A maioria das cidades tinha de 2 a 20 mil habitantes, nas
quais nasceram algumas celebridades como Robespierre, Babeuf e Napoleão.
Predominava a vida rural. Na região nórdica (Escandinávia) e oriental (Bálcãs,
Rússia) cerca de 90 a
95% da população vivia na zona rural. Na região ocidental cerca de 70 a 90% da população vivia na
zona rural. A prosperidade vinha do campo. Nas cidades funcionavam as feiras e
se localizavam os comerciantes e seus armarinhos (lojas de tecidos e miudezas),
os negociantes dos produtos da agricultura e da pecuária, artesãos,
financistas, advogados, tabeliães, nobres e clérigos.
As relações entre
camponeses e proprietários das terras nem sempre eram pacíficas. Havia tensão
permanente a nublar a cordialidade entre as duas classes. Os campônios
produziam a riqueza enquanto os senhores da terra acumulavam-na. A pesada carga
tributária também era motivo de insatisfação do campônio com o governo. O
descontentamento com o alto clero católico era generalizado. Aquele momento
histórico europeu foi propício à expansão do protestantismo. Milhares de
pessoas perderam a liberdade e a vida em decorrência dos conflitos religiosos.
Católicos e protestantes se julgavam donos da verdade; seus dogmas eram postos
como certezas absolutas, sem espaço para a tolerância. Havia governos católicos
(Espanha, Itália) e governos protestantes (Holanda, Inglaterra). Motivos
religiosos, políticos e econômicos misturavam-se na eclosão das guerras e
revoluções.
Os místicos e reformadores contribuíram para acelerar
a revolução protestante. A maioria localizava-se na Alemanha e nos Países
Baixos (Holanda + Bélgica). Nessa região setentrional da Europa, o misticismo
se tornou uma das mais populares formas de expressão religiosa desde o século
XIV (1301 a
1400). A corrente mística era contra os sacramentos, os milagres sacerdotais e
a intermediação dos padres entre deus e os crentes. Os místicos entendiam
suficientes: (1) a submissão a deus; (2) a extinção dos desejos egoístas. No
final do século XIV, John Wycliffe antecipa-se a Martinho no ataque ao
catolicismo. Do ponto de vista político, a reforma decorreu: (1) do desabrochar
da consciência nacional na parte setentrional da Europa; (2) do aparecimento de
governos despóticos. Os principais focos do nacionalismo e do absolutismo
foram: Inglaterra, França e Alemanha. O absolutismo monárquico desafiava o
poder do papa. Segundo a teoria de Wycliffe, o poder temporal do papa tinha de ser
transferido para o monarca. Os príncipes europeus aspiravam ao domínio temporal
e também espiritual, incluindo a riqueza da igreja. Pretendiam se compensar da tributação
incidente sobre suas propriedades. Os tributos cobrados pelo papa provocavam
descontentamento por canalizarem para a Itália, a riqueza dos países
setentrionais.
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