Amiga residente em Campinas, valendo-se da rede de
computadores, repassa artigo do jornalista Alexandre Garcia sobre o golpe de
1964, que ora comento.
Decorreram 50 anos! O golpe se consumou em 1º de abril,
dia da mentira, quando os militares tomaram o poder. Para evitar zombaria, os
golpistas resolveram fixar a data em 31 de março. O jornalista se equivoca
quando diz que não há heróis na guerra. Há combatentes de ambos os lados que se
destacam dos companheiros pela coragem em situações de excepcional perigo;
homens e mulheres que perdem a vida ou se arriscam a perdê-la por um ideal, por
um mundo melhor, por liberdade, por independência, por amor à pátria. Há heróis
brasileiros e heróis paraguaios. Há heróis franceses e heróis alemães. Há heróis conhecidos e heróis desconhecidos. Quiçá
por disposição genética, o homem do tipo covarde é incapaz de heroísmo. Daí a incapacidade
da sua mente de perceber a existência de heróis. Atos heróicos na guerra se lhe
afiguram impossíveis.
Quanto aos militares, cujos coturnos o jornalista lustra
com sua língua, convém trazer o testemunho da história. As forças armadas que
merecem o nosso respeito são aquelas que: (I) no período de 1851 a 1872 defenderam a
pátria sucessivamente contra os governos hostis do Uruguai, da Argentina e do
Paraguai; (II) na segunda guerra mundial lutaram na Itália cooperando com as
nações aliadas em defesa da democracia; (III) em 1945, no Brasil, apoiaram a
transição da autocracia para a democracia; (IV) em 1955, lutaram para assegurar
a posse e o mandato de Juscelino Kubitschek, eleito presidente da república
pelo voto popular; (V) a partir de 1988, garantem os poderes constitucionais, a
lei, a ordem e a integridade do território nacional.
As forças armadas que merecem o nosso repúdio são aquelas que: (I) derrubaram os governos legítimos de Pedro II, em 1889 e de João Goulart, em 1964; (II) permaneceram no governo a partir de 1968 até 1985, instaurando um período tenebroso no qual não estavam a serviço dos brasileiros e sim do governo dos EUA e das empresas multinacionais. Isto impediu que a nação brasileira assumisse posição livre e soberana frente ao problema da guerra fria entre EUA e URSS. O governo brasileiro atuou como vira-lata submisso, sem dignidade, incapaz de tomar decisões sem o aval do governo estadunidense.
As forças armadas que merecem o nosso repúdio são aquelas que: (I) derrubaram os governos legítimos de Pedro II, em 1889 e de João Goulart, em 1964; (II) permaneceram no governo a partir de 1968 até 1985, instaurando um período tenebroso no qual não estavam a serviço dos brasileiros e sim do governo dos EUA e das empresas multinacionais. Isto impediu que a nação brasileira assumisse posição livre e soberana frente ao problema da guerra fria entre EUA e URSS. O governo brasileiro atuou como vira-lata submisso, sem dignidade, incapaz de tomar decisões sem o aval do governo estadunidense.
Em agosto de 1961, os perdedores do pleito eleitoral
viram na renúncia do presidente Jânio Quadros a oportunidade para o golpe de
estado. Nos termos da Constituição, João Goulart (JG), vice-presidente da
república, devia assumir o governo. Oposição civil e militar taxou-o de
comunista, embora isto não se afinasse com o seu status de latifundiário
no rincão gaúcho. Homem rico, bem educado e cordial, JG estava mais para
populista do que para comunista. Lideranças civis e militares, instigadas por
agentes do governo dos EUA, resistiam à posse de JG na presidência da
república. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná se uniram em favor da
legalidade. São Paulo, Guanabara e Minas Gerais se uniram em favor do
rompimento da legalidade. A fim de apaziguar os ânimos e evitar guerra
intestina, o Congresso Nacional implantou o parlamentarismo (1961). A chefia de
estado coube ao presidente JG. A chefia de governo coube ao gabinete de
ministros. O parlamentarismo durou dois anos e três gabinetes (Tancredo Neves,
Brochado da Rocha e Hermes Lima).
A nação estava inquieta desde a renúncia de Jânio.
Trabalhadores rurais, organizados em ligas camponesas distribuídas por
vários estados, enfrentaram a força pública e a resistência dos fazendeiros.
