EUROPA (1000
a 1600). Continuação.
Depois de 1300, o modelo
feudal de sociedade entra em decadência na região ocidental da Europa.
Cavalaria, feudos, Santo Império Romano-Germânico, autoridade universal do
papa, sistema corporativo do comércio e da indústria, catedrais góticas,
escolástica, supremacia das interpretações religiosas e éticas da vida, tudo
isto começa a ruir, a ser desprezado e ridicularizado. Novas instituições e
novos modos de pensar surgem nos séculos XIV a XVII dando outra fisionomia à civilização
européia (1300 a
1600). Os descobrimentos marítimos resultantes das viagens patrocinadas pelos
governos de Portugal e de Espanha abriram novas fontes de importação, novos
mercados e rotas comerciais. A difusão da bússola, da pólvora e do canhão
propiciou navegações mais ousadas e guerras em escala maior de destruição.
Holanda, França e Inglaterra também se lançaram na corrida marítima rumo à
América. Nesse novo mundo havia coisas desconhecidas a serem admiradas e
estudadas pelos europeus, tais como: minérios, plantas, animais, gente, rios,
relevo, firmamento. A igreja católica tinha interesse nessas viagens: enviava
seus padres para catequese dos nativos. Tabus antigos foram superados. O
nacionalismo começava a sair do útero continental para romper a unidade
medieval construída pela igreja. A partir do século XV, a Europa do latim e do
cavalo não era mais a do latim, mas permaneceu como a Europa do cavalo até o
século XIX.
O período histórico
europeu de 1300 a
1600 é conhecido como Renascença.
Pelas notáveis mudanças nele ocorridas, historiadores consideram esse período
como intermediário entre a Idade Média e a Idade Moderna. Certos movimentos
iniciados no século IX, inspirados nas obras de Aristóteles, Cícero, Virgílio,
Sêneca, têm culminância nesse período. A partir do século XIV, esses movimentos
ganham força nas artes, ciências, filosofia, política, religião, educação e
literatura. A Renascença marcou o
começo da ciência moderna (revolução científica) baseada na observação
empírica, na experimentação e na matemática. Foram retificadas: (1) a geografia depois de verificada a
esfericidade da Terra pelas viagens marítimas; (2) a cosmologia depois que a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico foi
confirmada pelo trabalho de Johannes Kepler e Galileu Galilei.
O humanismo, no sentido
amplo, caracteriza esse período: glorificação do humano e do natural. O divino
e o sobrenatural ficam em segundo plano. No sentido estrito, humanismo
significava entusiasmo pelas obras clássicas devido ao seu interesse pelo ser
humano. Individualismo, otimismo, hedonismo, naturalismo, interesses terrenos,
caracterizam a Renascença. O lucro
sem travas morais e religiosas adquire legitimidade para gáudio dos mercadores
e banqueiros. A absorção do indivíduo no social encontra óbice no egoísmo, no egocentrismo
e no orgulho. O pecado e as virtudes teologais perdem força inibidora. A idéia
de comunidade universal sob o comando do imperador ou do papa é substituída
pela idéia de comunidade nacional {princípio das nacionalidades: cada nação tem o direito de se organizar em
estado}. O modelo de um governo absoluto e independente sem externas peias
jurídicas e religiosas rompe os vínculos dos estados nacionais com a igreja e
com o império.
A aquisição e a
transmissão do conhecimento recebem apoio de pessoas e famílias importantes na
Itália: Médici na Florença, Sforza em Milão, Este em Ferrara, Alfonso em Nápoles. Os papas
Nicolau V, Pio II, Julio II e Leão X, também prestam apoio à cultura. Quase
todas as geratrizes da Renascença
localizam-se na Idade Média, a mostrar a seqüência evolutiva da cultura humana
e a divisão artificial dos períodos históricos. Não custa lembrar que as
civilizações grega e romana tinham base territorial na Europa e que a partir
delas há um continuum cultural embora
com as nuances de cada época. A imprensa foi outro eficaz instrumento da Renascença. Gutemberg aperfeiçoa a
imprensa (tipos móveis) e imprime o primeiro texto em 1454.
Entre as causas da Renascença podem ser incluídas: (1) as cruzadas que contribuíram para a
decadência do feudalismo e para o enfraquecimento do poder do papado; (2) a
cultura muçulmana na Espanha (Toledo e Córdova); as bibliotecas destas cidades
espanholas contaram com o trabalho de especialistas bizantinos e sarracenos;
(3) a introdução da cultura pagã pelo imperador Frederico II, rei da Sicília,
nos seus domínios com o propósito de minar o poder da igreja. A vanguarda do renascimento ocorreu na Itália devido à
forte tradição clássica ali existente. Os italianos se consideravam
descendentes dos antigos romanos. O estudo do direito e da medicina nas
universidades italianas sob influência bizantina e sarracena preponderava em
relação ao estudo de teologia. As cidades italianas foram as grandes
beneficiadas com o restabelecimento do comércio com o oriente. Portos marítimos
de Veneza, Nápoles, Gênova e Pisa monopolizavam o comércio mediterrâneo.
Florença e Bolonha foram entrepostos do comércio entre o norte e o sul da Europa.
O comércio na região ocidental da Europa ganha impulso
com as técnicas comerciais, industriais e agrícolas desenvolvidas pelos
muçulmanos (1100 a
1400). Algumas cidades cresceram de importância e se multiplicaram graças ao
incremento das atividades comerciais e industriais e o conseqüente ciclo de
prosperidade. Desde o século XI (1001
a 1100) a atividade na cidade e a atividade no campo
tinham a mesma importância, embora a terra ainda fosse o lastro econômico e
social (somente na Idade Moderna a vida urbana alcança maior relevo). As
cidades foram os centros do progresso intelectual e artístico. Na Itália, as
cidades eram sobreviventes do império romano. Fora da Itália havia poucas
cidades, as quais se originaram: (1) dos mosteiros transformados em centros de
comércio e indústria; (2) do aumento da população no entorno dos castelos e das
fortalezas; (3) da evolução das aldeias nas rotas comerciais. A cidade tinha
chance de crescer ao abrigar bispado católico. Dessa época em diante o florescimento
das cidades foi constante. Em algumas regiões verificou-se a emigração do campo
para a cidade; as pessoas se desviavam da atividade rural para a atividade
urbana (comércio, indústria, serviços públicos e domésticos). No final da Renascença quase todas as cidades da
região ocidental da Europa haviam se livrado do regime feudal. Os burgueses
(moradores do burgo) podiam vender suas propriedades, casar com a pessoa do seu
interesse, locomover-se dentro e fora da cidade, tudo livremente. Na cidade
(burgo) os tributos feudais foram extintos; a jurisdição era prestada em
tribunais municipais. Havia eleições anuais para as magistraturas. As cidades
maiores e mais ricas tinham governo próprio, oligarquias compostas de
mercadores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário