EUROPA (1000
a 1600). Continuação.
A obra do florentino Leonardo
da Vinci assinala o início do esplendor da chamada “renascença italiana” (1452 a 1519). Gênio incomparável,
Leonardo dedicou-se à arte e à ciência. Suas obras primas na pintura: Virgem
das Rochas, Última Ceia e Mona Lisa. O primeiro quadro brotou da sua paixão
pela ciência. O segundo provocou séria polêmica no final do século XX, com a
interpretação publicada no romance intitulado “O Código da Vinci”, de Dan
Brown, escritor estadunidense. No quadro pintado na parede do refeitório da igreja de
Santa Maria da Graça, em Milão, o apóstolo João é visto na ceia como sendo
Maria Madalena e também é identificado um símbolo de união íntima entre ela e
Jesus. No entanto, o que se vê na pintura é a tentativa de Leonardo, inspirado
nos evangelhos, reproduzir o clima emocional daquela reunião de Jesus com os
apóstolos. Evidente que as figuras saíram da imaginação do pintor, pois não
havia original a ser copiado e ele não presenciou um conclave ocorrido 1.420
anos antes do seu nascimento. A “Maria Madalena” na verdade é um adolescente
imberbe, o mais novo dos apóstolos. O terceiro quadro também tem sido alvo de
interpretações díspares, apesar do seu realismo e da sua inovadora técnica de
luz e sombra. Em que pese retratar com fidelidade a esposa do napolitano
Francesco Giocondo, aquela pintura manifesta a expressividade e a sensibilidade
do pintor: desperta em quem a contempla, a sensação de estar diante do gênero mulher
que transcende os limites do tempo e do espaço.
A escultura desvincula-se da
arquitetura da qual até então era auxiliar. Donatello foi o primeiro grande
mestre da escultura renascentista (1386 a 1466). Miguel Ângelo, além de pintor, foi
um dos maiores escultores de todos os tempos (1475 a 1564). Pintava cenas
trágicas universais. A sua maior realização como pintor foram os afrescos no
teto e nas paredes acima do altar da capela Sixtina no Vaticano. Na parede
atrás do altar, o mais impressionante dos seus quadros: Último Julgamento (Juízo Final), onde Jesus forte e robusto como Atlas,
condena a humanidade ali representada também por figuras musculosas. No túmulo
do papa Julio II, Miguel Ângelo esculpiu o Escravo
Acorrentado, representando o talento humano limitado pelos grilhões do
destino, e o Moisés, em que expressa
a ira do profeta diante da deslealdade dos filhos de Israel, estátua em que a
distorção anatômica transmite intensidade emocional. Essa mesma intensidade
nota-se também na Pietá, imagem de
Maria profundamente angustiada segurando no colo o seu filho morto. Aurora, mulher com a cabeça levantada
como ao despertar, e Noite, homem
forte que parece sucumbir ao peso da miséria humana, são duas notáveis esculturas
de Miguel para os túmulos dos Médici de Florença. Ao lado de Bramante e Rafael,
Miguel foi um dos arquitetos da igreja de São Pedro, em Roma, com suntuosas
pinturas e esculturas. Rafael está entre os grandes pintores da época (1483 a 1520). Das suas obras
emanam doçura e piedade, sem preocupações intelectuais e sem tormentos da alma.
Escola de Atenas e Madonna Sixtina estão entre os seus
melhores quadros. Tiziano, Giorgione e Tintoretto são os expoentes da pintura
veneziana (1477 a
1594). As suas obras refletem a atmosfera luxuosa e amorosa de Veneza.
A música profana se
desenvolve paralelamente à música sacra. Além do canto dos cultos religiosos,
os compositores voltam-se também para o canto popular e para a música
instrumental. Destarte, a música deixa de ser simples diversão ou mero auxílio
para o culto religioso e se torna uma arte independente. O mecenato (instituto
do patrocínio) tão importante para o desenvolvimento das outras artes, também o
foi para a música. Holanda e Borgonha foram os primeiros centros de cultura
musical profana. Posteriormente, a Itália os superou. O apuro técnico se
sobrepõe ao efeito artístico. Nesse período, amadurece o contraponto e nasce o
sistema harmônico moderno abrindo caminho para novas criações na pauta, na voz
e nos instrumentos.
As autoridades
eclesiásticas entendiam que o Estado (esta
palavra ainda não era usada e sim reino
e república) fora estabelecido por deus
como remédio para o pecado (todo poder
vem de deus) e que o homem devia ser fiel e obediente, ainda que o
governante fosse um tirano. Esse entendimento mudou no curso da Idade Média. O Estado passou a ser visto como produto
da natureza social do homem e que o governo pode ser um bem positivo quando a justiça for o princípio diretor. Os
teóricos medievais defendiam a unificação da Europa ocidental sob o governo
supremo do imperador ou do papa. Frederico (Barba Rubra) e Frederico II
consideravam-se sucessores dos imperadores da Roma imperial. Os governos locais
(reis e príncipes) ficariam sujeitos à jurisdição suprema. {A unificação da
Europa aconteceu no século XX, efetivamente, mas não sob a forma de império e
sim de confederação de Estados}. Dante Alighieri defendeu essa idéia em favor
do imperador. João de Salisbury e Tomás de Aquino a defenderam em favor do
papa. Nenhum desses teóricos acreditava no governo da maioria, salvo Marsílio
de Pádua, que defendeu a idéia democrática: o povo tinha o direito de eleger e
de depor o governante. Na opinião deste filósofo, um órgão representativo devia
legislar exclusivamente sobre a estrutura do governo mantendo os costumes na
sociedade civil. Esse órgão devia ser composto pelos melhores cidadãos, ou
seja, pelos mais qualificados do ponto de vista social, moral e intelectual.
Para Salisbury, os governados tinham o direito de matar o tirano. Ao governante
cabia aplicar a lei e não elaborá-la ou modificá-la segundo a sua vontade. A
lei era ditada pelo costume ou pela natureza (ordem divina); se ditada pelo governante,
carecia de legitimidade.
Tomás segue a lição de Jesus e de Paulo: todo poder vem de deus. A fonte de todo
bem é deus. A razão de ser e a
finalidade do poder político é a realização do bem comum que se resume na ordem e na justiça. O rei é servo da
justiça que tem na lei ou no direito a sua forma concreta. Ao povo cabe o
direito de depor – e não de matar – o monarca que se desvia do bem comum. A lei eterna brota da razão divina, fundamento
das demais leis. A lei eterna está impressa na mente humana e dela emana a lei natural que comanda os atos dos
homens e os dirige aos seus fins, capacitando-os a distinguir o bem e o mal, a
não causar dano ao próximo e a servir-se da sua natureza racional na vida em
sociedade. Da lei natural provém lei
humana (positiva) elaborada pelos homens visando aos seus fins específicos
e que está sujeita às mutações sociais. Essa lei é precipuamente o costume, expressão do modus vivendi da comunidade humana, ordenação
da razão com vistas ao bem comum. A lei revelada
(positiva divina) provém das escrituras sagradas e não pode ser explicada pela
razão humana. Na opinião de Tomás, a monarquia é a melhor forma de governo,
posto ser “mais vantajoso viver sob o
governo de um só rei do que sob o governo de muitos”. Fora da igreja, o
tomismo foi menos influente. Prevaleceram o direito romano e o pensamento
aristotélico favorecendo o nacionalismo e fortalecendo o rei diante do senhor
feudal, do imperador e do papa.
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