sexta-feira, 27 de junho de 2014

FILOSOFIA XIII


EUROPA (1600 a 1800).

Martinho Lutero, alemão, monge agostiniano, professor de teologia, rebela-se contra os abusos da igreja católica (1453 a 1546). Insurge-se contra as vendas de indulgências. Afirmava que necessária à salvação era a expiação pelos pecados cometidos e não a fácil absolvição obtida por compra de indulgências. Martinho se opõe às vendas de cargos na hierarquia eclesiástica, à veneração de relíquias, à escandalosa vida dos clérigos e à exploração de tabernas e casas de jogos pelos monges. Considera tudo isto contrário à verdadeira religião. Apoiado nas epístolas de Paulo e na doutrina de Agostinho, ele publica noventa e cinco teses em documento que afixou na porta da igreja do castelo de Wittemberg na Saxônia (1517). Sobre esse pilar ergueu a doutrina da justificação pela fé, que negava qualquer valor ao jejum, às peregrinações e aos sacramentos. Na doutrina desse monge, a fé está acima das boas ações, a razão é a prostituta do diabo e só a revelação traz a verdade. A justificação pela fé – pedra angular da construção luterana – se opõe à salvação pelo ritual e pelos milagres da igreja católica. Por melhor que seja a pessoa, se ela não tiver fé, não terá salvação. Martinho condena: (1) a teoria do sacerdócio, do vigário de Cristo, da intermediação dos padres entre deus e os crentes; (2) os sacramentos; (3) os aditamentos medievais à fé cristã tais como: o culto à Maria, a crença no purgatório, a invocação dos santos, a veneração de relíquias e o celibato do clero. Ele foi excomungado porque se recusou a abandonar essas idéias. Alijado da igreja católica, Martinho funda a igreja alemã independente cujo rito inclui o idioma alemão. Neste idioma ele escreve o Novo Testamento tornando-o acessível a todos que soubessem ler. A todos reconhecia o direito de ler e interpretar a Bíblia. O objetivo era possibilitar aos alemães constatarem por si mesmos as discrepâncias entre os ensinamentos de Jesus e os ensinamentos e práticas da igreja católica. Martinho rejeita o sistema eclesiástico e a vida conventual. Aboliu o celibato e os sacramentos (manteve o batismo e a eucaristia). A doutrina da predestinação e as escrituras ganham autoridade suprema.
Na Alemanha havia descontentamento com Roma e interesse em passar para o domínio dos alemães as terras pertencentes à igreja. Príncipes apóiam a reforma luterana e desafiam o poder do papa. A reforma prega a liberdade de consciência e faz da religião indisfarçável tema político. Só governará o Estado quem pertencer à seita protestante. [Esta norma prevaleceu nos EUA até 1960 quando, pela primeira vez, foi eleito um presidente católico].    
A revolução protestante iniciada na Alemanha marcou uma nova fase da civilização européia. Até o século XVIII (1701 a 1800) havia só duas cidades na Europa com mais de 500 mil habitantes: Londres e Paris. Havia poucas cidades com mais de 100 mil habitantes. A maioria das cidades tinha de 2 a 20 mil habitantes, nas quais nasceram algumas celebridades como Robespierre, Babeuf e Napoleão. Predominava a vida rural. Na região nórdica (Escandinávia) e oriental (Bálcãs, Rússia) cerca de 90 a 95% da população vivia na zona rural. Na região ocidental cerca de 70 a 90% da população vivia na zona rural. A prosperidade vinha do campo. Nas cidades funcionavam as feiras e se localizavam os comerciantes e seus armarinhos (lojas de tecidos e miudezas), os negociantes dos produtos da agricultura e da pecuária, artesãos, financistas, advogados, tabeliães, nobres e clérigos.
As relações entre camponeses e proprietários das terras nem sempre eram pacíficas. Havia tensão permanente a nublar a cordialidade entre as duas classes. Os campônios produziam a riqueza enquanto os senhores da terra acumulavam-na. A pesada carga tributária também era motivo de insatisfação do campônio com o governo. O descontentamento com o alto clero católico era generalizado. Aquele momento histórico europeu foi propício à expansão do protestantismo. Milhares de pessoas perderam a liberdade e a vida em decorrência dos conflitos religiosos. Católicos e protestantes se julgavam donos da verdade; seus dogmas eram postos como certezas absolutas, sem espaço para a tolerância. Havia governos católicos (Espanha, Itália) e governos protestantes (Holanda, Inglaterra). Motivos religiosos, políticos e econômicos misturavam-se na eclosão das guerras e revoluções.
Os místicos e reformadores contribuíram para acelerar a revolução protestante. A maioria localizava-se na Alemanha e nos Países Baixos (Holanda + Bélgica). Nessa região setentrional da Europa, o misticismo se tornou uma das mais populares formas de expressão religiosa desde o século XIV (1301 a 1400). A corrente mística era contra os sacramentos, os milagres sacerdotais e a intermediação dos padres entre deus e os crentes. Os místicos entendiam suficientes: (1) a submissão a deus; (2) a extinção dos desejos egoístas. No final do século XIV, John Wycliffe antecipa-se a Martinho no ataque ao catolicismo. Do ponto de vista político, a reforma decorreu: (1) do desabrochar da consciência nacional na parte setentrional da Europa; (2) do aparecimento de governos despóticos. Os principais focos do nacionalismo e do absolutismo foram: Inglaterra, França e Alemanha. O absolutismo monárquico desafiava o poder do papa. Segundo a teoria de Wycliffe, o poder temporal do papa tinha de ser transferido para o monarca. Os príncipes europeus aspiravam ao domínio temporal e também espiritual, incluindo a riqueza da igreja. Pretendiam se compensar da tributação incidente sobre suas propriedades. Os tributos cobrados pelo papa provocavam descontentamento por canalizarem para a Itália, a riqueza dos países setentrionais. 

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