EUROPA (1000
a 1600). Continuação.
Na Renascença surge um
novo cristianismo com Inocêncio III, Francisco de Assis e Tomás de Aquino. A igreja
admitiu a importância da vida terrena e a centelha divina no homem. Deus
existia para o bem do homem. O sacerdote era herdeiro da autoridade conferida
por Jesus ao apóstolo Pedro. O sacerdote cooperava com deus na realização de
milagres e na absolvição dos pecadores. Havia os seguintes sacramentos:
batismo, crisma, penitência, eucaristia, casamento, ordem e extrema unção.
Segundo a igreja católica, sacramento
é o meio pelo qual a graça divina é comunicada aos homens. A eficiência dos
sacramentos independe do caráter pessoal de quem o ministra. O padre pode ser corrupto
sem que isto nulifique o sacramento. Segundo a teoria da transubstanciação, o pão e o vinho se transformam no
corpo e no sangue de Jesus. Cuida-se de transformação essencial e não
existencial; o gosto do pão e do vinho não se modifica. A teoria da sagrada herança e a teoria
do sacramento fizeram do cristianismo uma religião eclesiástica e mecânica semelhante
ao paganismo romano. O papa Nicolau impõe a teoria
da supremacia do sumo pontífice na hierarquia eclesiástica (858 a 867). Para provar o vigor da citada teoria ele
serviu-se de uma coleção de documentos forjados denominada “Decretos de
Isidoro”. Com o papa Gregório VII (1073 a 1085) a monarquia
eclesiástica recuperou forças e com o papa Inocêncio III (1198 a 1216) firmou-se em definitivo. A partir
do 4º Concílio de Latrão, a confissão do crente foi exigida (1215). O
inconformismo com esta exigência foi um dos motivos da futura revolução luterana.
O mosteiro de Cluny
emprestou o seu nome ao primeiro movimento de reforma monástica. Na Europa
ocidental do século X, a maioria dos mosteiros era de beneditinos que se
corromperam e caíram sob o poder dos senhores feudais. O objetivo da reforma
era livrar os mosteiros do poder feudal e fortalecer as regras de piedade e
castidade entre os monges. No século XI, havia objetivos mais amplos: eliminar
a corrupção e os interesses materiais de toda a igreja; estabelecer a
supremacia absoluta do papa em assuntos eclesiásticos; acabar com o tráfico de
objetos sagrados e a venda de bens espirituais (simonia); afastar dos assuntos eclesiásticos as autoridades
seculares; instituir celibato para o clero. O monge Hildebrando, o “Satã
Sagrado”, ao se tornar papa em 1073 com o nome de Gregório VII, implantou quase
todas as reformas pleiteadas pelo movimento Cluny. Esse movimento perdeu força
no final do século XI e enveredou para os vícios que tanto combateu. Reagindo a
essa decadência surgiram as ordens cartuxa e cisterciense com regras mais
rigorosas (1084). Estas duas ordens também decaíram dos seus princípios e
propósitos, tanto pelo acúmulo de riqueza, como por incompatibilidade com os
ideais da época.
Diferentes dos monges, os
frades entram na cena religiosa como homens leigos, sem pertencerem ao clero (século
XIII). Devotavam-se ao trabalho social, à pregação e ao ensino. O fundador da
primeira ordem foi um jovem de nome Francisco, filho de rico mercador de Assis,
cidade do norte da Itália (1182
a 1226). Este jovem imitou Jesus, desprendeu-se dos bens
materiais, dedicou-se aos pobres e privilegiou a prática cristã em face da
doutrina. Ele se preocupava com as coisas deste mundo, devotava profundo amor à
natureza e nela via a presença divina. Francisco não era asceta e nem
hipócrita, não desprezava o corpo, nem macerava a carne no intuito de salvar a
alma. Indiferente ao conforto, aos prazeres, às posses terrenas, vestia roupas
simples, hábitos morigerados. Foi um dos raros homens que mereceu o título de cristão. Domingos, nobre espanhol,
fundou uma nova ordem de frades por volta de 1215, no sul da França, com o
propósito de combater a heresia. No século XIV, tanto os franciscanos como os
dominicanos distanciavam-se dos ensinamentos e do exemplo dos fundadores. Houve
cisões, porém os frades continuavam a influir na cultura européia. Alguns
filósofos e cientistas dos séculos XIII e XIV eram franciscanos e dominicanos.
