EUROPA (1000
a 1600). Final.
Francis Bacon introduziu o
método experimental na pesquisa científica como indispensável ao conhecimento
verdadeiro e sistemático. A natureza deve ser observada diretamente a fim de se
descobrir as leis que a governam. A indução e a experimentação são as vias para
este desiderato. Ao contrário da dedução, a indução tem caráter material e
permite avançar no conhecimento. A partir de fatos pesquisados chega-se ao
conhecimento sobre fatos não incluídos na pesquisa (generalização racional
aceita).
A autoridade, a tradição e
a lógica silogística devem ser evitadas. A fonte do conhecimento é sensorial e
a sua base é racional. Os fenômenos naturais apresentam uma face estrutural, o esquematismo latente e também uma face
dinâmica, o processo latente
responsável pelas mudanças. As duas faces são conexas. “Os sentidos são como o sol que torna visível a face da terra, mas
esconde a do céu. Para viajar ao reino da verdade celeste é necessário
abandonar o barco da razão humana e se colocar a bordo do navio da igreja”.
Francis considera estéril
a filosofia que o antecedeu por nada trazer de prático à vida dos homens. Os
filósofos parecem aranhas que tecem teias maravilhosas, porém alheias à
realidade. Francis tem sido mencionado como fundador da ciência moderna. A sua
divisa era: “saber é poder”. Na
opinião dele, a filosofia natural há de ser ativa e fecunda em resultados
práticos, sendo de pouco valor o conhecimento puramente teórico ou
contemplativo. [Mais tarde, Karl Marx navegaria nessas águas]. Esta opinião
evidencia o caráter utilitário da filosofia de Francis. Para ele, as idéias de
Aristóteles favoráveis à vida contemplativa são adequadas ao bem privado, ao
prazer e à dignidade do indivíduo. Os homens, entretanto, devem saber que nesse
teatro da vida humana apenas deus e os anjos podem ser espectadores.
Os ídolos e as noções
falsas obstruem o intelecto humano. {A teoria dos ídolos contribuiu para os
estudos sobre ideologia e comunicação}.
O ídolo da tribo é erro que decorre da natureza humana: (1) ao tomar
como verdadeira a imagem produzida pelos sentidos e simplificar o complexo
segundo a conveniência {inércia do espírito, oportunismo}; (2) ao ignorar os
resultados negativos da adivinhação e se fixar nos resultados coincidentes com
a esperança {astrologia, quiromancia}; (3) ao imaginar coisas que correspondam
a necessidades numéricas {cabala, numerologia}; (4) ao tratar a ação da
natureza de modo análogo à ação humana e ver simpatias e antipatias nos
fenômenos {alquimia, magia}.
O ídolo da caverna é erro individual e não da espécie humana: “cada pessoa possui sua própria caverna
particular; interpreta e distorce a luz da natureza”. O indivíduo vê as
coisas sob a luz a que está acostumado. [Pode estar tão enfurnado na sua
profissão técnica, científica, artística, religiosa, que tudo interpreta à luz
dessa atividade].
O ídolo do foro é erro decorrente da ambigüidade das palavras
utilizadas na comunicação entre pessoas. A mesma palavra utilizada com
significados diferentes gera desentendimento entre as pessoas. “O homem crê que a razão governa as palavras,
mas também é certo que as palavras atuam sobre o intelecto e é isso que torna
sofística e ociosa a filosofia e a ciência”.
O ídolo do teatro é erro proveniente dos sistemas filosóficos
fundados em invenções como as peças de teatro que não retratam fielmente os
fatos. Francis refere-se a Platão como trocista que cometeu o maior dos erros
ao confundir teologia com filosofia. Ele qualifica Aristóteles de “pior dos
sofistas”.
O método indutivo proposto
por Francis compreende as tábuas de
investigação. A primeira é a tábua de presença onde são arroladas as
características concordantes do objeto sob observação. A segunda é a tábua de
ausência onde são arrolados os casos discordantes. A terceira é a tábua das
graduações onde são anotados os graus de variação ocorridos no objeto da
investigação com o fim de identificar possíveis correlações entre eventuais
mudanças.
Além das tábuas, há procedimentos complementares tais
como: prolongar, transferir, inverter, mudar condições. Há fatores que o
filósofo denomina de instâncias
prerrogativas que forçam a investigação a um sentido determinado. Francis
arrola mais de vinte fatores entre os quais as instâncias: (1) solidárias, quando os corpos são iguais
em tudo salvo uma única característica; (2) migrantes,
quando a natureza se manifesta repentinamente; (3) ostensivas, quando certa característica é evidente; (4) analógicas, quando um fenômeno esclarece
outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário