sexta-feira, 2 de maio de 2014

FILOSOFIA XII - 2




EUROPA (1000 a 1600). Continuação.

Depois de 1300, o modelo feudal de sociedade entra em decadência na região ocidental da Europa. Cavalaria, feudos, Santo Império Romano-Germânico, autoridade universal do papa, sistema corporativo do comércio e da indústria, catedrais góticas, escolástica, supremacia das interpretações religiosas e éticas da vida, tudo isto começa a ruir, a ser desprezado e ridicularizado. Novas instituições e novos modos de pensar surgem nos séculos XIV a XVII dando outra fisionomia à civilização européia (1300 a 1600). Os descobrimentos marítimos resultantes das viagens patrocinadas pelos governos de Portugal e de Espanha abriram novas fontes de importação, novos mercados e rotas comerciais. A difusão da bússola, da pólvora e do canhão propiciou navegações mais ousadas e guerras em escala maior de destruição. Holanda, França e Inglaterra também se lançaram na corrida marítima rumo à América. Nesse novo mundo havia coisas desconhecidas a serem admiradas e estudadas pelos europeus, tais como: minérios, plantas, animais, gente, rios, relevo, firmamento. A igreja católica tinha interesse nessas viagens: enviava seus padres para catequese dos nativos. Tabus antigos foram superados. O nacionalismo começava a sair do útero continental para romper a unidade medieval construída pela igreja. A partir do século XV, a Europa do latim e do cavalo não era mais a do latim, mas permaneceu como a Europa do cavalo até o século XIX.
O período histórico europeu de 1300 a 1600 é conhecido como Renascença. Pelas notáveis mudanças nele ocorridas, historiadores consideram esse período como intermediário entre a Idade Média e a Idade Moderna. Certos movimentos iniciados no século IX, inspirados nas obras de Aristóteles, Cícero, Virgílio, Sêneca, têm culminância nesse período. A partir do século XIV, esses movimentos ganham força nas artes, ciências, filosofia, política, religião, educação e literatura. A Renascença marcou o começo da ciência moderna (revolução científica) baseada na observação empírica, na experimentação e na matemática. Foram retificadas: (1) a geografia depois de verificada a esfericidade da Terra pelas viagens marítimas; (2) a cosmologia depois que a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico foi confirmada pelo trabalho de Johannes Kepler e Galileu Galilei.
O humanismo, no sentido amplo, caracteriza esse período: glorificação do humano e do natural. O divino e o sobrenatural ficam em segundo plano. No sentido estrito, humanismo significava entusiasmo pelas obras clássicas devido ao seu interesse pelo ser humano. Individualismo, otimismo, hedonismo, naturalismo, interesses terrenos, caracterizam a Renascença. O lucro sem travas morais e religiosas adquire legitimidade para gáudio dos mercadores e banqueiros. A absorção do indivíduo no social encontra óbice no egoísmo, no egocentrismo e no orgulho. O pecado e as virtudes teologais perdem força inibidora. A idéia de comunidade universal sob o comando do imperador ou do papa é substituída pela idéia de comunidade nacional {princípio das nacionalidades: cada nação tem o direito de se organizar em estado}. O modelo de um governo absoluto e independente sem externas peias jurídicas e religiosas rompe os vínculos dos estados nacionais com a igreja e com o império.
A aquisição e a transmissão do conhecimento recebem apoio de pessoas e famílias importantes na Itália: Médici na Florença, Sforza em Milão, Este em Ferrara, Alfonso em Nápoles. Os papas Nicolau V, Pio II, Julio II e Leão X, também prestam apoio à cultura. Quase todas as geratrizes da Renascença localizam-se na Idade Média, a mostrar a seqüência evolutiva da cultura humana e a divisão artificial dos períodos históricos. Não custa lembrar que as civilizações grega e romana tinham base territorial na Europa e que a partir delas há um continuum cultural embora com as nuances de cada época. A imprensa foi outro eficaz instrumento da Renascença. Gutemberg aperfeiçoa a imprensa (tipos móveis) e imprime o primeiro texto em 1454.
Entre as causas da Renascença podem ser incluídas: (1) as cruzadas que contribuíram para a decadência do feudalismo e para o enfraquecimento do poder do papado; (2) a cultura muçulmana na Espanha (Toledo e Córdova); as bibliotecas destas cidades espanholas contaram com o trabalho de especialistas bizantinos e sarracenos; (3) a introdução da cultura pagã pelo imperador Frederico II, rei da Sicília, nos seus domínios com o propósito de minar o poder da igreja. A vanguarda do renascimento ocorreu na Itália devido à forte tradição clássica ali existente. Os italianos se consideravam descendentes dos antigos romanos. O estudo do direito e da medicina nas universidades italianas sob influência bizantina e sarracena preponderava em relação ao estudo de teologia. As cidades italianas foram as grandes beneficiadas com o restabelecimento do comércio com o oriente. Portos marítimos de Veneza, Nápoles, Gênova e Pisa monopolizavam o comércio mediterrâneo. Florença e Bolonha foram entrepostos do comércio entre o norte e o sul da Europa.
O comércio na região ocidental da Europa ganha impulso com as técnicas comerciais, industriais e agrícolas desenvolvidas pelos muçulmanos (1100 a 1400). Algumas cidades cresceram de importância e se multiplicaram graças ao incremento das atividades comerciais e industriais e o conseqüente ciclo de prosperidade. Desde o século XI (1001 a 1100) a atividade na cidade e a atividade no campo tinham a mesma importância, embora a terra ainda fosse o lastro econômico e social (somente na Idade Moderna a vida urbana alcança maior relevo). As cidades foram os centros do progresso intelectual e artístico. Na Itália, as cidades eram sobreviventes do império romano. Fora da Itália havia poucas cidades, as quais se originaram: (1) dos mosteiros transformados em centros de comércio e indústria; (2) do aumento da população no entorno dos castelos e das fortalezas; (3) da evolução das aldeias nas rotas comerciais. A cidade tinha chance de crescer ao abrigar bispado católico. Dessa época em diante o florescimento das cidades foi constante. Em algumas regiões verificou-se a emigração do campo para a cidade; as pessoas se desviavam da atividade rural para a atividade urbana (comércio, indústria, serviços públicos e domésticos). No final da Renascença quase todas as cidades da região ocidental da Europa haviam se livrado do regime feudal. Os burgueses (moradores do burgo) podiam vender suas propriedades, casar com a pessoa do seu interesse, locomover-se dentro e fora da cidade, tudo livremente. Na cidade (burgo) os tributos feudais foram extintos; a jurisdição era prestada em tribunais municipais. Havia eleições anuais para as magistraturas. As cidades maiores e mais ricas tinham governo próprio, oligarquias compostas de mercadores.

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