segunda-feira, 21 de abril de 2014

FILOSOFIA XI - A



ARÁBIA (600 a 1200). Continuação.

O islamismo representou para a civilização sarracena o que o cristianismo representou para a civilização européia: fator de coesão social e unidade espiritual gerador de uma nova cultura política e religiosa. Em Meca, encontra-se o relicário conhecido como Caaba, que contém uma pedra sagrada de cor preta caída do céu {“enviada milagrosamente”, na versão religiosa e supersticiosa}. Lá nasceu Mohammed, o fundador do Islã (570). Aos vinte e quatro anos de idade, solteiro, pobre, analfabeto {como a maioria da população daquela época}, Mohammed tornou-se empregado de uma rica viúva e acompanhava as caravanas. Ele caiu nas graças da patroa e se casou com ela. {Hoje, no Brasil, diríamos que ele aplicou o golpe do baú}.
Conforto e segurança obtidos, o esperto Mohammed – Maomé para os ocidentais – aos 40 anos de idade, aproximadamente, diz ouvir vozes vindas do céu (de Alá e do arcanjo Gabriel). Ele censura a cupidez dos aristocratas, as lutas sanguinárias entre os árabes e a prática do infanticídio. Convence a si próprio, a sua esposa, os seus filhos, familiares e amigos de que foi enviado por deus (Alá) para salvar os humanos da perdição e lhes abrir as portas do paraíso. Reuniu poucos adeptos no primeiro decêndio da sua pregação. Com 52 anos de idade e acompanhado do seu pequeno grupo (70 pessoas) Maomé partiu de Meca para Yatrib a fim de ser aceito como profeta e líder pacificador na discórdia que reinava nesta cidade (622).
Essa migração ficou conhecida como Hégira, que significa fuga e lembra o suposto êxodo dos hebreus como significado histórico e religioso. Maomé absorveu preceitos e histórias difundidos por judeus e cristãos em cidades do norte da Arábia. De modo hábil e inteligente, ele os fundiu em uma doutrina simples e palatável: Não há outro deus além de Alá; os ricos devem ajudar os pobres; todos serão julgados depois da morte. Ele mudou o nome da cidade de Yatrib para Medina, a “cidade do profeta”, e a governou. Declarou guerra santa aos inimigos da nova religião (Jihad). Convocou os beduínos e deles obteve apoio. Matou judeus opositores e assaltou caravanas dos mercadores de Meca. Estes pegaram em armas para resistir aos ataques dos maometanos, porém foram derrotados. Maomé triunfa sobre Meca – cidade que lhe negara crédito e o rejeitara como profeta – mata seus principais inimigos, destrói os ídolos do templo, preserva a Caaba e consagra a cidade.
A velocidade da expansão da nova religião, após um início lento, deve-se principalmente à sua simplicidade: não há sacramentos, nem sacerdotes e as prescrições a que se deve obediência estão contidas no livro sagrado Qur´an (Corão). O crente é conhecido e tratado como muçulmano. A nova religião não conquistou apenas corações e mentes, mas também territórios e nações. Os árabes formaram um império com a fé islâmica e a bravura dos beduínos. A crença é monoteísta e o deus conserva o nome antigo de Alá. O mote repetido como oração ou mantra reflete a simplicidade do culto: Alá é grande e Maomé o seu profeta. Ao contrário da igreja cristã, que confundiu profeta e divindade numa artificiosa trindade, o Islã fixou desde logo a distinção entre deus e o profeta. A palavra de Alá, que o profeta diz ter ouvido, consta do Corão (Qur´an), livro escrito pelos escribas. Os ensinamentos, ações e decisões do profeta foram reunidos na Sunna. Os comentários e a exegese dessas duas fontes (Corão + Sunna) orientam a vida dos fiéis, da sociedade e do estado islâmico.
Segundo a doutrina maometana, a piedade não está em voltar o rosto para o nascente ou para o poente e sim em crer em deus, no juízo final, nos anjos (especialmente em Gabriel, o anjo da revelação), nas escrituras sagradas (Corão em primeiro lugar e depois a Bíblia) e nos profetas (Maomé em primeiro lugar e depois os bíblicos). Considera-se piedoso aquele que, por amor a deus, aplica a sua fortuna em favor dos parentes, dos órfãos, dos necessitados, do viandante e do mendigo. Meritório é libertar o cativo, alimentar num dia de fome o órfão de sua raça ou o miserável que jaz no chão. Mais vale perante deus a conduta efetiva do homem do que as circunstâncias do seu nascimento ou da riqueza pessoal. A vontade desse deus manifestada através do profeta é a de que os homens mantenham o coração puro, sejam bondosos uns com os outros, honestos, capazes de perdoar. São deveres dos crentes: (1) dar esmola ao pobre; (2) abandonar o infanticídio, o duelo, a ingestão de carne de porco e de bebidas tóxicas; (3) rezar cinco vezes ao dia; (4) jejuar durante o dia (do nascer ao por do sol) no sagrado mês de Ramadã; (5) peregrinar à Meca uma vez na vida, pelo menos; (6) lutar contra os infiéis para preservar o Islã.

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