EUROPA (1000
a 1600). Continuação.
A autoria do livro “Jesus, Moisés e Maomé, os três grandes
impostores” é atribuída ao imperador Frederico II. Ele negava a
imortalidade da alma. Fechou um homem em tonel de vinho para provar que a alma
morre com o corpo. Admirador da cultura muçulmana, Frederico trouxe notáveis
eruditos para Palermo a fim de verterem para o latim as obras dos sarracenos.
Fundou a Universidade de Nápoles e apoiou a arte médica. Ele introduziu a
cultura pagã nos seus domínios com o propósito de minar o poder da igreja. Por
este viés, contribuiu para o despertar da civilização renascentista.
Francesco Petrarca foi o
grande vulto literário da época (1304
a 1374). Serviu-se do dialeto toscano, ligava-se ao
espírito medieval e às vezes curtia um ascetismo monacal. Deixou-se influenciar
pelos clássicos gregos e latinos. Escreveu sonetos à Laura, sua amada, no tom
cavalheiresco dos trovadores medievais. O florentino Giovanni Boccaccio também
se destacou na literatura italiana renascentista (1313 a 1375). Morava em
Nápoles quando se apaixonou pela bela esposa de um napolitano. Esse amor
inspirou os seus poemas e romances. Ao retornar a Florença, escreve a sua obra
mais conhecida: Decameron, uma
coleção de histórias contadas por sete moças e três moços que gastam o tempo
enquanto se protegem da peste negra
numa vila do interior. A nota comum das narrativas é anticlerical e hedonista.
Essa obra torna-se modelar para a prosa italiana e influiu nos escritores
estrangeiros.
No século XV, o latim
volta a ocupar lugar de destaque e os estudos gregos se intensificam. O
italiano de Dante e Boccaccio é visto como a língua grosseira de padeiros e
açougueiros. Houve reação ao latinório.
O poeta e filósofo Lorenzo de Médici compôs canções de carnaval, escreveu poemas,
versos idílicos, sonetos e peças litúrgicas (1449 a 1492). Em suas obras
há hedonismo e bucolismo em estilo delicado. Ângelo Poliziano escreve Orfeu, a
história de amor entre Orfeu e Eurídice, baseada na mitologia clássica (1454 a 1494). Traduziu a obra
de Homero. Serve-se da língua nacional e assinala o fim do predomínio do latim
na Itália. Isto possibilitou o acesso de pessoas do povo à produção
intelectual. O latim se mantém como língua erudita. Nos versos épicos, a glória
coube a Ludovico Ariosto (1474
a 1533). A sua obra magna foi o poema Orlando Furioso. Outro destacado poeta
épico italiano foi Torquato Tasso (1544 a 1595). Jerusalém foi o tema das
principais obras desse poeta: “Gerusalemme Liberata” e “Gerusalemme
Conquistata”. Na Alemanha, grassa o humanismo na incipiente literatura. Ulrich
von Hutten e Crotus Rubianus são os seus mais notáveis representantes (1480 a 1539). Os seus textos
deploram o mundanismo do clero e contêm criticas severas e injuriosas dirigidas
aos inimigos da Alemanha. A obra mais famosa desses dois escritores intitula-se
Cartas dos Homens Obscuros, coleção
de sátiras mordazes que ridicularizam a inquisição católica no caso de um homem
que criticou interpretações do Antigo Testamento e se colocou ao lado dos
judeus.
Os dramaturgos de destaque
na Espanha desse período foram Lope de Vega (1562 a 1635) e Tirso de
Molina (1571 a
1648). Além das peças de cunho religioso, Vega escreveu peças “de capa e
espada” sobre as intrigas e as questões de honra da alta classe social e peças
que celebram a gloria da Espanha e apresentam o rei como protetor do povo.
Tirso deve sua fama principalmente ao drama de Don Juan, nobre perverso, misto de bravura e vilania. Na literatura
espanhola, a taça foi conquistada por Miguel de Cervantes, autor de Don Quixote, a mundialmente famosa
sátira do feudalismo (1547 a
1616). Na aventura cavalheiresca cavalgam o homem idealista e sonhador
(Quixote, o cavaleiro errante) e o homem prático e vigilante (Sancho Pança, o
fiel escudeiro). O cavaleiro montado e armado de espada enfrenta gigantes
enfurecidos (moinhos de vento) e exércitos de infiéis (rebanho de ovelhas),
entra em castelos onde damas se apaixonam por ele (estalagens e serviçais), mas
que ele polidamente rejeita por devoção e fidelidade a sua amada Dulcinéia
(mulher idealizada). Na literatura portuguesa, Luis Vaz de Camões foi o grande
nome, poeta lírico e épico, que viveu reais aventuras no império colonial
português (1524 a
1580). No seu mais famoso livro intitulado “Os Lusíadas”, ele cantou com patriotismo
e erudição a glória e o pioneirismo de Portugal na conquista dos mares.