Pleiteavam reforma agrária, lei trabalhista própria e direito à livre
organização. Desse pleito coletivo resultou o Estatuto do Trabalhador Rural,
que incluía o direito de organizar sindicatos rurais (1963). Consultado
mediante referendo, o eleitor brasileiro rejeitou o parlamentarismo. Restabelecido
o presidencialismo, JG lança o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e
Social, elaborado sob a direção de Celso Furtado, visando ao crescimento da
economia com decréscimo da inflação. O Congresso Nacional resistiu ao plano a
fim de não aumentar o prestígio do presidente e do seu partido (PTB). JG,
então, aproxima-se das organizações sociais de esquerda que pleiteavam nova
Constituição. A direita oposicionista reagiu. O Instituto Brasileiro de Ação
Democrática, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais e os governos de São
Paulo, Guanabara e Minas Gerais recebem ajuda dos EUA para derrubar o governo
Goulart. O governo daquele país discordava das medidas nacionalistas tomadas
por JG (restrição à remessa de lucros, nacionalização das empresas de
comunicação social, revisão das concessões para exploração de minas) e
suspendeu a ajuda que prestava ao Brasil. Isto repercutiu na balança comercial.
Houve aumento do custo de vida e da dívida pública. A inflação chegou a 74%.
(1963).
As camadas média e alta da sociedade brasileira foram
arregimentadas pelos oposicionistas para manifestação de rua contra o comunismo
apelidada de Marcha da Família com Deus pela Liberdade, amplamente
apoiada pela Igreja Católica, pela Grande Imprensa, pelo PSD e pela UDN (1964).
Os organizadores da espetacular passeata associaram maliciosamente o governo
federal ao comunismo. Exploraram a fé dos católicos, ludibriando-os. Pintaram o
grupo de comunistas como se fosse um exército diabólico pronto a tirar a vida,
a liberdade e os bens dos brasileiros. Os comunistas eram descritos como
antropófagos que tinham o hábito de comer criancinhas. JG foi acusado de
pretender bolchevizar ou cubanizar o país e instituir uma
república sindicalista. A direita conservadora e golpista utilizou o comunismo
como argumento para justificar o golpe de estado. Em defesa do governo
constitucional de JG, dissidentes do PSD e da UDN (democratas,
liberais) uniram-se a parlamentares do PTB e do PSB e formaram a Frente
Parlamentar Nacionalista com apoio da União Nacional dos Estudantes e da
Confederação Geral dos Trabalhadores.
No comício de 13 de março de 1964, que reuniu centenas
de milhares de pessoas nas imediações da estação da Estrada de Ferro Central do
Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, JG lançou o programa das reformas de base
(rural, urbana, encampação de refinarias, direito de voto aos analfabetos,
delegação legislativa). JG também discursou na Associação dos Sargentos da
Polícia Militar do Rio de Janeiro, censurando as elites e os oficiais da
Marinha (30/03/64). Militares de alta patente, políticos e personalidades da
sociedade civil, instruídos e financiados pelo governo dos EUA, conspiravam
para depor o presidente. Aquele agressivo discurso presidencial desencadeou a
ação dos conspiradores. JG retira-se do governo. Em Porto Alegre, ele
desaprova a resistência armada sugerida por Leonel Brizola. Evitou derramamento
de sangue. As rédeas do estado brasileiro passaram às mãos dos militares com o
aplauso de uma parcela da população e a perplexidade da outra (1º/04/64).
Tão logo normalizada a situação, o comando do país devia
retornar aos civis, o que não aconteceu. Os militares tomaram gosto pela
presidência. Eles expediram o ato institucional nº5, em 1968, e ficaram no
poder até 1985. Parcela da nação mostrou inconformismo. No tendencioso e
bajulador artigo acima referido, o jornalista afirma que os rebeldes (então
chamados de subversivos) pretendiam
implantar o comunismo nos moldes cubanos. Trata-se de ladainha castrense. No
tenebroso período de 1968 a
1985, a
resistência civil ao regime autocrático tinha o propósito de restabelecer a
democracia e respirar o ar da liberdade. A cor ideológica era secundária. A
resistência civil era integrada por liberais, socialistas e comunistas, por
pessoas da direita, do centro e da esquerda do espectro político, por
sindicatos e estudantes. Arrependidas pelo apoio que deram ao golpe, a igreja
católica e a pequena imprensa aderiram à resistência civil. Durante a perseguição
política empreendida pelo governo autocrático, civis, militares e sacerdotes
foram torturados, perderam a vida, a liberdade, os bens, os empregos, as
patentes e as graduações. Rádio, teatro, cinema, televisão, jornais, revistas,
livros, toda essa produção estava sob censura oficial. Os militares montaram um
estado hostil à classe política, aos intelectuais de esquerda e aos direitos
humanos. O braço armado da resistência civil era composto de um punhado de
extremistas impacientes. Nos confrontos armados houve morte de ambos os lados.
