sexta-feira, 23 de maio de 2014

FILOSOFIA XII - 8



EUROPA (1000 a 1600). Continuação.

A autoria do livro “Jesus, Moisés e Maomé, os três grandes impostores” é atribuída ao imperador Frederico II. Ele negava a imortalidade da alma. Fechou um homem em tonel de vinho para provar que a alma morre com o corpo. Admirador da cultura muçulmana, Frederico trouxe notáveis eruditos para Palermo a fim de verterem para o latim as obras dos sarracenos. Fundou a Universidade de Nápoles e apoiou a arte médica. Ele introduziu a cultura pagã nos seus domínios com o propósito de minar o poder da igreja. Por este viés, contribuiu para o despertar da civilização renascentista.
Francesco Petrarca foi o grande vulto literário da época (1304 a 1374). Serviu-se do dialeto toscano, ligava-se ao espírito medieval e às vezes curtia um ascetismo monacal. Deixou-se influenciar pelos clássicos gregos e latinos. Escreveu sonetos à Laura, sua amada, no tom cavalheiresco dos trovadores medievais. O florentino Giovanni Boccaccio também se destacou na literatura italiana renascentista (1313 a 1375). Morava em Nápoles quando se apaixonou pela bela esposa de um napolitano. Esse amor inspirou os seus poemas e romances. Ao retornar a Florença, escreve a sua obra mais conhecida: Decameron, uma coleção de histórias contadas por sete moças e três moços que gastam o tempo enquanto se protegem da peste negra numa vila do interior. A nota comum das narrativas é anticlerical e hedonista. Essa obra torna-se modelar para a prosa italiana e influiu nos escritores estrangeiros.
No século XV, o latim volta a ocupar lugar de destaque e os estudos gregos se intensificam. O italiano de Dante e Boccaccio é visto como a língua grosseira de padeiros e açougueiros. Houve reação ao latinório. O poeta e filósofo Lorenzo de Médici compôs canções de carnaval, escreveu poemas, versos idílicos, sonetos e peças litúrgicas (1449 a 1492). Em suas obras há hedonismo e bucolismo em estilo delicado. Ângelo Poliziano escreve Orfeu, a história de amor entre Orfeu e Eurídice, baseada na mitologia clássica (1454 a 1494). Traduziu a obra de Homero. Serve-se da língua nacional e assinala o fim do predomínio do latim na Itália. Isto possibilitou o acesso de pessoas do povo à produção intelectual. O latim se mantém como língua erudita. Nos versos épicos, a glória coube a Ludovico Ariosto (1474 a 1533). A sua obra magna foi o poema Orlando Furioso. Outro destacado poeta épico italiano foi Torquato Tasso (1544 a 1595). Jerusalém foi o tema das principais obras desse poeta: “Gerusalemme Liberata” e “Gerusalemme Conquistata”. Na Alemanha, grassa o humanismo na incipiente literatura. Ulrich von Hutten e Crotus Rubianus são os seus mais notáveis representantes (1480 a 1539). Os seus textos deploram o mundanismo do clero e contêm criticas severas e injuriosas dirigidas aos inimigos da Alemanha. A obra mais famosa desses dois escritores intitula-se Cartas dos Homens Obscuros, coleção de sátiras mordazes que ridicularizam a inquisição católica no caso de um homem que criticou interpretações do Antigo Testamento e se colocou ao lado dos judeus.
Os dramaturgos de destaque na Espanha desse período foram Lope de Vega (1562 a 1635) e Tirso de Molina (1571 a 1648). Além das peças de cunho religioso, Vega escreveu peças “de capa e espada” sobre as intrigas e as questões de honra da alta classe social e peças que celebram a gloria da Espanha e apresentam o rei como protetor do povo. Tirso deve sua fama principalmente ao drama de Don Juan, nobre perverso, misto de bravura e vilania. Na literatura espanhola, a taça foi conquistada por Miguel de Cervantes, autor de Don Quixote, a mundialmente famosa sátira do feudalismo (1547 a 1616). Na aventura cavalheiresca cavalgam o homem idealista e sonhador (Quixote, o cavaleiro errante) e o homem prático e vigilante (Sancho Pança, o fiel escudeiro). O cavaleiro montado e armado de espada enfrenta gigantes enfurecidos (moinhos de vento) e exércitos de infiéis (rebanho de ovelhas), entra em castelos onde damas se apaixonam por ele (estalagens e serviçais), mas que ele polidamente rejeita por devoção e fidelidade a sua amada Dulcinéia (mulher idealizada). Na literatura portuguesa, Luis Vaz de Camões foi o grande nome, poeta lírico e épico, que viveu reais aventuras no império colonial português (1524 a 1580). No seu mais famoso livro intitulado “Os Lusíadas”, ele cantou com patriotismo e erudição a glória e o pioneirismo de Portugal na conquista dos mares.
