quarta-feira, 21 de maio de 2014

FILOSOFIA XII - 7



EUROPA (1000 a 1600). Continuação.

Na Idade Média, incluindo a renascença, houve produção científica sob o título de filosofia natural. O termo “ciência” aplicado ao estudo lógico, matemático e sistemático da natureza, com linguagem, definições, classificações e método próprios, somente veio a lume no século XIX (1801 a 1900). A Itália foi o centro da atividade científica (filosofia natural) a partir do século XV (1401 a 1500). Astronomia, matemática, física e medicina experimentaram avanços. Adelardo de Bath (1101 a 1200) dedicou-se ao estudo da natureza, afirmou a indestrutibilidade da matéria, investigou as causas dos terremotos, descobriu a função de algumas partes do cérebro e o processo da respiração e da digestão. Rejeitava argumentos de autoridade. Rogério Bacon (1201 a 1300), a quem é atribuída a invenção do microscópio, previu a invenção do carro sem cavalos e da máquina voadora, valorizou a experimentação como veículo da certeza do conhecimento, investigou fatos relacionados com as lentes óticas e recomendou a revisão do calendário Juliano.
A técnica de dissecção para estudos anatômicos foi introduzida na Universidade de Bolonha pelo médico Mundinus (1301 a 1400). O corpo humano foi descrito minuciosamente por Vesálio graças à técnica da dissecção. Os ovidutos humanos (trompas) foram descobertos por Falópio. A anatomia dos dentes e o tubo que liga o ouvido médio à garganta são descritos por Eustáquio. Leonardo da Vinci (1452 a 1519) faz progredir os conhecimentos sobre hidráulica e hidrostática. Ele expõe a lei da gravitação em sua forma elementar: todo peso tende a cair para o centro pelo caminho mais curto. Leonardo projeta barco submarino, máquina a vapor, carro de guerra encouraçado, máquina de voar (helicóptero), serra de cortar mármore, além de inúmeras invenções. O polonês Nicolau Copérnico provou mediante cálculos matemáticos que o sol é o centro do sistema planetário. Confirmou a teoria heliocêntrica de Aristarco e afastou a teoria geocêntrica de Ptolomeu. William Gilbert publica o seu trabalho sobre magnetismo. Considerou a Terra um grande imã (1600). Logo depois, Christian Huygens publica a sua teoria ondulatória da luz. William Harvey completou a descoberta de Miguel Servet sobre a circulação do sangue. Ao afastar as concepções alquímicas, Robert Boyle provoca o retorno à teoria atômica de Demócrito (1661).
Giordano Bruno, napolitano, filósofo natural, teólogo, astrônomo, frade dominicano, encampou a teoria heliocêntrica e foi muito além nos seus estudos e pesquisas (1548 a 1600). As suas idéias incomodavam a igreja. Bruno abandonou o clero. Escreveu inúmeros livros de ciência e misticismo. Ele defendia a existência de outros planetas e de vida inteligente fora do sistema solar. Na opinião dele, deus é o criador do universo e imanente ao universo. O espaço é infinito. Tudo está provido de espírito, desde os corpos maiores até os minúsculos. Tudo no universo tem vida e alma. A divindade está no interior de cada ser. Há poderes humanos extraordinários. Bruno antecipou as idéias de relatividade e evolução. Dizia que no universo infinito a perspectiva de qualquer objeto é sempre relativa à posição do observador; há um número infinito de referenciais possíveis e nenhum ocupa posição privilegiada em relação aos demais. Bruno se filiou ao hermetismo, à magia e à adivinhação. Acreditava na metempsicose e na transmigração da alma humana para animais irracionais. A igreja pretendia prender e julgar o ex-frade. Acusava-o de opiniões contrárias à fé católica e às escrituras sagradas, de negar a santíssima trindade, a divindade de Jesus, a virgindade de Maria, a transubstanciação e a santa missa. Certo homem, católico e rico, encontrou Bruno em Frankfurt e o atraiu a Veneza sob o pretexto de aprender o funcionamento da memória humana. Quando Bruno se dispunha a retornar à Alemanha, o “amigo” prende-o num quarto e o entrega à igreja. Julgado e condenado por heresia pelo tribunal da inquisição de Roma, Bruno foi queimado na fogueira. “Talvez, sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la”, teria dito Bruno aos juizes do tribunal eclesiástico.      
Galileu Galilei, nascido em Pisa, professor, matemático, inventor, filósofo natural, astrônomo, iniciador da Física moderna, defendeu a supremacia da experiência diante da autoridade dos grandes mestres (1564 a 1642). A observação direta do mundo por navegadores e mercadores vale mais do que a argumentação dos doutos sobre aquilo que não viram, dizia. Galileu utilizou o telescópio por ele aperfeiçoado, confirmou a teoria de Copérnico, descobriu os satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e as manchas solares. Entre outros livros, escreveu: “Mensageiro Celeste”, “Diálogo sobre os Dois Maiores Sistemas” e “Discurso sobre Duas Novas Ciências”. Este cientista mostrou a importância da matemática no estudo da realidade física, realçando a assertiva de Copérnico de que o movimento da Terra era verdadeiro porque a matemática o exige. Galileu abordou as leis do movimento dos corpos (todos os corpos têm peso; no vácuo todos os corpos caem com igual velocidade) e realizou memorável experiência na torre inclinada de Pisa sobre a queda dos corpos fora do vácuo (a bola caída verticalmente da torre ficará próxima do lado oeste, porque a Terra em rotação mover-se-á rumo ao oeste durante a descida da bola). {Didi, gênio do futebol brasileiro, parecia conhecer esta lei natural ao inventar a “folha seca”, descaimento da bola após um chute mágico}. Galileu ampliou a noção gravitacional ao afirmar: a força que faz a Terra atrair os corpos é a mesma que prende a Lua a Terra e que prende os satélites a Júpiter. {Cinqüenta anos depois, a lei da gravitação universal é formulada por Isaac Newton}. Galileu se defende do ataque ao seu trabalho científico em longa carta dirigida ao bispo Dom Virginio Cesarini. Essa carta recebeu o título de “O Ensaiador”. Julgado e condenado por heresia no tribunal católico da inquisição, Galileu abjurou suas teses sobre o movimento da Terra em particular. Ao fazê-lo, escapou de morrer na fogueira. Diz a lenda, que ao sair do tribunal, Galileu teria teimosamente murmurado: “no entanto, ela se move”.
Na astronomia, Tycho Brahe estuda os movimentos planetários. Seu discípulo Johannes Kepler prova a órbita elíptica – e não circular como se supunha – dos planetas em torno do sol (1571 a 1630). Demonstra que área traçada num determinado tempo por um raio que une o sol a um planeta é sempre a mesma para esse planeta; a razão entre o quadrado do período de revolução e o cubo da distância média em relação ao sol é a mesma para todos os planetas. O seu trabalho também contribuiu para a formulação da lei gravitacional por Newton. Outro cientista alemão desse período foi Theophrastus von Hohenheim, conhecido como Paracelso, professor de medicina na Universidade da Basiléia. Ele recorria diretamente à experiência para conhecer as moléstias e respectivas curas sem dar muita atenção aos ensinamentos das autoridades nessa área. Alquimista, ele afirmava existir estreita relação entre química e medicina e negava que a procura da pedra filosofal fosse tarefa do químico.

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