Os civis foram derrotados tendo em vista o reduzido efetivo, a insuficiência
logística e a falta de eficaz apoio da sociedade. A maioria dos resistentes
desaprovava a ação violenta e se valeu de métodos persuasivos pacíficos. Os
militares acenaram com a distensão lenta e gradual, o que realmente aconteceu.
O bajulador artigo do jornalista parece ensaio de um
novo golpe. A empresa jornalística para a qual ele trabalha cresceu e se
fortaleceu protegida pela ditadura. No Brasil, o sucesso dos partidos de esquerda
e de centro causa desespero aos partidos da direita. Durante o governo de
Fernando Henrique (“ele é um dos nossos” disse o general Figueiredo) a direita esteve
no poder e deixou de atender os aposentados, os idosos, os trabalhadores e os
pobres em geral. Escarneceu
dessa camada da população e governou para os ricos e para a canalha incrustada
no palácio. A maioria dos eleitores brasileiros é de gente pobre. Os governos
de Luiz Inácio e Dilma Rousseff atenderam a esse vasto setor da nação
brasileira. Hoje em dia, gente pobre viaja de avião e de ônibus com seus
próprios recursos. O acesso à casa própria tornou-se uma realidade para a
população de baixa renda. O direito à moradia deixou de ser apenas uma norma
programática da Constituição. As famílias mais pobres recebem auxílio em
pecúnia e em cestas básicas e são atendidas por médicos brasileiros e
estrangeiros contratados pelo governo. A energia elétrica chegou aos lares
pobres e longínquos. Isto demonstra que o Brasil não precisa copiar o regime
cubano, chinês ou qualquer outro; que é possível praticar justiça social dentro
dos parâmetros estabelecidos na vigente Constituição.
A simpatia entre Brasil e Cuba decorre – não da forma
de governo que adotam – e sim da justiça social que praticam. O sistema
constitucional brasileiro é diferente do cubano. Apesar da diferença, há
respeito mútuo fundado nos princípios da fraternidade universal, da
autodeterminação dos povos e da igualdade entre os estados da comunidade
internacional. Brasil para os brasileiros e Cuba para os cubanos, em paz, amor
e prosperidade, sem promiscuidade. No Brasil, o carcomido governo aristocrático
transitou para o novo governo democrático, o que desagrada certa elite.
Quanto ao item corrupção, falta autoridade moral aos oposicionistas para criticar a situação atual. No governo aristocrático de Fernando Henrique a roubalheira foi astronômica e ficou impune. No governo democrático de Dilma Rousseff as ilegalidades são apuradas e as penalidades aplicadas aos culpados. Tudo isto e mais o bom desempenho da economia reduz a possibilidade de a direita oposicionista, ladra e conservadora, conquistar o governo federal pelo voto popular. Então – e como sempre – a direita tenta o golpe, busca apoio dos militares e tem ao seu lado a Grande Imprensa com os seus jornalistas e economistas amestrados a tergiversar e a fazer previsões catastróficas para aterrorizar a nação.
Quanto ao item corrupção, falta autoridade moral aos oposicionistas para criticar a situação atual. No governo aristocrático de Fernando Henrique a roubalheira foi astronômica e ficou impune. No governo democrático de Dilma Rousseff as ilegalidades são apuradas e as penalidades aplicadas aos culpados. Tudo isto e mais o bom desempenho da economia reduz a possibilidade de a direita oposicionista, ladra e conservadora, conquistar o governo federal pelo voto popular. Então – e como sempre – a direita tenta o golpe, busca apoio dos militares e tem ao seu lado a Grande Imprensa com os seus jornalistas e economistas amestrados a tergiversar e a fazer previsões catastróficas para aterrorizar a nação.
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