O papa Gregório VII se
opôs a que bispos, abades e padres fossem investidos por reis e príncipes. Henrique
IV, imperador alemão, desafiou o papa e prosseguiu nas investiduras. O papa o excomungou
e lhe retirou a autoridade política. O imperador se humilhou e obteve o perdão.
A pretensão do papa incluía jurisdição sobre toda a cristandade com o poder de punir,
anular decretos e destituir reis e imperadores. Gregório insiste na supremacia
da Igreja em relação ao Estado: “quem
pode duvidar de que os sacerdotes de Cristo não sejam os pais e os mestres dos
reis, dos príncipes e de todos os fiéis?”. Elabora e promulga o “Dictatus
Papae” com 27 artigos entre os quais os que seguem: 1) A igreja romana foi
fundada por um só Senhor. {O papa se refere a Jesus. No entanto e na verdade, João
Batista e Jesus Nazareno fundaram uma seita judia reformista de cunho místico
na Palestina e não em Roma.
Pedro, Paulo e apóstolos como Tiago, Judas Tadeu, João,
Barnabé, instituíram a igreja cristã
depois da morte daqueles dois líderes. O nome de “cristã” foi dado à igreja por
seus adversários (judeus e “gregos” da Antioquia) e foi mantido pelos adeptos
da nova doutrina. O apelido de “romana” foi dado pelos bispos para distingui-la
da “bizantina”}. 2) Somente o pontífice romano tem o direito de ser considerado
universal (católico). Em todo
concílio o seu legado está acima de todos os bispos. 3) O sumo pontífice não
está submetido a qualquer jurisdição {portanto, está livre do poder judicial do
Estado}. 4) O papa tem o direito de depor os imperadores e de livrar os súditos
do juramento de fidelidade prestado aos monarcas injustos {poder de ligar e
desligar supostamente atribuído a Pedro por Jesus}.
Gregório alicerçava-se na Doação de Constantino do ano 315, em que
este imperador reconhecia a superioridade do trono do papa em face do trono dos
reis, determinava que a igreja romana fosse venerada e reverenciada, subordinava
as igrejas de Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Jerusalém à igreja de
Roma e transferia a Silvestre, chamado de “papa universal”, todos os palácios,
províncias e distritos da Itália e das regiões do ocidente. Tal como os “Decretos
de Isidoro” e a lista de sucessão dos bispos de Roma desde Pedro até o século
III, o documento de doação também é
falso, forjado pelo papa e redigido em letras douradas por um diácono de nome
João. O imperador Oto III denunciou a falsidade documental (983 a 1002). Esta denúncia
foi confirmada em 1440 por um secretário pontifical e historiador de nome
Lorenzo Valla que provou a falsidade de inúmeros documentos inclusive a doação de Constantino sobre a qual se
baseava a supremacia do papa. Nesse falso documento o imperador Constantino
reconhecia em favor do papa o mais alto poder temporal e espiritual. Lorenzo provou ainda, a deturpação na Vulgata (versão
latina da Bíblia) ao compará-la com textos gregos mais antigos e a falsidade do
Credo dos Apóstolos jamais criado
pelos apóstolos. O laudo pericial sobre a falsidade da doação só foi publicado em 1519. Apesar desta constatação, a igreja
insistiu na legitimidade da doação até o século XIX, quando caiu no descrédito
geral. Para justificar as fraudes que pratica, a igreja invoca a lição de
Orígenes, teólogo cristão, sobre a mentira
econômica e pedagógica necessária ao plano divino e aos nobres objetivos. Daí
derivou a mentira piedosa para
esconder notícia má ou assunto inconveniente. A lição de Jesus Nazareno é
oposta: se permanecerdes na minha palavra
sereis meus verdadeiros discípulos,
conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
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