EUROPA (1000
a 1600). Continuação.
Johan Althaus (Althusius), alemão, cristão protestante
calvinista, professor de direito, foi autor da teoria do Estado exposta no
livro intitulado Política Methodice
Digesta Atque Exemplis Sacris et Profanis Illustrata (1557 a 1638). Apesar de
publicado em 1603, só dois séculos depois o livro teve sua importância
reconhecida. O título já anuncia o rigor lógico da obra. Funda-se no caráter
orgânico e comunitário da vida social. Política,
na definição de Althusius, é a arte de estabelecer, cultivar e conservar a
comunhão entre os homens (consociatio)
inerente à existência conjunta (symbiosis).
A sociedade se compõe de uma série hierárquica de comunidades simbióticas a
partir da família, célula inicial, alçando-se à companhia (ou colégio). Os seus membros são companheiros. A reunião dessas
comunidades civis constitui a cidade,
comunidade mista e pública cujos membros são cidadãos, não por serem homens e sim por serem companheiros. A
reunião de cidades constitui a província
e a reunião de províncias constitui o Estado.
Em cada escalão superior à família intervém a livre adesão. O consenso se
estabelece entre comunidades e não entre indivíduos. O Estado é uma comunidade
de comunidades {um ente cultural complexo}. O Estado, portanto, não surgiu de
um contrato firmado entre indivíduos e sim da passagem sucessiva de uma
realidade orgânica para outra maior e superior. O Estado é essa comunidade
simbiótica pública superior, universal, integral, perfeita e capaz de
satisfazer as necessidades básicas dos cidadãos. O direito de majestade (jus majestatis) pertence ao Estado,
direito de comandar sem sócio e sem superior, que compreende o poder de decisão
sobre tudo o que é necessário à salvação espiritual e corporal dos membros da
comunidade. Esse direito é indivisível, intransferível e imprescritível. O povo
é o único titular da majestade {soberania}.
Em nome do povo, o governante administra o Estado. {No esquema de Althusius, o
governo cabe aos éforos e ao magistrado supremo (summus magistratus)}. Eleitos pelo povo, os éforos formam um
colegiado com autoridade estatal suprema, acima do magistrado supremo. Este é
eleito pelos éforos. O tipo misto de governo (monárquico + aristocrático +
democrático) é mais adequado à comunidade simbiótica, pois a mistura é da
essência da vida. Cabe ao colégio de éforos impedir que o magistrado supremo se
torne um tirano. Os éforos e o povo têm o direito de combater a tirania, de
resistir ao governo despótico. O tirano deve ser substituído e até assassinado.
[Mediante o processo genético de construção do Estado, Althusius chega à
democracia corporativa].
Francis Bacon, inglês,
cristão, nasceu em Londres no seio de rica e puritana família (1561 a 1626). Acreditava na
excelência da monarquia. Defendia o absolutismo do monarca e a limitação dos poderes
do Parlamento. Seguiu carreira pública e chegou a Lorde Chanceler (1618).
Acusado de receber propinas em processos sob sua presidência, Francis foi
multado e preso. O rei Jaime I perdoou a multa e reduziu a pena privativa de
liberdade para quatro dias apenas. Em liberdade, Francis se dedicou a escrever
e expor o seu pensamento. Da sua produção intelectual sobressaem: Novum Organum (lógica), O
Progresso do Saber (ciência), Ensaios
(idéias sobre as paixões e a natureza humana) e História Natural. Em sua obra literária e utópica intitulada Nova Atlântida, Francis descreve um Estado
imaginário cuja organização propicia felicidade geral. O controle científico da
natureza possibilita a harmonia e o bem-estar aos habitantes daquele Estado cuja
vida é orientada pelos sábios que trabalham na Casa de Salomão. [Ao escolher o
nome da casa de ciência, Francis acolheu a lendária sabedoria desse rei hebreu.
O filósofo abdicou do seu método científico para investigar se a lenda tinha
algum fundo de verdade. Certamente, agiu por cautela, pois discordar da Bíblia
naquele período histórico era suicídio. Ele perderia a sua posição na corte,
seus bens, sua liberdade e sua vida. O credo rosacruz não exigia tal sacrifício].
Segundo a sua visão rosacruciana e a utópica narrativa da “Nova Atlântida”,
mais importante do que governar homens é dominar a natureza, cujas forças são
objeto de estudo pelos sábios. Hospital, usina de energia, centro agrícola,
instituições em geral, tudo vinculado à Casa de Salomão. A obra científica
resulta do trabalho coletivo de pesquisadores e intérpretes. A investigação
científica tem por objeto a realidade e um sentido prático: aumentar a duração
da vida humana, combater doenças, criar máquinas inclusive para transitar no ar
e sob água.
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