Na literatura inglesa nota-se individualismo, orgulho nacional e interesse por temas filosóficos. Destacam-se: “As Histórias de Canterbury” de Chaucer, romance mundano que manifesta desprezo por tudo que é místico e “The Faërie Queen”, de Edmond Spencer, poema épico que canta a grandeza da Inglaterra no reinado de Elizabeth. Na dramaturgia inglesa desse período destacaram-se: Christopher Marlowe e William Shakespeare. O primeiro sintetiza o egoísmo vigente, a ânsia por uma vida plena, por um conhecimento e uma experiência sem limites. Esse autor teve uma vida tempestuosa e perdeu a vida antes dos trinta anos de idade ao brigar no interior de uma taverna. Escreveu “Doutor Fausto”, com base na lenda sobre o indivíduo que vende a alma ao diabo em troca de usufruir todas as possíveis sensações, experimentar todos os possíveis triunfos e conhecer todos os mistérios do universo. Shakespeare supostamente escreveu peças para teatro, sonetos e poemas que revelam o apreço do autor pelas relações humanas (1564 a 1616). Entre as suas obras mais famosas estão as comédias: “O Sonho de uma Noite de Verão” e “O Mercador de Veneza”; as tragédias: “Romeu e Julieta”, “Hamlet”, “Macbeth” e “Rei Lear”; e os romances idílicos: “Conto de Inverno” e “A Tempestade”. Há notícia de que William Shakespeare existiu, porém lia e escrevia muito mal, como a maioria do povo. Para produzir aquelas obras faltava-lhe cultura, vivência na corte e nas altas esferas, conhecimento das principais cidades do continente europeu e respectivos costumes. Ator de teatro popular, biscateiro e aventureiro, Shakespeare era um doidivanas que aceitou emprestar seu nome a obra alheia mediante paga em dinheiro. Todas as obras em seu nome foram escritas por um nobre inglês que exigia anonimato em virtude da sua posição na corte britânica e de ser um dos amantes da rainha Elizabeth.      
Cimabue e seu discípulo Giotto são os responsáveis pela pintura como arte independente (1200 a 1400). O discípulo superou o mestre. Naturalista, hábil em reproduzir a vida e o movimento em seus quadros, Giotto tem entre as suas melhores obras os afrescos São Francisco Pregando aos Pássaros e O Massacre dos Inocentes. Sobreveio a moda de retratar pessoas para revelar os mistérios da alma e também pintar para o simples deleite do olhar (cores e formas). Nesta época, entra a técnica de pintar a óleo. Esta técnica permite ao pintor se deter mais nos detalhes (o óleo demora mais do que a água para secar). Masaccio, Fra Lippo Lippi e Sandro Botticelli foram os grandes nomes da pintura nesse período (1400 a 1500). Homens e mulheres comuns serviam de modelo para a pintura de santos e madonas. Deu-se ênfase ao tratamento psicológico. Botticelli sofreu influência do neoplatonismo e sonhava com a reconciliação entre o pensamento cristão e o pensamento pagão. Daí o toque melancólico e místico de alguns rostos por ele pintados.
A pintura a óleo também se desenvolveu nos países baixos sem influência clássica (Holanda, Flandres). Os seus expoentes foram Hubert e Jan van Eyck, Hans Memling e Roger van der Weyden. Na Alemanha, os grandes nomes da pintura e da gravura foram: Albrecht Durer e Hans Holbein (1471 a 1543). Na Espanha, submissa à igreja católica, envolvida com descobertas e explorações ultramarinas e na luta contra os mouros, a pintura refletiu esse estado de coisas (1517 a 1614). O seu expoente foi um cretense de nome Domenico Theotocopuli, conhecido como El Greco. Este pintor utilizava um clima de horror, sofrimento e morte nas suas pinturas. Entre os seus quadros destacam-se: O Enterro do Conde de Orgaz, Pentecostes, A Visão Apocalíptica.

Nenhum comentário: