quarta-feira, 11 de junho de 2014

FILOSOFIA XII - 13



EUROPA (1000 a 1600). Continuação.

John Wycliffe, padre secular, doutor em teologia, professor em Oxford, faz oposição a igreja de Roma (1320 a 1384). Na opinião dele, a ordem divina é necessária e restrita a deus. O mundo não pode ser diferente do que é. Ele censura o mundanismo de papas e bispos enquanto os fiéis vivem em extrema pobreza {Inglaterra do século XIV}. Somente os probos têm direito à propriedade e a aspirar à autoridade legítima. O clero ímprobo fica sujeito a julgamento pela autoridade civil (Estado) e pode perder a propriedade. Ademais, se Cristo e apóstolos nada possuíam, o clero também deve nada possuir. O rei é o vigário de deus e representa a divina realeza de Cristo. Portanto, deve ser obedecido sem contestação ou resistência. No cisma da igreja (papado italiano x papado francês, 1378 a 1417) John qualificou o papa de anticristo; elaborou versão inglesa da Vulgata {Bíblia vertida do grego para o latim por Jerônimo e do latim para o inglês por John}; fundou uma ordem secular de padres pobres (pregadores itinerantes); e discordou da doutrina da transubstanciação {mudança de substância: o pão e o vinho mudam para corpo e sangue de Cristo quando o sacerdote pronuncia as palavras de consagração durante a missa; permanece a forma ou aparência do pão e do vinho}. Na opinião de John, a igreja hierárquica, dominada pela cúria romana, deve ser substituída por uma igreja nacional, reformada e governada segundo o cânon bíblico. [A pregação de John surtiu efeito com a fundação da igreja anglicana por Henrique VIII. O particularismo nacional (inglês) superou o universalismo (romano)].

Após derrotar o movimento conciliar que advogava a supremacia do concílio geral dentro da igreja, o papa admite a soberania nacional de cada reino ao celebrar acordos bilaterais com os reis (concordatas). Chega ao fim a res publica christiana (unidade temporal e espiritual de todos os povos sob o báculo pontifical). Sobreveio novo dogma: a igreja existe em cada nação {ainda que não abranja todas as nações}.   

Os costumes, crenças e idéias medievais são expostos na obra de Dante Alighieri, toda ela penetrada por textos bíblicos. Ele foi banido de Florença quando o partido rival assumiu o poder. Morreu exilado em Ravena (1321). Na Divina Comédia, o florentino narra uma viagem do inferno ao céu, passando pelo purgatório, cheia de digressões e alusões que refletem a sua experiência de vida e a sociedade do seu tempo. Dante reserva um enclave no inferno aos filósofos gregos que não eram batizados na fé cristã (velada crítica a Tomás de Aquino que esposou o pensamento aristotélico). Na obra intitulada Da Monarchia, Dante expõe o seu pensamento político contrário à intromissão do papa nos negócios de Estado. Tem diante dos olhos o reinado de Frederico II. Nega a supremacia da igreja e rebate a teoria das duas espadas. Considera juridicamente nula a doação de Constantino, posto que a ninguém é lícito praticar, através do cargo que ocupa no Estado, atos contrários à respectiva função. O imperador não pode alienar a dignidade do Império e nem o Império se autodestruir. A autoridade do monarca depende diretamente de deus e não do vigário {absolutismo do rei}. Só deus – que não está subordinado a poder algum – elege o imperador. O objetivo principal da política é a ação e não a especulação, diz o florentino. A ação supõe uma finalidade comum a todos os homens: a paz universal. [No entanto, os homens (primitivos e civilizados) amam o combate físico e intelectual. A dialética é vista como guerra entre opostos. A guerra é vista como lei da natureza. Há quem faça apologia da guerra]. Na opinião de Dante, para alcançar a paz é necessário alguém que reine e esse alguém deve ser o imperador, juiz supremo das controvérsias entre os príncipes. Melhor os homens serem governados por um só (monarquia) do que por muitos (aristocracia e democracia).       

Reagindo contra a escolástica e o endeusamento de Aristóteles, alguns filósofos como Pletone, Ficino e Mirandola recorreram a Platão. Seguiam as pegadas de Plotino. Tentavam conciliar platonismo e cristianismo. Giovanni Picco de la Mirandola defendia uma religião universal que combinava platonismo, cabala e cristianismo (1463 a 1494). Ele, Pietro Pomponazzi (1462 a 1525) e outros, não se esquivavam da magia; desta, retiraram os aspectos naturais. Marsílio Ficino (1433 a 1499) e Tommaso Campanella (1568 a 1638) também admitiam a magia, porém na sua expressão mais espiritual ou demoníaca. Alguns filósofos aderem ao estoicismo, ao epicurismo e ao ceticismo. Lorenzo Valla, Pietro Pomponazzi, Leonardo da Vinci e Niccolò Machiavelli são os grandes nomes do período. Para Lorenzo, o prazer tranqüilo era o supremo bem, o ascetismo era inútil e morrer pelo país uma irracionalidade. Quanto a Pietro, lecionava filosofia na Universidade de Pádua e refutou o misticismo neoplatônico. Ele interpretou o universo em termos de causa e efeito. Na opinião dele, a crença em recompensas e punições depois da morte não pode servir de base à Ética. A recompensa pela virtude é a própria virtude que faz o homem feliz. A punição do vício é o próprio vício que faz o homem infeliz. Leonardo não escreveu obra filosófica, mas pensou como filósofo ao rejeitar a autoridade como fonte da verdade, ao aplicar o método indutivo nas suas pesquisas, ao condenar a guerra como a mais bestial das loucuras, ao qualificar de atrocidade o homicídio e ao defender o segredo de invenção para evitar o seu mau uso pelos governantes. [No mundo moderno, o conhecimento científico está a serviço da política e da economia].   

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