Na literatura inglesa
nota-se individualismo, orgulho nacional e interesse por temas filosóficos.
Destacam-se: “As Histórias de Canterbury” de Chaucer, romance mundano que manifesta
desprezo por tudo que é místico e “The Faërie Queen”, de Edmond Spencer, poema
épico que canta a grandeza da Inglaterra no reinado de Elizabeth. Na
dramaturgia inglesa desse período destacaram-se: Christopher Marlowe e William
Shakespeare. O primeiro sintetiza o egoísmo vigente, a ânsia por uma vida
plena, por um conhecimento e uma experiência sem limites. Esse autor teve uma
vida tempestuosa e perdeu a vida antes dos trinta anos de idade ao brigar no
interior de uma taverna. Escreveu “Doutor Fausto”, com base na lenda sobre o
indivíduo que vende a alma ao diabo em troca de usufruir todas as possíveis
sensações, experimentar todos os possíveis triunfos e conhecer todos os
mistérios do universo. Shakespeare supostamente escreveu peças para teatro, sonetos
e poemas que revelam o apreço do autor pelas relações humanas (1564 a 1616). Entre as suas
obras mais famosas estão as comédias: “O Sonho de uma Noite de Verão” e “O
Mercador de Veneza”; as tragédias: “Romeu e Julieta”, “Hamlet”, “Macbeth” e
“Rei Lear”; e os romances idílicos: “Conto de Inverno” e “A Tempestade”. Há
notícia de que William Shakespeare existiu, porém lia e escrevia muito mal,
como a maioria do povo. Para produzir aquelas obras faltava-lhe cultura,
vivência na corte e nas altas esferas, conhecimento das principais cidades do
continente europeu e respectivos costumes. Ator de teatro popular, biscateiro e
aventureiro, Shakespeare era um doidivanas que aceitou emprestar seu nome a
obra alheia mediante paga em
dinheiro. Todas as obras em seu nome foram escritas por um
nobre inglês que exigia anonimato em virtude da sua posição na corte britânica
e de ser um dos amantes da rainha Elizabeth.
Cimabue e seu discípulo
Giotto são os responsáveis pela pintura como arte independente (1200 a 1400). O discípulo
superou o mestre. Naturalista, hábil em reproduzir a vida e o movimento em seus
quadros, Giotto tem entre as suas melhores obras os afrescos São Francisco Pregando aos Pássaros e O Massacre dos Inocentes. Sobreveio a
moda de retratar pessoas para revelar os mistérios da alma e também pintar para
o simples deleite do olhar (cores e formas). Nesta época, entra a técnica de
pintar a óleo. Esta técnica permite ao pintor se deter mais nos detalhes (o
óleo demora mais do que a água para secar). Masaccio, Fra Lippo Lippi e Sandro
Botticelli foram os grandes nomes da pintura nesse período (1400 a 1500). Homens e
mulheres comuns serviam de modelo para a pintura de santos e madonas. Deu-se
ênfase ao tratamento psicológico. Botticelli sofreu influência do neoplatonismo
e sonhava com a reconciliação entre o pensamento cristão e o pensamento pagão.
Daí o toque melancólico e místico de alguns rostos por ele pintados.
A pintura a óleo também se
desenvolveu nos países baixos sem influência clássica (Holanda, Flandres). Os
seus expoentes foram Hubert e Jan van Eyck, Hans Memling e Roger van der
Weyden. Na Alemanha, os grandes nomes da pintura e da gravura foram: Albrecht
Durer e Hans Holbein (1471 a
1543). Na Espanha, submissa à igreja católica, envolvida com descobertas e
explorações ultramarinas e na luta contra os mouros, a pintura refletiu esse
estado de coisas (1517 a
1614). O seu expoente foi um cretense de nome Domenico Theotocopuli, conhecido
como El Greco. Este pintor utilizava um clima de horror, sofrimento e morte nas
suas pinturas. Entre os seus quadros destacam-se: O Enterro do Conde de Orgaz, Pentecostes,
A Visão Apocalíptica.
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