quarta-feira, 30 de abril de 2014

FILOSOFIA XII



EUROPA (1000 a 1600).

Este período da civilização européia testemunhou notável avanço cultural se comparado aos anteriores séculos da Idade Média. O humanismo adquire cores fortes. O ser humano é visto como a criatura mais importante do universo. A ênfase da atividade cultural cai sobre as coisas do mundo terreno. Esse rico período da história européia caracteriza-se pelo feudalismo, vida de aventura e de conquistas materiais e amorosas, disputa entre o poder civil e o poder da igreja, monarquia nacional, economia rural e urbana, vigorosa produção artística e intelectual. A sociedade européia desse período compõe-se das seguintes camadas: realeza, nobreza civil e eclesiástica, comerciantes, artesãos, trabalhadores rurais e urbanos. As obras filosóficas, artísticas e literárias da Grécia e de Roma passam a ser reverenciadas e o direito romano a ser aplicado em concomitância com o direito germano. Os cristãos europeus buscam ambiente propício ao seu desenvolvimento social e econômico. Para esta mudança de mentalidade influíram: a civilização bizantina, a civilização sarracena, as invasões nórdicas, a utilização da imprensa e a educação ministrada nas universidades.
A fundação de universidades representa o fato educacional marcante da Idade Média. A universidade era uma corporação organizada para preparar e licenciar professores. Depois, funcionou como concentração de faculdades para o ensino de ciências e artes. As universidades mais antigas são as de Salerno (século X), Bolonha e Paris (século XII). Seguiram-se as de Oxford, Cambridge, Montpellier, Salamanca, Roma e Nápoles. No final do século XIV, a Alemanha criou as universidades de Praga, Viena, Heidelberg e Colônia. A universidade de Bolonha serviu de padrão para as universidades do sul da Europa e a universidade de Paris serviu de padrão para as universidades do norte. O grau de bacharel obtinha-se após 4 ou 5 anos de estudos no trivium (gramática, retórica e lógica). O grau de mestre exigia mais 3 ou 4 anos de estudos no quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). Obtinha-se o grau de doutor com a idade mínima de 35 anos e após 4 ou 5 anos de estudos especializados (teologia, direito, medicina). Os graus de mestre e doutor eram títulos da docência. Doutor em medicina era o professor e não o médico. Tal como hoje, havia estudantes irreverentes, radicais e heréticos. O tipo de estudante vadio e frívolo contrastava com o tipo estudioso e sincero. Os docentes religiosos formulavam a seguinte crítica: O jovem procura a teologia em Paris, o direito em Bolonha e a medicina em Montpellier, mas em nenhum lugar, uma vida que agrade a Deus. Ao grupo boêmio de estudantes atribui-se a poesia dos goliardos. Diziam-se discípulos do poeta Golias, cuja existência real é duvidosa. O mais certo é tratar-se de uma ficção zombeteira criada pelos estudantes. Os versos brincalhões e satíricos, paródias do credo e da missa, imitavam burlescamente os evangelhos. Na literatura, as línguas nacionais francesa, alemã, espanhola, inglesa e italiana substituíram o latim. Até o começo do século XII, quase toda a literatura era do gênero épico tal como a Canção de Rolando e o Poema do Cid e refletia uma sociedade viril em que o heroísmo, a honra e a lealdade eram os temas constantes.
A sociedade feudal atinge o auge nos séculos XII e XIII. A literatura volta-se para a cavalaria, com as suas características de glorificação da mulher amada, exaltação da bondade, da honra, da lealdade, da bravura e do refinamento de maneiras. Trovadores da região da Provença (sul da França) faziam os versos enaltecedores do amor e das aventuras dos cavaleiros. Os trovadores também criavam sátiras mordazes da rapacidade e hipocrisia do clero. Os ideais da aristocracia feudal estavam presentes na lenda de um celta chamado Artur que lutara contra os invasores da Britânia. A literatura alemã brindou a posteridade com a lenda de Parsifal e com a história de Tristão e Isolda. Tal qual a obra dos trovadores, estes romances glorificavam a aventura, a honra, a bravura, a fidelidade, as boas maneiras, a proteção do fraco, o socorro aos necessitados. Além de outras lições, ensinavam que o seguro caminho para a sabedoria é a experiência variada e profunda; que amar é sofrer; que o sofrimento e a morte são capítulos do livro da vida. Para uns, a força redentora do amor unia esposo e esposa; para outros, o verdadeiro amor unia o cavaleiro à sua amante e jamais o esposo à esposa.
Os mercadores e artesãos das cidades alcançaram posição de poder e influência igual ou maior do que a dos nobres feudais. Surge, então, literatura ao gosto desses burgueses (moradores urbanos) como o romance Aucassin et Nicolette: jovem nobre apaixona-se por jovem escrava sarracena e luta contra os preconceitos e obstáculos colocados entre os dois enamorados. Havia literatura para divertir denominada fabliaux, textos com indecências ridicularizando a cavalaria e o espírito religioso. Qualificam-se como obras primas desse período: Romance da Rosa e Divina Comédia. O “Romance da Rosa” foi escrito em duas partes: a primeira por Guilherme de Lorris, em 1230, a espelhar o espírito romântico e místico da cavalaria; a segunda por João de Meun, em 1265, penetrada por espírito satírico, burguês, elogio à razão e deboche da fé cristã. A “Divina Comédia” foi escrita por um cidadão de Florença (Itália) chamado Dante Alighieri (1265 a 1321). Narra lutas, tentações e redenção final da alma. O livro é um repositório da cultura medieval, síntese da filosofia, da ciência, da religião e dos ideais da época. A salvação da humanidade pela razão e pela graça divina é o tema dominante. Concebe o universo como finito tendo como centro a Terra onde tudo existe para servir ao homem. Tudo se explica em razão do esquema divino de paz, justiça e salvação. O homem possui livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal. A traição é o pior dos pecados. No citado livro, Dante coloca pagãos e papas no inferno. Ele usou a língua nacional (italiana) que se torna instrumento literário concorrendo com o latim (língua franca da época). Na França, Alemanha e Inglaterra os escritores também passam a utilizar a língua vulgar (nacional) em paralelo com a língua dos eruditos (latim).
Havia uma geral preocupação com a unidade: (1) o universo é concebido como um só e tudo que nele existe destina-se ao bem do homem; (2) o conhecimento é uma totalidade dominada pela lógica, chave da sabedoria; (3) a filosofia, a religião e a política formam um só conjunto; (4) as atividades humanas especializadas estão ligadas ao gênero comum; (5) a escultura e a pintura estão subordinadas à arquitetura. O românico e o gótico eram os estilos arquitetônicos da época. Cidades e arquitetos competem na construção das catedrais que, além de templo, eram escolas, bibliotecas e locais de reunião da comunidade. A evolução da música medieval começa com o cantochão cuja criação atribui-se ao Papa Gregório; melodia simples, sem acompanhamento, cantada por um solista ou um coro em uníssono. Havia cantigas das tavernas, cantos populares e cantos dos trovadores.

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