domingo, 8 de junho de 2014

COPA 2014 - II



No esporte coletivo (futebol, basquete) o vocábulo amistoso tem significado próprio. No Paraná, anos 50, jogar baralho ou futebol a “leite de pato” significava jogar sem apostar, disputar sem prêmio em dinheiro ou troféu ao vencedor. Este é o sentido de “amistoso” no futebol: disputa fora de campeonato, “a leite de pato”. Amizade e cordialidade são componentes do espírito esportivo: as equipes não se tratam como inimigas e se pautam pela civilidade, lealdade, respeito humano. Isto não obsta a virilidade na luta pela vitória, ainda que o jogo seja amistoso. O jogador violento está sujeito à sanção aplicada pelo árbitro (expulsão de campo), pelo clube (censura) e pelo tribunal (suspensão).
Nos jogos amistosos da seleção brasileira com as seleções do Panamá e da Sérvia (03 e 06 de junho/2014) houve lances ríspidos e revides. A brasileira foi vitoriosa, porém não convenceu. Está no caminho. A vedete da seleção parece incorrer no equívoco de se preocupar em ser o melhor jogador do mundo sem levar em conta as peripécias nos bastidores da FIFA para essa escolha. A pretensão é justificável, mas não a preocupação. Esta é óbice psíquico a atrapalhar o bom desempenho do jogador, como ficou evidente nestes amistosos. A preocupação dos jogadores com o aplauso do público foi outro óbice que influiu no rendimento de toda a equipe. Ótimos em seus clubes, na seleção alguns não exibiram o mesmo nível. A badalação gera esse efeito negativo. Os dirigentes da seleção certamente sabem disto, mas para eles o resultado financeiro positivo é mais importante do que o bom resultado esportivo.
“Treino é treino; jogo é jogo”, dizia o mestre Didi. Os amistosos foram treinos. Espera-se que nos jogos da copa a seleção brasileira seja mais convincente. A rapaziada folga sábado e domingo. Os treinos recomeçam na segunda-feira (09/06). O primeiro jogo é contra a seleção da Croácia, na quinta-feira (12/06). Empate e derrota da seleção brasileira não estão descartados. Ufanistas, preparai-vos!
Na Europa oriental, a Iugoslávia era respeitável escola de futebol. Dessa república federativa socialista faziam parte: Bósnia/Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Sérvia. Os quatro primeiros estados se retiraram da federação logo após a dissolução da união soviética em 1991. Os dois remanescentes (Montenegro e Sérvia) constituíram a República Federal da Iugoslávia, que se extinguiu em 2003. A sobrevivente comunidade Montenegro + Sérvia foi rompida em 2006. Diante dessa fragmentação política, o futebol iugoslavo (“eslavo do sul”) parece que perdeu a sua primitiva força, apesar do talento de alguns jogadores. Bósnia e Croácia mostram-se dispostas a manter a tradição. O público avaliará o nível do futebol eslavo durante a copa.
No público dos esportes coletivos prevalece a emoção. Isto dificulta análise desapaixonada. Todavia, funciona a inteligência emocional. O público percebe o que está bom ou ruim nas equipes. Daí, as vaias ocasionais. No estádio do Morumbi, localizado na cidade de São Paulo, o público gritou o nome de Fabiano durante o jogo entre as seleções do Brasil e da Sérvia. O público – que não é cego e nem idiota – sabia que aquele jogador não estava no banco dos reservas e nem integrava o elenco e, portanto, não poderia participar do jogo e nem da copa. O grito foi de protesto contra a injusta exclusão de Fabiano. O público sabe que esse jogador está em boa forma e que por sua visão de jogo, por saber driblar, prestar assistência e finalizar com sucesso é tecnicamente superior a Fred, Jô e outros convocados.
Nos amistosos desta semana, jogadores brasileiros, inclusive a vedete criada pela imprensa esportiva e pela propaganda comercial, mostraram-se tão temperamentais quanto Fabiano e mais vacilantes do que ele. O público manifestou a sua opinião e a sua discordância de modo legítimo. A liberdade de manifestação do pensamento é garantida pela vigente Constituição brasileira. Em país democrático, no qual todo o poder emana do povo, a vontade popular há de ser respeitada, ainda mais quando manifestada publicamente, de forma plural, clara e inequívoca. No campo esportivo, entretanto, a democracia ainda não chegou. Persiste a ditadura civil dos dirigentes das entidades esportivas com o apoio de setores da imprensa.                  

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